• Nenhum resultado encontrado

Tomando como base a definição legal de condomínio horizontal já apresentada, resta qualificar quanto a sua característica de moradia. Em termos básicos, quando se fala em tipologia residencial, diz respeito a dois grandes modelos de condomínios: vertical e horizontal. Em relação ao processo histórico, as verticalizações para fins de moradia não se apresentam como algo novo. Na história brasileira temos sua franca expansão durante os anos de 1960 e 1970.

Segundo Queiroz (2011), o corte temporal apresentado se deu em virtude de uma conjuntura político-econômica, resultando em uma grande base de oferta e procura de moradia, principalmente pelas classes médias urbanas no Brasil. Em virtude disso, essa tipologia se apresenta com números expressivos fazendo com que sua visualização se torne cada vez mais comum no meio urbano.

Nesse sentido, observaremos algumas informações que diferenciam as duas tipologias para, assim, definir a mais adequada para esta pesquisa. O primeiro espaço a ser discutido é referente aos condomínios verticais. Esses se tornaram muito numerosos em função de sua fácil adaptação às camadas sociais, isto é, atende a diversas classes sociais, apenas variando seus serviços e lazer.

Sobre sua estrutura, podemos encontrar condomínios verticais das mais variadas formas, com presença ou não de guarita comum, portaria, piscina, quadra etc. Esses espaços se enquadram na ideia apresentada sobre espaço comum, que supostamente incentivaria o relacionamento de vizinhança. Todavia, não se atentando somente as suas variações de serviços e lazer, diz-se que, à luz da questão jurídica, esses espaços são

caracterizados também pela presença de relações de condomínio, ou seja, direitos e deveres dos moradores com relação ao espaço.

Nesse molde habitacional, temos o condomínio horizontal (objeto desta pesquisa). Esses espaços se dão através do conjunto de casas, ruas, áreas verdes livres, presença de muros e equipamentos de segurança. Trata-se, assim, de uma tipologia em franca expansão e, apesar disso, possui certa dificuldade em sua instalação, uma vez que é necessária uma grande gleba de terra para sua construção. Além disso, podem possuir localização junto a centralidades urbanas, mas também é bastante comum estarem afastados dessas centralidades18. Apesar disso, os problemas potenciais que se pensa a priori sobre os deslocamentos realizados entre esses empreendimentos19 afastados e a cidade não sofrem dificuldades expressivas devido às variações da mobilidade, em especial, o uso do automóvel.

Nesse caso, podemos fazer uma rápida referência ao espaço estudado. A cidade de Natal/RN, junto ao município de Parnamirim/RN, esboça as características descritas anteriormente. Essa constatação se dá em virtude de relacionarmos os deslocamentos pendulares entre Parnamirim/RN e Natal/RN. Isso acontece em função da expansão imobiliária e da criação de vários condomínios fechados, alguns considerados afastados, no município de Parnamirim/RN, mas próximos da cidade de Natal.

Condomínios horizontais geralmente são originados de arranjos em loteamentos, tornando-se fechados quer seja de forma legal, quer ilegal. Essa discussão tem profunda ligação com as definições das leis e suas aplicações. Nesse sentido, entende-se por legal aqueles que obedecem à lei e têm seu reconhecimento estabelecido pelo Estado e ilegal como tudo que é feito de forma desviante da característica citada. Essa questão já foi levantada, mas precisa ser lembrada, pois perpassa por um grande debate jurídico, embora não seja nosso objetivo aprofundar neste estudo.

Observando as várias características mencionadas, podemos fazer algum tipo de conexão com o campo de pesquisa pretendido. Torna-se, assim, importante que se tenha como característica geral a presença de área de uso privado e comum tal como definido

18 Segundo Gottaman (1974), a centralidade urbana se refere, sobretudo, a um conjunto de importantes e típicas funções que dá às cidades um papel condutor no desenvolvimento de uma região ou de um país. Condomínios agora existem independentemente dessa

característica, o que relativiza a ideia de periferia.

na nomenclatura de condomínios horizontais. Ademais, chamamos a atenção para outra peculiaridade, trata-se de um aspecto comportamental que chamaremos de ato voluntário. A priori, entende-se por isso, a ação que cada indivíduo morador manifesta ao desejar morar e se alocar em um condomínio. Isso implica a escolha de optar se desmembrar ou simplesmente se segregar atrás de barreiras físicas e simbólicas, conforme mencionado por moradores que foram entrevistados:

Vim morar aqui para ter uma qualidade de vida melhor, onde morava (bairro Cidade Satélite), estava ficando esquisito, tinha muita gente estranha apesar de gostar dos vizinhos. Morar aqui se tornou mais fácil por que apesar de morar em Parnamirim, me sinto em Natal, a cidade é mais próxima e tenho todo o privilégio de estar neste condomínio que oferece todos os serviços básicos. Aqui podemos fazer o que está meio difícil lá fora, ficar nas ruas, olhar as crianças etc. (Morador 14, servidor público, 55 anos).

Além disso, suas áreas privativas são obviamente de uso exclusivo do morador e de seus agregados. Geralmente, em condomínios horizontais, seus espaços exclusivos são as residências, terras de um ou mais pavimentos. Ainda pertencente à área exclusiva, é comum observar jardins privados. Isso se difere, por exemplo, dos Condomínios Verticais, em que as unidades privadas se restringem ao espaço quadrado do apartamento.

O condomínio Jardim Atlântico preza para que os jardins privados sejam rigorosamente cuidados conforme expressa seu regimento Art 24 – Zelar os jardins de suas unidades, como também zelar por seu aprimoramento (Regimento Interno – Condomínio Jardim Atlântico, p. 8).

A área comum, naturalmente, terá de ser destinada a todos os moradores e seus agregados mediante permissão para membros que forem de fora dos domínios do muro. Assim, a área comum é dividida em locais de lazer como esportes: churrasqueira, jardim comum, salão de festa, piscina e quadra poliesportiva, calçadas e demais áreas livres.

Dessa forma, ao listar essas características, podemos observar a ligação entre os termos adotados: condomínio horizontal e a definição jurídica segundo a Lei do Condomínio. Sendo assim, considerando as grandes peculiaridades entre condomínios verticais e horizontais, este último destaca-se especialmente em sua forma, não propriamente física, mas na sua capacidade de reprodução de configurações que nos remetem à cidade como o caso de haver ruas, calçadas e praças, ou seja, uma espécie de bairro privado.

3.3 CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS (BRASIL) E GATED COMMUNITIES: SEMELHANÇAS E