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Sobre experiências de leitura literária na escola

3 CONHECER PARA LETRAR: descrição reflexiva do campo de pesquisa

3.2 Os sujeitos da pesquisa

3.2.4 Sobre experiências de leitura literária na escola

Acreditamos ter sido de muita importância e necessidade para esta pesquisa a realização de um mapeamento sobre as experiências literárias dos estudantes. Nesta etapa do questionário, quatro perguntas foram construídas a fim de conhecermos estas experiências.

Perguntados, a priori, sobre como acontecia a leitura literária na escola, 2 participantes não responderam à questão, mas 21 estudantes escreveram que a leitura acontecia, geralmente, com a professora e por debate. Segundo os entrevistados o debate realizado após a leitura é muito importante, pois é um momento de partilha. Quanto aos textos, um aluno ainda escreveu: ³$SUofessora traz diversos tipos de poemas, contos, histórias para melhorar

DOHLWXUDGHWRGRV´ (ALUNO 1), ou seja, o estudante enxergou as leituras realizadas em sala

como uma prática para a melhoria de sua leitura e aprendizagem e compreensão de mundo. Todos os estudantes que responderam à questão disseram concordar com o modo de leitura literária realizado nas aulas de literatura.

Apesar de os estudantes concordarem com a metodologia de leitura literária na sala de aula, é possível afirmarmos que as práticas pedagógicas colaboram, em parte, para a formação do leitor, já que os estudantes não estão motivados a lerem fora da escola, o que comprovamos com dados anteriores. Isto é, os estudantes gostavam da leitura realizada na sala de aula, mas estavam acomodados e limitados somente à leitura literária apresentada pela professora nas aulas de literatura, o que não é positivo quando a função da literatura na escola é formar o leitor literário dentro e fora do ambiente escolar.

Em seguida, os alunos foram indagados sobre as mudanças que poderiam acontecer nos modos de leitura literária na escola, caso eles pudessem fazê-las. 19 estudantes afirmaram

não precisar de mudanças nos modos de leitura realizados em sala pela professora, porque, segundo os participantes da pesquisa, a metodologia proposta promovia o desenvolvimento da criticidade dos estudantes por meio dos debates e as experiências individuais de cada um com a obra literária. Ainda assim, 4 estudantes propuseram maior número de livros para leitura bimestralmente, atividades de relação entre o livro estudado e a realidade atual e a leitura partilhada para expandir a interação dos estudantes na efetiva leitura do texto literário.

As sugestões dos estudantes, nesta questão, ratificaram a discussão levantada anteriormente. A promoção de debates e das experiências individuais dos estudantes com a obra literária é significativa, como também o favorecimento de pontes entre estas leituras e realidade social dos estudantes se torna uma maneira de construir aulas mais interativas e dinâmicas, podendo ser, portanto, um elo para a expansão efetiva das leituras literárias que acontecem na escola para o meio social e familiar de cada estudante.

Sobre a liberdade de expressão nas aulas de literatura, 19 questionados admitiram que as aulas são participativas e que existem espaços para a expressão das opiniões e impressões GRVHVWXGDQWHVDFHUFDGRWH[WROLGRHUHVSRQGHUDP³QmRPXLWR´H³PDLVRXPHQRV´(PERUD não tenhamos encontrado resposta negativa à questão realizada, aqueles que disseram não ter tanta liberdade de expressão na sala de aula evidenciam o professor como o possuidor e transmissor do conhecimento. Apesar de todas as mudanças que ocorrem na educação, inclusive pertinentes à postura professoral como um agente facilitador no processo de ensino e aprendizagem, refletimos a liberdade de expressão do estudante como um desafio para a educação (no relacionamento professor/aluno), já que o alunodeveria se sentir à vontade para opinar e se expressar, altivamente, diante de qualquer situação educacional e literária.

Por fim, os estudantes foram conduzidos a relatar uma experiência marcante de leitura literária na escola e, 17 estudantes lembraram o projeto Exercitando a escrita: um livro de

contos41, realizado em 2016, por nós, na condição de professora de Língua Portuguesa da

turma, como as melhores aulas de literatura que já tiveram. Segundo os estudantes, as principais aulas foram aquelas em que as duplas apresentaram e defenderam os contos

41 Ao longo de sua aplicação, este projeto sofreu mudanças quanto aos aspectos metodológicos que permitiram

contribuições importantes na formação do leitor literário. Inscrito e selecionado pelo Prêmio Mestres da Educação 2016, publicamos um artigo, apresentando as principais atividades executadas e os resultados do projeto. Esse texto pode ser consultado em: FREITAS, M.C.M.; GUIMARAES, K. N. Quem conta um conto escreve outro conto: relato de experiência de projeto literário no ensino médio. In: VI Encontro Nacional De Literatura Infanto-Juvenil, 2016, Campina Grande. VI ENLIJE, 2016. Disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/enlije/trabalhos/TRABALHO_EV063_MD1_SA2_ID282_22072016153856 .pdf

machadianos, como também aquelas destinadas à produção de novos contos. Conforme as respostas no questionário, os estudantes admitiram que o projeto foi basilar para que eles se sentissem confiantes nas atividades de escrita criativa, como também na leitura, compreensão e defesa em oficina de júri literário de textos complexos, como os contos de Machado de Assis. 3 concordaram que as aulas de literatura são marcantes, mas não conseguiram lembrar uma aula específica; 2 dos estudantes não relataram nenhuma experiência porque, segundo eles, não gostaram de nenhuma aula de literatura, e um participante não se manifestou.

Trabalhar com metodologias diferenciadas que promovam a máxima interação do estudante nas aulas, além de serem prazerosas, são eficazes, conforme as respostas dos estudantes, que foram motivados a ler contos machadianos com o intuito de julgá-los como os melhores e defendê-los entre os colegas. Com organização, esta oficina promoveu a leitura detalhada dos textos e orientou a argumentação que cada dupla precisava levantar para fazer seu trabalho. Assim, os estudantes se dedicaram mais e demonstraram interesse e dedicação, ou seja, a leitura literária fluiu porque foi realizada por meio de metodologia atrativa e dinâmica. Observemos, portanto, que, para cumprir seu papel, a literatura escolarizada deve se adequar ao perfil do estudante. O letramento literário será o resultado do efetivo trabalho com o texto literário em sala de aula de forma atraente e compromissada com a real função da literatura na matriz curricular: formar leitores.

Portanto, acreditamos que a sequência didática apresentada a seguir é um processo metodológico sequencial que favorece o letramento literário e que trouxe resultados positivos porque foi elaborado a partir do perfil dos estudantes e do local da pesquisa, partindo, assim, da expectativa dos sujeitos da investigação.