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4.2 PROFESSOR MARCELO AULA 2

4.2.2 Sobre o violão com encordoamento de aço

Suzana tentou seguir o conselho do professor para pressionar com mais força os dedos da m.e., com isso, tentando executar o acorde de dó maior. Enquanto Suzana realizou a sua tentativa em tocar o acorde de do maior, o professor Marcelo com o polegar da m.e. tocou a quinta corda do violão de Suzana para verificar se a estudante pressionou o dedo com força suficiente para que a nota soasse. Ressaltemos, aqui, que, nesta atuação, o professor não pegou o violão de Suzana, ou seja, enquanto a atenção de Suzana esteve sobre pressionar os dedos da m.e., o professor encarregou-se da ação da m.d. O professor Marcelo, ao perceber que ainda não estava soando, como o esperado, persistiu:

-M: Monta o acorde. [Suzana faz a tentativa de posicionar o acorde, no entanto, em seguida, solta os dedos da m.e.]. (Professor Marcelo, 14/06/2011).

Ainda encarregado da ação da m.d., o professor Marcelo arpejou (da corda mais grave a mais aguda) com o seu polegar as cordas soltas do violão de Suzana. Em seguida, o professor demonstrou, no seu violão, como deve soar o acorde. Sua preocupação está em que todas as notas (pressionadas ou não) do acorde soassem:

-M: E cada corda tem que dar um [ Professor Marcelo arpeja o acorde de do maior] som, também quando a gente aperta! (Professor Marcelo, 14/06/2011).

Novamente, Suzana tentou pressionar os dedos da m.e. para a execução do dó maior. E, mais uma vez, o professor, com o seu polegar, tocou a cada nota pressionada por Suzana. O professor Marcelo levantou a possibilidade de que a utilização do violão de cordas de aço por Suzana seria um dos problemas pelas quais as notas não estavam soando, porque o espaçamento entre as cordas é menor segundo o professor:

-M: Esse é um pouquinho do inconveniente do violão de aço, que ele é muito pertinho [espaçamento entre as cordas], aí acaba abafando um pouco a sonoridade do acorde quando a gente encosta nas cordas de baixo [Professor Marcelo demonstra, em seu violão, como este problema ocorre, arpejando um acorde com algumas notas abafadas] (Professor Marcelo, 14/06/2011).

O professor comentou que uma das maneiras de resolver este problema estaria na angulação que os dedos da mão esquerda pressionam o braço do violão. O professor apresentou dicas como as pontas das juntas devem ficar o mais verticalmente possível do braço do violão de modo que a corda acione as pontas dos dedos e firmeza embora sem pressão excessiva deve ser aplicada sobre a corda são enfatizadas por Quine (1998, p.44).

-M: Tenta posicionar a mão um pouquinho, de forma um pouquinho mais frontal [Suzana posiciona de acordo com o professor Marcelo]. Isso! De modo que os dedos se encaixem assim bem de frente [Professor Marcelo executa o acorde de dó maior] (Professor Marcelo, 14/06/2011).

Apesar de o professor notar que Suzana continuou com dificuldades, ele incentivou-a a prosseguir:

-M: vamos lá da sequência de acordes ali? Mas tá melhor! Um, dois, três quatro [ambos iniciam a execução](Professor Marcelo, 14/06/2011).

Professor Marcelo executou a canção Será (Legião Urbana) com a seguinte sequência de acordes.

4/4 || C | G |Am |F :||

Durante a execução, Suzana fez uma breve interrupção na execução, quando realizou a troca do acorde de fá maior para dó maior. E comentou com o professor a dificuldade:

-S: É aí para voltar pro cê já... [acorde de dó maior] -M: sim! (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

Apesar disso, ambos continuaram executando a sequência. O professor falou com Suzana:

-M: Deixa o dedo três. Aqui, neste caso, pode deixar o dedo três [Professor Marcelo executa a troca do acorde de fá maior para o dó maior].

-S: Sim só o três, eu já estava deixando o quatro junto ali pra daí só subi e esse descer. -M: Faz diferença! (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

Após este diálogo, ambos iniciaram a execução e o professor Marcelo cantou a letra da canção. Ambos interromperam quando chegaram à sessão em que ocorrem dois compassos para

cada acorde. Neste ponto, o professor Marcelo alertou Suzana para a quantidade de compassos para cada acorde na referida sessão:

-M: Aqui é o final. Tá vamos pegar aqui a sequência duas vezes cada acorde. Três, quatro [ambos iniciam a execução, no entanto, houve uma breve interrupção, pois Suzana não havia assimilado a permanência de dois compassos para acorde] Duas vezes cada acorde! Um, dois, três, quatro [Professor Marcelo bate com o polegar sobre o tampo simultaneamente a contagem] (Professor Marcelo, 14/06/2011).

Professor Marcelo observou que Suzana teve dificuldades em executar o acorde de ré

menor no seguinte trecho: ||: G | # | Dm | # :||

-M:O que interessa pra gente é encaixar este acorde aqui [acorde de ré menor]. Então, vamos pegar desse trecho, tá. Um, dois, três, quatro [ambos iniciam a execução] (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

Mais uma vez, a execução foi interrompida devido às dificuldades de Suzana para executar o acorde de ré menor, neste caso, ela não conseguia posicionar o acorde e também realizar a troca para outro acorde, ocasionando uma quebra de fluência no acompanhamento, esta dificuldade técnica, de modo análogo, foi constatada no trabalho de Vieira (2009, p.108). A explicação, em continuidade, demonstra o professor solucionando o problema de posicionamento:

-M: Só corrige este acorde aqui, ré menor, primeira corda [Professor Marcelo executa o fá da primeira corda], terceira e segunda aqui [Marcelo arpeja as três primeiras cordas e observa Suzana posicionando os dedos]. Aqui, na terceira e, aqui, na segunda corda [Marcelo aponta as casas onde Suzana deve posicionar os dedos] Esse, desse também, tudo um acorde pra baixo, dedo três. Isso! [...] Então, de olho na sequência aqui, um, dois, três, quatro [ambos iniciam a execução] (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

As ações do professor Marcelo correspondem ao modelo mestre-aprendiz cujo enfoque recai no nível técnico e na função de oferecer modelos sonoros para Suzana imitar, segundo Lehmann, Sloboda e Woody, como também o segundo estágio apresentado por Hallam que estabelece a relação professor-aluno, em que a atenção está sobre os detalhes, induções para as habilidades técnicas e repetições.

Professor e Suzana chegaram até a última sessão da canção que corresponde aos seguintes acordes:

| C | # | G | # |Bb | # |

| Dm | # :||

-M: Aí aqui, só muda a letra e vamos pegar este último trechinho aqui [Suzana posiciona os dedos para o acorde de si bemol maior enquanto o professor Marcelo observa] Isso!

-S: Os meus têm os desenhinhos do lado [ambos começam a rir] (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

Após Suzana conseguir posicionar os dedos para a execução do acorde de si bemol maior, ela arpejou o acorde e professor e Suzana iniciaram um diálogo. Nos discursos, Marcelo demonstra o seu gosto pela sonoridade do acorde de si bemol maior e comenta sobre a duração de tempo para o aprendizado de acordes com pestana, sendo que esta duração está relacionada com a idiossincrasia do estudo de cada aluno. O trabalho de Vieira retrata também o caráter idiossincrático sobre a pestana:

[para a professora]o momento de se ensinar a pestana é ’muito complicado’, pois ’depende muito da mão do aluno, do violão do aluno’. A professora conta que a música escolhida para desenvolver tal habilidade ’vai ter que ser uma que ele goste muito para que a coisa seja menos dolorida’. (VIEIRA, 2009, p.108).

A aluna evidencia que as suas dificuldades em realizar a troca dos acordes, como também a sonoridade, está na falta de conseguir estudar violão diariamente:

-S: É que o meu violão é elétrico [ambos começam a rir]. Eu tenho fones. Aí, ontem, eu fiquei treinando mais até, só esta primeira sequência, pois logicamente se eu conseguisse fazer bem a primeira sequência as outras sequências ficam mais fáceis! Quero ver se eu conseguisse treinar todo dia assim uma horinha...

-M: Sim! Mas é como a gente falou mesmo, de que tocar os acordes com pestana é uma coisa que leva um certo tempo, um investimento de médio prazo.

-S: Sim!

-M: leva um mês para conseguir.

-S: O nosso mês passou... [Suzana começa a rir] -M: É? Ai, ai, ai.

-S: Coloca dois meses [ambos começam a rir] Não..., é porque realmente eu não estou parando uma hora por dia para treinar todo dia, se treinasse uma hora por dia já tinha saído (Professor Marcelo e Suzana, 14/06/2011).

Uma comunicação maior entre ambas direções, professor-estudante, corresponde ao modelo mentor-amigo (Lehmann; Sloboda; Woody; 2007), onde o professor procura facilitar as experimentações musicais do estudante. Uma maior comunicação entre o professor Marcelo e Suzana dá como no diálogo transcrito.