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1 PSA: CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

1.3 TEORIA DAS EXTERNALIDADES, IMPOSTO PIGOUVIANO E TEOREMA DE COASE

Outro conceito econômico importante que influenciou as diretrizes do PSA é o conceito de externalidades. De uma forma simplificada as externalidades são os custos ou benefícios gerados a terceiros e que não são levados em conta nos preços de mercado. Veiga Neto esclarece melhor dizendo:

A teoria das externalidades chama de efeitos externos à economia quando há um descolamento entre os custos ou benefícios privados e os custos ou benefícios sociais de uma ação empreendida por um indivíduo. Como reza a cartilha neoclássica, a “mão invisível” dos mercados conduziria os atores econômicos a ações em que vislumbrando a maximização do seu ganho privado, eles também maximizariam o ganho social. Quando isto não acontece, estas diferenças são chamadas de externalidades, ou seja, uma externalidade ocorre toda vez que um agente causa uma perda (ou um ganho) de bem estar em outro agente e esta perda (ou ganho) não é compensado. (VEIGA NETO, 2008, p. 16).

Em outras palavras, externalidades representam uma transferência de bem-estar entre grupos e indivíduos na sociedade que não é incorporada pelo custo total de produção ou consumo. Em geral, o custo social e ambiental não é considerado no preço final do produto, de modo que se privatiza o lucro e se socializa o dano. Para ilustrar melhor esse conceito, imaginemos a seguinte situação hipotética:

Um produtor de soja, cuja propriedade equivale a 100 ha, resolve desmatar toda a sua cobertura vegetal, visando um melhor aproveitamento do solo para a plantação. Além disso, o mesmo produtor utiliza o método de plantio convencional, sem qualquer preocupação em relação à erosão. Conseqüentemente, esse produtor passa a ser responsável por uma série de problemas ambientais inclusive a sedimentação do córrego que abastece a região. Porém, esse custo social da poluição difusa causada pela erosão do solo de sua propriedade não está incorporado no custo privado de sua atividade agrícola, o que gera uma externalidade negativa. Por outro lado, o produtor de soja vizinho, cuja propriedade também equivale a 100 ha, resolve manter boa parte da sua cobertura vegetal e opta pelo manejo conservacionista de plantio direto. Dessa maneira, esse produtor passa a ser responsável pelos benefícios ambientais auferidos fora da sua propriedade como a redução da sedimentação do córrego que abastece a região entre outros benefícios. Porém, não recebe recompensa alguma por esses “benefícios sociais”, gerando assim externalidades positivas.

A partir dessa constatação, o economista Arthur Pigou aponta a internalização dos custos externos dentro de uma dada estrutura legal de direitos de propriedade (RING,

1997). Pigou parte do princípio de que uma vez que os recursos ambientais possuem caráter de bem público, faz-se necessária a intervenção do poder político para que os custos sociais das ações econômicas privadas sejam incorporados nos valores das mesmas. Dessa maneira, esse economista propõe a criação de taxas para garantir a correção da diferença entre os custos privados e os sociais.

De acordo com Ring (1997), a internalização dos efeitos externos representa a estratégia decisiva para integrar os problemas ambientais ao sistema de mercado. Sendo assim, Pigou, por meio da imposição de um imposto equivalente ao custo marginal externo decorrente da atividade poluidora (o imposto pigouviano), oferece o equilibro entre o custo/benefício privado e o custo/benefício social.

Ainda sobre as externalidades, na década de 60, Ronald Coase publica “The Problem of Social Cost”, no qual afirma que agentes econômicos privados podem solucionar o problema das externalidades entre si. Mas, para isso é fundamental que esses agentes econômicos possuam direitos de propriedade sobre os bens ou serviços para que os mesmos sejam levados para o campo de mercado, pois os direitos de propriedade estabelecem o possuidor legal de um recurso e especificam as formas pelas quais o recurso pode ser utilizado.

De uma maneira geral, podemos classificar os tipos de direitos de propriedade em dois grandes grupos: as propriedades “comum” e “privada”. Por definição, a propriedade comum pertence à sociedade em geral: nenhum indivíduo pode apropriar-se do recurso comum unicamente para seu próprio uso. Já a propriedade privada é diretamente possuída pelo indivíduo, que tem, dentro de certos constrangimentos legais, controle sobre sua forma de utilização (MARTINI & LANNA, 2003). Entretanto, problemas costumam ocorrer quando o uso da propriedade privada ocasiona prejuízos ao bem comum, ou quando a própria utilização da propriedade comum é levada ao interesse privado. Voltando ao fato das externalidades, o Teorema de Coase sugere que, por meio de negociações, os agentes internalizam as externalidades e atingem eficiência, independentemente da dotação inicial dos direitos de propriedade e na ausência de custos de transação (KOSOY et al, 2006). De acordo com Coase, qualquer que seja a distribuição inicial dos direitos, as partes interessadas sempre podem chegar a um acordo no qual todos fiquem numa situação melhor e o resultado seja eficiente. Em outras palavras, na ausência de custos de transação e de comportamento estratégico, as distorções associadas com as externalidades serão resolvidas por meio de barganhas voluntárias entre as partes interessadas, independente de quem for o detentor dos direitos de propriedades (CROPPER & OATES, 1992)

Desse modo, a partir do momento em que os direitos de propriedade passam a ser bem definidos e aplicados, e os custos de transação relativamente baixos, os pagamentos poderão ser estabelecidos por base no princípio de que os poluidores detêm o direito de poluir ou a sociedade detêm o direito de um ambiente limpo. O caso que melhor ilustra a contribuição do Teorema de Coase para o mercado de serviços ambientais é o Protocolo de Kyoto. Dependendo da situação de cota de emissões de CO2, o país pode comercializar

seus créditos de carbono comprando ou vendendo seu “direito de poluir”. Entretanto, se a poluição prejudica um grande número de indivíduos e os custos de negociar diretamente com os poluidores é muito elevado, pode ser mais conveniente usar o processo político e aprovar subsídios para a redução da poluição (ZILBERMAN, LIPPER & MCCARTHY, 2006). E esses incentivos podem ocorrer por meio de PSA.

A internalização das externalidades positivas geradas pelos serviços ambientais é o que sustenta a premissa básica do PSA, a partir do momento que passa a gratificar agentes econômicos para a gestão do ecossistema e recursos naturais para garantir bens e serviços ambientais que beneficiam outros.