• Nenhum resultado encontrado

1 PSA: CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

1.2 SURGIMENTO DA ECONOMIA ECOLÓGICA

As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pelo fortalecimento dos movimentos ambientalistas que diante dos graves problemas ambientais, principalmente nos grandes centros urbanos, passaram a alimentar as discussões sobre a compatibilidade do crescimento econômico e a preservação dos recursos naturais. O modelo de desenvolvimento econômico vigente passou a ser alvo de críticas pelos mais diversos ramos da sociedade. Foi então que os economistas começaram a se preocupar com as questões ambientais e os ambientalistas, por sua vez, com as questões econômicas, surgindo neste

contexto a economia ecológica.

Rech e Altmann (2009) fazem uma analogia sobre essa questão, dizendo que a humanidade, assim como Ulisses, se encontrava novamente diante da Esfinge: ou solucionávamos o enigma do crescimento econômico versus meio ambiente ou seríamos

devorados pela entropia. Para que se entenda melhor o significado dessa analogia é importante realçar que um dos pilares da economia ecológica é exatamente a Segunda Lei da Termodinâmica, também conhecida como a Lei de Entropia. Essa Lei afirma que quando uma energia é utilizada, se passa a ter uma perda na qualidade. De uma maneira em geral, dentro de um sistema, os corpos perdem a qualidade de energia que podem gerar, passando de estados de baixa entropia a alta entropia (GEORGESCU-ROEGEN, 1971). Diante da ótica econômica, essa Lei corresponde a um fenômeno de escassez, dada à perda de qualidade que se tem na utilização da energia. A crescente entropia poderia impor, conseqüentemente, limites ao crescimento econômico.

O sistema econômico normalmente desconsidera as perdas de energia e materiais durante o processo de produção. Veiga Neto (2008) citando Daly (1991) afirma que o diagrama econômico não é circular, pois há um fluxo de mão única (fluxo entrópico), que começa com os recursos (matéria-energia) e termina com os resíduos (matéria-energia), porém qualitativamente diferentes. Por essa perspectiva, a questão que se coloca para a economia ecológica está justamente na busca da sustentabilidade desta interação, delineando-se as condições de estabilidade das diversas funções ecológicas, particularmente a capacidade do ambiente em oferecer recursos naturais para o funcionamento do sistema econômico e em absorver seus rejeitos. Em outras palavras, a economia ecológica estaria delineando em que medida as restrições ambientais podem ou não constituir efetivamente limites ao crescimento econômico.

A economia ecológica funda-se no princípio de que o funcionamento do sistema econômico, considerado nas escalas temporal e espacial mais amplas, deve ser compreendido tendo-se em vista as condições do mundo biofísico sobre o qual este se realiza, já que é deste que derivam a energia e matérias-prima para o próprio funcionamento da economia. Uma vez que o processo econômico é um processo também físico, as relações físicas não podem deixar de fazer parte da análise do sistema econômico, o que a tornaria incompleta. Com isso, a natureza do problema envolve elementos tanto econômicos quanto biofísicos, ou seja, elementos relacionados aos ecossistemas. Ainda sobre economia ecológica, Souto Maior esclarece:

Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais, por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema de mercado, muito embora os recursos tenham valor econômico. Embora o valor econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de preços, o meio ambiente tem um valor, na medida que seu uso altera o nível de produção e consumo da sociedade, já que o bem estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens serviços tradicionais, como pelo consumo de bens e origem recreacionais, política, cultural e ambiental. (SOUTO MAIOR, 2001, p. 3).

Na essência do conceito, entretanto, a sustentabilidade ecológica deve ser vista como manutenção de estoques físicos de capital natural, e não a de seus correspondentes valores monetários. O capitalismo natural reconhece a interdependência crítica entre a produção com o uso do capital feito pelo homem e a manutenção e a oferta de capital natural. Admite também que a economia necessita de quatro tipos de capital para funcionar adequadamente (MMA, 2008): Capital humano – trabalho e inteligência, cultura e organização; Capital financeiro – dinheiro, investimentos e instrumentos monetários; Capital manufaturado – infra-estrutura, máquinas, ferramentas e fábricas; e Capital natural – recursos, sistemas vivos e serviços de ecossistemas. Nesse sentido, Farley & Gaddis esclarece melhor:

Capital natural: pode ser considerado como a metáfora econômica para o estoque dos recursos naturais que gera um fluxo de benefícios. Conceito central para a economia ecológica, ele pode ser dividido nas seguintes categorias: capital natural renovável (espécies vivas e ecossistemas); capital natural não renovável (petróleo, carvão, etc); capital natural reciclável através de sua interação de longo prazo com os organismos vivos (atmosfera, água potável, solos férteis, etc). O capital natural também pode ser apresentado como a fonte de matérias primas para a produção econômica (madeira, peixes, combustíveis fósseis); e como provedor dos serviços ecossistêmicos para a regulação climática, fornecimento de água e outros, ou como a capacidade de absorção dos resíduos produzidos pelas sociedades humanas, sendo a provisão dos serviços tão importantes quanto a fonte de matérias primas, mas de valoração bem mais difícil de ser realizada. (FARLEY & GADDIS, 2007, apud VEIGA NETO, 2008, p.13). Esse estoque físico de capital natural deve ser capaz de suportar as funções ecossistêmicas básicas, assim como o fornecimento de matérias-primas e a capacidade de absorção dos resíduos gerados pelas atividades econômicas ao longo do tempo (VEIGA NETO, 2008). Entretanto, o que se percebe atualmente é uma pressão cada vez maior sobre o capital natural. Conseqüentemente, começa a surgir um interesse econômico em beneficiar aqueles que contribuem para a manutenção das funções ecossistêmicas. Assim, a economia ecológica consolida um forte alicerce que irá sustentar a lógica do PSA, sendo uma das medidas mais apropriadas para mitigar, controlar e reverter os acelerados processos de deteriorização do meio ambiente, garantindo assim a oferta do capital natural, a fim de que a biosfera possa produzir serviços de ecossistemas e recursos naturais mais

abundantes (ESPINOZA et al., 1999).