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5 ANÁLISE PARA O INTÉRPRETE

5.3 Sw Franciszek – São Francisco

De caráter bem religioso, São Francisco tem dois elementos bem evidentes logo no seu início, uma melodia bem sinuosa tirada do Motivo de Sabala com vários cromatismos nos primeiros compassos e, no terceiro sistema, quando no texto tem a palavra aleluia aparecendo um trecho mais modal.

Encontraremos o Motivo de Sabala em todo o ciclo (mesmo que não seja tão evidente como em São Francisco) “[...] com sua linha que desce e sobe alternadamente, no interior de um âmbito muito estreito, formando no início uma espécie de V e se desenvolvendo em torno de uma nota pivô.”41(MOERE, 2008, p. 321, tradução nossa).

Szymanowski ficou encantado com um dos motivos de Sabala (FIGURAS 26 e 27), como lembra Chybinski, um dos motivos

[...] chama particularmente a atenção de Szymanowski por sua originalidade do ponto de vista tonal. […] Nós passamos a outras melodias das montanhas, mas sempre retornávamos a mesma. Eu repetia-lhe os motivos, tão arcaicos, tão poderosos em sua simplicidade 'bárbara', tão diferentes de quase tudo que

existia”.42 (CHYBINSKI, 1980 apud MOERE, 2008 p. 322, tradução nossa).

Para Szymanowski, o motivo de Sabala representava bem a cultura tradicional polonesa e os antigos habitantes da região das montanhas Tatra.

Cadrin; Downes (c2015, p. 92, tradução nossa) diz: “[...] que o ciclo é uma expressão, em um idioma derivado do folclore, da nostalgia pelas origens, de uma procura por uma autenticidade antiga e um desejo por uma renovação cultural.”43

41“[...] avec as ligne qui descend et monte alternativement, à l’intérieur d’un ambitus três étroit, formant au

début une sorte de V en s’enroulant autor d’une note pivot.” (MOERE, 2008, p. 321).

42“[...] atira particulièrement l’attention de Szymanowski par son originalité du point de vue tonal. [...] Il se le

fit répéter. Nous passions à d’autres melodies montagnardes, mais nous revenions toujours à celle-là. Je lui em répétais les motifs, si archaïques, si puissants dans leur simplicité “barbare”, si diferentes de presque tout ce qui existait.” (CHYBINSKI, 1980 apud MOERE, 2008 p. 322).

43“[…] the cycle this an expression, in a folk-derived idiom, of the nostalgia for origins, of a search for ancient

Figura 26 - Motivo de Sabala

Fonte: Lobaczewska (1950 apud CADRIN; DOWNES, c2015, p. 92).

Figura 27 - Motivo de Sabala em Swiety Franciszek - compassos 1 ao 10

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98).

O motivo será menos aparente, mas perceptível no início de Kalinowe dwory (FIGURA 28), nos vocalises de Slowisien (FIGURA 29) e em Wanda (FIGURA 30).

Figura 28 - Kalinowe dwory – compassos 5 ao 8

Figura 29 - Slowisien – compassos 39 e 40

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 95).

Em Wanda, aparece as quatro primeiras notas do motivo:

Figura 30 - Wanda – compassos 4 ao 6

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 102).

“Este motivo carrega o nome de um célebre contador e cantor, igualmente guia de montanha, Jan Krzeptowski (1809-1894), ou precisamente Sabala, que realizava, ele mesmo, seus acompanhamentos musicais.”44(MOERE, 2008, p. 321, tradução nossa).

Continuando a análise em Sw. Franciszek, Szymanowski gosta de ter algumas notas de apoio em suas composições, dando uma maior estabilidade a elas. Na melodia inicial desta canção, identificamos o ré sustenido que aparece bem marcante primeiramente na melodia sinuosa do piano e, logo em seguida, a voz repete isso, seguindo até o compasso 9 (FIGURA 31).

44“Ce motif porte le nom d’um célèbre conteur et chanteur, également guide de montagne, Jan Krzeptowski

(1809-1894), dit précisement Sabała, qui réalisait lui-même ses accompagnements musicaux.” (MOERE, 2008, p. 321).

Figura 31 - Sw. Franciszek - compassos 1 ao 8

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98).

O intérprete deve observar também o baixo do piano que faz uma descida quase completamente cromática, iniciando no nota si e terminando a seção A em fá sustenido no compasso 11. É importante destacar que apesar da composição ser pouco tonal, há essa relação de certa forma tradicional de se começar em uma nota e terminar na sua dominante (FIGURA 32).

Figura 32 - Sw. Franciszek - compassos 1 ao 10

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98).

Uma atenção especial ao compasso 10 onde aparece um arpejo em ré maior, sumindo assim o ré sustenido anteriormente tão marcante, que descerá cromaticamente até o dó que iniciará a seção B da Peça (FIGURAS 33 e 34).

Figura 33 - Sw. Franciszek – compasso 10 (arpejo de ré maior) Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98). Figura 34 - Sw. Franciszek – compasso 11 (cromatismo para o dó) Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98).

A seção B inicia no compasso 12 em dó com uma harmonia mais modal e intervalos bem diferentes da seção anterior, por exemplo, as quintas justas no piano (FIGURA 35).

Figura 35 - Sw. Franciszek – compasso 12 (quintas justas)

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98).

No compasso 15 é importante também observar uma célula que esteve presente no início da seção A e que volta, com outras notas, mas guardando a mesma relação intervalar de um semitom e um tom descendente, aqui na seção B criando uma unidade na peça mesmo esse motivo aparecendo em seções diferentes (FIGURA 36).

Figura 36 - Sw. Franciszek - compassos 1 e 15

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 96).

O compositor fez um rallentando na própria escrita da Peça e isso deve ser levado em consideração pelo intérprete no seu estudo da Peça. No compasso 15 aparecem colcheias, depois uma quiáltera de sete colcheias, depois uma quiáltera de cinco semínimas, depois semínimas com indicações de slentando e allargando até a fermata do compasso 21, onde termina a seção B (FIGURA 37).

Figura 37 - Sw. Franciszek - compassos 15 ao 21

Fonte: Szymanowski (c1951, p. 98-99).

A partir do Tempo I retomamos o início da Peça com o Motivo de Sabala no soprano, o arpejo em ré maior, no compasso 25, e o cromatismo que caminha ao dó natural no compasso 26. A Peça termina em mi maior com a nota mais aguda dessa canção, o sol sustenido, sendo insistentemente repetida pelo soprano, isso traz um ápice e um clima de transcendência à Peça através do texto Jesus, pomba do amor e do dolcíssimo da partitura (FIGURA 38).

Figura 38 - Sw. Franciszek - compassos 27 ao 29

No piano encontramos intervalos de sexta nos compassos 27 e 28, terminando com uma quinta justa no acorde final de mi sem a terça, caindo em um allargando e pianíssimo.

O intérprete não pode deixar de observar as indicações de andamento e dinâmica que aparecem ao longo da canção, pois elas ajudarão a criar a atmosfera religiosa e darão um movimento especial à Música.

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