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Suíte Morro Inglês

No documento Geologia do Terreno Paranaguá (páginas 64-74)

Os granitos denominados de Morro Inglês por Lopes (1987a) na região da Serra da Prata no Estado do Paraná, se estendem desde a Ilha de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, até a região de Iguape, em São Paulo. São granitóides facilmente identificados em campo por sua textura porfirítica com fenocristais de feldspato (tipo dente de cheval, figura 4.19). Predominam litotipos leucocráticos, cinza claros, foliados, granulometria média a grossa, com fenocristais de feldspato potássico (2 a 5 cm) que ocorrem normalmente com formas tabulares, e mais raramente ocelares. Nesses granitóides predominam feldspato potássico, quartzo, plagioclásio, anfibólio ± biotita. Dentre os acessórios merece destaque a presença de titanita, que nas proximidades de Paranaguá e na Serra da Prata pode chegar a dimensões de até 5mm.

Muitas vezes ocorrem enclaves de composição diorítica e quartzo-diorítica, com granulometria fina, formas angulares e esféricas, em dimensões que geralmente não excedem 50cm, a exceção aos corpos que ocorrem nas proximidades de Ariri e Guaratuba, cujas dimensões são decamétricas (figura 4.20).

A Suíte Morro Inglês pode apresentar variedades litológicas com diferentes granulometrias, desde média, grossa a muito grossa, onde os fenocristais atingem dimensões da ordem de 10 cm em certos locais. Frequentemente são foliados e miloníticos, embora na

maioria dos afloramentos esses granitos mostram-se praticamente isótropos, ou com feições que podem estar associadas a processos de fluxo magmático. Feições miloníticas são comuns, principalmente nas porções próximas as zonas de cisalhamento transcorrente, observadas na região da Ilha de São Francisco do Sul - SC e Paranaguá – PR.

Nas regiões de Garuva – SC, Serra da Prata – PR, Paranaguá – PR, Guaraqueçaba e Ariri – SP ocorre uma textura bastante peculiar dessa suíte, o manteamento de feldspato alcalino por minerais opacos (óxidos), inclusive com níveis de opacos acompanhando o zoneamento interno dos fenocristais.

BP-126 BP-53

Figura 4.19: Aspecto macroscópico dos granitos porfiríticos da Suíte Morro Inglês.

Enclaves de diversas naturezas são frequentemente observados em meio aos granitos. Os enclaves de metassedimentos, xenólitos da Sequência Rio das Cobras, apresentam formas tabulares e / ou irregulares, com dimensões que variam entre 1cm e 1m. Os enclaves máficos podem apresentar composição diorítica ou fonolítica. Os dioritos são expressos por enclaves geralmente ovalados, por vezes com contatos lobados e com feições de assimilação, com dimensões que variam entre 1cm até 6m. Os enclaves alcalinos são expressos por nefelina- fonolitos e sienitos com formas ovaldas, algumas vezes com aspecto estirado, com dimensões que variam entre 1cm e 1m.

BP-65: enclave diorítico BP-75: enclaves alcalinos

Na Suíte Morro Inglês predominam monzogranitos, sienogranitos e granodioritos porfiríticos, com termos ricos em fenocristais de K-feldspatos e em máficos, representados por biotita e/ou anfibólio. Além da presença de enclaves, feições de mistura (mixing e mingling) com rochas dioríticas são freqüentemente observadas nas praias de Matinhos e Guaratuba (PR). Os trabalhos de campo e petrografia possibilitaram o reconhecimento de 4 fácies principais nessa suíte, sendo esta subdivisão de caráter preliminar, levando principalmente em conta as texturas e estruturas das rochas.

Fácies Granito Porfirítico

É composta por monzogranitos, sienogranitos granodioritos e quartzo-monzonitos com textura porfirítica e estrutura maciça, com presença de fenocristais de K-feldspato, quartzo, plagioclásio, biotita, epidoto, titanita, allanita, apatita e zircão. Os fenocristais de K-feldspato apresentam dimensões próximas a 4,5 cm, com cristais euédricos a subédricos, alguns micropertititicos (figura 4.21). O plagioclásio (An 12-20) apresenta-se como cristais subédricos,

por vezes zonados, com dimensão de 5mm em média. A biotita ocorre como pequenos cristais intersticiais com até 2mm, concentradas geralmente em algumas porções da rocha (figura 4.21). O anfibólio (hornblenda) ocorre em pequenas porcentagens, estando em grande parte substituído por biotita. A fase acessória é composta por epidoto, titanita, allanita, apatita e zircão, na maioria das vezes inclusos em outros minerais. Destaque para a textura de manteamento de allanitas por epidoto e epidoto com cristais euédricos, característica de epidoto magmático (figura 4.22). O epidoto pode ocorrer também como produto secundário, associado a alteração das biotitas e hornblendas. Em alguns locais os cristais de titanita podem atingir dimensões de até 2,5 mm.

Na região do Rio Cubatão, nas proximidades da Serra da Prata e ao norte de Guraqueçaba – PR, são observadas texturas de manteamento de máficos nos feldspatos, tanto em suas bordas externas como no interior dos fenocristais, acompanhando o zoneamento magmático (figura 4.23). São níveis de saussurita e óxidos expressos por minerais opacos com formas variadas e irregulares, que em alguns casos podem se concentrar no centro de um cristal de feldspato. Esta textura foi primeiramente descrita por Lopes (1987a) e nomeadas pelo autor como “cubatanitos”, em referência ao Rio Cubatão. Tais feições podem estar associadas a processos de mistura de magmas, sendo também observadas em outros locais, como na parte norte da ilha de Iguape - SP.

BP-53 BP-54

0 2.5 5mm

Figura 4.21: Prancha com fotomicrografias das texturas dos granitos porfiríticos da Suíte Morro Inglês: BP-53 (polarizadores cruzados) – biotitas intersticiais e aglomeradas e porções da rocha; BP-54 (polarizadores cruzados): fenocristal de K-

feldspato pertítitco; BP-76 (polarizadores

paralelos): cristais de titanita com até 2,5 mm. BP-76

Figura 4.23: Zonação e óxidos acompanhando a estrutura interna dos fenocristais de K-feldspato (BP- 141, região norte de Iguape - SP).

Fácies Foliação Magmática

Muito semelhante a fácies granito porfirítico, individualizada pela presença de uma foliação marcada tanto pela imbricação dos fenocristais de K-feldspato, como pela orientação de níveis máficos. São freqüentes as feições cumuláticas tais como bandas com diferentes proporções entre félsicos e máficos, além de porções enriquecidas e com contato mútuo entre fenocristais (figura 4.24). Em sua trama são observados cristais euédricos de epidoto e manteamento de epidoto em allanitas, indicativas de origem magmática. Apesar de frequentemente foliados, os termos dessa fácies não apresentam deformação e estiramento dos minerais, sendo a foliação caracterizada pela orientação da fábrica (principalmente dos fenocristais).

Nas regiões de São Francisco do Sul – SC e Iguape –SP são observados xenólitos de encaixantes metassedimentares compostos por quartzitos, xistos e filitios rítmicos, com dimensões que não ultrapassam 1 m e formas variadas, desde ovaladas a angulosas. Rerpesentam restos das unidades encaixantes desses granitos, provavelmente associados a Sequência Rio das Cobras.

BP-289: Guaratuba - PR BP-126: Iguape - SP

BP-125: Iguape - SP BP-57: Matinhos - PR

Figura 4.24: Prancha de fotos com foliação de fluxo magmático, evidenciado pela imbricação dos fenocristais (BP-289 e BP-126) e por feições cumuláticas (BP-125 e BP-57).

Fácies Mixing – Mingling

Esta fácies é caracterizada pela presença de rochas máficas intimamente relacionadas com as rochas félsicas da Suíte Morro Inglês. Os principais afloramentos dessa fácies estão localizados nas praias de Matinhos e Guaratuba, no litoral paranaense.

As rochas máficas são representadas por microgabros, dioritos e quartzo-dioritos com textura fanerítica equigranular fina e afanítica, coloração cinza escura e aspecto maciço (figura 4.25). É composta por plagioclásio (An 25-35), anfibólio (hornblenda), clinopiroxênio, titanita,

epidoto, K-feldspato e traços de quartzo. Ocorrem em contato com rochas félsicas representadas por monzogranitos, granodioritos e quartzo-monzonitos com textura porfirítica, compostos por fenocristais de K-feldspato, plagioclásio (An 20), quartzo, hornblenda, biotita e

a b

c d

Figura 4.25: Prancha de fotos do afloramento BP-289, no costão de Guaratuba – PR. Feições de mingling e mixing entre monzogranito porfirítico e diorito. a) porções máficas e félsicas intercalcadas, cortadas por veios pegmatíticos; b) injeções dioríticas cortando o monzogranito; c) “pedaços” do monzogranito em meio ao diorito’d) bandamento ocasionado pelo processo de mistura.

As porções máficas e félsicas encontram-se intercaladas imprimindo um aspecto bandado na rocha, com contatos nítidos e relativamente contínuos. Essa relação de contato mostra a íntima relação dessas rochas, com passagens graduais, contatos lobados, com porções máficas englobadas pelo magma félsico, e porções félsicas englobadas pelo magma máfico (figura 4.26). Nas porções máficas, próximas às zonas de contato, podem ser observados fenocristais de K-feldspato capturados.

Em algumas porções são observados aspectos de injeção do magma máfico nas porções félsicas, porém, em outras pode-se observar aspectos de injeção do magma félsico nas porções máficas. Podem ser observadas porções híbridas resultantes da mistura dos dois componentes, onde se observam monzodioritos, quartzo-monzodioritos e granodioritos.

Figura 4.26: Contatos lobados e feições de assimilação. Magma mixing e minglin no afloramento BP-58, costão da Praia de Matinhos – PR.

Fácies Estrutura Milonítica

Esta fácies é representada por sienogranitos e monzogranitos porfiríticos com estrutura protomilonítica e gnáissica (figura 4.27), compostos por fenocristais de K-feldspato, quartzo, plagioclásio, biotita, anfibólio, epidoto, titanita, apatita, allanita e zircão. Podem apresentar quebramento (principalmente dos fenocristais) e estiramento (quartzo, feldspato e biotita) na fábrica mineral.

Os fenocristais de K-feldspato, com dimensões entre 1,5 – 3 cm, são freqüentemente pertitizados e fraturados, por vezes apresentando feições de estiramento. O plagioclásio (An 10- 20) apresenta-se intensamente saussuritizado, e alguns cristais podem mostrar ondulações nas

maclas. A biotita, geralmente sub-milimétrica, pode ocorrer como cristais de até 2mm com extinção ondulante (também com clivagens onduladas). O quartzo apresenta extinção ondulante e pode apresentar feições de estiramento (ribbon).

Em locais restritos às zonas de cisalhamento, podem ocorrer termos miloníticos e gnáissicos, com deformação da trama mais pronunciada. É o caso das zonas de cisalhamento Icapara (porção norte do Terreno Paranaguá), Alexandra e Palmital (porções central e sul do Terreno Paranaguá). Nestes locais são observadas feições de recristalização dinâmica nos fenocristais de K-feldspato, com estruturas em bulging e rotação de subgrão (mais restritas), indicando temperaturas da ordem de 400 até 500oC (Stipp et al., 2002; Passchier e Trouw, 2005). Segundo Stipp et al. (2002) os processos de recristalização dinâmica ocorrem associados à temperatura crescente de bulging (280-400ºC) para rotação de subgrãos (400- 500ºC) e migração de borda de grãos (> 500ºC). Esta variação pode ser observada nas rochas da Suíte Morro Inglês quando próximas das zonas de cisalhamento (figura 4.28).

Outro aspecto relacionado a deformação imposta as rochas da Suíte Morro Inglês é o relativo enriquecimento em sílica e resumo dos minerais máficos em termos intensamente

ricos em quartzo e quartzolitos com intenso estiramento dos minerais e máficos resumidos em sericita.

BP-118: Iguape - SP BP-196: Vila Santa Maria, Ariri - SP

Figura 4.27: Fotos dos termos protomiloníticos (BP-118) e miloníticos (BP-196) da Suíte Morro Inglês. Os dois exemplos ilustrados referem-se a superfícies de baixo ângulo de mergulho.

BP-65: São Francisco do Sul - SC BP-67: São Francisco do Sul - SC

BP-91: Zona de Cisalhamento Palmital BP-94: Zona de Cisalhamento Palmital

Figura 4.28: Fotomicrografias tiradas em lupa (polarizadores //): Detalhe do estiramento das bordas no K-

feldspato (BP-65) e feições de cataclasamento e cominuição dos minerais (BP-67). Na zona de

Cisalhamento Palmital (polarizadores X): fraturas preenchidas nos fenocristais (BP-91) e rotação com sobra de pressão com cinemática sinistral (BP-94).

Fácies Aplito e Pegmatito

As fases magmáticas finais da Suíte Morro Inglês são expressas por veios e diques micrograníticos e aplíticos hololeucocráticos, com textura equigranular fina e afanítica, que nitidamente cortam os demais litotipos (figura 4.29). Podem ocorrer em direções e espessuras variadas, desde 2 cm até 3 m de largura, geralmente com formas tabulares. Em alguns locais apresentam aspecto irregular e dobrado, em estruturas que não aparentam estar relacionadas as deformações impostas por qualquer agente tectônico.

Também são observados veios pegmatíticos compostos principalmente por plagioclásio e biotita supercrescidos atingindo dimensões de até 5 cm, com quartzo intersticial e com frequente presença de turmalina, como observado na Ilha do Mel - PR. Em algumas regiões, como na pedreira Nova Prata em Matinhos – PR, foram observados cristais de fluorita com dimensões milimétricas com aspecto de preenchimento de fraturas.

a b

Figura 4.29: Veios micrograníticos (a) e aplíticos (b) cortando as rochas das diferentes fácies da Suíte Morro Inglês. Ponto BP-289, costão da Praia de Guaratuba – PR.

Fácies Vila Santa Maria

Esta fácies é representada por veios leucograníticos de dimensões na maioria das vezes centimétricas, podendo alcançar até 1,5 m de espessura (figura 4.30). Apresentam formas variadas, como injeções irregulares ou diques tabulares em direções diversas, algumas vezes se entrecortando mutuamente. Com menos frequência podem ocorrer como bolsões micrograníticos com dimensões decimétricas, observados em meio as rochas das suítes Morro Inglês e Canavieiras – Estrela e em gnaisses do Complexo São Francisco do Sul. De modo geral, esses diques e veios ocorrem encaixados em litotipos deformados, na maioria miloníticos, algumas vezes cortando as estruturas, outras grosso modo concordantes.

Predominam rochas hololeucocráticas com textura afanítica ou com granulometria fina e textura equigranular, isótropos e raramente com foliação. São compostos por quartzo,

pequenos corpos ao longo de grande parte do Terreno Paranaguá, sendo mais expressivo nas proximidades da Vila Santa Maria, Ariri – SP, e na região de Guaratuba - PR. Nestas regiões observa-se os leucogranitos da fácies Vila Santa Maria nitidamente cortam os granitóides das outras fácies da Suíte Morro Inglês.

BP-55: Pedreira Nova Prata, Matinhos - PR BP-55: Pedreira Nova Prata, Matinhos - PR

Figura 4.30: Veios de leucogranitos finos, aplitos e tonalitos, com formas e direções variadas, com espessura centimétrica, encaixados em litotipos deformados.

BP-196: Vila Santa Maria, Ariri - SP

Localmente, essas rochas aparentam feições de recristalização associada a processos de fusão parcial associada a processos de milonitização dos granitos das Suíte Morro Inglês. No ponto BP-148, nas proximidades da Zona de Cisalhamento Icapara, ocorrem texturas como mimetização do feldspato, quartzo com extinção tipo tabuleiro de xadrez e porções de leucocráticas ricas em turmalinas centimétricas. Nesses locais, são observados indícios de processos metamóricos nos granitos porfiríticos (encaixantes dos veios leucocráticos), com intenso estiramento dos fenocristais e presença de granada. Os veios leucocráticos ocorrem algumas vezes concordantes, outras de forma discordante à estruturação de sua encaixante.

No documento Geologia do Terreno Paranaguá (páginas 64-74)

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