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Sugestões para avaliação da sustentabilidade As inúmeras discussões sobre a situação da Amazônia têm alertado

No documento A geopolítica da soja na Amazônia. (páginas 84-90)

toda sociedade para a necessidade de medidas emergenciais para solução de problemas de desmatamento. A utilização indiscriminada de áreas na Amazônia para agropecuária não é o início do problema. É sim a conseqü ência da falta de regras claras e uma fi scalização efi ciente.

Somente um código de conduta ambiental elaborado com a parti- cipação de instituições governamentais e seus vários Ministérios, que te nham alguma responsabilidade na área rural, juntamente com associações de produtores, é que poderão estabelecer as normas realistas de uso dos recursos naturais. Esse código não seria só para a Amazônia, mas para to dos os biomas alterados ou a serem utiliza- dos para produção agropecuária.

É necessário ainda, até para que se viabilize um código de condu ta, um arranjo institucional coletivo com a participação de órgãos de pes quisa como a Embrapa, as universidades, os institutos de pesqui- sas regio nais e estaduais, os governos estaduais e os vários Ministé- rios, todos com objetivo focado na solução dos problemas. A fase de discussões e diagnós ticos é necessária, mas se deve iniciar uma nova fase de atuação organiza da, com participação de diversos setores governamentais e da sociedade.

A reestruturação das empresas de extensão rural nos Estados é condição essencial para se viabilizar os resultados de pesquisas na região. Por melhores e mais adequadas que sejam as práticas de produção agropecuária, difi cilmente elas serão viabilizadas pelos agricultores se o setor de extensão rural não estiver atuando. Os institutos de pesquisa, in cluindo a Embrapa não têm condições es- truturais para atender às demandas locais de agricultores.

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Das sugestões listadas, parece haver unanimidade, entre os diversos setores que se ocupam do problema da Amazônia, a elaboração de um zoneamento agroecológico. É possível que esse esforço já tenha de alguma forma sido realizado. A aplicação desse zoneamento é que é necessário ser realizado. É fundamental que se estabeleçam os limites para as áreas de explo ração agropecuária, como também defi nir que tipo de tecnologia deve ser apli cada numa determinada exploração. O zoneamento agroecológico mapearia todo um ecos- sistema defi nindo as áreas de preservação, incluindo as matas ciliares que, há muito, já foram retiradas nas áreas agrícolas da Região Sul.

O papel do Setor Público

A preservação ambiental na Amazônia ou em qualquer outro bioma brasileiro não deve fi car por conta somente do agricultor, que são empresá rios e como tal buscam a maximização da sua produtivida- de. Os limites dos avanços da agricultura precisam ser estabelecidos mediante um traba lho sério e desprovido de tendências ideológicas. O Setor Público tem uma função bastante importante na garantia de investimento em pesquisa e desenvolvimento, e no fortalecimento de pólos e pesquisas regionais. Principalmente no caso da Embrapa, o atual sistema de gerenciamento de pesquisa (SEG) difi culta o aten- dimento de demandas para a região. A aprovação de projetos comis- sionados sem edital de competição, direcionados exclusivamente ao atendimento de demandas de pesquisa da região é uma decisão fundamental para garantia de recursos. Não deve haver competição entre projetos, mas sim a instalação de proje tos com objetivos es- pecífi cos previamente aprovados por uma comissão que entenda dos problemas da região.

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A regularização fundiária, a implantação de políticas de incentivo às explorações econômicas locais, e o incentivo econômico ao uso de prá ticas conservacionistas são iniciativas de extrema importância que cabem ao Setor Público. A questão fundiária é, sem dúvida, um dos maiores entra ves para a realização de ações relativas à preser- vação ambiental na região e, pela sua complexidade elevada, merece atenção especial e coragem polí tica para ser solucionada.

A fl exibilização das normas para registros de defensivos agrícolas de origem biológica possibilitaria a colocação no mercado, um maior nú mero de opções para o manejo de pragas e doenças das culturas, com pro dutos que não agridem o ambiente, evitando não só a polui- ção do ar, mas preservando o solo e, mais importante, os mananciais de água subterrânea.

Conclusões

A crescente demanda do mercado mundial por soja, nos últimos cinco anos, tem pressionado a elevação dos preços internacionais. O Brasil é, possivelmente, o único país no mundo que ainda possui áreas que podem ser incorporadas à exploração agropecuária para atender essa demanda. Os Cerrados da Amazônia Legal e algumas áreas de mata do Pará têm sido alvos de um avanço muitas vezes indiscriminado da agropecuária, princi palmente a soja, cujo mercado internacional garante a sua rentabilidade.

As conseqüências dessa ocupação podem ter efeito negativo no am- biente da Amazônia, na medida em que pode haver tendência do uso do monocultivo da soja. A diminuição das áreas de pastagem e de outras cultu ras de importância local são conseqüências desse desequilíbrio.

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A Embrapa Soja tem desenvolvido na Região Amazônica testes de adaptação de variedades de soja, mas não tem tido qualquer par- ticipação nas pesquisas de impacto ambiental. A missão da Embra- pa Soja de desen volver tecnologia de produção para sustentação do agronegócio de soja está sendo redirecionado e enfatizando o uso das tecnologias para produção sus tentável nas áreas de manejo de solos, manejo integrado de pragas, nutrição mineral por fi xação biológica do Nitrogênio, utilização de cultivares resis tentes a ne- matóides e doenças. Essas práticas devem ser testadas e valida das para fazer parte dos sistemas de produção regionais. Trabalhos de pes quisas e validação de tecnologias para a região devem ser enfa- tizados com a participação conjunta das Unidades da Embrapa da região, bem como das universidades e institutos de pesquisa.

A elaboração de manuais de Boas Práticas Agrícolas (BPA) regiona- lizados, e aplicados de acordo com os limites estabelecidos por um zoneamento agroecológico, com certeza utilizarão essas tecnologias vali dadas na região. Como resultado, deve ser garantida a preserva- ção ambiental ao mesmo tempo em que fi ca aberta a possibilidade de produção econômi ca de grãos e pecuária.

Os problemas estruturais deverão ser solucionados por programas governamentais que deverão se responsabilizar e reconhecer a sua impor tância para se viabilizar a preservação do bioma Amazônico. A reestruturação dos serviços de extensão rural, das empresas de pesquisa estadual e a solu ção para o problema fundiário será neces- sário para dar suporte ao desen volvimento regional com preserva- ção ambiental, que é o que espera a soci edade brasileira.

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A Expansão da Soja na Amazônia:

No documento A geopolítica da soja na Amazônia. (páginas 84-90)