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2. Análise dos resultados do inquérito por entrevista

2.1 Sujeito A, Antónia tem 68 anos, solteira e reside no Concelho da Calheta

Autoestima

A Antónia inscreveu-se no processo de RVCC porque sentiu a necessidade de se atualizar. Também por razões profissionais, como a mesma refere: “ na altura que me inscrevi era com a ideia, porque o meu trabalho é na música, não tenho as habilitações literárias que possa ser reconhecida como tal.” Já tinha concluído o 6º ano para poder dar aulas de música no ensino. No entanto não foi possível, uma vez que já era necessário o 9º ano. Quando surgiu esta oportunidade decidiu inscrever-se no processo de RVCC, porque reconhece a importância da formação para sua valorização pessoal e profissional: “hoje em dia é importante a escolaridade que temos; às vezes olhamos para as pessoas e valorizamos as mesmas pela escolaridade e formação que elas têm”.

A passagem pelo processo de RVCC foi importante, no sentido em que foi uma forma de recordar, de atualizar os seus conhecimentos e de ver as suas competências reconhecidas: “o facto de a pessoa sentir que é ainda capaz de alguma coisa, capaz de partilhar e capaz de aprender. E isso ao mesmo tempo é também para mim um valor de vida”. O processo de RVCC permitiu-lhe voltar a alimentar o gosto pela necessidade de aprender. Reforça que o

97 gosto pela aprendizagem contínua esteve sempre presenta na sua vida, e que a falta de tempo, foi um dos entraves a uma aprendizagem contínua: “E isso é uma coisa que também tenho em mim, é o espírito de cultivo, sempre tive vontade de aprender”.

A principal a vantagem foi a aquisição de novos saberes, juntamente com o recordar conhecimentos e a atualização dos mesmos, sobretudo no campo da informática: “uma vantagem importante para mim foi a informática, eu não sabia nada”. Era uma necessidade que já sentia há muito tempo, pois a sociedade atual é informatizada, sentindo-se desatualizada perante a sociedade. Como desvantagem, ressalva, mais uma vez, a falta de tempo e o cansaço, no sentido em que o processo exigia algum tempo e preparação para desenvolvimento de trabalhos: “não bastava a pessoa estar ali presente; tinha que se preparar e fazer os trabalhos e ter o verdadeiro conhecimento”.

A frequência e conclusão do processo de RVCC trouxe como mudança na sua vida pessoal a capacidade de acreditar mais nas suas potencialidades, proporcionando-lhe uma maior autoestima: “portanto, eu dizer que tenho o 9º ano, sinto mais à-vontade do que dizer que tinha o 6º ano”. Também trouxe alterações a nível psicológico, dado que a formação nunca é demais e permite outra solidez às pessoas que estão no ativo: “a formação dá outra segurança a quem está no ativo e mesmo que não esteja é uma mais-valia para o enriquecimento pessoal, e depois vê-se na maneira de estar e de falar”.

A informática foi, de facto, um conhecimento fundamental para a vida da Antónia, uma vez que era uma necessidade que tinha, utilizando essa ferramenta no seu quotidiano: “o computador foi de facto uma mais-valia e importante para o meu dia-a-dia, sem dúvida”

Além disso, considera que o reconhecimento de competências foi importante porque possibilitou uma visão retrospetiva da sua experiência de vida; releva, igualmente, o facto desses conhecimentos e competências serem valorizados e certificados: “foi importante, porque foi um recordar (…) a minha história de vida e foi das coisas que eu mais gostei de fazer”.

Relativamente à valorização, as alterações ocorreram, sobretudo, a nível pessoal e social, embora não trouxessem nenhuma alteração aos conteúdos que leciona. Refere que se sente melhor preparada para lidar com os jovens com quem trabalha diariamente: “relação com os outros e em lidar com os jovens. A atualização de conhecimentos é importante para compreendermos mais e melhor algumas situações”.

A vontade de aprender esteve presente na sua vida e, sempre que pôde, procurou alimentar essa vontade. O processo de RVCC veio proporcionar a oportunidade de alimentar o conhecimento: “. É um exercitar da vontade de continuar a querer aprender mais”.

98 Quando se inscreveu as suas expectativas não eram elevadas, sobretudo a nível profissional, uma vez que tinha a consciência que o processo de RVCC não lhe iria trazer mudanças significativas nesse âmbito. Contudo, a nível pessoal e social as expectativas eram mais elevadas, no sentido que lhe iria proporcionar novos saberes indispensáveis para a vivência e compreensão da sociedade: “A nível pessoal e social era eu sentir-me mais valorizada para uma atualização de conhecimentos que é importante”. As expectativas mantiveram-se durante e após o término do processo de RVCC, dado que sempre procurou atualizar-se, como forma de valorização pessoal: “quando decidi inscrever-me no processo de RVCC não foi com o objetivo de ganhar mais dinheiro, foi mesmo para me valorizar mais a mim mesma”.

A formação permitiu sentir-se com mais firmeza nas tarefas que executa, tanto a nível pessoal, profissional e social: “a formação ajuda sempre uma pessoa a se atualizar e a sentir mais confiante nas tarefas que desempenha”

Apesar do gosto que tem pelo conhecimento e pela aprendizagem, pretende continuar a frequentar formações de curta duração, em que não tenha que despender tempo além das horas de formação: “fazer formação para uma atualização contínua de conhecimentos (…) formações em que tenha de apresentar trabalhos, não, porque não tenho tempo para cumprir prazos”.

Refere que o processo não permitiu a construção de um futuro melhor, porque a sua vida profissional já está traçada e encontra-se no fim de carreira: “não, com a minha idade já construi a minha vida”.

Autoconfiança

A imagem que faz de si é globalmente positiva. No entanto, refere que já tinha uma imagem positiva sobre si e o processo permitiu-lhe reforçar ainda mais essa imagem: “antes de entrar, durante e após a conclusão do processo, estava um pouco mais positiva por ter conseguido concluir”

Avalia a sua evolução e prestação durante e depois do processo de RVCC de forma positiva, particularmente após a conclusão, pois sentiu-se uma cidadã mais confiante e com maiores capacidades: “senti-me bem e feliz por estar a conseguir. Quando concluí foi um misto de emoções por ter concluído e muito mais confiante como cidadã”. Destaca, ainda, o papel dos formadores como preponderante no ensino-aprendizagem e para o culminar do

99 processo com sucesso: “a formação dada pelos professores foi fundamental, porque lidavam de forma diferente connosco e não como nas escolas”.

Hoje sente-se com mais capacidades para realizar outras atividades, ressalvando o facto de conseguir trabalhar com computadores e de efetuar algumas tarefas online, de forma autónoma, facilitando, assim, o seu dia-a-dia: “hoje sou capaz de desempenhar outras atividades através do meu computador para a minha vida pessoal como fazer o IRS online”.

Empregabilidade

A realização deste processo não proporcionou novas oportunidades no mercado de trabalho em virtude de não as ter procurado. Contudo, acha que se tivesse de procurar emprego estaria melhor preparada para enfrentar a concorrência que existe no mercado de trabalho: “mas caso tivesse a necessidade de procurar trabalhar o processo de RVCC deu-me competências para saber como procurar trabalho”.