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Supervisão de estágio: o papel do supervisor e seu processo de

supervisão

A realização do estágio curricular no Curso Técnico de Enfermagem

contempla também o processo de supervisão, ou seja, a ação dos docentes que

acompanham a formação dos futuros profissionais no campo de estágio, com o

objetivo de contribuir para a aprendizagem dos alunos. Entende-se que a

supervisão forma, junto com o estágio, uma unidade do processo

ensino-aprendizagem e a este está articulada.

A análise das verbalizações dos entrevistados a respeito da realização de

estágio ofereceu a possibilidade de observar como ocorre o processo de

supervisão no curso técnico pesquisado e qual o papel atribuído ao supervisor

de estágio na formação profissional dos estagiários.

Para os entrevistados, o papel do supervisor está relacionado à

coordenação dos trabalhos durante o estágio, ao ensino da técnica instrumental,

muitas vezes dissociada dos conhecimentos científicos, e a responsabilidade

pelos erros dos alunos durante a realização de alguma técnica. Cabe ao

professor supervisor corrigir os erros dos estagiários, acompanhá-los e

direcioná-los nas tarefas a serem realizadas. Tais aspectos indicam que o estilo

de supervisão adotado pelo curso é diretivo, ou seja, é o supervisor quem

estabelece o controle do que o estagiário deve fazer e como fazer. Antes de

efetuar qualquer atividade na unidade de estágio, o aluno, primeiramente, deve

receber autorização do supervisor para atuar na situação-problema, mesmo que

já saiba realizar os procedimentos necessários para sua elucidação e/ou

prevenção.

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Das entrevistas realizadas destaca-se alguns depoimentos:

A importância dele é ensinar, orientar, supervisionar, estar junto com

o estagiário para supervisionar e, depois, é claro, chamar o estagiário

se ele fez alguma coisa errada, se ele fez algum procedimento, não

vou dizer procedimento errado, mas alguma coisa errada, de alguma

maneira errada, ou se por um descuido veio a fazer alguma coisa que

venha a prejudicar o paciente. Chamar no cantinho, numa salinha, na

“reuniãozinha” dos estagiários e conversar com o estagiário e

explicar: - olha, esse procedimento que você fez, da maneira como

você fez não está certo. Reveja. É assim. Eu acho que a importância

do supervisor é essa. Ele deve ver, observar, orientar, e depois

realmente corrigir o estagiário (E. 02).

Eu acho que ele é quem tem a maior responsabilidade do nosso

aprendizado, principalmente na prática. Ele está ali, quando não está

certo, ele está advertindo. O professor de estágio é peça importante

para a formação profissional nossa. Na verdade, no nosso curso você

vai aprender mais na prática. Tem o professor da teoria e chega lá na

prática, o professor de estágio vai ser essencial para a tua prática.

Ele vai te assistir e vai dizer se você está certo ou não, te passando o

conhecimento dele. Geralmente, os professores nossos de estágios

são professores bem capacitados que passaram por vários núcleos

da saúde (E.03).

É supervisionar desde a tua chegada, teu desempenho lá dentro, teu

esforço, a tua responsabilidade com o teu material, porque você tem

que chegar com o teu material certinho, conforme eles pediram. Até o

jeito de você tratar o paciente, né? Porque você aprende aqui, eles te

passam isso. Então, acho que lá cabe a ele verificar se você está

desempenhando e está fazendo certo (E. 12)

Ali, é de grande importância o professor de estágio. Para ele ver o

que nós aprendemos na teoria e estamos pondo em prática. Pondo

em prática o que aprendemos na teoria (E. 08).

É ensinar a gente na técnica e ser responsável pela gente. Ficar junto

com a gente ali, para ensinar a técnica e repassar para a gente o que

ele sabe (E. 10)

Eu acho que a professora, por exemplo, a nossa, sem ela nós

estaríamos perdidos. Você entrou no hospital, ela está atrás de você,

dizendo o tempo todo o que você tem que fazer. Se você está

realizando um procedimento lá, se você errar, ela diz que não é assim

e que é de outra maneira (E. 11)

Eu trabalho estágio na unidade onde eu trabalho. Então, é bom porque

eu conheço a unidade, sei a rotina e consigo trabalhar direcionando as

tarefas para eles e o que eles podem fazer, já vão assumindo (P. 01).

Sobressai nas verbalizações que o processo de supervisão é essencial

para o desempenho prático, para a avaliação dos procedimentos técnicos e das

atitudes dos estagiários no campo de estágio para, assim, prepará-los para as

ações profissionais. Coligadas a essas ideias, os entrevistados também

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valorizam a experiência de trabalho e o conhecimento técnico do supervisor nos

setores onde ocorrem os estágios, como forma de melhor aplicar a teoria à

prática. Nesta perspectiva, a lógica dos estágios segue-se restrita ao domínio

dos instrumentos para a prática de prestação de serviço e reprodução do fazer

profissional. Os entrevistados demonstram que o processo de supervisão

limita-se a uma dimensão tecnicista e, com isso, deixa-limita-se de proporcionar aos alunos

uma reflexão e análise crítica do processo de trabalho de enfermagem.

Outra observação a ser considerada, nessa análise, é o fato de que as

unidades onde os estágios são realizados seguem uma lógica institucional de

trabalho, que se organiza com o objetivo de preservar a vida e restabelecer a

saúde. A partir dessa finalidade, as atividades que não se adequam à dinâmica

cotidiana da prestação de serviço são entendidas como alheias ao fazer

profissional. Os dados coletados, nas entrevistas, dão conta, por exemplo, de

que o papel do supervisor e o processo de supervisão são preconizados na

ênfase sobre a execução da técnica, em detrimento a uma supervisão que

privilegie uma discussão mais integral do trabalho de enfermagem e de sua

forma de intervenção na realidade social.

Conforme discutido no capítulo II, a enfermagem e a formação profissional

para o seu exercício se constituem com base nas determinações sociais e

históricas. Portanto, suas técnicas e instrumentais não se situam à margem das

determinações concretas em que sua prática é exercida. Verificou-se, por

exemplo, que a divisão técnica de seu trabalho emerge da histórica dicotomia

entre trabalho intelectual e trabalho manual, que se concretizaram na

enfermagem através de duas categorias, as ladies-nurses e as nurses, as

primeiras responsáveis pelo gerenciamento, ensino e supervisão e as segundas

responsáveis pelas ações de cuidado direto e execução do trabalho planejado

pelas ladies-nurses.

A análise revelou que o processo de supervisão de estágio privilegia as

orientações individuais, embora cada supervisor fique responsável por um grupo

formado por 04 a 05 estagiários. Tais orientações, na maioria das vezes, são

pontuais naquilo que o aluno errou na prática, na execução da técnica. Na

opinião dos alunos entrevistados, faltam momentos coletivos de reflexão da

prática:

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Às vezes, ele chama quatro alunos, o grupo. Tem professores que não

fazem isso. Um professor que eu tive ficou numa mesa lá, numa sala

de reuniões, só ele e a gente. Foi bem legal. Conversarmos sobre os

estágios. Ele perguntou o que a gente gostou, o que a gente achou

mais difícil, o que era mais complicado de lidar ali com o paciente (E.

06).

Às vezes, nem tem orientação também. Já é direto na prática. [...] Tem

professor que orientou no último dia. Se o professor viu o aluno fazer

um procedimento errado, ele orienta no ato. Ele chama o aluno para

um cantinho e dá orientações adequadas. Porém, se fosse para toda a

minha equipe ia ser para mim e para eles também. É uma coisa bem

interessante, porque eu também podia aprender com o outro (E. 08).

Ao indagar os professores supervisores sobre como ocorre seu processo

de supervisão, constatou-se que as respostas dadas à questão recaíram na

avaliação, ou seja, na correta execução das técnicas pelo aluno durante o

atendimento direto ao paciente e no seguimento das regras da instituição que

oferece o espaço para a realização do estágio. A supervisão foi pareada a uma

avaliação constante do aluno:

O aluno é avaliado diariamente. A gente faz a avaliação da

pontualidade, criar na cabeça dele que ele tem que respeitar as regras

e a pontualidade. Assiduidade pessoal, o aluno ir bem vestido, ir limpo,

cabelo cortado, sem piercing, com todo o material. A gente vê muito a

parte de ética, a gente vê a postura, a interação do aluno com o

professor e com os colaboradores da instituição. A gente vê,

principalmente, a destreza manual e também o equilíbrio emocional,

como que ele consegue fazer uma sequência lógica de procedimento.

Se ele não troca o procedimento e começa do fim para o começo.

Então a sequência lógica que ele faz um procedimento de

enfermagem... essa é a forma de avaliar. Cada critério desses tem uma

avaliação. A gente segue o relatório que é dado pela própria instituição

de ensino, o Estado manda para a gente um relatório, e a gente vai

preenchendo aqueles dados até completar a nota dele, né? (P. 03).

Eu cobro bastante. São seis horas de estágio, são seis horas. Se são

quatro horas, são quatro horas. Pontualidade. Na questão do aluno, eu

avalio muito a iniciativa, o interesse com o paciente. A conduta dele

diante do paciente. A importância que ela dá ao paciente. O interesse,

o fazer as tarefas, a medicação. [...] Tudo isso é avaliado: o interesse,

a iniciativa e a criatividade. Porque no hospital muitas vezes, a teoria

científica é passada para eles, é tudo passado para eles, só que você

chega no hospital e muita coisa não tem. Você sabe como é ou

imagina, né? Lá teoria é uma coisa e a prática é outra. Muitas vezes

você chega lá e tem que improvisar muito. Você tem que criar. Ter

essa criatividade. Não tem isso, pode se fazer com aquilo. (P. 01)

Embora o conhecimento e a reprodução de técnicas referentes ao

exercício da enfermagem sejam de extrema relevância para a aprendizagem do

estagiário, como observaram os próprios alunos, o processo de supervisão deve

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operar para além dessa dimensão tecnicista. Nas palavras de Pimenta (2006),

esse momento deve se configurar como um momento interativo dos conteúdos

teóricos e práticos que compõem o saber-fazer da profissão. Nesse sentido, o

papel do supervisor seria, também, o de auxiliar o aluno a desenvolver um

pensamento autônomo e reflexivo, que se viabiliza pela problematização da

práxis profissional, de acordo com cada local de estágio.