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100suma, nas palavras de Peruzzo (2005, p 9), o direito à comunicação

No documento PORTCOM (páginas 100-104)

A regionalização no telejornalismo piauiense: estratégias adotadas pela Rede

100suma, nas palavras de Peruzzo (2005, p 9), o direito à comunicação

refere-se ao direito de democratizar o poder de comunicar.

1.4 Direito à Comunicação no contexto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICCs)

Atualmente, o uso das tecnologias de informação e comunicação transcorre todos os setores da sociedade e está relacionado às questões econômicas, políticas, culturais e sociais. Contudo, esse processo evidencia desigualdades, tais quais não dizem respeito somente à apropriação e uso dessas tecnologias, mas aos problemas relacionados à falta de moradia, ao precário sistema público de saúde, à problemas na educação, ao desemprego, à falta do direito à comunicação, etc. É neste último ponto que nos debruçamos: a comunicação como um direito humano e como um exercício de cidadania.

Para Sérgio Amadeu da Silveira (2001, p.49-50), o pontapé que fez deslanchar o discurso sobre a apropriação e uso das tecnologias partiu justamente das demandas das grandes corporações, pois lançaram aos governos o discurso iminente de combate à exclusão digital6.

De certo modo, a esfera econômica não é a única balizadora que importa, apesar de ser uma condição estruturante para o momento em que vivemos marcados pela aceleração do espaço e do tempo, pelas transações financeiras e em escala global. Justamente porque as TICCs afetam outras instâncias da vida cotidiana, como já foi dito.

Muito do que temos visto no plano teórico a respeito dos efeitos da globalização em diversos autores (Milton Santos, Muniz Sodré, Zygmunt Bauman, Néstor Gárcia Canclini, entre outros) ou mundialização (Renato Ortiz) presenciamos na prática, pois o capital trata de configurar e reconfigurar qualquer empecilho que se coloque à frente de seus objetivos. Quanto mais rápida a produção ou as

6. Não consta nos objetivos do presente trabalho trabalhar com a expressão “Inclusão digital”, nem adentrar no tema das políticas de “inclusão”, todavia nos depararemos com ela no decorrer do texto, por ser um jargão corrente entre os estudiosos da área e também por que foi a partir da apropriação desse conceito que o governo buscou integrar seus programas que são beneficiados pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. Contudo, sabemos que inclusão pode gerar exclusão social. Não temos a pretensão de aprofundar essa temática, mas deixamos claro nosso olhar crítico quanto ao conceito quando utilizado desprendido do seu corpo teórico.

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demandas por determinados serviços, melhor para o sistema. Parte das grandes transformações ocorridas na sociedade, dizem respeito a essa concentração de capital nas mãos de poucos. E um dos efeitos nocivos da emergência da tecnologia é justamente esse. Ser comercializada “a toque de caixa”, e como veremos adiante em muitos programas e projetos, faz com que acabe se tornando uma tecnologia de desconhecimento (GONZÁLEZ, 2012).

A partir das demandas das corporações para incluir a sociedade brasileira na “Era da Informação” e a própria motivação dos governos em se adequar às tecnologias por conta de diversos fatores, aumenta na América Latina e no Brasil o debate sobre as tecnologias, o barateamento de computadores e o desejo da sociedade civil em participar da chamada Sociedade da Informação. No governo Lula (2003-2010), especificamente, é que verificamos um boom nos programas de inclusão digital, por meio da criação de espaços públicos, gratuitos e comunitários providos de computadores conectados à internet para o acesso à informação. Normalmente, esses espaços são conhecidos como telecentros, telecentros comunitários7 ou infocentros de inclusão social

e digital.

Para Juciano Lacerda (2006, p. 101) o marco que constituiu a criação dos telecentros, sob a égide dos governos e do poder econômico foi a necessidade de integrar as periferias dos países em “desenvolvimento” e os próprios países periféricos ao sistema global de informação como condição fundamental para o seu progresso. Já para Silveira (2011) aconteceram dois fenômenos importantes no Brasil, a partir de 2003.

O primeiro foi o projeto de política digital no Ministério da Cultura e a proposta de digitalização dos Pontos de Cultura, que eram constituídos por movimentos e grupos de artistas e produtores culturais que passaram a receber recursos do governo como apoio às suas atividades. Isso trouxe novos atores populares e ativistas para o debate do uso das tecnologias de informação pelas comunidades. O segundo teve na dificuldade de organização e implementação consistente de uma política 7. Para saber mais sobre telecentros comunitários acesse <mc.gov.br/images/inclusao- -digital/telecentros/manuais/Release---Telecentros.pdf.>.

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pública de inclusão digital pelas esferas estatais o principal incentivo para a explosão das lanhouses, centros de acesso pago à internet, mantidos por micro e pequenos empresários nas áreas periféricas. Em 2006, as lanhouses tornaram-se o principal local de acesso do brasileiro das classes D/E, ou seja, 33,97 % deste segmento social usavam as lanhouses para navegar na rede, sendo a escola o seu segundo local de acesso, com 30,02% dos seus integrantes (SILVEIRA, 2011, p. 50).

Por outro lado, as TICCs podem apoiar outras formas de participação, produção e desenvolvimento social com vistas ao exercício da cidadania. Dessa forma, é importante compreender que o acesso significativo às TICCs ultrapassa computadores conectados à internet, mas abrange um complexo conjunto de fatores que vai além da tecnicidade das máquinas. Abrangem os aspectos mais significativos da vida, como a própria língua, a educação, as estruturas comunitárias, perpassados por condicionantes históricos, políticos, econômicos e sociais. Nessa linha de frente, conforme aponta Lacerda (2007, p. 101), estão as organizações da sociedade civil, como a World Association for Christian Communication (WACC), de Londres, a Agência Latino- Americana de Informação (ALAI), de Quito, e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC), de Montreal, que com outros agentes sociais que compõem a Plataforma pelo Direito à Comunicação (grupo que aglutina ONGs de vários países que atuam no campo da mídia e comunicação), lançaram a campanha Communication Rights in the Information Society (CRIS). De acordo com Lacerda (2007, p. 101-102), para essas organizações os telecentros e o conjunto de discussões sobre tecnologias e controle da informação devem ser vistos como parte do direito à comunicação.

2 Projeto Casa Brasil

O Projeto Casa Brasil foi criado em 2004, com a chamada Sociedade da Informação. No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os programas voltados para a temática da inclusão digital, ganharam força e visibilidade.

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Segundo fonte confiável, mas que preferiu não se identificar8, a

criação do Sampa.Org, foi uma experiência significativa que influenciou o Governo Federal a expandir a área de atuação dos telecentros e a integração dos mesmos com os outros programas em diversos pontos do país. O projeto nasceu no ano de 2000, em São Paulo, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2005), como parte das ações do Instituto de Políticas Públicas Florestan Fernandes. O Governo Federal se inspirou nessa iniciativa e tentou integrar suas ações por meio de um projeto que sustentasse não somente o aspecto da inclusão digital e da conectividade com computadores providos de internet, mas que pudesse de uma forma macro tratar da inclusão social. Em outras palavras, além de fornecer cursos de informática e acesso livre a internet, fomentaria outras formas de sociabilização por meio da integração da informática e da comunicação, com o objetivo precípuo - a ampliação dos direitos de cidadania. No entanto, no ano de 2010, o Projeto Casa Brasil foi descontinuado, mas algumas unidades espalhadas pelo Brasil continuaram em funcionamento, como é o exemplo da Casa Brasil Imbariê.

2.1 Casa Brasil Imbariê e a observação participante

A Casa Brasil Imbariê está localizada no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, do Rio de Janeiro. O distrito de Imbariê sofre com a falta de água, saneamento, transporte, tem sérios problemas na saúde pública, principalmente devido ao aumento de usuários de crack em Duque de Caxias e outras localidades, além dos escassos recursos para a educação e a cultura. Como as demais unidades, a Casa Brasil Imbariê participou de seleção pública e foi contemplada com o Projeto Casa Brasil em parceira com a Secretaria de Cultura e Turismo da prefeitura de Duque de Caxias. A Casa foi inaugurada no ano de 2006 e abrigava, na época, os seguintes módulos: Sala de Leitura com a apropriação e adequação da Biblioteca pública comunitária já presente no local, Laboratório de Informática, de MetaRec, Laboratório Multimídia, Auditório e Telecentro Comunitário.

Nossa inserção na Casa Brasil Imbariê aconteceu por meio

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