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Sobre ser Garmir, negacionismo, reconhecimento do Genocídio em Montevidéu e patriotismo na escola.

1.4) Suburbana armenidade

VIII) Sobre ser Garmir, negacionismo, reconhecimento do Genocídio em Montevidéu e patriotismo na escola.

(A) Hoje continuam essas coisas, na Turquia o negacionismo é muito forte, né?

(H) É que, assim como hoje se fala, você sabe que em janeiro os judeus pediram uma reunião com os armênios e aqui um amigo meu, uma pessoa importante na colônia: “não, nós não falamos com os judeus”. A meu entender perdemos uma chance importante para cativar, nós não vamos mudar a ideia, o conceito do judeu que eles querem que o Holocausto seja único, que não haja outro similar, né? Porque aí prejudica, mas se você...na Argentina conseguiram ter um diálogo com o judeu para que o judeu procure, porque o judeu não é amigo do turco, mas nós temos que ter a capacidade que quando se fala com os turcos, quando faz dois anos, três anos, se falou aqui de se fazer uma que armênios e turcos se reuniram em Suíça, Genebra para chegar a fazer um acordo. Foi a Hillary, [Bill] Clinton foi também. Eu tenho um sobrinho que naquele tempo morava aqui em casa e um dia me mostra “olha tio, agora está tendo lugar uma reunião em Genebra entre os turcos, armênios e o americano”. Na hora que tava acontecendo lá tava no computador e ele me mostra, aí pararam porque o armênio queria incluir a palavra genocídio e eles não aceitaram. Agora, por que não somos inteligentes e assim como esse judeu austríaco Raphael Lemkin que conseguiu, ele chegou a ser secretário da Embaixada Americana na ONU com sua capacidade, sua lábia para poder influenciar. Montevidéu, Uruguai foi o primeiro país que reconheceu o Genocído [Armênio] em 1965.

(A) O senhor tava envolvido nisso?

(H) Não, isso te conto eu porque eu vivi. Se você procura vai ver que em Montevidéu se formalizou a Mesa Coordenadora de Organizações Juvenis Armênias, tinha seis ou cinco entidades juvenis fortes na Armênia no ano 1962, 63 e chegaram ao ponto de que tinha concorrências às vezes desleais. Quando a UJA fazia uma festa, a Marash, a juventude fazia uma semana antes e uma semana depois e atrapalhava. Então eu era presidente da Liga e chamei o presidente da UJA que era muy amigo. Digo: “tô pensando assim, se fazemos uma mesa que coordena as atividades, cada mês uma entidade e secretaria. Então você é da UJA, vai fazer uma festa, liga. 'O José, em agosto que festa temos, que domingo, que sábado tá ocupado? Que festa tem?' Tal, tal e tal ou não tem. 'Tá, então marca para o dia para a minha entidade'”. Então chegamos a um convívio pacífico e bem, não tínhamos briga. Briga era no futebol (risos)... Agora, que aconteceu, chegou 1965 era cinquentenário do Genocídio e nós conseguimos fazer uma comemoração...faz de conta que fosse a Paulista entre sete, oito quadras. Tem a Praça Independência e aqui em cima a Praça Liberdade, caminhada mil pessoas, mais de mil pessoas conseguimos parar de tarde 14:00, caminhar e chegar a Praça Libertad e lá tinha um prédio Ateneu de Montevidéu. Ateneu era o local livre, para livre

expressão, você pedia, ocupava e nós conseguimos ocupar isso, chamamos um historiador da Argentina, ele veio fez a palestra sobre o genocídio e a história que escreveram ficou tão boa impressão essa passeata pacífica, com cartazes que em novembro se conseguiu que o governo reconhecesse primeiramente o dia de recordação dos mortos armênios e depois isso se transformou em reconhecimento de genocídio. Agora, quem… assim, de graça não vem, aí depois que fez aquilo nós tínhamos na diretoria, na mesa um químico que tinha uma amizade com um político. “Ah, eu conheço essa família”, senador uruguaio sou muy amigo da mulher...28, 29, 30 de novembro, dia primeiro de dezembro começava as férias do Legislativo. Então se em 30 de novembro não conseguia assinatura de reconhecimento da data 24 de abril já ficava para o ano que vem, até meia noite na porta da secretaria um rapaz ficou lá esperando até que pouco antes da meia noite ele traz o papel assinado… eram cinco, seis pessoas e conseguimos um reconhecimento, algo que hoje (risos)...você para fazer… esse Azevedo, o embaixador que ganhou cargo na Organização Mundial de Comércio (OMC) , ele não tem apoio nem de EUA nem de Europa, mas conseguiu votos suficientes entre África e países em desenvolvimento. Onde estava o embaixador armênio em Brasília para dizer: “olha, meu país apoia você” ? Assim como hoje, os assessores desse embaixador estão indo visitar nos países que votaram nele de África para ver que estão precisando. Oh, (risos) penso que (pausa) isso é um cabeça. Não que o turco matou, não o turco não matou, o governo turco que matou. Se armênio, que cada vez são menos que podem contar a história do que eles passaram. “Olha fulano viveu porque um turco vizinho pegou e guardou na casa dele”, você sabe que, cê falou, não sei se ficou sabendo turcos que vão para a Alemanha a trabalhar de faxineiro, a Alemanha precisa faxineiro e os turcos foram lá e têm muitos turcos que eram armênios, que ficaram vivos porque o pai não era tão patriota armênio, trocou de sobrenome e ficou turco. Como é teu sobrenome?

(A) Attarian.

(H) Attarian, Attarian? (A) Isso.

(H) Não, não, conheço.

(A) Na Argentina tem bastante dizem…

(H) Em Montevidéu tem também Attarian. Então o cara botava Ataroglü, né? Assim, turquificado. (A) Attarian são de Urfa.

(H) Não tenho conhecimento da história de Urfa. Os armênios outro dia, quando digo outro dia ano passado, um periodista, uma periodista foi a Armênia para pesquisar os armênios agora que estão na Alemanha estão voltando a trocar de sobrenome e usar o sobrenome armênio. Claro não tem perigo31. Tem duas igrejas apostólicas na Alemanha em Berlim, aqui vão os que vieram da

Turquia e aqui vão os que vieram da Armênia. Então os que vieram da Turquia dissem: “nós não vamos querer juntar com vocês porque vocês um dia vão para a Armênia e nós nunca vamos voltar a Turquia… e o perigo do armênio, do jovem armênio que vive na Alemanha que é? Não casar com alemã, casar com turca porque sabe o idioma, não? (risos) E as turcas são lindas! (risos) Olha, você tem que ir um dia, não se deixe levar “turco”, não, não é turco é Turquia. Você, quando a Armênia era soviética, eu era comunista quando visitava a Armênia? Não. Meu pai me ensinou a amar a Armênia comunista em Montevidéu me chamam de Garmir, de comunista, de vermelho. “Vocês são comunistas”, [retrucando] “por que?” [outro responde] “Você vai na escola [armênia], quem dirigem eles?”. E o que eu aprendi de patriotismo foi nessa escola.

IX) Como você sabe? E “isso aqui parece a ONU”.