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Subcomissão temática da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrá-

No documento AINDA EXISTEM LATIFÚNDIOS NO BRASIL? (páginas 67-80)

2 A APROPRIAÇÃO DA TERRA NO BRASIL – DAS CAPITANIAS HEREDITÁ-

3.2 O fim do ciclo dos governos militares e o surgimento da União Democráti-

3.3.1 Subcomissão temática da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrá-

Com relação aos temas relativos à reforma agrária, estes foram integrados na Comissão VI, a Comissão de Ordem Econômica (COE), e trabalhados na Subcomissão VI-C, denominada Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária. Conforme análise e relato de Pilatti (2008), a instalação dessa Subcomissão, caracterizou-se por protagonizar o embate mais aguerrido do processo de instalação das Subcomissões. Isso em face da disputa entre conservadores e pró-reformistas pela ocupação da presidência, vice-presidências e principalmente a relatoria.

Desse embate, prevaleceu o acordo construído entre as lideranças, mesmo que por resultado apertado (12 a 11), tendo como presidente, o senador Edson Lobão (PFL - conservador33), como vice-presidentes, o senador Rachid Saldanha Derzi (PMDB - conservador) e o deputado Fernando Santana (PCB – pró-reformista), e como relator, o deputado, considerado pró-reformista, Oswaldo Lima Filho (PTB).

As subcomissões temáticas deveriam ter 21 membros titulares, mas esta orientação não foi seguida na Subcomissão VI-C, que já na ata de instalação constava com 23 membros e posteriormente esse número chegou a 25. Essa configuração denota a disputa em torno da importância atribuída à participação nas deliberações dessa Subcomissão, muito em virtude dos interesses em jogo.

O Quadro 02 mostra a lista dos parlamentares titulares constituintes integrantes da Subcomissão VI-C e suas respectivas profissões declaradas.34 Nota-se que praticamente a metade dos parlamentares integrantes da Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária possuem relação direta com atividades agropecuárias, seja pelo desempenho de atividades como agricultor, pecuarista, agropecuarista, agrônomo, extensionista rural, médico veterinário ou agroindustrial.

Também é notável a proporção de constituintes que exerciam a profissão de advogado.

33 A qualificação dos constituintes em “progressistas ou pró-reformistas”, em “moderados” ou em “conservadores ou contrarreformistas”, utilizada em vários momentos no decorrer do texto que trata da Assembleia Nacional Constituinte, se baseou na análise das proposições defendidas pelos parlamentares com referência ao tema agrário e também na pesquisa de doutoramento realizada por Adriano Pilatti, assessor parlamentar no processo da constituinte 1987-1988, publicada na forma de livro no ano de 2008.

34 O Apêndice A mostra a lista dos parlamentares suplentes da Subcomissão VI-C com suas respectivas profissões.

Quadro 02 – Constituintes titulares da Subcomissão VI-C, suas profissões e atividades sindicais, representativas de classe, associativas e outras

informações declaradas

Fonte: BRASIL. ANC. Biografia dos parlamentares constituintes, 2014; BRASIL. ANC. Composição da Subcomissão VI-C, 2014. Organizado por: Alcione Talaska.

Constituintes titulares

Nome Partido Profissão Atividades Sindicais,

represen-tativas de classe, associativas e outras informações.

Rachid Saldanha Derzi PMDB Industrial, Médico e Pecuarista

--Benedicto Monteiro PMDB Advogado e Escritor

--Roberto Cardoso Alves PMDB Agricultor e advogado

--Ivo Mainardi PMDB Advogado e Promotor de Justiça

--Jorge Vianna D. da Silva PMDB Agricultor e Médico

--Oswaldo Lima Filho PMDB Agricultor e Advogado Membro Fundador da Frente Par-lamentar Nacionalista, 1956.

Percival Muniz PMDB Agricultor, Pecuarista e Topógrafo

--Raquel Capiberibe PMDB Pedagoga

--Arnaldo Rosa Prata PMDB Agropecuarista, Professor e Em-presário

Presidente da Sociedade de Agrônomos e Veterinários de Uberaba, 1956-1960; Secretário Geral da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, 1964-1966;

Presidente da ABCGZ, Uberaba, 1964-1966; Fundador da Confe-deração Mundial dos Criadores de Zebu.

Santinho Furtado PMDB Agropecuarista e Advogado

Vice-Presidente da Sociedade Rural do Paraná; Diretor da As-sociação Paranaense dos Cafei-cultores; Coordenador do I Bloco Parlamentar Ruralista, 1983.

Valter Pereira PMDB Advogado

--Vicente Bogo PMDB Professor Assessor Sindical da Associação

Regional dos STRs da Grande Santa Rosa/ RS.

Marcio Lacerda PMDB Advogado

--Alysson Paulinelli PFL Professor e agrônomo.

Presidente, Associação Brasileira

Maluly Neto PFL Advogado, Médico e Empresário

--Edison Lobão PFL Advogado e Jornalista

--Jonas Pinheiro PFL Médico Veterinário Vice-Presidente, Sociedade Ma-to-Grossense de Medicina Vete-rinária, 1976-1980

Victor Fontana PFL Agricultor e Empresário.

--Virgílio Galassi PDS Agropecuarista Presidente do Sindicato Rural

de Uberlândia, 1958-1963; Vice--Presidente da FAEMG;

Amaury Müller PDT Economista e jornalista

--José Egreja PTB Agricultor e Agroindustrial

--Irma Passoni PT Professora Vínculo com Movimentos

Popu-lares

Mauro Borges PDC Agropecuarista e Militar

--Aldo Arantes PC do B Advogado

--Fernando Santana PCB Engenheiro Civil e Construtor

--Destes, segundo Pilatti (2008), oito constituintes pertenceriam ou manteriam posição ligada aos interesses representados pelos partidos de direita; quatro estariam ligados aos interesses representados pelos partidos de esquerda; e treze estavam ligados ao PMDB. A bancada do PMDB, nesse aspecto, era interpretada como sendo a que apresentava maior heterogeneidade interna no que se referia à temática agrária, se configurando com pequena vantagem conservadora sobre os pró-reformistas.

Segundo Pilatti (2008), a bancada do PMDB se dividia em: i) conservadores:

Arnaldo Rosa Prata, Jorge Vianna Dias da Silva,35 Rachid Saldanha Derzi e Roberto Cardoso Alves; ii) moderados: Ivo Mainardi e Santino Furtado; e iii) progressistas ou pró-reformistas: Benedicto Monteiro, Oswaldo Lima Filho, Raquel Capibaribe, Valter Pereira e Vicente Bogo. Assim, os principais nomes dos constituintes que seriam contrários a efetivação, de fato, da reforma agrária seriam: Arnaldo Rosa Prata, Jorge Vianna Dias da Silva, Rachid Saldanha Derzi, Roberto Cardoso Alves; Alysson Paulineli, Maluly Neto, Edison Lobão, Jonas Pinheiro, Victor Fontana, Virgilio Galassi, Mauro Borges e José Egreja.

Convém destacar também, considerando os dados informados na biografia dos constituintes (BRASIL. ANC. Biografia dos parlamentares constituintes, 2014), que, dos parlamentares integrantes da Subcomissão VI-C, 24% mantiveram ou mantinham de forma direta participação em atividade sindical, em entidades representativas de classe ou associativas ligadas ao setor agropecuário. Entre elas, foram identificadas:

a Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu (ABCGZ), a Sociedade Rural do Paraná, a Associação Paranaense dos Cafeicultores, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), a Sociedade Mato-Grossense de Medicina Veterinária, a Sociedade Mineira de Agricultura (SMA), a Associação de Crédito e Assistência Rural (ASCAR);

a Federação da Agricultura do Estado de MG (FAEMG) e diversos Sindicatos Rurais.

Seguindo o estabelecido na normativa instituída pelo Regimento Interno da ANC, os trabalhos da Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária deveriam ser desenvolvidos num prazo de 45 dias. Este era o prazo para que o relator elaborasse o relatório fundamentado com o anteprojeto da matéria, apresentando-o à Comissão de Ordem Econômica. Assim, a primeira reunião da Subcomissão VI-C ocorreu no dia 07 de abril e os trabalhos, na Subcomissão, foram encerrados em 23 de maio de 1987.

No que tange à elaboração do anteprojeto, Pilatti (2008) sintetiza as propostas e subsídios apresentados pelos atores e pelas entidades envolvidas (QUADRO 03).

35 Convém esclarecer que Jorge Vianna Dias da Silva, natural de Ilhéus/BA, não é a mesma pessoa de Jorge Ney Viana Macedo Neves, natural de Rio Branco/AC, filiado ao Partido dos Trabalhadores e atualmente Senador eleito pelo estado do Acre para a 54° e 55° Legislatura.

Quadro 03 - Síntese das propostas apresentadas aos Constituintes que polarizaram pró-reformistas e conservadores

Fonte: Pilatti (2008); Ferreira, Alves e Carvalho Filho (2009). Organizado por: Alcione Talaska.

* A CNRA – Campanha Nacional pela Reforma Agrária - era composta por entidades como: ABRA, CONTAG, CPT e o MST. Suas propostas estavam alinhadas com o pensamento do MIRAD sobre a questão.

Das proposições, verifica-se que as propostas da UDR traziam diretrizes pouco articuladas sobre a questão – como também concluiu Pilatti (2008) – , mas enfatizavam que a propriedade produtiva não deveria ser desapropriada, ou seja, tendo produção, a propriedade seria intocável. Já as propostas da CNRA se mostraram mais incisivas no sentido de associar o direito de propriedade à sua obrigação social, inclusive, expropriando sumariamente os latifúndios.

Nesse processo, para a construção da primeira versão do Relatório da Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, o deputado Oswaldo Lima Filho (relator) afirmou que foram consultados também representantes da Administração Pública, o Ministro da Reforma Agrária e do Desenvolvimento e entidades representativas de setores da sociedade rural, conforme Quadro 04.

Propostas da CNRA* Propostas da UDR

- subordinação do direito de propriedade ao cumprimento de uma obrigação social, definida pelo atendimento simultâneo de quatro requisi-tos;

- a não vinculação do cumprimento da função social como possibilidade de desapropriação por interesse social

- desapropriação dos imóveis rurais que não cumprissem sua obrigação social, com paga-mento da indenização em títulos da dívida pú-blica;

- que a reforma agrária seja apêndice de uma política agrícola, na qual todos sejam estimula-dos a produzir, com um mínimo de garantias;

- imissão imediata da União na posse do imóvel declarado de interesse social para fins de desa-propriação;

- que, na elaboração e execução da reforma agrária, a iniciativa privada seja chamada a par-ticipar e, na implementação dos assentamentos, tenham igualmente condições de efetuá-los, nas mesmas condições e com idêntica dotação dos órgãos públicos;

- estabelecimento de limite máximo para a

pro-priedade rural privada; - que os Constituintes visitem os assentamentos, antes de votarem esse tema;

- expropriação sumária de latifúndios

inexplora-dos - que a futura Constituição se consigne a

garan-tia de vir a terra produtiva, em nenhuma hipótese ou a qualquer título a se sujeitar à desapropria-ção.

Quadro 04 - Entidades, autarquias e seus representantes ouvidos na Subcomissão VI-C

Fonte: BRASIL. ANC. Relatório e Anteprojeto da Subcomissão VI-C, 08 maio 1987. Organizado por:

Alcione Talaska.

No total foram realizadas 21 reuniões na Subcomissão VI-C, além de audiências públicas para debater as matérias e de visitas a assentamentos de Reforma Agrária, nas quais participaram um pequeno número de membros da Subcomissão, destacando-se aqueles considerados pró-reformistas, o que destoa da proposta da própria UDR que havia sugerido esta visita aos Constituintes. Segundo o relator, a área desapropriada visitada foi a do Engenho Pitanga, em Igarassu-PE, e, ainda por deliberação dos membros da Subcomissão, foi realizada também uma reunião em Araguaína/GO, com a Federação dos Trabalhadores Rurais e associados, momento em que puderam constatar o clima de violência e de tensão social instaurado na região.

Em 11 de maio de 1987, o relator, deputado pró-reformista Oswaldo Lima Filho, apresentou formalmente a segunda versão do anteprojeto aos membros da Subcomissão, mantendo a integralidade da redação do texto apresentado na primeira versão, alterando, tão somente, alguns trechos da sua fundamentação. O deputado fundamentou seu anteprojeto mencionando que Celso Furtado definia que a estrutura agrária deficiente, arcaica e obsoleta do país, constituía o mais sério obstáculo para as necessidades sociais e materiais da sociedade brasileira. E que a configuração da estrutura agrária, através do processo da modernização conservadora do campo, agravou ainda mais o problema agrário brasileiro. No campo, afirmou ele, “se multiplicam, por todo o País, sangrentos conflitos pela posse da terra” (BRASIL. ANC.

Relatório e Anteprojeto da Subcomissão VI-C, 08 maio 1987, p. 06), que tem vitimado centenas de trabalhadores rurais. Assim, as linhas fundamentais do anteprojeto

Autarquia/entidade Representante

Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário Dante de Oliveira (ministro) Associação Brasileira da Reforma Agrária – ABRA Plínio Moraes Sampaio (diretor) Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais Antônio E. de Salvo (presidente) Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural Romeu de Figueiredo (presidente) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Ormuz Freiras Rivaldo (presidente) Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA Rubem I. da Silva (presidente) Associação de Empresários da Amazônia Ariosto Riva (dirigente) Confederação Nacional da Agricultura – CNA Flávio Brito (presidente)

Sociedade Rural Brasileira - SRB Flávio Teles de Menezes

(dirigente)

Confederação dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG José Francisco da Silva (presidente)

Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB Roberto Rodrigues (presidente) Comissão Pastoral da Terra – CPT Ricardo Rezende (dirigente)

Daniel Rech (dirigente)

apresentado mostrava uma harmonia com as propostas apresentadas pela CNRA.

Tanto que do seu conteúdo central, pode ser destacado:

• a conceituação do direito de propriedade como obrigação social e seu cum-primento relacionado a 4 critérios observados de forma simultânea, entre os quais estavam o aproveitamento racional; a preservação do meio ambiente; as relações de trabalho e o limite de tamanho das propriedades da terra (100 módulos rurais);

• a instituição da imissão36 de posse como consequência imediata da decreta-ção da desapropriadecreta-ção por interesse social;

• a criação do Fundo Nacional de Reforma Agrária;

• a exclusão dos imóveis menores de 3 módulos rurais dos planos de Reforma Agrária;

• a limitação da propriedade rural, a estrangeiros, em no máximo 3 módulos rurais;

• o estabelecimento de normas plurianuais de política agrícola;

A reação dos atores e das entidades representativas da “classe produtiva rural”, denominação utilizada por Ronaldo Caiado, foi imediata. O anteprojeto recebeu duras críticas, tanto dos constituintes conservadores, como do presidente da UDR e de entidades vinculadas à defesa dos grandes proprietários. O Jornal Folha de São Paulo, edição de 14 de maio de 1987, por exemplo, veiculou uma notícia na qual Ronaldo Caiado teria afirmado que a proposta do relator era “antiética, indecorosa, agressiva, arbitrária e só deve[ria] ter um destino: ‘o lixo’” (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 14 maio 1987, p.a4).

Nessa reportagem, Caiado teria afirmado que a futura Constituição não deveria definir a obrigação social do imóvel rural:

A futura Carta deve apresentar princípios, deixando para o Poder Judiciário sua interpretação. [...] o anteprojeto do deputado Lima Filho tem como objetivo abrir ‘um parêntesis na nova Constituição’ e implantar nesse espaço, o Estatuto da Terra. [...] o relator pretende que a nova Constituição dê ao Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário (MIRAD) plenos poderes para legislar, desapropriar e ter a posse da terra ‘sem ouvir o Poder Judiciário’ (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 14 mai. 1987, p.a4).

Ainda segundo Ronaldo Caiado,

a classe produtora rural nunca viu ‘nada tão revanchista, tão odioso e tão arbitrário’ [...]. ‘Isto só podia sair da mente doentia de um homem que quer hoje transferir para 1987 os problemas [de] 1964’. [...]

36 A imissão da posse, nesse contexto, significa a execução da posse do imóvel desapropriado pela União.

‘vamos fazer deslocamento de massa’. [...] ‘O jogo nosso é como eles querem’. (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 14 mai. 1987, p.a4).

Tais declarações repercutiram nos trabalhos da ANC, sendo condenada de forma oficial, por parlamentares integrantes da Subcomissão VI-C. O deputado Aldo Arantes, por exemplo, expressou:

O relatório representa um avanço em relação à legislação agrária atualmente existente no País. No entanto, consideramos um avanço moderado, bastante limitado, e nesse sentido, queremos aqui repudiar as declarações feitas pelo Presidente da UDR contra nosso Relator.

Na forma, consideramos declarações desrespeitosas que expressam a intransigência dos latifundiários, dos grandes proprietários de terra, que não aceitam reforma agrária e, no mérito, é na verdade, uma demonstração cabal de que esses setores não querem nenhuma medida no sentido da democratização da posse da terra. (BRASIL.

ANC. Ata da reunião n° 18 da Subcomissão VI-C, 18 maio 1987, p.

81).

Na reunião posterior (BRASIL. ANC. Ata da reunião n° 19 da Subcomissão VI-C n° 19, 19 maio 1987), o constituinte Amaury Muller (PDT – pró-reformista) formalizou moção de desagravo, em nome da Subcomissão, à pessoa do Relator pelas agressões sofridas. A moção foi posta em votação em plenário e aceita, mesmo tendo a ressalva dos constituintes Alysson Paulinelli (PFL - conservador) e Fernando Santana (PCB – pró-reformista), que afirmaram desconhecimento do fato.

Contudo, em virtude da reação dos conservadores, na reunião da Subcomissão do dia 19 de maio de 1987 também foi apresentado um anteprojeto substitutivo ao anteprojeto do relator, de autoria do constituinte conservador Armando Rosa Prata (PMDB), subscrito pelos peemedebistas Jorge Vianna Dias da Silva, Rachid Saldanha Derzi e Cardoso Alves. Essa nova proposta de anteprojeto, denominado de “substitutivo Rosa Prata” (ANEXO A), apresentou redução de 17 artigos em relação à proposta original. De forma geral, além da supressão dos artigos, três grandes mudanças foram identificadas em relação ao anteprojeto do relator:

i) Com relação ao Art.1°, foi substituída a expressão “obrigação social” por “fun-ção social” da propriedade, sendo excluída a “área máxima para a propriedade rural” (que era de 100 módulos rurais), como critério simultâneo para o seu cum-primento.

ii) Com relação à desapropriação dos imóveis rurais, o substitutivo Rosa Prata previa que uma lei complementar deveria dispor sobre a desapropriação das pro-priedades improdutivas, salvaguardando a indenização pelo preço justo (leia-se, de mercado), em dinheiro pelas benfeitorias e em títulos da dívida agrária pelas terras. Eliminava-se, portanto, a prerrogativa que possibilitava à União tomar

pos-se dos imóveis rurais mediante o pagamento do valor declarado no pagamento do Imposto Territorial Rural.

iii) Com relação à defesa do desapropriado, o anteprojeto substitutivo assegura-va-a em sua plenitude, em prazos compatíveis, e inclusive, estabelecia a criação de Varas Especiais para resolver conflitos fundiários.

Esse substitutivo, segundo o próprio constituinte Rosa Prata, tinha como premissa e justificativa o atendimento de dois conceitos básicos, imprescindíveis, que eram “assegurar a garantia e tranquilidade da propriedade produtiva no Brasil, independentemente do tamanho” e “propiciar a promoção e o bem-estar social de todos aqueles que dela dependem” (BRASIL. ANC: Subcomissão VI-C. Ata da reunião n°.19, de 19 de maio de 1987, p. 102).

A entrega do parecer final do anteprojeto foi definida para ser realizada no dia 23 de maio. Nessa data seria realizada a apreciação e a votação do anteprojeto da matéria da Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária (BRASIL. Subcomissão VI-C. Ata da reunião n° 19, de 19 de maio de 1987). Foram realizadas duas reuniões: a primeira na manhã daquele sábado, na qual foi feita a leitura do parecer do relator sobre as emendas apresentadas; e a segunda, iniciada no período da tarde, quando o anteprojeto foi posto em votação, vindo a encerar-se somente no início da noite do domingo, 24 de maio (BRASIL. ANC, Ofício n° 17/1987).

Na reunião do sábado de manhã, o relator Oswaldo Lima Filho comunicou que desde a apresentação de seu anteprojeto em 08 de maio, haviam sido apresentadas 277 emendas e que emitiu pareceres favoráveis a 30, pareceres favoráveis em parte a 9, pareceres considerando prejudicadas as emendas a 11, e pareceres contrários a 227 (BRASIL. ANC. Ata da reunião n° 20 da Subcomissão VI-C, 23 maio 1987).

No sábado à tarde, às 16h 08min, a votação foi iniciada, tendo como ordem de votação, o parecer e o anteprojeto do relator, admitindo-se, pedido de preferência para o substitutivo Rosa Prata, a ser examinado com prioridade pela Subcomissão, que, em caso de aprovação, encerraria o processo de votação, e se rejeitado, voltar-se-ia para a apreciação do anteprojeto do relator e às emendas (BRASIL. ANC. Ata da reunião n° 21 da Subcomissão VI-C, 23 maio 1987).

Tão logo os trabalhos iniciaram, tiveram que ser suspensos em vários momentos em virtude das tensas discussões entre os constituintes e manifestações vindas das galerias do Plenário. Esse ambiente tenso foi expresso por vários constituintes, como por exemplo, o deputado Amaury Muller, que afirmou existir “um clima de guerra”

no plenário. No mesmo contexto, o próprio Relatório Final da Comissão, escrito pelo constituinte Oswaldo Lima Filho, inicia descrevendo que durante a sessão de votação

“ocorrem sérios incidentes e tumultos generalizados, com aplausos e [vaias] das galerias, o que levou à suspensão [por] diversas vezes da Sessão” (BRASIL, Ofício n° 17/1987, p. 02).

Em grande parte, os tumultos e os distúrbios tidos durante a votação do parecer do relatório, se deveram: i) à possibilidade ou não da apreciação do anteprojeto substitutivo Rosa Prata, pois o regimento interno da ANC estabelecia a preferência para a votação do anteprojeto do relator; ii) ao não comparecimento do deputado Benedicto Monteiro (PMDB), o que acabou forçando um rearranjo de forças na composição dos constituintes titulares, isso, pois, o deputado faltoso, identificado como pró-reformista, era visto como o voto que colocava os constituintes favoráveis à reforma agrária em vantagem com relação aos conservadores.

Retomados os trabalhos, foram apresentadas inúmeras questões de ordem, sendo requerido o exame do substitutivo Rosa Prata. Tão logo, o presidente da Subcomissão, Senador Edison Lobão, colocou o pedido de preferência em votação, obteve-se a sua aprovação por treze votos. Logo após, pouco antes da chegada do deputado Benedicto Monteiro ao plenário,37 o anteprojeto substitutivo foi posto em votação, também tendo sua aprovação por treze votos (BRASIL. ANC. Ata da reunião n° 21 da Subcomissão VI-C, 23 maio 1987).

Com a aprovação do anteprojeto Rosa Prata, os constituintes passaram a votar destaques ao substitutivo. A bancada pró-reformista, recomposta, conseguiu através da aprovação de vários destaques supressivos (por 13 votos a 12) retirar do texto a ser encaminhado à Comissão de Ordem Econômica, os artigos tidos como principais do substitutivo Rosa Prata. Desse modo, ao término da votação, o substitutivo, que originalmente possuía 7 artigos (ANEXO A), foi resumido a dois, mediante a supressão dos artigos 2°, 3°, 4°, 5° e 6°.

Assim, em que pese todo o processo de embates e de debates relativos à temática da reforma agrária, o anteprojeto apresentado pela Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária à Comissão de Ordem Econômica, foi composto por somente dois artigos:

Assim, em que pese todo o processo de embates e de debates relativos à temática da reforma agrária, o anteprojeto apresentado pela Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária à Comissão de Ordem Econômica, foi composto por somente dois artigos:

No documento AINDA EXISTEM LATIFÚNDIOS NO BRASIL? (páginas 67-80)