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Ana Teresa

7 – SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

“É precisamente a possibilidade de realizar um sonho Que torna a vida interessante” Paulo Coelho

Sendo o AM essencial para a saúde e o bem-estar da criança, mãe e família, os profissionais de enfermagem têm um papel essencial de informação, apoio e orientação. Acreditamos que uma das principais implicações deste estudo é reconhecer a influência dos enfermeiros neste aspecto da vida das pessoas. Quer pela sua presença que advogamos quer pela sua ausência que é de evitar, o enfermeiro não é alheio ao AM, à sua importância, aos conhecimentos que deve adquirir para melhor ajudar e à sua intervenção junto das populações no sentido de fomentar esta prática e uma tomada de decisão informada face à mesma. Por conseguinte e, abrangendo as diferentes áreas do saber em enfermagem (que num exercício de redacção apresentamos em separado mas que reconhecemos estarem interligados), sugerimos o que se segue.

Prestação de cuidados de enfermagem

Neste âmbito consideramos todas as áreas de prestação de cuidados à mãe/criança/família, isto é, serviços de obstetrícia, maternidades e unidades de cuidados de saúde primários. Dirigimo-nos aos profissionais de enfermagem que estão na prática directa de cuidados porque são os principais prestadores de cuidados mas, como entendemos que o papel de docentes de enfermagem (o nosso caso) e o dos enfermeiros da prática deve ser de parceria, consideramos de toda a pertinência o que a seguir escrevemos.

Para que o AM seja uma prática dignificante para todas as pessoas envolvidas, nomeadamente as famílias alvo de cuidados é essencial ter em mente que cada unidade familiar é única como são únicas cada uma das pessoas que a integra e cada profissional de enfermagem. Assim, é indispensável que os enfermeiros se conheçam bem e às pessoas a quem prestam cuidados.

Não advogamos que os enfermeiros façam o que não acreditam mas que procurem o seu desenvolvimento contínuo enquanto prestam cuidados que possuam a melhor qualidade possível. Tal implica como expusemos no enquadramento teórico que sejam atendidos os requisitos estipulados pela OE (2001; 2003) quanto a uma prestação de cuidados de enfermagem de qualidade que dê poder aos clientes de modo que possam adoptar estilos de vida saudáveis atendendo às suas crenças e tradições.

Implica ainda atender à satisfação da cliente/família para que alcance os níveis mais elevados possíveis e para isso o enfermeiro deve: respeitar as capacidades, crenças, valores e desejos de cada mãe/família; interagir com empatia, estabelecendo parcerias e envolver os conviventes significativos; minimizar a influência negativa que a mudança de ambiente pode provocar, nomeadamente, o internamento na maternidade; proporcionar meios para que as pessoas atinjam o seu máximo potencial como sejam a identificação da situação da mãe/criança/família e os seus respectivos recursos, aproveitamento as oportunidades para que o AM seja entendido como fazendo parte de um estilo de vida mais saudável. Desta forma o enfermeiro optimiza os processos de crescimento e desenvolvimento de todos envolvidos e fornece informação que conduza à aprendizagem e à aquisição de novas capacidades, nomeadamente de maternidade e parentalidade.

Com base nestas recomendações, reflectimos nas implicações deste estudo e sugerimos:

∆ Proporcionar informação e educação para a saúde ao longo da vida da mulher. Na

saúde escolar é um tema a ser incluído junto das jovens. Propomos que durante a gravidez a incidência seja frequente e acurada e, após o parto, a orientação e o apoio incluam informação à mãe/família, de acordo com a sua decisão e necessidades.

∆ Conhecer as crenças de cada mãe/família quanto ao AM e assentar a prestação de cuidados nas mesmas, o que demonstra consideração e respeito;

∆ Dar informação e poder para a mãe escolher com base em dados correctos, respeitando as suas crenças e decisões.

∆ Valorizar a experiência das mães enquanto amamentam, incluindo as suas sensações e opiniões, o que implica conversar com elas e dar-lhes espaço para se expressarem. Exige competências de comunicação com demonstração de interesse genuíno e do respeito pelo ser único que cada uma é.

∆ Informar com base na evidência de forma a assegurar a credibilidade e evitando situações ambíguas, incoerentes e contraditórias. Implica uma linguagem comum

por parte de toda a equipa, seguindo linhas orientadoras que permitam a coesão e a coerência da informação fornecida.

∆ Demonstrar enquanto informa para facilitar a aquisição de conhecimentos e competências por parte das mães pois, por exemplo, explicar o que é o colostro e demonstrar como o bebé pega na mama é muito diferente de apenas explicar.

∆ Acompanhar e orientar a mãe enquanto amamenta, especialmente as primíparas e durante as primeiras vezes, para que se sinta apoiada e tenha oportunidade de tirar dúvidas e expor dificuldades.

∆ Proporcionar informação antecipatória de temas como

o Importância da amamentação precoce

o Colostro, sua importância e aspecto

o Coloração do leite

o Pega correcta e modos de facilitar a mesma

o Horário livre das mamadas com a respectiva fundamentação

o AM como fonte de nutrição, conforto e aconchego

o Evolução do peso da criança

o Abdominalgias da mãe que amamenta, suas causas e formas de minimizar

o Alimentação da mãe que amamenta, incentivando uma alimentação

equilibrada e evitando a tónica em alimentos proibidos.

∆ Explicar, demonstrando, que a criança é capaz de ser amamentada logo que nasce.

Inclui as capacidades do RN de modo a maximizar as capacidades da mãe/família.

∆ Fomentar AM o mais precocemente possível mesmo no caso de cesariana.

∆ Proporcionar alojamento conjunto constante a menos que haja motivo de força maior por parte da mãe e/ou do RN.

∆ Informar a mãe que trabalha dos seus direitos de acordo com a lei de protecção à maternidade bem como formas de conservação do leite materno.

∆ No caso da mãe desejar amamentar não dar biberon em circunstância alguma e se a

criança necessitar de suplemento, fazê-lo por meio que não esse.

∆ Incluir sempre que possível o pai da criança e/ou outras pessoas significativas nos cuidados e na educação para a saúde de modo a capacitá-los a proporcionarem apoio eficaz.

∆ Comunicar de modo sensível, adequado às capacidades de compreensão e às características das mães nas diferentes etapas da gravidez e após o parto de modo que a informação e a orientação lhes seja significativa.

Gestão dos cuidados de enfermagem

A partir dos resultados deste estudo, entendemos que as mães e suas famílias necessitam que os enfermeiros sejam capazes de as ajudar a desempenhar o seu papel o melhor possível, a tomarem decisões conscientes e com base na evidência de modo a terem a maior satisfação possível com os cuidados de enfermagem e oportunidade de se desenvolverem nos seus novos papéis.

Defendemos que esta área do saber em enfermagem tem um papel essencial no estabelecimento de políticas, normas e padrões institucionais que permitam o planeamento, execução e avaliação dos cuidados de modo a alcançar o máximo padrão de qualidade, o que começa nas cúpulas profissionais e institucionais e vai até aos enfermeiros chefe.

Assim, sugerimos:

∆ Elaborar linhas orientadoras de prestação de cuidados face ao AM de modo a assegurar a coerência e a solidez por parte de toda a equipa, quer durante a gravidez, quer após o parto.

∆ Valorizar e fomentar as crenças dos profissionais relativamente ao AM de modo a

que os mais motivados sejam referências e os menos motivados ou que têm uma atitude em oposição sejam respeitados ao mesmo tempo que não interferem negativamente no AM.

∆ Incentivar a adopção das medidas propostas pela OMS/Unicef de incentivo à amamentação por parte da instituição, mantendo a oportunidade de opção das mães que não desejam amamentar.

∆ Elaborar e distribuir recursos audiovisuais de sensibilização e informação em todas as unidades de prestação de cuidados à mulher ao longo do ciclo fértil.

∆ Criar espaços de amamentação onde haja partilha de experiências e aprofundamento de conhecimentos e competências incluindo o fomento de grupos formais ou informais de aconselhamento.

∆ Implementar visitação domiciliária a todas as primíparas com a frequência necessária e maior incidência nas duas primeiras semanas após o parto bem como às multíparas consoante as suas necessidades mas pelo menos uma vez após a alta de modo a satisfazer as suas necessidades de apoio, orientação e conhecimentos e a

reforçar o seu desempenho, possibilitando o desenvolvimento do seu sentido de auto-eficácia.

∆ Fomentar a formação e actuação de conselheiros de amamentação, cuja inexistência nos Açores faz com que se torne uma prioridade essencial. Verificámos que os enfermeiros de referência fazem falta. Pelo menos uma mãe referiu-se a este facto. No que se refere ao AM consideramos que o ideal é que esse enfermeiro seja igualmente um consultor com conhecimentos e competências para dar resposta às necessidades das mães.

∆ Promover campanhas de marketing de amamentação através dos meios de

comunicação social. Tivemos a oportunidade de verificar quer algumas mães nunca tinham visto amamentar, têm influências díspares quanto a assuntos como alimentação, imagem corporal, sexualidade, intimidade e embaraço, entre muitos assuntos. Os meios de comunicação social são uma forma poderosa de tornar a informação sobre AM acessível a toda a população.

Formação em enfermagem

Não nos oferece qualquer dúvida o papel que os profissionais de enfermagem têm junto das populações no que se refere ao AM. Porém, a sua actuação será tanto mais eficaz quanto maiores e melhores forem as suas competências e conhecimentos. E estas são adquiridas, essencialmente, no âmbito da formação. Sendo esta a nossa área de actuação profissional, reconhecemos que quanto ao tema deste estudo, o campo de acção está junto das populações, sendo a formação uma base de alicerces de aspectos que se desenvolvem essencialmente na prática de cuidados directos às mães e na gestão de cuidados de enfermagem que permite que os mesmos tenham a melhor qualidade possível.

Após uma formação pré-graduada que proporciona instrumentos de aprendizagem ao longo da vida, incluindo ou não formação pós-graduada, os enfermeiros seguem o seu percurso profissional com diversas oportunidades de formação: formal, não formal e informal para utilizar a nomenclatura de Courtois e Pineau (1991:59-60) ou de Canário (1999:80).

É nossa sugestão que, atendendo ao que propusemos nas duas áreas de saber em enfermagem anteriormente explicadas, haja desenvolvimento das respectivas competências e dos referidos conhecimentos num ou mais dos contextos de formação definidos pelos

autores supra referidos de modo que os enfermeiros se desenvolvam relativamente ao AM e a métodos e técnicas de intervenção junto dos indivíduos, grupos e comunidades.

Em simultâneo e reportando-nos a um contexto de formação formal, defendemos que as sugestões apresentadas nas secções “Prática de cuidados” e “Gestão”, façam parte dos conteúdos programáticos de unidades curriculares de formação pré-graduada e pós- graduada, nomeadamente da especialização em enfermagem de SMO, além de ser essencial a criação, na Região Autónoma dos Açores, em geral e na ilha de São Miguel, em particular, de cursos para conselheiros em amamentação.

Num contexto de formação não formal sugerimos que optimizem as experiências profissionais e as oportunidades de aprendizagem experiencial, a acontecer com enfermeiros mais motivados e com mais prática que sejam eventuais modelos de acção, tanto em cuidados de saúde primários como em cuidados hospitalares.

Investigação em enfermagem

Temos a consciência de que apenas abrimos um pouco a cortina do que é o mundo do AM em geral e das crenças que o influenciam, em particular.

Mesmo assim, consideramos que aprofundámos os nossos conhecimentos sobre o tema e, talvez mais importante ainda, ficou-nos a motivação para aprofundar, o que constitui uma mais valia deste estudo. Também não podemos deixar de referir que o próprio processo de investigação e de interacção junto das participantes gerou uma mudança na nossa forma de encarar a ausência de amamentação. Para além disto, como pudemos verificar aquando da validação dos dados, provocou uma alteração na forma como algumas participantes começam a entender o AM.

No sentido de contribuir para uma linha de investigação no âmbito do tema por nós escolhido propomos o desenvolvimento de estudos que versem:

∆ As mães

o Vivências das mães que experimentaram o AM. Verificámos que as crenças

de âmbito físico da mãe incidem num referente que não é a própria pessoa. Parece-nos que é como se a mãe se excluísse do que acredita pelo que seria

interessante conhecer o modo como a mãe vive o AM em termos do seu próprio corpo.

∆ Os pais (cônjuge)

o Conhecimentos, crenças e modos de apoio à mãe que amamenta. Uma vez

que verificámos que este actor tem um papel essencial junto das participantes para além de que na nossa sociedade e, na maioria dos casos, ser a pessoa mais próxima da mãe e, portanto, com mais possibilidade de a ajudar, apoiar e influenciar.

∆ Os enfermeiros

o Conhecimentos sobre AM. Pudemos constatar que há actuações diversas e mesmo díspares. Questionamo-nos assim que conhecimentos possuem os enfermeiros sobre a prática do AM e modos de ajuda à mãe/família.

o Crenças pessoais e profissionais face ao AM. Como indivíduos, os enfermeiros tem por base as suas próprias crenças. Quais são? Afectarão elas a sua prestação de cuidados face no AM? De que modo? São perguntas que formulamos e que nos despertam curiosidade por eventualmente serem uma chave que ajude os próprios enfermeiros a melhorarem a sua prestação de cuidados.

o Práticas de cuidados de enfermagem relativamente ao AM em cuidados de saúde primários e em cuidados hospitalares. Também tivemos oportunidade de verificar a diversidade e disparidade de modos de prestar cuidados. Quais são as diferenças de um contexto relativamente ao outro? E dentro do mesmo? São duas perguntas muito amplas que eventualmente podem guiar outras mais específicas que contribuam para a melhor compreensão destas práticas de cuidados de enfermagem.

Consideramos que cabe aos enfermeiros uma responsabilidade especial em toda a problemática do AM por serem os profissionais que estão mais junto das populações se bem que como em todas as áreas de actuação é importante a sua motivação, conhecimentos sólidos, intencionalidade e humanização dos cuidados que prestam. Possivelmente há muito a fazer pelo AM junto da comunidade em que se inserem as participantes deste trabalho. Está na hora de dar o primeiro passo.