• Nenhum resultado encontrado

Uma adaptação de várias técnicas para aplicação na hipnoterapia

Sofia Bauer

A utilização dessa técnica é muito fortuita, associada aos movimentos bilaterais alternados do EMDR. Utilizamos dessa técnica toda vez que um paciente diz assim: uma parte minha pensa que, uma parte de mim acha... E assim você pode utilizar, para desenvolver a dissociação das várias partes que compõem o nosso ego. Dr. Watkins escreveu um livro muito bom sobre os Estados do Ego “Ego States” e seguidores da Dra. Francine Shapiro, como Gerald Puck e David Grand, adaptaram novas maneiras de utilizar esta técnica. Neste texto vou dar a vocês um condensado de tudo isto aplicado à hipnoterapia.

Toda vez que sofremos um trauma nós desviamos o nosso caminho natural, a nossa jornada. E assim, colocamos um disfarce para podermos enfrentar, a partir daquele momento, alguma situação que possa vir a ser traumatizante novamente. E assim, vamos desenvolvendo novos estados de alterego, que nos auxiliam, nos facilitam viver a vida, mas também nos deixam fixos e rígidos em alguma determinada postura. Essa técnica é muito fortuita para qualquer tipo de problema.

Passos da técnica:

Passo nº 1) Imagine agora que você vai fechar seus olhos e vai ver como um palco iluminado. Nesse palco vão aparecer personagens, personagens de você mesmo, que podem aparecer como homens, mulheres, personagens da história, animais, como você desejar. Eu ainda não sei como eles vão aparecer, assim como você também não sabe.

O que nós sabemos é que dentro de nós existem muitas partes. Às vezes vemos na rua uma velhinha muito simpática, muito alegre, e dizemos: essa velhinha tem uma cara de uma jovem adolescente. Às vezes encontramos com um jovem adulto muito sério, com uma cara de um juiz de sentenças de morte. E assim por diante, encontramos as pessoas que estão rígidas dentro de alguns papéis determinados.

Todos nós, lá dentro de nós, temos vários disfarces, várias partes que compõem o nosso ego. E que assim aparecem em determinadas ocasiões de nossa vida, por determinados problemas que enfrentamos. São como disfarces,

vestimentas que vestimos para poder darmos conta de cada momento de nossa vida.

Agora, vamos viajar para dentro de você. Imagine um palco. Se assente e assista a cortina se abrindo. Por um instante respire fundo e se deixe poder aproveitar da cena que vem. Veja quais os personagens que vão poder aparecer para você. Nesse momento o palco vai se abrindo e você pode então, agora, observar se há algum personagem aparecendo nesse palco. Que personagem é esse? Como ele aparece? Que idade ele tem? Que roupas ele veste, qual é a sua aparência?

E você pode perguntar a ele o seu nome, faça isso. Se dê um tempo para observar essa pessoa, e pergunte a ele: quem é você? Nome, idade, veja como ele está vestido. Mas o mais importante é você agradecer por ele ter aparecido, pois ele é uma parte integrante de você.

Agora que você agradeceu, pergunte a ele quando ele apareceu na sua vida, qual é a função que ele tem, o que ele deseja de você. E ouça todas as respostas.

Passo nº 2) Procure ver se há outros personagens. Vá vendo um por um, perguntando a idade, o nome, por que ele apareceu em sua vida, quando ele

apareceu na sua vida, qual é a função dele. Tome todo o tempo que necessitar para ir vendo cada personagem. E você pode ir me dizendo um por um, o que ele é, como ele é, o que ele faz, e a sua função. Eu estarei aqui ouvindo junto com você, todas as novidades que a sua mente sábia vai trazendo para você.

Passo nº 3) Depois que já tiver visto todos os personagens que poderiam aparecer, pare um instante. Veja se tem algum personagem que deseja conversar com algum outro personagem, o que ele deseja falar para o outro. Veja se tem algum personagem que está precisando de ajuda, que necessita mudar. Observe se tem algum que pode oferecer essa ajuda, e pode fazer algum par

complementar, ajudando o que necessita. E com a sua respiração, ajude que esses personagens possam ir se integrando.

Passo nº 4) Por hoje fecharemos o palco, agradecendo a presença de todos, e pedindo a eles que se manifestem sempre que for necessário ainda, mas que a parte sábia da sua mente agora já pode ajudar a cada uma dessas partes a irem resolvendo suas questões. Talvez voltaremos a isso, em outra oportunidade. Conversaremos com cada uma dessas partes novamente.

Mas, a partir do momento, a parte sábia da sua mente, a sua mente

inconsciente já está automaticamente providenciando todas as mudanças que lhe sejam necessárias.

Agora, devagarinho, vá retornando saudavelmente, bem desperto, aqui para sala.

Passo nº 5) Pegue uma folha de papel. Faça um círculo bem no meio dessa folha do papel, que é o seu eu você. Espalhe nessa folha de papel os personagens. Não exatamente como eles apareceram no teatro, mas do jeito que você quiser, espalhe por esse papel e desenhe cada um dos personagens que você viu. Apenas espalhe pelo seu papel, da forma que você quiser. Nós iremos trabalhar com esses personagens daqui para a frente, e por isso é muito importante que nós os

mantenhamos desenhados, para irmos vendo as mudanças que podem acontecer. Depois que a pessoa tiver desenhado o personagem, você poderá fazer uma análise. Costumeiramente o personagem que estiver mais distante é o personagem que traz a origem de algum trauma. As coisas que estão desenhadas na parte esquerda do papel têm relação com o passado; as coisas que estão

desenhadas no meio do papel têm relação com o momento presente; as coisas que estão desenhadas na parte direita do papel têm relação com o futuro.

Observe a posição e a colocação dos personagens do seu cliente. Isso poderá ajudar você a fazer uma projeção gráfica e uma interpretação. Não exagere em suas interpretações, deixe que a pessoa se coloque. Observe as idades que as pessoas tiveram os personagens aparecendo. Essa idade é muito importante, sugere que houve alguma situação traumática ou alguma lembrança encobridora da primeira situação traumática. Observe bem a função de cada alterego. E os

personagens que estiverem bem em volta do seu eu no centro, são personagens que te ajudam no momento, dentro das funções que você necessita.

Bom trabalho, bom divertimento, continue aplicando essa técnica, juntamente com o EMDR, para facilitar que essa pessoa processe e reprocesse, e vá perdendo a necessidade de manter os seus personagens rigidamente separados. Eles vão se integrando na medida em que a pessoa vai melhorando. Ou você vai aprendendo que eles podem se interagir. E isso é o mais importante. Nós somos feitos de partes que podem se integrar, interagir, se ajudar mutuamente. O reconhecimento dessas partes traz a conexão, e trata as nossas doenças.

Bibliografia

Bauer, Sofia - Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo. Livro Pleno, Campinas, 1998.

Watkins John e Watkins, Helen - Eego States - ww. Norton and company, New York, 1997.

David Grand - Defining and Redefining EMDR - NY, 1999.