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STÓRIA DA CIVILIZAÇÃO IBÉRICA 89 Entre as diversas categorias dos ingenui ou livres, até agora

enumeradas, e as diversas espécies de servidão que a seu tempo estudaremos, encontramos os colonos - classe que não pertence, nem à primeira, nem à segunda das suas divi­ sões da população; mas entre ambas, como uma transição, tanto pode ser considerada uma quase liberdade de servos, como uma quase servidão de homens livres. Se a história nos diz que o colonato já no tempo do Império começava a ser uma forma de emancipação incompleta dos servos, também nos diz que as crises das invasões fizeram descer à condição de colonos muitos homens livres. O facto é que a classe aparece agora com uma importância nova; e o nome de plebei que no tempo dos Romanos, conjuntamente com o de privati, designava a massa dos proletários, designa agorajá especial­ mente os colonos. Colono é aquele que cultiva o campo alheio, livre quanto à pessoa, mas adscrito à terra que agri­ culta. O colonato caracteriza-se mais pelas relações do domí­ nio do senhor ou patrão sobre a terra possuia pelo lido, do que sobre a pessoa deste. Se a instituição por um lado, parece ir filiar-se no sistema de beneficio e protecção da propriedade goda, é facto que ela existia sob a administração romana; e por isso vemos aplicar-se o sistema de colonato, não só às sortes godas privilegiadas com a isenção, como as tertiae tribu­ tárias deixadas aos Hispano-Romanos.

Forma de servidão mitigada, ou forma rude e incompleta ainda de propriedade, o facto é que sob o regime feudal o colonato se obliterava na Europa; ao passo que se desenvol­ via na Península tornando-se o principal instrumento de abolição da servidão. De tal modo surgia um novo motivo de primazia da Espanha entre as nações europeias da Idade Média; e mais tarde, na era da Renascença, ela era a primei­ ra de todas na cena política, porque, já completamente aca­ bada na sua elaboração interna, se achava capaz de exercer uma acção dominadora sobre o Mundo.

Falta-nos agora descrever a condição das classes servas.

Qualquer que tivesse sido a acção das doutrinas dos filósofos antigos condenando a escravidão como um facto contra a Natureza, é provado que a condição real dos escravos se fora tornando gradualmente suportável. Verdade é, porém, que, em princípio, o escravo romano era uma cousa, ao passo que o

escravo godo, embora muito inferior aos lidos ou plehei, em­ bora sem jurisdição, erajá um homem - como que um menor -voltando a escravidão a ter um carácter doméstico'. Assim se caracterizara também a escravidão entre Gregos e Roma­ nos, quando a época do desenvolvimento particular dessas sociedades fora correspondente à época do desenvolvimento da sociedade germânica no momento da sua disseminação pela Europa OcidentaJ2. Primeiro as guerras, dando uma nova origem à escravidão, depois a indústria, acrescentando uma segunda, fizeram obliterar o carácter doméstico que em toda a parte é o primitivd.

Entre os Godos é o mister ou oficio que exprime generica­ mente a condição servil: evidente prova da feição doméstica da servidão. As leis designam sempre os servos pelos nomes de ministeriales, donde se fez a palavra «mesteirais», sinónimo de artífices do português da Idade Média. Efectivamente o servo idoneo, ou bom, é o mecânico e o artífice; os trabalha­ dores rurais são viliores, ínfimos, rústicos, e para eles há uma designação especial: mancipii. São a abjecção da abjecção.

Diferentes caminhos levavam, durante a paz, à condição de servo. O primeiro era o nascimento, e os outros as diver­ sas formas de queda da condição livre: a insolvibilidade, ou a servidão fingida com o fim de o homem livre obter, venden­ do-se, um preço indevido.

Assim como a sociedade dos livres tem uma aristocracia, assim também sucede à sociedade dos servos. O liberto ou manumisso é um dos tipos dessa nobreza; mas a verdadeira expressão dela está nos servos fiscais, cuja situação efectiva é frequentemente superior à dos colonos e até à dos bucelários. Os servos fiscais eram os cobradores e escrivães da fazenda do príncipe. Encontrámo-los na aula regia; e acabando por dizer que até lhes era concedido o possuir outros servos da categoria ínfima dos manciPii, temos demonstrado a existên­ cia da aristocracia.

Julgamos ter percorrido toda a série de problemas e fenó­ menos históricos sugeridos pela constituição da monarquia visigoda. Pensamos ter discriminado, quanto nos limites

, V. II/stituições Primitivas, pp. 276-289.

2 V. História da República Romal/a, I, pp. 378-397. 3 V. Regime das Riqlle�as, pp. 1 79-184.

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deste trabalho cabe, o que no sistema d e revolução e institui­ ções se deve considerar como pertencendo ao movimento de dissolução da Espanha romana, e aquilo em que já aparecem elementos para a futura constituição da Espanha moderna. Estas duas correntes seguem paralelamente o seu caminho através das épocas do domínio godo. Fatal, inevitável, como é a primeira, só mais tarde a segunda poderá, livre e inde­ pendente, avançar no sentido de um progresso positivo.

A monarquia visigoda, como reprodução artificial que em parte era da monarquia imperial romana, cai a pedaços, ví­ tima da corrupção interna, do vírus desorganizador que ac­ tua com maior energia ainda no rude e forte bárbaro. Carlo­ vingianos da Espanha, já o dissemos, os reis godos têm de ceder aos novos invasores o ceptro mal seguro em suas mãos impotentes. A dissolução do Império antigo tem de consu­ mar-se.

Apesar de uma certa melhoria nas condiçqes de algumas classes, as chagas fundamentais da época romana, isto é, a propriedade condensada em grandes massas, a escravidão, a servidão geral, a propriedade, a voracidade fiscal: tudo se manteve e em parte se agravou. O povo miserável porven­ tura esperara na Igreja a redenção; os escravos, fiados na doutrina caridosa do Evangelho, tinham talvez esperado a alforria; mas o clero, tornando-se Governo, reconsiderara, e logo que empunhou o ceptro, desposou as doutrinas inimi­ gas. Santo Isidoro de Sevilha, que por tanto tempo dirigiu os concílios de Toledo e foi «glória da Igreja Católica» reproduz as antigas teorias naturalistas de Aristóteles e de Cícero acerca da escravidão, e a condição dos servos, se num sentido melhora, é todavia mais onerosa, pois às obrigações antigas se juntam agora os serviços pessoais que príncipes e senhores visigodos implantam com o seu domínio.

Os bispos regentes dos reis, os clérigos seus confessores, levando pelo terror do Inferno os bárbaros infantis e corrom­ pidos, governando os concílios que presidem à nação, nada fizeram no sentido de melhorar a sorte dela. Apenas fun­ daram uma nOV<;l teoria do Estado - a teocracia. Rodeado dos seus fidalgos, o rei vinha humildemente ajoelhar diante dos padres do concílio, implorando com soluços e lágrimas que interviessem por ele perante Deus para lhe inspirar leis sábias. Constituída a fé como suprema virtude cívica, apare-

ceu a intolerância feroz como missão principal do Governo; e sobre todas as chagas da sociedade imperial romana, que pelo menos era céptica, lavrou o cancro da perseguição dos judeus, formalmente declarada (61 6) no reinado de Sisebuto, impondo aos sectários de Moisés a conversão ao cristia­ nismo. A repressão da revolta de 694, tramada de acordo com os judeus marroquinos e cujo pensamento era fazer da Espanha um Estado mosaico, lançou na fogueira da intole­ rância religiosa o novo combustível da vingança política.

Eis aí o reverso da medalha de grandeza que antes esboçá­ mos. Eis como todos os elementos sociais conspiravam para a queda do carcomido império visigodo. Os judeus ardiam numa insurreição surda; os servos, na apatia da miséria ne­ gra, eram indiferentes à nação; os proprietários eram inimi­ gos irreconciliáveis de um regime que provara ser incapaz de os salvar. E era com esses servos armados que se formava a maioria da peonagem do exército do rei Rodrigo! Por isso os doze mil homens de Taric bastaram para conquistar a Espa­ nha.

Os novos bárbaros que se avizinham para a avassalar não vêm do Norte: são um punhado de árabes à frente de um exército de berberes. Esta circunstância, que determina uma nova transfusão de sangue africano nas veias do corpo penin­ sular, faz com que a Espanha siga uma história diversa da­ quela que as segundas camadas de invasões prepararam à Europa Central.

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A OCUPAÇÃO ÁRABE'

Um novo encontro, como o dos Cartagineses e dos Roma­ nos, já esquecido nas tradições de uma antiga história, veio acabar de impor o cunho à fisionomia da Espanha, cuja ci­ vilização parece com efeito sair da combinação do génio de duas raças produzindo um tipo distinto de ambas. Quem agora capitaneava os Espanhóis não eram romanos, eram godos; e Cartago sumira-se do rol dos impérios, vindo as po­ pulações de África desembarcar na Península sob o comando dos generais do Islão.

Entre os dois choques, que são para a etnologia hispânica um mesmo movimento, tinham ocorrido os factos históricos por nós observados e que davam agora à Espanha uma fisio­ nomia diversa da antiga. Ao tempo da invasão romana vimos os Espanhóis desposarem a causa de Cartago, e os Cartagine­ ses acharem na Península uma população afim; agora vemos que a romanização transformou os Espanhóis a ponto de já não reconhecerem nos novos invasores os seus antigos com­ panheiros de armas, nem os porventura seus irmãos de san­ gue. Tal poder as ideias de uma civilização exercem sobre a massa como que informe das populações semibárbaras, que chegam a obliterar nela as simpatias vinculadas a uma des­ cendência comum!

Quando dizemos romanização da Península, incluímos nesta palavra o facto eminente de um cristianismo mais ou menos pagão, difundido e nacionalizado no intervalo das duas invasões de africanos. Acontecimentos semelhantes ti-

nham-ocorrido do outro lado do Estreito. A África Setentrio­ nal, subjugada pelos Romanos, passara das mãos destes às dos Vândalos, para afinal cair sob o domínio dos Árabes. O cristianismo tinha aí assentado arraiais, e a própria Car­ tago fora a pátria de um dos seus organizadores, Santo Agos­ tinho; mas com a conquista muçulmana desapareceu o domí­ nio bizantino e perdeu-se a religião cristã.

É hoje, porém, reconhecidamente provado que nem no pensamento do Profeta, nem no sistema da sua nova religião, nem na política dos califas, houve a ideia ou o propósito de guerrear para converter o mundo. Pelo contrário, as conver­ sões aparecem como consequência das conquistas, e não raro se lamenta que os povos submetidos tão prontamente abra­ cem o Corão. A Guerra Santa, dissera Maomé, só é dever quando nos agridam os inimigos do islão. O culto de Alá não foi propagado pela força: foi-o apenas o império dos califas. Estes, longe de buscarem fazer prosélitos, viam com senti­ mento as conversões, porque, isentando do imposto os sub­ metidos, diminuíam os réditos do seu tesouro. Por outro la­ do, a falta de originalidade do islamismo fazia com que os povos achassem nele mais ou menos definidos os dogmas da sua anterior religião. Era o mesmo que, por certos lados, su­ cedera com o cristianismo, quando as nações romanizadas do Ocidente introduziram nele as suas tradições pagãs.

Se os judeus, cujos livros Maomé mais directamente apro­ veitara, resistiam - da mesma forma que resistiam aos cris­ tãos -, não sucedia assim à cristandade copta do Egipto e da Síria, que via no Corão muitos dos seus dogmas e não repelia a cristologia do livro sagrado de Maomé.

Dispusera este que todos os sectários do «Livro Sagrado» -judeus e cristãos - tivessem liberdade de culto, mediante pagamento de um imposto. Essa faculdade estendeu-se de­ pois aos persas da bíblia de Zoroastro com a conquista da província de Baharém; e mais tarde Oman (644-654) deu o mesmo privilégio aos do Norte da África. Segundo se vê, a tolerância para com as religiões estranhas crescia à maneira que as conquistas avançavam.

A imaginação fecunda do Árabe, nesse Oriente que é um viveiro pantanoso de loucuras religiosas, não admitia o fana­ tismo; e foi o génio africano de Marrocos, e da Espanha de­ pois, que deu ao islamismo o carácter de uma religião intole-

HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO IBÉRICA 95 rante, mantendo uma ortodoxia. Quando em Medina os des­ cendentes dos fundadores do islamismo foram expulsos do califado pelos Omíadas (66 1 -750) vieram, perseguidos, aco­ lher-se em África, de onde passaram à Espanha a pregar a verdade, pura, vencida na Arábia por uma dinastia pagã. Com efeito, os novos califas de Damasco representavam a vitória de uma reacção do politeísmo indígena da tribo árabe e eram verdadeiramente ímpios. Wâlid II (743-744) man­ dava as suas concubinas representá-lo nas preces públicas, e servia-se de um exemplar do Corão para alvo de frechas. La­ mentava as conversões que lhe diminuíam os rendimentos: o . Egipto produzia só metade do que já tinha dado, porque os cristãos coptas se tinham convertido ao islamismo.

Outro tanto sucedera aos Berberes, cuja primitiva religião - se tal nome convém aos seus cultos rudimentares - desa­ parecera ao contacto do islamismo. A crítica dos nossos dias mostra-nos que, seja qual for o valor moral de uma religião, o povo que a aceita só tomará dela o que for compatível com o seu génio e com o estado evolutivo da sua civilização. O isla­ mismo foi para as tribos do Atlas no VII século o que é hoje e

continuará a ser, avançando na África Central, para as tribos da Nigrícia'. Dessa religião que reúne a grandes requintes de inteligência uma obscuridade moral singular e um materia­ lismo sem caridade, o Berbere ou o Tuaregue, o Negróide, o Negro, só compreendem e por isso só aceitam a segunda metade, compatível com as suas respectivas capacidades. Hoje, para lá do Sara e pelas origens do Nilo, na região dos lagos, a propaganda islamita não é como foi a dos Árabes no

VII século entre os Berberes. De então para cá as nações da

África Setentrional ganharam independência; e Meca tor­ nou-se Roma, uma cidade santa, cujo califa, sem deixar de ser papa, já também não é imperador.

No VII século, porém, a missão religiosa era uma conse­

quência quase sempre involuntária da conquista; e se os Ber­ beres afeiçoavam ao Corão o culto dos seus marabús, não se submetiam com igual facilidade ao império dos generais mu-

çulmanos. Nómadas, independentes por génio próprio, e in­ ,subordináveis, punham na liberdade o fanatismo constitu­ cional da raça; e o progresso religioso ganho com o Corão era mais uma causa de resistência, como o demonstraram as ul­ teriores revoluções sectárias e ao mesmo tempo políticas. Se­ tenta anos durou uma guerra em que se derramaram rios de sangue árabe. O Berbere valia incomparavelmente mais do que as populações abastardadas do litoral, e dava maiores trabalhos do que os podres vassalos do império persa ou do império de Bizâncio'.

A sujeição da África SetentrionaP é o prólogo da con­ quista da Espanha; e nesta segunda empresa, os Arabes viram repetir-se o que lhes acontecera na primeira, não com as tribos do interior, mas sim com as colónias bizantinas do litoral. Mais ou menos ortodoxos, os cristãos da África sen­ tiam o jugo intolerante do papado de Constantinopla; e a dominação dos muçulmanos importava para eles a liberdade religiosa. Depois, já também livres dos pesados impostos bi­ zantinos substituídos pela capitação árabe mais modesta, veio o desejo de se isentarem desse encargo, ganhando uma igualdade só possível no seio da religião dominante. Por isso mais tarde se foram convertendo, como também sucedeu a muitos cristãos da Espanha, trocando uma condição, análo­ ga à dos judeus entre as nações católicas, por uma condição, civil e religiosamente igual.

Nos últimos anos do VII século, Cartago, chave da Mauri­ tânia, caiu afinal em poder dos Árabes, e com ela toda a África Setentrional. Mas nem por estarem expulsos os gre­ gos, convertidos ou submetidos os cristãos, estava seguro o novo domínio; porque pouco antes da conquista de Espanha, a Berberia assiste a uma insurreição geral dos naturais. Di­ zem as lendas que os Berberes, vendo na riqueza das cidades o motivo das invasões estrangeiras, arrasaram Tânger e Tri­ poli, cortando as árvores, destruindo vilas, e reduzindo essa região, que os Romanos nos descreviam luxuriante e rica, ao árido e escalvado deserto agora apenas renascente à sombra da protecção da Europa. Esta lenda, como todas as lendas, é o eco de uma verdade histórica; e o suposto acto voluntário

I V. Tábuas de Cronologia, pp. 1 1 4- 1 1 8. ' V. Raças Humanas I, pp. 1 1 2- 1 1 3.

HISTÓRIA DA C IVILIZAÇÃO IBÉRICA 97 dos Berberes no princípio do VIII século simboliza uma de­ vastação que as guerras e as rapinas tinham consumado no decorrer de trezentos ou quatrocentos anos.

A insurreição, porém, era um facto real e não uma lenda. Musa, nomeado emir de África pelo califa. de Damasco, con­ seguiu sufocar o levantamento e consolidar para sempre o domínio sarraceno em África. .

Causas de ordem diversa impeliam os Árabes a atravessar o Estreito. A tentação que sobre eles devia exercer o encanto e riqueza dessa Espanha frónteira e tão próxima, seria a pri­ meira. Além dela, devemos lembrar o entusiasmo conquista­ dor que a vitória punha nos peitos dos sectários de Maomé, sem esquecer a fatalidade que arrasta as civilizações expansivas' até se esgotarem ou até encontrarem um obstá­ culo insuperável, só a morte pôs termo às marchas de Ale­ xandre, só a resistência da Europa coligada, às guerras de Napoleão - só a muralha dos Pirenéus, à marcha triunfal de Taric. A estas causas vêm juntar-se as dissenções internas da Espanha visigótica, onde os partidos, pospondo o patrio­ tismo e a religião ao ódio, repetiam os exemplos dos berberes vizinhos.

Vitiza fora derribado do trono de Toledo em 709 e assassi­ nado pelo usurpador Roderico. O rei deposto deixara porém dois filhos, cujo partido não duvidou mendigar o auxílio dos Árabes, nem alistar-se nas colunas dos seus exércitos, es­ perando que estes lhe dariam o trono pelo preço de uma ra­ zia mais ou menos grave. A este episódio político juntavam­ -se as causas de ordem social já enumeradas que faziam do Estado visigodo um edificio carcomido; e entre essas causas avultava a rebeldia dos judeus, numerosos, opulentos, in-, fluentes, e cruelmente perseguidos pelos Governos e pelas populações - dos judeus que esperavam melhorar de sorte sob o domínio de uma raça afim e no seio de uma religião tolerante por princípio.

À história da invasão de 7 1 1 , precedida por uma primeira tentativa sem resultado no ano anterior, anda ligada a tradi-

, V. Teoria da História Universal, nas Tábuas de Crollologia p. XIV e IlIstituições Primitivas, pp. 274-275 e ant.

ção de um certo conde Juliano, ao tempo governador de Sep­ tum (Ceuta) que abrira aos muçulmanos as portas da cidade proporcionando-lhes por tal forma a fácil passagem do Es­ treito. Ceuta seria pois a esse tempo um presídio bizantino; e Juliano, seu governador, grego ou proposto por gregos, e não um conde godo. Isolada Ceuta dos cristãos do Oriente, as suas relações com a corte de Toledo seriam porém estreitas, e parece que Juliano, tendo mandado educar uma filha nessa corte, o rei Rodrigo se enamorou dela e a violou. Da vin­ gança deste caso veio a invasão, porque o conde convidou Musa a passar à Espanha, e este consultou o califa que pru­ dentemente lhe ordenou sondasse primeiro o terreno. Preten­ de-se que, ainda depois da conversão de Recaredo ter remo­ vido as repugnâncias religiosas dos católicos espanhóis, vários pontos das duas costas sul e ocidental da Espanha se conservam sob o domínio dos Bizantinos que incitavam os naturais a repelir o jugo dos Godos. Sob o governo de Teudis (533-548) há notícia de desembarques nas costas de África, já para um ataque a Ceuta, já em auxílio dos Vândalos. En­

tretanto, Cartago caía em poder de Justiniano. Por morte do