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Sudoeste: porcentagem da população catarinense até 1975

157 Id, Ibid, p. 333.

Neste segundo mapa, identificando a proporção de catarinense no sudoeste do Paraná, percebe-se que há diferenças consideráveis em relação ao coeficiente de sul-rio-grandense da região. Dessa forma, divergindo nos percentuais dos municípios investigados, agora observa- se que São Jorge D´Oeste concentra o maior foco de catarinenses dentre as municipalidades investigadas, atingindo a escala de 40-50. Segundo Wachowicz, o percentual, até 1975, de catarinenses em São Jorge D´Oeste, era de 46,9%. Enquanto isso, Chopinzinho e São João, nivelados na escala de 20-40, tinham, respectivamente, até meados dos anos setenta, 21,3% e 21% de habitantes catarinenses.158

Tendo em vista a composição demográfica da microrregião investigada, retorna-se para uma breve história administrativa dos municípios em análise. Após Chopinzinho ruma-se para São João. Este, distanciado cerca de vinte e dois quilômetros de Chopinzinho (entre seus centros urbanos), até 1954 era um pequeno povoado chamado de Guabiroba. Contudo, concomitantemente à emancipação de Chopinzinho, São João passa a ser reconhecido enquanto vila e distrito de Mangueirinha.159 Porém, passado um ano de trâmites jurídicos e políticos, em 1955 se regularizam e se estabelecem as fronteiras administrativas de Chopinzinho e, com isso, São João passa então à jurisdição chopinzinhense. A decisão seria a mais evidente, já que Mangueirinha perdia totalmente o vínculo territorial com São João através da emancipação política de Chopinzinho. Posteriormente, ao obter a sua autonomia político-administrativa (1960) através de uma nova reconfiguração territorial, o município contava, segundo números levantados em 1970, com aproximadamente 227 km² de área e 15.423 habitantes.160

Por outro lado, o município de São Jorge D´Oeste, distante cerca de vinte e seis quilômetros do centro urbano de São João e cinquenta e dois quilômetros da cidade de Chopinzinho, possui uma história “oficial” ligada aos anos 1950.161 Até então sendo uma vila pertencente à Chopinzinho, São Jorge era elevado a distrito chopinzinhense em 1960 através da Lei n° 4.245. Contudo, com a emancipação de São João no mesmo ano, São Jorge era incorporado como distrito a este em 1961. Dali para a emancipação política se passaram apenas dois anos. Em 1963, por meio da Lei n° 4.730, São Jorge D´Oeste alcançava sua

158

Id, Ibid, p. 333. 159

PERGHER, Norma dos Santos. São João, uma história de trabalho e progresso. Francisco Beltrão: Jornal de Beltrão, 2010. p. 26.

160 LAZIER, loc. cit. p. 14. 161

RUPP, Marizete Debortoli. A história da fazenda São Jorge. In: BASSO, Fátima Catarina; RUPP, Marizete Debortoli; PALSIKOWSKI, Paula Estela Carletto. São Jorge D´Oeste: Terra, História, Memória. Francisco Beltrão, Calgan, 2005. p. 59.

autonomia política.162 Conforme Lazier, em 1970, o município abrangia uma área de 541 km² e uma população aproximada de 12.083 habitantes.163

O interessante é que diferentemente de Chopinzinho e São João, São Jorge D´Oeste possui algumas especificidades que demandam uma análise mais cuidadosa. A área territorial na qual tal município foi construído, entre a Gleba Missões e a Gleba Chopim, envolvia um litígio político e jurídico de longa data. Ocorre que no início do século XX, um indivíduo chamado José Rupp tinha a autorização do governo de Santa Catarina para explorar ervais e matas no planalto catarinense. Todavia, devido a construção das estradas de ferro em área catarinense, os territórios explorados por Rupp foram cedidos para a Companhia de Estradas de Ferro São Paulo – Rio Grande (CEFSPRG) subsidiária da Brazil Railway Company.164 Não acatando uma primeira decisão judicial que beneficiava a referida Companhia, Rupp recorreu e obteve vitórias jurídicas que confirmavam a sua posse sobre as terras em litígio.165 A indenização estipulada (1945) em benefício a José Rupp chegava às cifras de CR$ 7.720.000,000 mais juros de mora e custos desde 1938.

Porém, concomitante a esse enredo, em 1940 Getúlio Vargas incorporava os bens da CEFSPRG ao Patrimônio Nacional, em uma disputa jurídica que envolvia a União e o Estado do Paraná.166 Ou seja, “Como essa Companhia foi condenada a pagar a indenização a José Rupp e seus bens, após o ato de Vargas, pertenciam ao Patrimônio Nacional, o pagamento pela indenização cabia, agora, ao Poder Público Federal”.167 Desse modo, Rupp solicitou na justiça, várias vezes, a proposta de receber a Gleba Missões como eventual forma de pagamento, mas tal proposição sempre foi rejeitada. Com isso, perante as decisões negativas da justiça, Rupp cedeu seus créditos à Clevelândia Industrial e Territorial Ltda (CITLA), “[...] que em poucos meses, conseguiu, junto à Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional, a titulação das Glebas Missões e parte da Chopim”.168

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Id, Ibid, p. 76-77. 163 LAZIER, loc. cit. p. 14. 164 PRIORI et al. op. cit, p. 145.

165 No livro São Jorge D´Oeste: Terra, História e memória Marizete Debortoli Rupp afirma que José Rupp

possuía uma equipe de trabalho que comercializa material (“dormentes”: travessas que assentam os trilhos de

trem) e mão de obra com a CEFSPRG. O não pagamento dos serviços teria sido o início dos conflitos jurídicos. loc. cit, p. 59.

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Vale dizer que as terras que hoje fazem parte do sudoeste do Paraná, no início do século XX, eram entendidas enquanto terras devolutas, e assim, foram usadas como “moeda de troca” e pagamento para as empresas privadas

responsáveis pela construção das estradas de ferro. Priori lembra que, “A titulação desenfreada do território, com

suas consequentes disputas judiciais, fez com que as terras da região possuíssem vários „donos‟: União, Estado,

companhias particulares e o posseiro.” op. cit., p. 144.

167 Id, Ibid, p. 147. 168 Id, Ibid, p. 147.

Os problemas decorrentes dessa entrada da CITLA no sudoeste paranaense são bem conhecidos. A revolta dos posseiros ocorrida em 1957, trabalhada no capítulo anterior, explica muitas destas questões. Mas esse evento não vem acaso agora. O que nos interessa aqui é principalmente entender a ligação de José Rupp com essas problemáticas suscitadas.

Consequentemente, na expectativa de uma vitória judicial, Rupp chegava em 1953 nas terras que efetivamente lhe seriam concedidas (Gleba Missões e parte da Gleba Chopim) em forma de pagamento anos mais tarde.169 É nesse momento que a ideia de criar um núcleo colonial nessas terras ganhava força. Contudo, distintamente das colonizações de Chopinzinho e São João, que tinham um caráter autônomo e desordenado, São Jorge D´Oeste teria um planejamento criterioso financiado pelo dinheiro de José Rupp. Assim, procurando obedecer às condições técnicas de modernos projetos de colonização, Rupp contratou no Rio de Janeiro o Dr. Antonio Paranhos, advogado especialista em legislação Agrária, para colaborar com a idealização de São Jorge D´Oeste.170

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Marizete Debortoli Rupp argumenta que em 1958 José Rupp recebeu 2.440 (dois mil, quatrocentos e quarentas alqueires paulistas) no valor de CR$ 1.952.000,00. RUPP, op. cit, p. 61.

Mapa 7: Principais glebas históricas do Sudoeste.