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PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Suporte dos/as Professores/as versus Suporte dos Pares

Diversos estudos provaram que enquanto a casa/família é o primeiro contexto de socialização, a escola providencia um segundo contexto fundamental para as aprendizagens formais (Birch & Ladd, 1996; Goodenow, 1993; Ma, Sheck, Cheung & Lam, 2000; Wentzel, 1997, cit. in Chen, 2005). Uma vez que a criança se encontra na escola, os ganhos académicos e os objectivos realizados são influenciados por variados factores associados ao seu contexto. Um destes factores é a qualidade do relacionamento com os seus pares, bem como com os/as professores/as, com quem interage ao longo do quotidiano escolar (Goodenow, 1993; Wentzel, 1997). Devido às interacções frequentes, é de esperar que professores/as e pares sirvam como fontes importantes de suporte ao comportamento académico dos/as estudantes. Na realidade, investigadores/as norte-americanos/as (Birch & Ladd, 1996; Eccles et al., 1993; Goodenow, Wentzel, Wentezel & Asher, 1995) mostraram que as interacções positivas entre as crianças, os/as professores/as e os pares contribuem para a motivação do/a estudante para aprender, para o sucesso académico e para o ajustamento psicológico. Por sua vez, interacções adversas com professores/as e pares aumentam a probabilidade da criança evidenciar problemas de comportamento,

levando a uma performance escolar mais pobre.

A associação entre a qualidade do relacionamento entre docente-estudante e o envolvimento comportamental do/a estudante é também evidenciado em países asiáticos. Consistentemente com as pesquisas efectuadas nos Estados Unidos da América, os/as investigadores/as Ma, Shek, Cheung e Lam (2000, cit. in Chen, 2005) verificaram que o relacionamento positivo com os/as professores/as estava associado ao envolvimento pró-social dos/as estudantes. Este estudo sugere igualmente que um fraco envolvimento por parte dos/as estudantes está relacionado com um relacionamento pobre com os/as seus/suas professores/as. Tal como é evidenciado no estudo de Wong’s (2001, cit. in Chen, 2005), em que foram entrevistados 63 adolescentes do género masculino, tendo-se verificado que quanto mais fraca for a performance escolar do estudante, mais fraco é o relacionamento entre aluno/a-docente, aumentando a probabilidade de o/a aluno/a envolver-se em comportamentos de risco. Infelizmente, este padrão cria um círculo vicioso: estudantes delinquentes não terão sentido o suporte e a ajuda necessária por parte dos/as professores/as devido ao fraco relacionamento existente entre si, perpetuando o percurso de fraco envolvimento escolar.

Pesquisas realizadas tanto no Estados Unidos como em Hong Kong estabeleceram que o suporte por parte dos/as professores/as desempenha um papel significativo na motivação do/a estudante para aprender e alcançar sucesso académico, enquanto os resultados obtidos por outros/as pesquisadores/as sugerem que o suporte percebido por parte dos/as colegas é o que mais influencia a sua performance académica (Chen, 2005). Em todo o caso, a percepção que os/as alunos/as têm do suporte dos/as professores/as está significativamente relacionada com o sucesso académico alcançado, tal como com o interesse demonstrado em aprender e a motivação para lutar por um percurso académico de excelência (Goodenow, 1993; Wentzel, 1997; Wentzel & Asher, 1995). Num estudo longitudinal com cerca de 248 alunos/as americanos/as a frequentar o 6-8.º ano, Wentzel concluiu que a percepção que os/as estudantes tinham da

preocupação dos/as professores/as estava positivamente relacionada com os seus objectivos académicos.

Apesar da verificação de que constituem uma importante fonte de suporte para o sucesso do/a estudante, os/as professores/as têm sido geralmente

percebidos/as pelos/as adolescentes como uma fonte secundária

comparativamente ao pai e à mãe e aos pares (Furman & Buhermester, 1992; Wentzel, 1997). No entanto, Wentzel (1998) verificou que as relações de suporte por parte dos pais e das mães, professores/as e pares estão relacionadas com múltiplos aspectos da motivação escolar. A natureza precisa dessas relações difere em função do tipo de relacionamento e dos resultados motivacionais. O distress psicológico explica, em parte, as relações significativas existentes entre o suporte social percebido e o interesse pela escola. Apesar da qualidade do suporte facultado pelos relacionamentos interpessoais ser um importante indicador dos resultados académicos, sociais e motivacionais, no estudo realizado por Wentzel, a interacção entre as várias fontes do suporte social percebido não se revelou um indicador dos resultados motivacionais. Ou seja, pai/mãe, professores/as e pares parecem desempenhar papeis relativamente independentes na vida dos/as jovens adolescentes e o efeito das múltiplas fontes de suporte nas realizações académicas e motivacionais seriam primariamente cumulativas em vez de compensatórias. Por exemplo, o suporte percebido por parte dos progenitores foi a única fonte preditora da orientação dos objectivos académicos por parte dos/as estudantes. Estes dados são consistentes com a investigação prévia sobre a relação entre os aspectos positivos das práticas parentais e a orientação dos objectivos (Heyman, Dweck & Cain, 1992; Hokoda & Fincham 1995, cit. in Wentzel, 1998). Ames (1992, cit. in Wentzel, 1998) sugere que este aspecto particular da motivação é influenciado não somente pelo contexto escolar, mas também pelas práticas de socialização em casa.

O suporte percebido por parte dos/as professores/as é o único nestas relações que condiciona o funcionamento da sala de aula, nomeadamente o

interesse na aula e a manutenção e cumprimento das regras e normas da sala de aula.

Assim, embora o suporte percebido por parte dos pais e das mães, professores/as, e pares seja frequentemente considerado simultaneamente, o suporte por parte dos/as professores/as influencia de forma directa os interesses relacionados com a vida académica. No entanto, tanto o suporte parental como o suporte por parte dos pares se revela associado a estes objectivos de forma indirecta, nomeadamente através do bem-estar emocional facultado ao/à estudante. Num estudo realizado anteriormente (Ames, 1997), o mesmo autor também verificou que o suporte percebido por parte dos/as professores/as, derivado de um interesse pedagógico, era importante para o sucesso dos/as estudantes por trazer benefícios à aprendizagem na sua sala de aula.

Estudos interculturais também verificaram que os/as professores/as desempenham um importante papel no investimento académico dos/as estudantes universitários/as. Stevenson e Lee (1990, cit. in Chen, 2005), num estudo realizado com crianças dos Estados Unidos, Japão e Taiwan, verificaram que nas sociedades estudadas os/as professores/as eram percebidos/as pelas mães como sendo a mais importante fonte de suporte para o sucesso e ganhos das crianças.