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Surgimento e consolidação da Internet

CAPÍTULO I A SOCIEDADE INFORMATIZADA DO SÉCULO XXI E A

1.2. A evolução da Internet no Brasil e no mundo: progressos e problemas

1.2.1. Surgimento e consolidação da Internet

A princípio criada com objetivo militar, a Internet, que hoje é a maior Rede de comunicação do planeta, teve como embrião a Arpanet, surgida em 1969, com a finalidade de atender a demandas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A idéia inicial era criar uma Rede que não pudesse ser destruída por bombardeios e fosse capaz de ligar pontos estratégicos, como centros de pesquisa e tecnologia. O que começou como um projeto de estratégia militar, financiado pelo Advanced Research Projects Agency (Arpa)15,

acabou se transformando na Internet.

Ainda na década de 60, em plena Guerra Fria, temendo as conseqüências de um ataque nuclear, os Estados Unidos investiram no projeto, liderado pelos pesquisadores da área de computação J.C.R. Licklider e Robert Taylor. A idéia era criar uma rede sem centro, quebrando o tradicional modelo de pirâmide, conectado a um computador central. A estrutura proposta permitiria que todos os pontos (nós) tivessem o mesmo status. Os dados caminhariam em qualquer sentido, em rotas intercambiáveis. Esse conceito surgiu na RAND (Centro de Pesquisas Anti-soviéticas) em 1964 e tomou vulto cinco anos depois.

As conexões cresceram em progressão geométrica. Nem os pioneiros, que trabalharam muitas vezes na base da improvisação, esperavam tamanha rapidez no desenvolvimento da Rede. Em 1971, havia duas dúzias de junções de Redes locais. Três anos depois, já chegavam a 62 e, em 1981, quando ocorreu de fato a introdução da Internet, já somavam 200.

15 PEREIRA, Ricardo Antônio. Breve introdução ao mundo digital, OPICE BLUM, Renato (org). Direito

O surgimento da Internet, como veremos a seguir, deu-se de forma rápida, sem programação definida, mas de um modo tão inusitado, que ainda hoje assusta os menos avisados. Tudo começou no final da década de 80, quando o inovador conceito de

World Wide Web (WWW) estava sendo desenvolvido nos célebres laboratórios CERN, da

Suíça, sob o comando do físico Tim Berners-Lee16.

Pouco tempo depois, o National Center for Supercomputing

Applications (NCSA), da Universidade de Illinois (EUA), que já reunia alguns dos

melhores pesquisadores nas áreas de Física, Engenharia de Materiais e Astrofísica do mundo, começou a perseguir o desenvolvimento de um software que tornasse mais fácil a navegação pelo ciberespaço. Após intensos estudos da equipe referida, foi lançado o NCSA

Mosaic, que popularizou o acesso à Internet, eliminando uma série de barreiras até então

existentes entre o usuário e a Rede Mundial que dava os primeiros passos.

O visualizador que popularizou o acesso à Internet foi criado em abril de 1993. Embora hoje o mercado de browsers (softwares de vizualização de páginas Web) seja dominado pelo Netscape e pelo Internet Explorer, o Mosaic é lembrado tanto por sua sofisticada concepção quanto pela revolução tecnológica que provocou desde então.

Durante muitos anos, o acesso à Internet ficou restrito a instituições de ensino e pesquisa. A partir da década de 80, os preços dos microcomputadores adequaram-se ao mercado e passaram a ser mais competitivos. Também se tornaram mais fáceis de usar. Havia, ainda, àquela época, um certo ar de mistério, diferentemente de hoje, quando qualquer pessoa pode se conectar à Net, desde que se associe a um provedor de acesso.

No início dos anos 90, a Internet ultrapassou a marca de um milhão de usuários e teve início a utilização comercial da Rede. Empresas pioneiras iniciaram a montagem de Redes próprias de comunicação (como a Compuserve americana) e passaram a se interligar na Internet, lucrando com essa conexão. Hoje já se admite que a forte influência do capital e a utilização das conexões para vender produtos e serviços abre duas frentes de discussão: a primeira, sobre quem vai arcar com os custos; e a segunda, de

16 O início da WEB e o CERN. Disponível em: http://www.cern.ch/CERN/WorldWideWeb/WWWandCERN.

caráter mais subjetivo, acerca da comercialização intensa, que pode distanciar a Rede de seus objetivos essenciais.

Uma organização foi formada em janeiro de 1992, com a finalidade de supervisionar a criação, a distribuição e a atualização de padrões referentes à Internet: a

Internet Society (ISOC), visando desempenhar o papel de "organização mater", dividida em

comitês e com autoridade sobre todos os aspectos administrativos da Rede.

Hoje, mesmo com história recente, a Internet já pode figurar entre aqueles organismos sobre os quais se pode traçar um mapa cronológico do seu surgimento e conseqüente desenvolvimento. Assim, para a maioria dos estudiosos do fenômeno da Internet17, pode-se apontar as seguintes datas como marcos dessa consolidação:

1971 - O pesquisador norte-americano Ray Tomlinson envia o

primeiro e-mail, utilizando o programa SNDMSG. Hoje, poucas referências existem sobre o teor da mensagem.

1974 - A palavra Internet é utilizada pela primeira vez pelo cientista

da MCI Vinton Cerf, ao descrever o protocolo TCP (Transmission Control Protocol).

1977 - A TheoryNet liga 100 pesquisadores via e-mail. É a primeira

lista de discussões na rede.

1980 - Evoluindo de um sistema fechado de computadores criado em

1970, a entidade que se tornaria o grande provedor de acesso e serviços Compuserve é comprada pela H&R Block.

1984 - Fundado o serviço online Prodigy, que a partir de 1988 se

tornaria um grande shopping e centro de entretenimento e informação virtuais.

1985 - William Gibson lança o já clássico da ficção científica

Neuromancer, no qual cunha a expressão ciberespaço. É registrado o primeiro domínio ponto.com, da empresa de informática Symbolics.com, ligada à Fundação da America On

Line (AOL).

17 PORTA, Marcos de Lima. A importância da Internet na Justiça. BLUM, Renato Oppice. Direito eletrônico:

1988 – Conhece-se o primeiro grande vírus a se alastrar pela Internet

- o vírus dos modens a 2400 bps - ameaçador dos hard disks.

1990 - Tim Berners-Lee e Robert Cailliau concebem a World Wide

Web. O sistema de hipertextos, com links acessados a partir de palavras sublinhadas,

permite a combinação de textos, imagens, sons e outros recursos de linguagem.

1993 – É criado o Mosaic, o primeiro visualizador gráfico da

Internet. O tráfego aumenta 341.634% em um ano. Surgem expressões como infovia e

Netizen (misto de citizen - cidadão - e Internet, algo como cidadão da Internet). Lançada a

revista Wired, de padrão sofisticado e vanguardista.

1994 - David Filo e Jerry Yang criam o site Yahoo!, que rastreia e

agrupa assuntos de interesse do usuário.

1995 - Lançado o Netscape Navigator, que rapidamente conquista

70% do mercado de browsers. Seu criador é o mesmo que desenvolveu o Mosaic, Marc Andreessen.

1996 - O Congresso americano aprova a Telecommunications Bill,

que prevê punições a quem divulgar pornografia pela Internet. Começa a ser utilizada a

Web TV.

1997 - O presidente Clinton menciona a Internet State of the Union,

no tradicional discurso à nação, embora revele naquele momento que ainda não seja um usuário da Rede. O computador Deep Blue, criado pela IBM, vence uma partida de xadrez com o mestre Garry Kasparov.

1998 - Janet Reno, chefe departamento de Justiça dos EUA, processa

a Microsoft com base na lei antitruste, sob a alegação de que a empresa prejudicava a concorrência ao embutir o browser Internet Explorer no Windows.

A velocidade com que a Internet se desenvolve tem preocupado tanto os técnicos, como os juristas mais abalizados. Nunca os operadores do direito expressaram tanto temor e tanta insegurança quanto na atualidade! Se já era difícil acompanhar a evolução legislativa no Brasil e no mundo, agora o jurista tem de se preocupar com as

relações jurídicas mais inusitadas, com os acontecimentos mais imprevisíveis, tudo isso numa velocidade espantosa e preocupante.

O conhecimento da Internet deve acompanhar o aumento de sua difusão. Ou, como disse o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e a Internet (IBDCI), Adalberto Simão Filho, chamando a sociedade atual de sociedade de

informação, é preciso possibilitar o acesso de todos à Rede18. Do contrário, não será possível reduzir a exclusão digital que já começa a se manifestar. É necessário, pois, que os governos comecem a dar prioridade a políticas públicas viabilizadoras desse acesso.

A Internet, sem dúvida, representa hoje em todo o mundo um dos melhores e mais baratos meios de comunicação, ocupando milhões de linhas telefônicas diariamente e proporcionando que as pessoas possam obter os mais variados tipos de informações. Essa utilização massiva da Rede faz pensar, de acordo com o já citado professor Robson Zanetti19 nos benefícios que ela pode trazer para a comunidade jurídica, bem como para a própria população, que busca, antes de tudo, informação.

Por isso mesmo o grande temor dos que atuam na Rede é que essa facilidade também se verifica no tocante ao cometimento de delitos de natureza criminal e de danos de natureza civil. Se qualquer um pode acessar a Internet a qualquer hora e de qualquer lugar, sem um controle efetivo e sem regras claras e precisas, com certeza os fatos danosos irão aumentar na proporção da expansão da comunicação cibernética.

Paralelamente ao crescimento de sua importância econômica, a Internet tem sido utilizada para fins não tão nobres quanto promover a comunicação ou o comércio. O vírus Melissa, por exemplo, em 1999, causou prejuízos em todo o mundo da ordem de US$ 80.000.000,00.

Outros exemplos são clássicos, como o caso em que Allen Lloyd causou danos irreparáveis aos computadores da companhia de engenharia Omega, de New Jersey, ao ativar um software que deletou permanentemente todos os programas de

18 Jornal O Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.estado.estadao.com.br. Acesso em: 20 abr.

2000.

19ZANETTI, Robson. A internet em benefício do acesso a informação jurídica. Jornal O Estado de São

produção da empresa. Ao todo, a Omega perdeu US$ 10.000.000,00 entre produtividade não realizada e danos aos computadores20.

Estes são apenas alguns exemplos para demonstrar que o bem jurídico patrimonial tem sido lesado, sendo necessário que a ordem jurídica ofereça meios de proteção. Atualmente, temos exemplos de sobra, principalmente nos EUA, com empresas de grande porte, assentadas em bases virtuais e de câmbio, que desabaram na sua estrutura econômico-financeira, por não compatibilizar as inovações do mundo virtual com os problemas do mundo real.

Ultimamente, tem crescido e se diversificado o número de vírus, numa forma acentuada de causar prejuízos aos usuários da Internet, como teremos oportunidade de analisar nos capítulos finais do presente estudo.

Segundo pesquisa divulgada em Nova York pelo jornal New York

Times21, o número de páginas públicas na Internet já ultrapassou os 2 bilhões e continua crescendo num ritmo impressionante. O estudo, chamado de “Sizing the Internet” (Dimensionando a Internet) foi conduzido pela Cyveillance e indica que 7 milhões de páginas Web são criadas diariamente, o que irá proporcionar a avantajada cifra de mais de 4 bilhões de páginas já neste ano de 2002. É verdade que o estudo concluiu também pela inutilidade de boa parte dessas páginas, mas é impressionante o crescimento vertiginoso.