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SOB O STATUS DA CAVEIRA

No documento O choque das culturas da ordem (páginas 102-112)

Vale destacar, que, em certos casos, os símbolos militares representam a hierarquização interna das Corporações Policiais Militares, determinando o posicionamento de quem os ostenta, dentro na escala que define o status interno dos quartéis. Como exemplo nítido dessa hierarquisação simbólica tem-se os distintivos e brasões, orgulhosamente utilizados como ornamento nos fardamentos dos policiais militares. Conforme previsto no Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Paraíba. Paraíba (2004, p. 69) descreve que:

Art. 71 - Os uniformes da Polícia Militar com seus distintivos, insígnias e emblemas são privativos dos policiais -militares e representam o símbolo da autoridade policial militar com as prerrogativas que lhes são inerentes. Parágrafo Único - Constituem; crimes previstos na legislação peculiar o desrespeito aos uniformes, distintivos, insígnias e emblemas policiais militares, bem como uso por quem não tiver direito.

Mas, as simbologias expressas nos prórpios uniformes já são suficientes para haja uma divisão da tropa, Ao longe, as insignias já deixam claro a qual ciclo hierárquico o policial militar pertence, fazendo com que, em certos casos, os iguais sejam tratados com desigualdade, originando distinções internas entre os diversos níveis hierárquicos e setores da Corporação.

Quanto à variação de funções que devam ser exercidas sabe-se que esta é inerente às estruturas burocráticas, mas diversificar funções não deveria ser sinônimo de tratamento diferenciado. Ao observar a figura acima, percebe-se que até mesmo dentro do ciclo específico dos oficias ainda existe subdivisões hierarquizantes. Pois, entre eles mesmos, os oficiais (Figura 1) ainda são classificados em: superiores, intermediários, subalternos, praça especial e praça. O mesmo ocorre com as subdivisões referentes aos praças graduados, as quais também se encontram representadas por suas insígnias (Figura 2).

Figura 1 – Insígnias do Oficialato da Polícia Militar

Fonte: Blog Boletim de Ocorrência Policial (2012)

Figura 2 – Insígnias dos Praças da Polícia Militar

Outro aspecto símbólico que pode, igualmente, ser tomado como exemplo diferencial, dentro das instituições policiais militares, são determinados características das Tropas Especiais, começando pelo próprio nome como foram batizadas. Esses grupos de policiais militares, comunmente são reconhecidos como sendo constituídos por profissionais com treinamento excelente, ao qual é fornecido um fardamento diferenciado (Figura 5) e um armamento de qualidade superior aos recebidos pelos demais policiais.

Figura 3 – Uniformes das tropas especiais da PMPB

Fonte: Adaptação do Regulamento de Uniformes da Polícia Militar da Paraíba (2012)

Portanto, é evidente que para ser possível a compreensão do choque das culturas da ordem vivenciado nas Corporações policiais militartes deva ser considerado o destaque oferecido a certos símbolos como exemplo dessa prática diferenciadora. Deste modo, no que tange a Polícia Militar da Paraíba, também vale ressaltar os distintivos pertinentes ao GATE (Grupamento de Ações Táticas Especiais) e ao BOPE (Batalhão de Operações Especiais) (Figura 6) paraibanos, sendo o primeiro integrante deste último. Ambos distintivos contam com diversos símbolos sobrepostos, cada um com seu significado.

Figura 4 - Distintivo do BOPE paraibano

Fonte: Facebook do BOPE PMPB (2012)

Quanto ao BOPE paraibano, a descrição heráldica do seu distintivo consta como: a base, sendo um escudo português clássico, nas cores cinza representando as cores da PMPB; um contorno em preto, representando o sigilo das Operações Especiais e a disposição de operar tanto nas atividades rotineiras como nas missões intempestivas, mesmo com negros horizontes; as abreviaturas da Polícia Militar da Paraíba (PMPB) e do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), na cor preta; ao centro a figura de uma caveira (Crânio), na cor branca, que é o símbolo supremo da Inteligência e da Coragem de um Guerreiro, bem como o desprendimento pessoal para o cumprimento da missão a ele atribuída, cravada com a espada da justiça de baixo para cima, simbolizando a vitória da vida sobre a morte.

A explicação mais difindida da inserção da cavewira na heráldica militar brasileira deu-se na 2ª Guerra Mundial, devido ao ato de um militar inglâs. Ao invadir e dominar um quartel alemão, juntamente com sua tropa o comandate britânico, que tinha o nome de Commandos, teria cravado sua faca em um crânio que encontrara no local, simbolizando a vitória sobre os horrores do nazismo. Com fianal da Guerra, nasce o primeiro Curso de Operações, que foi adotado no Brasil, cujas trpasa especiais passaram a se chamar Comandos.

Em relação ao distintivo do GATE, percebe-se, entre outros símbolos, a espada e a caveira, com as mesmas descrições significativas supracitadas. É interessante ressaltar que, apesar de já possuir um distintivo (Figura7) no momento de sua criação, em 1996, apenas recentemente, o GATE paraibano incluiu a caveira em seu distintivo (Figura 8). Isso serve como uma demonstração da forma como os símbolos se difundem e se fortalecem, ao permearem a dinâmica do ethos militar.

Foto 5 – Distintivo GATE sem caveira

Fonte: Arquivo pessoal do Major Bisneto, comandante do BOPE paraibano (2013)

Foto 6 – Distintivo do GATE com caveira

Fonte: Arquivo pessoal do Major Bisneto, comandante do BOPE paraibano (2013)

Vale salientar que, ao contrário da imagem negativa que se concebe acerca da caveira no mundo civil, para os militares, ela indica a superação da vida sobre a morte e, não, que estes policiais possam matar impunimente. A despeito de seu aspecto causar certo desconforto a algumas pessoas alheias às simbologias militares, entre os policiais militares entende-se a marca da caveira como merecedora de respeito e admiração. Devido ao status a esta atribuída no meio militar, além das tropas especiais anteriomente citadas, as de outros estados brasleiros também utilizam a caveira em seus distintivos, como o BOPE: do Distrito Federal (Figura 9); do Rio Grande do Norte (Figura 10) e o do Rio de Janeiro (Figura 11), cujo símbolo se notabilizou, ainda mais, com a exibição no filme Tropa de Elite (2007).

Figura 5 – Distintivo do BOPE do Distrito Federal

Fonte: Site oficial do BOPE do Distrito Federal (2013)

Figura 6 – Distintivo do BOPE da PM do Rio Grande do Norte

Figura 7 – Distintivo do BOPE da PM do Rio de Janeiro

Fonte: Site oficial do BOPE carioca (2013)

Todavia, muitas vezes esses símbolos, assim como outros, podem servir a uma diferenciação hierarquizante e nociva dentro da Corporação. Ostentá-los em seu fardamento, demarca o pertencimento às tropas diferenciadas o que propicia a formação de certo preconceito acerca dos policiais de outras unidades.

No que se refere ao BOPE (Batalhão de Operações Especiais) da PMPB, de acordo com Paraíba (2013), sabe-se que foi criado pela Lei Complementar 87, de 2 de dezembro de 2008, todavia só veio a ser efetivado no dia 14 de março de 2012. Se comparado ao número total do efetivo da Polícia Militar paraibana, o BOPE possui um pequeno número de integrantes, totalizando apenas 331 policiais militares, submetidos a uma rígida seleção no seu ingresso.

Além do status dentro da Corporação, muitos policiais militares buscam ingressar nesse batalhão visando obterem melhores condições de trabalho, visto não raro haver investimentos, por parte do governo, como: na renovação dos uniformes; na aquisição de melhores equipamentos de proteção individual; na compra de itens variados como as granadas, as munições não letais e os agentes químicos. Atualmente sendo composto pelo GATE, pelo Choque e pelo Canil o BOPE paraibano é submetido, diariamente a diversos treinamentos especializados (Fotos 6-9), que serão empregados em situações nas quais há um grande risco como: revistas e rebeliões graves em presídios; escolta de presos de alta periculosidade; busca, resgate ou captura de pessoas em locais inóspitos e de difícil acesso.

Foto 7 – Treinamento com agentes químicos

Fonte: Facebook do BOPE PMPB (2013)

Foto 8 – Treinamento com armamento portátil

Foto 9 – Treinamento com equipamento menos que letal

Fonte: Facebook do BOPE PMPB (2013)

Foto 9 – Treinamento com carabina .30

Fonte: Facebook do BOPE PMPB (2013)

Portanto, para o poder público é interessante que tais tropas estejam bem preparadas e equipadas. Pois, devido à natureza de sua utilização ser merecedora de bastante respaldo social, através, principalmente da difusão midiática, uma investida exitosa reflete a capacidade e eficiência do Estado de enfrentar os ardis da

criminalidade. Em, aproximadamente, um ano de ativação o BOPE PMPB realizou 69 operações, nas quais efetuou 221 prisões, sem que fosse preciso derramar sangue algum, o que só corrobora o seu prestígio dentro e fora da Corporação.

Diante do que ora se expôs, é evidente todo o poderio dos símbolos na formação e na atuação dos policiais. Poder que molda valores, transformando, em pouco tempo, um civil recém-chegado em um policial tradicional, bem como poder que homogeneíza tropas, as distingui e até mesmo, hierarquiza integrantes de uma mesma Corporação.

No documento O choque das culturas da ordem (páginas 102-112)