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CAPÍTULO 2 - OS PORTOS BRASILEIROS E A EXPORTAÇÃO DE SOJA

2.3 A Soja como Produto de Exportação

As mudanças por que passou a China, a partir de 2001, contribuíram para o crescimento econômico deste país, cujas relações comerciais com o Brasil tornaram-se agente de desenvolvimento econômico também para o Brasil.

No período 1999-2011 o principal mercado consumidor das exportações do Brasil foi a União Européia, que perdeu importância relativa no comércio brasileiro ao longo da década, ao mesmo tempo em que a China passou a ser um parceiro comercial relevante para a economia brasileira, através da comercialização principalmente de produtos primários, que apresentam baixo valor agregado6 (SOUZA e VERÍSSIMO, 2013). Já na pauta de importação dos produtos chineses, pelo Brasil, estão produtos de alto valor agregado como máquinas, aparelhos elétricos, materiais têxteis, produtos de indústrias químicas ou das indústrias conexas (MORTATTI et al., 2011).

Dentre os produtos primários exportados para a China, as commodities, a soja em grão apresenta-se como a commodity agrícola de maior importância, sendo que em 2013, este país se consolidou como o principal parceiro comercial do agronegócio brasileiro, absorvendo 22,9% do total exportado pelo setor, em faturamento. Por ser uma planta típica de climas temperados, a produção brasileira teve como um dos grandes desafios enfrentados pelo programa de melhoramento da Embrapa Soja, a sua

6Valor que vai sendo adicionado a um produto no processo de produção a medida que vão sendo demandadas mão de obra e a utilização de máquinas e equipamentos, e quaisquer outros incrementos que consequentemente aumentam o valor do produto.

16 adaptação às condições de latitudes das regiões Centro-Oeste (ALMEIDA et al., 2014). Esta região concentra a maior produção nacional, tendo chegado a 78,5 milhões de toneladas em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)7.

É uma commodity cujos preços são balizados no mercado internacional, pela Bolsa de Chicago, fazendo com que os produtores deste bem agrícola não detenham controle sobre seu preço, podendo atuar somente na gestão de seus custos (KUSSANO e BATALHA, 2012).

Sendo assim, cultivada no Brasil em grande escala e com grande demanda internacional, e, por conseguinte, um produto de peso na balança comercial devido às exportações executadas através de portos marítimos, algumas considerações devem ser feitas, atentando-se para os aspectos positivos e negativos que permeiam a produção e comercialização da soja brasileira.

Os aspectos positivos mais relevantes relacionados à produção e comercialização da soja concentram-se nas pesquisas contínuas de melhoramento genético da soja, com tecnologia genuinamente brasileira, representada pelas sementes de „cultivares tropicais‟, permitindo a exploração da soja em regiões antes consideradas inaptas para o seu cultivo econômico (ALMEIDA et al., 2014). Ainda, segundo o autor, o melhoramento confere aos cultivares, resistência genética às principais doenças e pragas, e a tolerância aos fatores limitantes edafoclimáticos8, o que lhes garante estabilidade de produção e de retorno econômico.

Adicionalmente, conforme a cultura da soja foi se estabelecendo na regiões onde hoje é cultivada em escala comercial, houve, por parte do governo, incentivos fiscais disponibilizados para a abertura de novas áreas de produção agrícola, assim como para a aquisição de máquinas e construção de silos e armazéns, e subsídios do governo como a Lei Kandir, que está em vigor desde 1996, e isenta do pagamento de ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação), os produtos agrícolas destinados à exportação9 (PONTES et al., 2009).

7 Dados da 12ª avaliação da produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (IBGE, 2014).

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Condição edafoclimática: condição de solo e clima. (EMBRAPA, 2014)

17 Negativamente, discute-se que economias baseadas na exportação de produtos primários acabam por retrair setores produtivos, com consequente perda na participação do setor industrial (BRANCO, 2013). O autor ainda afirma que os setores extrativos e produtivos de bens primários geram menos emprego e possibilidades para a criação de novos negócios, fenômeno conhecido como Doença Holandesa10.

“BRAHMBHATT e CANUTO (2010) evidenciam que as economias baseadas na exportação de commodities, em um contexto de crise (como a que se verificou a partir do segundo semestre de 2008), apresentaram uma recuperação mais rápida dos seus efeitos em relação aos países baseados na exportação de produtos industriais. Tal constatação se baseia no comportamento dos preços das commodities, os quais sofreram um pequeno declínio após seu pico, em 2008, mas esse declínio não chegou a atingir os níveis verificados no período 2005-07, sendo que, logo em 2009, os preços desses bens voltaram novamente a subir” (SOUZA e VERÍSSIMO, 2013).

Mais especificamente, para a produção e comercialização da soja, o Brasil perde em competitividade devido aos custos envolvidos na logística da soja. Os problemas de infraestrutura vão desde deficiência na armazenagem, passando por dificuldades na intermodalidade, até a má conservação de rodovias. Para ser exportada, a soja percorre longas distâncias, e o maior polo produtor, região de Mato Grosso, concentra o escoamento da maior parte de sua produção, equivalente a 72%, nos portos de Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul (VARGAS, 2014a).

O fluxo de escoamento para o mercado externo pode ser definido como sendo o caminho que o produto percorre desde a fazenda até o porto, e no Brasil as alternativas viáveis para este escoamento são relativamente reduzidas. Assim, é vital o conhecimento da estrutura logística e a identificação dos custos envolvidos na movimentação dos produtos agrícolas, para, em seguida, quantificá-los e propor soluções que minimizem seus custos e perdas de produtos (KUSSANO e BATALHA, 2012).

Sendo assim, esta pesquisa se foca na extremidade final da cadeia logística que envolve a comercialização da soja em terreno nacional, através da exportação via portos

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Termo criado pela revista inglesa The Economist, em 1977, para descrever os efeitos nocivos sobre a indústria holandesa derivados da descoberta de grandes reservas de gás natural no Mar do Norte, nos anos 1960-70. A entrada de divisas na Holanda ocasionada pela exportação de gás natural provocou a valorização da moeda holandesa, reduzindo a competitividade de suas indústrias, causando, portanto, a desindustrialização (SILVA, 2014a).

18 marítimos organizados. O conceito de área do Porto Organizado pela Lei Nº 12.305 é definida como:

Art. 2o

I - porto organizado: bem público construído e aparelhado para atender a necessidades de navegação, de movimentação de passageiros ou de movimentação e armazenagem de mercadorias, e cujo tráfego e operações portuárias estejam sob jurisdição de autoridade portuária;

II - área do porto organizado: área delimitada por ato do Poder Executivo que compreende as instalações portuárias e a infraestrutura de proteção e de acesso ao porto organizado.

Tratando-se os portos como unidades operacionais de carga, faz-se necessário a todo tempo, o planejamento e melhoria das operações, buscando-se eficiência e ganhos econômicos.

Nesse sentido, o uso de modelos quantitativos auxilia no processo decisório, e a modelagem quantitativa é usada como apoio à tomada de decisão, e solução dos problemas encontrados (BATISTA, 2009).

Através de uma ferramenta de avaliação quantitativa, com suas vantagens e limitações, busca-se inferir sobre a influência de fatores operacionais envolvidos na movimentação da soja, e eficiência do porto em tal atividade.

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