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Sobre a derivação de construções com nulo genérico e nulo expletivo

3. SINTOMAS DA REMARCAÇÃO DO PARÂMETRO PRO-DROP NA GRAMÁTICA DO PB

3.4 Propostas de análise

3.4.3 Sobre a derivação de construções com nulo genérico e nulo expletivo

A despeito do paralelismo sintático e interpretativo das construções existenciais com ter e de predicados indeterminados quanto à possibilidade de inserção de um pronome genérico na posição de sujeito em competição com o nulo não referencial e o genérico, deve-se ressaltar que, enquanto em predicados indeterminados com nulo genérico, de acordo com Holmberg (2010), há incorporação dos traços de P na categoria funcional T, e portanto, SpecTP não é projetado, o que licencia a inserção de um pronome nesta posição, nas construções existenciais, o nulo expletivo ocupa SpecTP e checa o EPP.

Considere-se a equivalência de sentido entre as construções existencial em (83)a. com a indeterminada71em (84)a. com pronome nulo:

(83) a. ØexplNão tem mais burca na Síria. b. Cê não tem mais burca na Síria. (84) a. Não Øgenusa mais burca na Síria.

b. Cê não usa mais burca na Síria.

Uma explicação provável para a possibilidade de inserção de um pronome genérico em SpecTP, tanto em construções em que esta posição não é projetada (84)b, como nas em que há projeção de SpecTP ocupado por proexp, como em (83)b, sem alçamento de constituinte, respalda-se no parâmetro da -(in)dependência de EPP de T (Holmberg, 2010) e em representações distintas que entram na Numeração destas construções (cf. Lunguinho, 2006).

71Neste estudo consideram-se como indeterminadas também as construções passivas, com base na proposta

Com base no parâmetro da -(in)dependência, Avelar & Galves (2011) propõem que PB e PE são línguas diferentes quanto a esse parâmetro. Enquanto o PE tem uma condição EPP de T -dependente, o que impõe que somente DPs argumentais portadores dos traços-phi sondados por T possam ser movidos para a posição de SpecTP, o PB, que exige a presença de um DP em SpecTP, permite o alçamento de DPs não argumentais para SpecTP, tendo, portanto uma condição EPP de T -independente. Dada essa propriedade -independente do PB, Avelar & Galves (2011) e Marins (2013) advogam que, no caso de sentenças existenciais com ter sem qualquer constituinte na posição de sujeito, SpecTP é projetado e é ocupado por um expletivo nulo. O posicionamento de que a posição de SpecTP sempre será projetada é assumida nesta tese.

A presença de um expletivo nulo nas construções de terexna posição SpecTP também é defendida por Duarte e Kato (2008). A partir da proposta de que em línguas de proeminência de tópico o EPP deve ser satisfeito em SpecTP, as autoras defendem que para as sentenças existenciais com ter, se forem impessoais, SpecTP apresenta um expletivo nulo, como se pode ver em (85):

(85) [TPø temV[VPtV[prédios lindos em Londres]

Partindo, assim, da consideração de que construções existenciais com ter projetam SpecTP, e que o expletivo nulo que ocupa essa posição satisfaz EPP, sugiro que a presença de um elemento não argumental em SpecTP dessas construções, como vocêgen, não se deve ao atendimento a esse princípio. Portanto, a presença desse pronome em sentenças de terexem substituição ao nulo expletivo, pode estar relacionado ao fato de que no PB há uma tendência a inserir elementos tanto argumentais quanto não na posição de sujeito gramatical (parâmetro da

-(in)dependência), evitando, assim, que o verbo ocorra em posição inicial absoluta.

Sob esse ponto de vista, é possível afirmar que o PB passou a contar com mais uma estratégia alternativa a estruturas existenciais impessoais com ter em substituição ao expletivo nulo na posição de sujeito gramatical, além do alçamento do locativo, em atendimento à demanda do sistema, que muda em direção ao preenchimento do sujeito.

Com relação à derivação dessas sentenças existenciais com proexpou um pronome na posição SpecTP, considero que a Numeração através da qual elas são derivadas tem entradas distintas. Esta proposição tem respaldado em Lunguinho (2006) que propõe Numerações distintas para derivação de construções de tópico-sujeito, como a que se vê em (86)b:

(86) a. Furou o pneu do carro. b. O carro furou o pneu.

O autor tenta estabelecer uma representação formal que dê conta das sentenças como (86)b. Para tanto, Lunguinho propõe que, como o fenômeno em análise diz respeito a verbos com só um argumento, há necessidade de se postular um expletivo nulo na posição de sujeito quando não há partição de constituintes e o argumento interno está depois do verbo. Assim, para uma sentença como em (86)a há um pro na Numeração, a partir da qual seria derivada a seguinte representação:

(87) [TP proexp[T furou [VP furou [DP [o pneu do carro]]]]

(LUNGUINHO, 2006, p.141)

Por sua vez, a Numeração relativa à sentença (86)b. com partição de constituinte não apresenta nem o expletivo nulo nem a preposição de, responsável pela semântica possessiva. A derivação para esta sentença é a representada em (88):

(88) [TP [DP o carro] [T furou [VP furou [DP [DP o carro

Para explicar que o fato de o DP o carro não ocupar SpecTP em (86)a, Lunguinho alega que para validar os seus traços-phi não interpretáveis, T sonda o DP o pneu do carro que, por não ter seu traço de Caso ainda valorado, pode ser tomado como alvo da operação de Agree. Uma vez que a Numeração tem um expletivo nulo, este ocupará a posição de SpecTP, e a subida desse DP é impedida, fazendo com que ele permaneça na posição onde foi gerado. Como discutido acima, o expletivo nulo na posição de SpecTP satisfaz o EPP de T.

Por não interessar especificamente a este trabalho o alçamento de um elemento da sentença para SpecTP, no caso de construções de tópico-sujeito, esse tipo de derivação não será detalhado.

Na direção desta proposta de Lunguinho, considero que a Numeração a partir da qual são geradas sentenças existenciais impessoais apresenta um proexp. Já as sentenças existenciais com um pronome lexicalizado na posição de sujeito gramatical seriam derivadas através de uma Numeração sem a presença de proexp, o que licencia a inserção do pronome. Assim, proexpé um

item que compõe a Numeração relativa à sentença em (83)a. , derivando a representação (89) a seguir:

(89) [SpecTPproexpT[v/VPter [Advnão mais[XP[NPburca] [ x [[LocPna Síria]]]]]]

Dessa forma, dado que o PB é uma língua -independente, a posição de SpecTP é projetada em sentenças existenciais com ter. Na ausência de um elemento para preencher SpecTP, o expletivo precisa ser manifesto, como em (88).

Na derivação em (90), a inserção de um pronome fraco aparece como uma alternativa em substituição ao nulo expletivo. Conforme proposto no item anterior, 3.4.2, por não estabelecer relação temática com o verbo, o pronome vocêgennão surge em posição argumental, mas é inicialmente inserido na posição INFL para depois ser alçado para SpecTP, derivando a representação em (90):

(90) [SpecTPcêiT/Inflti [v/VPter [Advnão mais [XP[NPburca] [ x [[LocPna Síria]]]]]]]]

Se por um lado em -independentes como o PB, postula-se um proexp em SpecTP em construções existenciais, o qual satisfaz EPP, por outro, em construções pessoais indeterminadas com pronome nulo genérico, como em (84)a Não Øgen usa mais burca na

, SpecTP não é projetado e, portanto, EPP não é checado.

Portanto, proponho que essas construções de nulo genérico são derivadas a partir de Numerações que não contêm pro,o que faculta a inserção de um pronome genérico lexicalizado, em atendimento à satisfação do requerimento EPP.

Em vista desses fatos, assumo que a ocorrência de um pronome genérico pleno em construções existenciais com ter não se deve ao atendimento do EPP, ao contrário do que ocorre em construções de indeterminação em que o pronome é inserido para satisfação deste princípio. Deve-se ressaltar, considerando a proposta de Holmberg (2010) de categorização de dois tipos de LSNs, as consistentes, que não apresentam pronomes sujeitos nulos indefinidos, e as parciais, que apresentam sujeitos nulos indefinidos, que a implementação de um sujeito nulo de referência genérica num sistema que tende ao preenchimento dos sujeitos referenciais definidos com formas pronominais plenas, em vez de se mostrar na direção contrária em relação à remarcação do parâmetro pro-drop, revela a característica parcialmente pro-drop do PB.