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Sociologia para jovens do século XXI

4 A representação do índio brasileiro nos livros didáticos de sociologia

4.5. Sociologia para jovens do século XXI

Figura 8: capa do livro "Sociologia para jovens do século XXI"

O livro “Sociologia para jovens do século XXI”, já em seu capítulo 3, “ ‘O que se vê mais, o jogo ou o jogador?’ Indivíduos e Instituições Sociais” (COSTA, 2016, p. 45) ao apresentar uma visão introdutória sobre a diversidade religiosa, oferece uma fotografia dos índios da comunidade Truká (PE) em cerimônia religiosa do Toré. Muito embora, no capítulo 20 dedicado à religiosidade, não trabalhe exemplos de práticas indígenas.

Mais adiante, no capítulo 4, “ ‘Torre de Babel’: culturas e sociedades” estampa outra foto, dessa vez de garotos da comunidade Assurini, durante os jogos dos Povos Indígenas, no Pará, em 2009 (Op. cit., p. 55). Já no capítulo 6, “ ‘Ser diferente é normal’: as diferenças sociais e culturais”, na página 83, ilustrando a discussão sobre as trocas e os diálogos culturais, apresenta uma foto de índios Pataxó e brancos, durante condenação dos acusados de assassinarem o índio Galdino, com a seguinte reflexão: “como exercer o interculturalismo?” (op. cit., p. 83)

Ainda no âmbito da Unidade 1 – Sociedade e Conhecimento Sociológico, no capítulo 8 (“ ‘Ganhava a vida com muito suor e mesmo assim não podia ser pior.’ O trabalho e as desigualdades sociais na História das Sociedades), no tópico “A organização dos homens em sociedade através da História, em seu primeiro item, “Sociedades tribais, ‘primitivas’ ou ‘sociedades sem Estado’”, tem uma foto dos Kayapó praticando Ronkrá, seu esporte tradicional. Na legenda consta:

Nas comunidades indígenas brasileiras não existe a divisão de classes sociais. Na maioria delas, uns caçam, outros pescam, outros plantam e outros dominam os ritos religiosos. (COSTA, 2016, p. 106)

Essa abordagem ainda pode ser vista como idílica, tendo em vista a generalização do modo de vida indígena não ter se alterado ao ponto de se manterem a margem das sociedades de classe. Talvez, uma problematização seria aconselhável, no sentido de situar algumas aldeias que preservam essa estrutura social, mas generalizar contribui a consolidar a imagem do índio genérico. A questão do mito da primitividade é explicada, em um quadro abaixo da imagem, que não se confunde com a noção de

atrasado, ao contrário de evoluído, e, referindo-se complexidade cultural das sociedades indígenas mencionam os antropólogos Pierre Clastres e Marshall Sahlins. E finalizam com a seguinte ressalva:

Dentro desta forma de classificação que aqui adotamos encontram-se sociedades completamente distintas entre si sob o aspecto cultural, o que se reflete na sua forma de organização social. assim, queremos registrar que a ideia de ‘sociedades tribais, primitivas ou sem Estado’ está sendo utilizada apenas para destacar principalmente os elementos econômicos comuns que estão presentes nessas diferentes sociedades. (op. cit., p. 106)

Diferentemente dos demais livros, neste foi reservado um capítulo inteiro para tratar dos indígenas. É o capítulo 24, último capítulo desse livro didático, intitulado: “‘Tudo se chama nuvem, tudo se chama rio’ : nossos ancestrais, primeiros habitantes do Brasil”, no marco da Unidade 3, “Relações Sociais Contemporâneas”. Na primeira página dessa seção, tem a foto de uma cerimônia indígena xinguana, na qual um índio Yawalapiti está pintado, filma o ritual. O texto aborda a noção equivocada dos habitantes das terras brasileiras terem sido considerados índios antes Cabral, dando conta da identidade e da diversidade étnica.

Apesar de ser voltado para a composição histórica da ocupação do território brasileiro, o capítulo apresenta a seguinte definição a respeito do sentido da palavra:

Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (2006), ‘índio é qualquer membro de uma comunidade indígena, reconhecido por ela como tal. ‘Comunidade indígena’ é toda comunidade fundada em relações de parentesco ou vizinhança entre seus membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré-colombianas. (op. cit., p. 376)

Outra definição trazida pelo livro é a que consta no Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973) segundo a qual é indígena:

todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional (idem) Ao longo de dezessete páginas o livro apresenta estudos, principalmente populacionais, para ensinar sobre a diversidade étnica dos indígenas no território brasileiro, visando discorrer sobre etnocentrismo, o censo populacional do IBGE, de 2010, sobre a diversidade linguística indígenas e seus conhecimentos medicinais. O convite a reflexão e aproximação com a temática é feito da seguinte maneira:

Sobre o presente, vamos descrever e estudar – tomando como base os estudos desenvolvidos pela Etnologia Indígena, uma área da Antropologia que estuda os grupos indígenas – o que fazem esses

povos, quais são suas lutas e conhecimentos. Além disso, ao contrário do que sempre vemos na mídia, esses povos não estão somente em aldeias distantes nas florestas; há grupos indígenas também entre nós, nas cidades, trabalhando, estudando, utilizando-se das novas tecnologias e, uma das coisas mais significativas, nossa cultura brasileira é repleta de símbolos e modos de viver de origem indígena. (op. cit., p. 377)

O capítulo contém inúmeras gravuras, fotografias e, pela primeira vez observado nos livros pesquisados, cita o trabalho de Curt Nimuendaju e Gersem dos Santos Luciano Baniwa, do qual apresentam a diversidade na organização social indígena.

Mesmo com o maior espaço reservado a temática indígena, ainda assim esse último livro teve a seguinte ressalva:

muito embora o livro apresente a discussão, faltou um tratamento antropológico mais aprofundado para a questão indígena em diferentes regiões do Brasil hoje, notadamente sobre a construção da identidade indígena em permanente contato com distintas realidades da sociedade urbana brasileira, que constitui novas expressões da situação indígena, com novos fluxos, políticas e reelaborações culturais.” (BRASIL, 2014, p. 48)

Para facilitar a sistematização de alguns tópicos abordados nos livros atinente à história e à cultura dos povos indígenas, segue abaixo um resumo comparativo, com quatro critérios. Esses critérios foram pensados de modo a agrupar algumas características capazes de serem acionadas para conhecer a diversidade de povos. No quadro constam quais livros acionaram os marcadores agrupados na primeira linha: Figura 9: Quadro Sinóptico: A diversidade étnica nos livros didáticos

LIVRO C ult ur a mate ria l li nguís ti ca Representação do índio Etnoc entrism o R elativi smo c ult ur al Etni as No passado No prese nte

Sociologia no Ensino médio

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Tempos Modernos, tempos de sociologia

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Sociologia x X x x x X

Sociologia para jovens no século XXI

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Segundo os quesitos utilizados para comparar o tratamento do assunto nos cinco livros didáticos, consta-se que todos trabalham a questão indígena, embora apenas “Sociologia Hoje” aplica uma abordagem mais completa. Em relação à representação do índio, o livro “Sociologia para jovens no século XXI” não traz a situação atual das etnias, o que pode reforçar a ideia do índio como algo vinculado ao passado.

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