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Sujeição dos atos processuais ao controle judicial

3.2. A natureza jurídica dos Recursos

3.2.2. Sujeição dos atos processuais ao controle judicial

Segundo o código de processo civil, ao juiz compete a direção do processo (art. 125, caput), de modo que todos os atos praticados estão sujeitos a seu crivo, visando a manutenção do seu desenvolvimento, válido e regular.

Logo, no exercício do controle da validade dos atos processuais, o juiz pode determinar a realização de atos, conforme, e.g., a previsão do art. 39, inciso I, e parágrafo único, 1ª parte; a sua repetição ou retificação, consoante o estabelecido no art. 249, caput; a sua ratificação, de acordo com o art. 37, parágrafo único; ou, ainda, reconhecer a sua convalidação, na forma do art. 244.

De tal sorte, as providências para regularização do processo ou da ação serão requeridas pela parte interessada (artigo 245, caput, combinado com o artigo 243), ou, nas hipóteses autorizadas por lei, determinadas de ofício pelo juiz (artigo 245, parágrafo único), o que significa que sempre estarão sujeitas à uma análise e à uma decisão do juízo, perante o qual tramita o processo.

Por seu turno, o controle da decisão judicial é permitido por intermédio do sistema recursal, reflexo do caráter político do princípio do duplo grau de jurisdição.110

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De lege ferenda, devemos salientar que há proposta de alteração dos efeitos do recurso de apelação, tornando regra, a existência de apenas efeito devolutivo, e, como exceção, o recurso seria recebido no duplo efeito. Deste modo, o art. 520, do CPC, consoante o esboço de anteprojeto sobre recursos no processo civil do Instituto Brasileiro de Direito Processual, consolidado pelo seu presidente, o Ministro Athos Gusmão Carneiro, passaria a ter a seguinte redação: “Art. 520 – A apelação será recebida no

efeito devolutivo. Será, no entanto, recebida no efeito suspensivo quando disposição expressa de lei

assim o determinar, ou quando interposta de sentença: I – proferida em ação relativa ao estado ou capacidade da pessoa; II – diretamente conducente à alteração em registro público; III – cujo cumprimento necessariamente produza conseqüências práticas irreversíveis: IV – que substitua declaração de vontade; V – sujeita a reexame necessário”. (destaques nossos).

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Os Professores Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, afirmam: “O principal fundamento para a manutenção do princípio do duplo grau é de

É de se anotar, que no Brasil, não há recursos contra atos praticados pelos auxiliares da justiça, pois, como vimos, a direção do processo é do juiz, sendo que qualquer irresignação a ele deverá ser destinada, propiciando a revisão da legalidade ou da justiça da decisão, geralmente, por outro órgão jurisdicional.111

Mas, o juiz no curso do processo realiza inúmeros atos de diversas categorias, nem todos eles estando sujeitos a impugnação por meio de recursos.

Atos judiciais relacionados com atividades de ordem material, assim os

instrutórios (v.g., oitiva de um depoimento de perito; acareação de testemunhas etc); ou,

os de documentação (v.g., assinatura de atas de audiências; mandados judiciais etc.), não são relevantes para o tema dos recursos, pela singela característica de não possuírem conteúdo decisório, de modo que não podem gerar gravame à parte, impedindo que se revele o interesse recursal.112

O Código de Processo Civil pretendeu elencar nos arts. 162 e 163, todos os atos praticados pelo Juiz no processo, dando o título Dos Atos do Juiz, à Seção III, do Título V – Dos Atos Processuais, onde se encontram encartados os dispositivos mencionados. Contudo, lá estão arrolados apenas atos de uma certa natureza: os pronunciamentos

judiciais.113

Da análise dos pronunciamentos judiciais, conclui-se que somente serão susceptíveis de recurso, as decisões judiciais, representando um gênero, que reúne espécies: as sentenças, as decisões interlocutórias, os acórdãos, e, devendo, ainda, ser incluídas, as decisões monocráticas dos relatores nos tribunais que, por força do

natureza política: nenhum ato estatal pode ficar imune aos necessários controles”, in, Teoria geral do

processo, p. 75.

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No direito alemão, conforme esclarece Nelson Nery Júnior, são impugnáveis por meio de advertência, modalidade de remédio judicial (Rechsbehelf) os atos do oficial de justiça, do administrador judicial, ou ainda, do diretor de secretaria (Princípios fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, p. 61).

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Cf. Amaral Santos, ob. cit., 1º vol., p. 286.

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disposto no art. 557, reúnem tanto julgamentos de admissibilidade, quanto julgamentos de mérito, dos recursos.

Por ausência de conteúdo decisório, não são objeto de recursos, os despachos, como aliás, é expresso o art. 504, do CPC.114 A sua finalidade precípua é de movimentação do procedimento; pelos despachos, o juiz vai conduzindo a marcha procedimental para a consecução de seu ato final: a sentença.

O art. 162, a partir da Lei nº 8.952, de 13.12.1994, foi acrescido do parágrafo 4º, determinando que os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória (trata-se de indicação meramente exemplificativa), independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor. Contudo, estes atos podem ser revistos pelo juiz, de ofício ou mediante provocação, quando em desconformidade ao modelo legal ou quando puderem causar prejuízo às partes.

Reputamos que, eventuais imprecisões terminológicas do legislador, não podem dar azo a que se admita outra classe de pronunciamentos judiciais, criando variedades de despachos.

Assim, o critério que discrimina os pronunciamentos judiciais, com conteúdo decisório, está previsto na lei: são sentenças as decisões que põem fim ao procedimento em primeiro grau de jurisdição (art. 162, §1º); são decisões interlocutórias, aquelas que resolvem questões incidentes no curso do procedimento (art. 162, §2º); analogicamente às primeiras, são acórdãos, os julgamentos proferidos nos Tribunais (art. 163), e, ao lado destes, as decisões monocráticas dos relatores nos tribunais.115116

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“Artigo 504 – Dos despachos de mero expediente não cabe recurso”.

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Cf. José Frederico Marques, Manual de Direito Processual Civil, 3º vol., pp. 42/4. Em sentido contrário, admitindo despachos de natureza diversa, Egas Moniz de Aragão, Comentários ao Código de

Processo Civil, pp. 43/50. De lege lata, segundo doutrina que nos afigura como correta, o critério que

discrimina os pronunciamentos judiciais, com conteúdo decisório, é topológico (cf. Barbosa Moreira, ob. cit., p. 241) e teleológico (cf. Nelson Nery Júnior, ob. cit., pp. 62/4).

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Sobre o tema, discorremos no item: “10. Princípios fundamentais dos recursos concernentes à interposição conjunta do recurso extraordinário e do recurso especial”.

Mesmo que se distingam despachos de despachos ordinatórios (art. 162, §4º), somente os atos judiciais que possuam conteúdo decisório e que, por conseguinte, tenham capacidade de causar gravame às partes, é que são recorríveis. Em virtude disso, não se afigura operativa a distinção entre espécies de despachos, reputando-se, válida e funcional, a classificação dos pronunciamentos judiciais acima exposta.

No curso do processo, ou seja, endoprocessualmente, todo vício poderá ser regularizado, até o momento culminante do trânsito em julgado da ação. Neste momento, diz-se haver a sanação geral do processo, quando eventuais vícios ter-se-ão como convalidados. Esgotadas as possibilidades de se interpor os recursos cabíveis, no caso concreto, os vícios processuais tornam-se inatacáveis.

É importante não se olvidar que, alguns vícios processuais possam, conquanto exista coisa julgada material, ser objeto de ação rescisória ou de ação declaratória de nulidade, remédios processuais de natureza diversa dos recursos, constituindo-se de ações autônomas de impugnação.

A solução do sistema prestigia o valor da segurança entre os jurisdicionados, tornando firme a decisão judicial no processo onde foi proferida, impedindo qualquer rediscussão sobre as nulidades ocorridas e das quais não foram interpostos os recursos, ou, apesar de interpostos, não foram conhecidos ou providos.

3.2.3. A natureza jurídica dos recursos e as ações autônomas de