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Diante das constatações em relação à produção de fumo, até o momento, foi possível averiguar as mudanças no trabalho e no modo de produzir. No entanto, o objetivo consiste em apreender as tendências da produção de fumo, uma vez que no início havia incentivos para ampliar a produção.

70 Orthene 750 Br. Fabricante técnico: Japão. Formuladores: SP, MG, CE, no Brasil. Titular do registro: Arysta

Lifescience do Brasil Indústria Química e Agropecuária Ltda. Gamit 360 CS. Fabricante técnico: Fhiladelfhia, EUA: Formuladores: MG, SP, RJ, no Brasil. Titular do registro: FMC Química do Brasil Ltda. Ridomil God

MZ. Fabricante técnico: Suíça. Formuladores: RS, SP, no Brasil. Titular do registro: Syngenta proteção de

cultivos Ltda. Actara 250 WG. Fabricante técnico: Suíça, EUA, Índia, Áustria, Espanha e Finlândia: Formuladores: Syngenta, RJ, Syngenta SP. Titular do registro: Syngenta proteção de cultivos Ltda. Primeplus

Br. Fabricante técnico: Suíça. Formuladores: SP, RJ, no Brasil. Titular do registro: Syngenta proteção de

cultivos Ltda. Antracol 700 PM. Fabricante técnico: Alemanha. Formuladores: MG, RS no Brasil. Titular do registro: Bayer Cropsciense Ltda.

71 Semente de fumo Virgínia Cultivar K 326, Semente produzida e certificada por Universal Leaf Tabacos Ltda.

Distrito industrial – Santa Cruz do Sul/RS.

72 O aumento do trabalho ampliado não se constitui na forma de assalariamento. Segundo Castro (2003), o

trabalho assalariado atravessa um processo de profunda regressão, devido à precarização generalizada e à desvalorização social dos trabalhadores como indivíduos e como classe social.

No início (1990), a empresa oferecia todos os subsídios para que plantasse cada vez mais, hoje, ao contrário, a empresa quer que diminua a área plantada. Continuam financiando os adubos, menos estufas novas (Família Scherverske).

As indústrias se uniram para se fortalecer frente ao mercado (Família Tuchtenhagen).

No início a empresa incentivava a produção. Ex: se tu querias plantar 40 mil pés, eles incentivavam para 60 mil para aproveitar o ano bom, se tu plantavas 80 mil eles queriam que tu plantasses 100 mil. Agora se tu queres plantar 80 eles querem que tu plantes 60 mil, dizem que o dólar tá baixo, que ficou difícil para exportar (Família Sievert).

A empresa ficou mais exigente para uma melhor classificação (Família Weber).

No início muitas pessoas eram para plantar, eram convidadas, pois era a única coisa que iria dar lucro. Mas com o tempo, com a reclassificação, o fumo começou a baixar os preços. (ex: o fumo BO1 que era comercializado por R$ 80,00 em média, passou para CO1 que em média passou a variar entre R$60,00 e R$50,00). A empresa faz uma estimativa do que deve ser produzido, então se ultrapassar, eles não compravam sua produção, mas se não alcançar a produção estimada, recebe uma multa, pois alegavam que poderia ter vendido para outra empresa (Família Ramm).

Por meio do depoimento dos agricultores integrados, constata-se as mudanças quanto à redução do plantio. No entanto, essa redução consiste na expressão da “crise” do modelo agroindustrial, visto que as empresas integradoras necessitam adequar-se às normas de erradicação da cultura do fumo, denominada "Convenção Quadro para o controle do tabaco"73, medida que consiste em diminuir o consumo do cigarro em todo o mundo.

Diante da Convenção Quadro, as empresas foram obrigadas a adotar medidas para o controle do consumo do tabaco como:

- Elaboração e atualização de políticas de controle do tabaco, em conformidade com a convenção e seus protocolos;

- Estabelecimento de um mecanismo de coordenação nacional e cooperação com outras partes; interesses da indústria do tabaco;

- Medidas para reduzir a demanda por tabaco;

- Aplicação de políticas tributárias e de preços com vistas a redução do consumo; - Produção contra a exposição à fumaça de tabaco e ambientes fechados;

- Regulamentação das análises e das mensurações dos conteúdos e emissões dos produtos derivados do tabaco;

- Obrigatoriedade da divulgação da informação relativa aos produtos do tabaco;

73 A "Convenção Quadro" é um instrumento legal, sob forma de tratado internacional, no qual os Estados

signatários (Estados partes) concordam em empreender esforços para circunscrever a epidemia causada pelo tabaco, reconhecida como problema global com conseqüências graves para a saúde pública. Disponível em: www.incra.gov.br/tabagismo. Acesso em 03/03/2007.

- Regulamentação das embalagens de produtos de tabaco: tornar obrigatória a inclusão de mensagens de advertências sanitárias, recomendado o uso de imagens em todas as embalagens de produtos do tabaco;

- Desenvolvimento de programas de educação e conscientização sobre os malefícios causados pelo tabaco74;

- Proibição de publicidade, promoção e patrocínio;

- Criação e implementação de programas de tratamento da dependência da nicotina; - Medidas para reduzir a oferta por produtos do tabaco;

- Eliminação do contrabando,

- Restrição do acesso dos jovens ao tabaco; - Substituição da cultura do tabaco;

- Restrição ao apoio e aos subsídios relativos à produção e à manufatura do tabaco. Um dos avanços obtidos nessa área se deu através da publicação, em abril de 2001, da resolução nº 2.833, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Banco Central do Brasil, que não permitem ao programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar (PRONAF) conceder crédito público para o financiamento da produção integrada de fumo.

A questão da fumicultura tem sido um ponto crítico, posto que o país75 é o segundo produtor mundial de fumo em folha e um dos quatro maiores produtores de tabaco do mundo, ocupando a primeira posição de exportador de folhas no ranking mundial. A tendência, com as determinações expostas acima, indicam ainda um aumento das exigências de qualidade da folha do fumo.

Dessa forma, segundo Strieder (2000), a necessidade de novos integrados depende normalmente de uma maior demanda do mercado consumidor nacional ou internacional:

74 Estima-se que no Brasil, a cada ano, 200 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo

tabagismo, número que não pára de aumentar. O tabagismo é diretamente responsável por 30% das mortes por câncer, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular. Outras doenças que também estão relacionadas ao uso do tabaco são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem. Em todo o mundo, são cerca de 5 milhões de mortes. Fonte: www.inca.gov.br.

75 O Brasil foi o segundo país a assinar a Convenção Quadro, em 2003, mas faltava ratificá-la no Senado Federal

– o acordo já tinha sido aprovado na Câmara em 2004. Com a decisão, o país torna-se o 90º país a ratificar o tratado, garantindo assim a participação na primeira sessão da Conferência das Partes. Dessa forma, poderá usufruir de apoio internacional, técnico e financeiro para o fortalecimento de uma política agrícola de alternativas ao fumo e assim beneficiar as 200 mil famílias que hoje dependem da plantação do tabaco. O Brasil é o maior exportador da folha de tabaco no mundo e o segundo maior produtor da planta, ao lado da China e da Índia - primeiro e terceiro produtores mundiais - que já tinham ratificado a Convenção. Fonte: www.inca.gov.br.

Com o melhoramento da demanda formaliza-se o convite para a ampliação dos já integrados ou usam-se estratégias de convencimento para que outros pequenos agricultores iniciem a produção pela integração (Strieder, 2000, p. 65).

Nesse contexto, existe um caráter seletivo para os melhores produtores, pois a empresa possui um dossiê76 de cada produtor integrado, contendo todas as informações que permitem a eliminação dos integrados considerados irrelevantes para os padrões de acumulação capitalista, o que se confirma na fala dos agricultores que não conseguem acompanhar as determinações das empresas integradoras.

Dentro dessa nova racionalidade, segundo Strieder, “diminuir o número de integrados não significa diminuir a produção. Pelo contrário, os integrados que permanecem precisam ter a potencialidade de assumir a produção dos eliminados” (2000, p.66). A ordem aos mais “dedicados” é a ampliação, de tal modo que aqueles que permanecem possam cobrir a produção dos que vão sendo eliminados do sistema de integração.

No entanto, a redução da produção de fumo se defronta com a ascensão do agronegócio, onde os agricultores são incentivados a plantar mamona e cana-de-açúcar (para a produção de combustível), pinus e eucaliptos (para a produção de celulose). Ou seja, muda o produto, mas a relação social de produção monocultora mantém o modelo toyotista, à medida que seleciona os melhores produtores, criando um agricultor modelo adequado às necessidades do capital.

No quarto capítulo, estaremos aprofundando a relação capital-trabalho na produção de fumo para apreender a forma com que o capital centraliza o trabalho no campo.