• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. GOVERNANÇA CORPORATIVA

2.1.5. Governança Corporativa no Setor Bancário

2.1.5.1. Supervisão e Regulação da Indústria Bancária

A década de 60 foi marcante para o SFN devido a sua reestruturação através de Reformas Bancárias - Leis 4.595 (BRASIL, 1964) criando órgãos regulamentadores como o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o BACEN.

O principal órgão regulador do SFN é o CMN, tendo como órgãos executores de suas decisões o BACEN e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O CMN é o órgão máximo normativo para o setor financeiro. Suas principais funções são:

Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia;

regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos;

orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa. (BACEN, 2015)

O BACEN é o principal executor e fiscalizador do CMN, responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional, zelando pelo funcionamento das políticas macroeconômicas como a liquidez da economia, manter reservas internacionais, estimular a poupança, zelar pela estabilidade econômica e melhoria continua do sistema financeiro nacional.

A regulação bancária e financeira instituída pela Lei 4.595/64 era altamente intervencionista, com medidas conjunturais e focada na regulação reativa. Com a evolução do sistema financeiro, a regulação atual visa buscar a estabilidade financeira por meio de medidas estruturais e regulação prudencial, ou seja, proativa, de monitoramento, controle e, consequentemente, mitigação de riscos. A regulação prudencial está prevista, dentre outras resoluções do CMN, na Resolução CMN 2.554 (BACEN, 1998) que dispõe sobre a implantação de Sistemas de controles internos e Resolução CMN 4.019 (BACEN, 2011) que versa sobre medidas prudenciais preventivas destinadas a assegurar a solidez, a estabilidade e o regular funcionamento do Sistema Financeiro Nacional.

A evolução da supervisão bancária ocorreu em função das crises de liquidez no sistema bancário e os consequentes riscos sistêmicos que motivaram a adesão do Brasil aos acordos de Basileia na década de 90. Tais acordos são delineados para prover segurança e solidez às instituições bancárias, aos seus clientes e à economia mundial. Sua adoção pelas agências de regulação significa maior transparência, liquidez e credibilidade ao sistema financeiro.

Em 1988, o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia (BCBS), vinculado ao Banco de Compensações Internacionais (BIS), lançou o primeiro Acordo de Capital de Basiléia (International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards - BCBS) com a criação de um capital mínimo para controlar o risco de crédito, implementado no Brasil somente em 1994, com a Resolução 2.099. (BACEN, 1994)

Posteriormente, foi necessário revisar o Acordo inicial porque surgiram vários problemas nas instituições financeiras internacionalizadas. Após a quebra do Banco Barings por má gestão das operações, o novo Acordo de Basiléia intitulado “Convergência Internacional de Mensuração e Padrões de Capital” foi publicado em 2004 (Basiléia II) e possuía três pilares essenciais para a estabilidade do sistema.

Pilar I: Exigências mínimas de capital, por meio de gestão de riscos de crédito e mercado;

Pilar II: Supervisão Bancária e Governança com o objetivo de avaliar como as instituições financeiras estão se adequando às normas regulamentares;

Pilar III: Disciplina de Mercado com a obrigação de divulgar as informações relevantes ao mercado e reduzir a assimetria informacional.

Basiléia II trouxe a preocupação de mensurar também o risco operacional, além dos riscos de crédito e de mercado, com vistas a mitigar os riscos sistêmicos. Para isso, sugere inovações quanto a estrutura de capital dos bancos mais sensível aos riscos.

As regras prudenciais visam a manutenção da estabilidade e da confiança no sistema financeiro por meio da solvabilidade e solidez das instituições financeiras. O BACEN definiu critérios normativos de caráter prudencial que devem ser seguidas pelas instituições financeiras: Risco de Crédito, Risco de Commodities, Risco de Mercado, Risco de Taxa de Juros, Risco Cambial, Regra Prudencial de Lavagem de Dinheiro, Regra Prudencial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), Regra Prudencial de Compliance e Código de Defesa do cliente de produtos bancários.

A Regra Prudencial de Lavagem de Dinheiro por meio da Lei 9.613 (BRASIL, 1998) define critérios para controle de crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e outros ilícitos. A Regra Prudencial de Compliance tem como objetivo melhorar o acompanhamento e aprimoramento do grau de administração das atividades das instituições.

Para isso, o BACEN exige controles internos adequados à natureza, complexidade e grau de risco das operações, com emissão de relatórios semestrais de auditoria interna com conclusões, recomendações e manifestações dos gestores. Diferentemente dos trabalhos de

auditoria, o Compliance é rotineiro e permanente. Ele é complementar à auditoria interna. A ABBC recomenda que tenha um funcionário exclusivo responsável por esta atividade.

A função do Compliance tem sido alvo de estudos da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) em conjunto com a Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI).

Em 2004, as instituições publicaram uma cartilha intitulada “Função do Compliance” com o objetivo de integrar as boas práticas do Compliance com as boas práticas de Governança Corporativa e de Gestão de Riscos. (FEBRABAN e ABBI, 2004)

O estudo destaca que 78% dos entrevistados acreditam que a função de Compliance agrega valor à instituição, como por exemplo:

 Qualidade e velocidade das interpretações regulatórias e políticas e procedimentos de compliance relacionados.

 Aprimoramento do relacionamento com reguladores, incluindo bom retorno das revisões dos supervisores.

 Melhoria de relacionamento com os acionistas e com os clientes.

 Decisões de negócio em compliance.

 Velocidade dos novos produtos em conformidade para o mercado.

 Disseminação de elevados padrões éticos/culturais de compliance pela organização.

 Acompanhamento das correções e deficiências (não conformidades).

No ano de 2007 o CMN expediu a Resolução 3.490 instituindo a obrigatoriedade das instituições financeiras, exceto as sociedades de crédito ao microempreendedor, manterem o valor de Patrimônio de Referência (PR) superior ao Patrimônio de Referência Exigido (PRE) e compatível com o grau de riscos de suas atividades. Por sua vez, o BACEN publicou algumas circulares com orientações de cálculo das parcelas do PRE expostas ao risco. A Resolução 3.490/07 foi revogada totalmente em 2013 pela Resolução CMN 4.192 que dispõe sobre a metodologia para apuração do Patrimônio de Referência (PR) a partir de outubro de 2013. (BACEN, 2013).

Em 2009, como medida de combate à crise financeira instaurada em 2008, o comitê lançou documentos para suprir problemas identificados no processo de gestão de risco dos bancos durante a crise. (Enhancements to the Basel II Framework and Revisions to the Basel II Risk Framework).

Como forma de aperfeiçoar os sistemas financeiros mundiais, o BCBS publicou no final de 2010, o mais novo acordo, chamado de Basiléia III para evitar corrida aos bancos em meio a uma crise de liquidez.

Basiléia III é o conjunto de recomendações para fortalecer a regulação, supervisão e gestão de risco da indústria bancária, com o intuito de aperfeiçoar a capacidade de as instituições financeiras absorverem choques provenientes do sistema financeiro ou dos demais setores da economia e, ainda, de reduzir o risco de contágio do setor financeiro sobre o setor real da economia. (BACEN,2015)

Esse último acordo está sendo implantado no Brasil a partir de 2013 com a publicação de novas Resoluções do CMN trazendo as diretrizes das normas internacionais, bem como Circulares do BACEN regulamentando suas práticas. A previsão é de que o novo acordo seja totalmente atendido até 2019, aumentando gradativamente as exigências de capital. As resoluções do CMN e circulares do BACEN vigentes estão discriminadas no

liquidez (LCR) 4401/2015 3749/15 Circulares BCB 3762/15

QUADRO 2- LEGISLAÇÃO SOBRE REGULAÇÃO PRUDENCIAL

Gerenciamento de capital 3988/11 3547/11 Resoluções CMN 4388/14

Gerenciamento de liquidez 4090/12 Resoluções CMN 4388/14

Remuneração dos administradores 3921/10

Esses acordos foram assinados respeitando os Princípios essenciais de Basileia, compreendendo 29 princípios básicos em 2015, indispensáveis para um sistema de supervisão eficaz de um país. Esses princípios devem ser endossados pelas autoridades supervisoras de cada país e aplicados em todas as suas organizações bancárias. (BIS, 2012)

Banzas (2005) estudou a evolução recente da governança corporativa no setor bancário. Destaca que os problemas institucionais do Banco Central nos anos 1990 estiveram no centro dos esforços para estabilizar a economia: fraqueza política, excesso de funções, quadro de pessoal defasado e a supervisão dos bancos que não dava ênfase na análise de riscos antes do Plano Real.

Para o autor, a GC no setor será o alicerce para a construção de um novo marco regulatório, da mesma maneira que a supervisão prudencial baseadas em riscos foi o paradigma a partir de 1994. A condição básica para a solidez e aperfeiçoamento do SFN é o incentivo ao desenvolvimento de GC.

Para Leite e Reis (2013), Basileia III nada mais é do que uma emenda ao acordo anterior e não um novo acordo, pois modifica as medidas que foram julgadas insuficientes em função da crise financeira instalada, para controlar a instabilidade dos mercados financeiros e evitar ocorrência de crises mais graves.

De acordo com os autores, Basileia III ainda é insuficiente para promover a estabilidade do sistema financeiro. Relata ainda que o acordo traz controversas passíveis de críticas, principalmente em relação à ponderação de ativos pelo risco, que considera se o ativo foi ou não seguro no passado.

Diante desse contexto, pode-se dizer que o SFN está em fase de mudanças para mitigar os riscos sistêmicos constantemente. No próximo tópico serão abordadas as variáveis de desempenho e risco com o intuito de analisar posteriormente correlações com os níveis de governança dos bancos.