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A TERAPIA ESTRATÉGICA DE ERICKSON

Erickson tinha uma modalidade única e especial de fazer terapia sob medida, por isso é impossível tentar sistematizá-lo. Mas observamos que existem

características específicas em seu trabalho que os ericksonianos adotam como padrão de abordagem. Elas são, em resumo, três modalidades de abordagens:

1) Entrar pelo sintoma, modificando o padrão do problema 2) O uso de analogias e metáforas

3) Intervenções paradoxais

A seguir, estudaremos resumidamente cada um destes itens.

Se você quiser aprofundar neste tema leia os livros de William O’Hanlon como Raízes Profundas, Em Busca de Solução, Guia de Terapia Breve e Hipnose Centrada na Solução de Problemas.

1 – A intervenção no padrão que modifica a ação do problema (Entrar pelo sintoma)

O que já foi visto por muitos terapeutas breves é que a conduta de se trabalhar com a queixa que o paciente traz não oferece resistência. Assim

podemos ver que nas psicoterapias tradicionais onde se busca a causa do conflito, as resistências aparecem rapidamente.

Erickson trabalhava apenas com aquilo que o cliente lhe oferecia mesmo que fosse somente a resistência. Sem buscar algo mais no passado ou onde quer que fosse!

De acordo com Erickson, o interessante era mudar o padrão de respostas automáticas que contém ou acompanham as experiências ou condutas

indesejadas (sintomas).

Assim, é importante reunir o maior número de elementos sobre a queixa do paciente e com isso MODIFICAR o sintoma.

Você deve observar: a) a linguagem

b) interesses e motivação

c) crenças e marcos de referência d) condutas

e) o sintoma f) resistência

Uma alteração qualquer da queixa modifica as questões que rodeiam o problema e com freqüência a conduta/problema desaparece.

O’Hanlon mostra 15 modalidades que ele observou no trabalho de Erickson em INJETAR um vírus que MODIFICA O PADRÃO DO

PROBLEMA. Vou colocá-las aqui, para que você possa utilizá-las em seu trabalho terapêutico. No princípio, é difícil acostumar a intervir no padrão, mas aos poucos você pega o jeito.

Principais modos de intervenção no padrão: 1. mudar a freqüência/ritmo 2. mudar a duração do sintoma

3. mudar o momento (dia/semana/mês/ano) 4. Mudar a direção (no corpo/no mundo) 5. Mudar a intensidade

6. Mudar alguma outra característica ou circunstância própria do sintoma

7. mudar a seqüência dos acontecimentos

8. criar um curto circuito na seqüência (do início para o final) 9. interromper a seqüência, ou impedi-la de outro modo 10. Tirar um elemento

11. Fragmentar um elemento unitário

12. fazer com que o sintoma se despregue de seu padrão

13. fazer com que o sintoma se despregue do padrão-sintoma com exceção do sintoma (comer muito mas em pouco tempo)

14. inverter o padrão

15. vincular o aparecimento da padrão-sintoma com outro padrão (tarefa condicionada pelo sintoma)

Erickson utilizava destas modalidades para injetar vírus no padrão do sintoma, às vezes sem ao menos questionar as causas dos problemas. E o resultado? Excelente!

Assim, podemos dizer que numa terapia bem estratégica e breve conseguimos modificar um padrão de conduta e muitas vezes uma VIDA! Tornando-a mais adaptativa e feliz. Os bons resultados em vencer um sistema trabalham automaticamente as mudanças internas do sujeito e a terapia se faz naturalmente.

Ex. 1) Policial aposentado obeso, tabagista e que bebia muito. Erickson interveio lhe dando uma tarefa: para comer, comprar uma

refeição por vez num supermercado à 1,5 km. Para beber, uma dose por bar com uma distância razoável entre um e outro. E para fumar comprar o maço de cigarros do outro lado do bairro, indo a pé.

Ex. 2) Rapaz de 17 anos que levantava o braço direito 135 vezes/min. Erickson fez com que levantasse 145 vezes/min e seguiu aumentando e diminuindo alternadamente, com aumento de 5x/min e diminuição de 10x/min até que desapareceu por completo.

2) O uso de analogias e metáforas

Este já é um assunto bem conhecido por nós. Conversar por analogias, contar casos ou estórias faz com que as pessoas se relembrem de seus próprios problemas. Elas sempre estão buscando uma solução de problemas. Se você constrói estórias ou conta casos que contenham os problemas dos pacientes, eles conseguem captar a idéia e/ou metamensagem embutida em busca da solução de seus próprios problemas.

Veja textos sobre como construir metáforas e leia Minha Voz irá Contigo de Sidney Rosen; neste livro Erickson conta muitos casos e muitas estórias em busca de solução para os conflitos de cada um.

É bom lembrar que as metáforas são pontes de ligação do problema para a solução.

3) As intervenções paradoxais

Creio que a essência maravilhosa de Erickson se encontra no trabalho com o paradoxo. Vamos analisar de uma forma sucinta, mas objetiva as estratégias de Erickson para lidar com o paradoxo.

Todos nós temos conflitos. Por conflito podemos entender que temos um “problema sem solução”. Por detrás dos nossos conflitos se encontram os paradoxos de nossas vidas.

Os quais todos temos, pois todos temos problemas. Quanto maior a rigidez, mais fechado é o paradoxo, maior é o problema. Tudo uma questão de volume como diz Teresa Robles.

Por paradoxo entendemos duas ordens contraditórias ditas ao mesmo tempo e assim não há como evitar o fracasso, pois se você não obedece a uma, falha com a outra. Tem aquele bom exemplo da mãe que presenteia o filho com duas gravatas. O filho coloca uma para ir trabalhar e a mãe diz “Ó meu filho, você não gostou da outra gravata que mamãe te deu!” Como sair desta!!!

Um exemplo prático: mulher deprimida e obesa. Ficou assim porque um dia descobriu que o marido ciumento, que lhe exigia estar sempre linda, a traíra. Engordou para não lhe dar mais prazer (1a ordem), e deprimiu porque havia

ficado gorda (2a ordem). O que fazer?! Chega dizendo que quer melhorar da

depressão, mas não pode emagrecer!!!

Erickson observava que todos os problemas tinham seus paradoxos. Assim ele utilizava de uma maneira astuta técnicas paradoxais com estes pacientes. A estratégia:

Prescrever o Sintoma!

Ele queria com isso que o paciente fizesse voluntariamente aquilo que antes fazia automaticamente (inconscientemente). Normalmente prescrevia o sintoma associado da emoção subjacente escondida na forma automática de funcionar. A partir do momento que o sintoma deixava de ser automático denunciava o que o sintoma deseja “falar” ou “fazer” e com isto as pessoas se curavam.

A forma de empregar a prescrição

a) Por obediência – dá-se uma ordem de aumentar o sintoma para depois baixá-lo.

Pode ser feita com pessoas obedientes, permissivas, que cooperam com o terapeuta e quando o paciente acha que seus sintomas estão fora de combate.

b) Por desafio – espera-se que o paciente desafie, aberta ou encobertamente, o pedido do terapeuta.

O paciente resiste ou se rebela à prescrição.

Este tipo de prescrição de sintomas é dada a pessoas controladoras e de grande oposição e vê seus sintomas como potencialmente controláveis.

Assim podemos ver os paradoxos dados pelo terapeuta como: de prescrição – roer unhas, chupar determinados dedos.

de restrição – não faça isso, vá devagar (quando é para ir depressa) de posicionamento – trocar a posição de um problema – (aceitando ou exagerando uma afirmação do próprio paciente sobre seu problema).

Para Fishen e Anderson os paradoxos podem ter 3 classes de estratégia paradoxical:

1. Redefinição – modificar o significado da interpretação atribuído ao sintoma.

Ex.: Redefinir uma criança como extremamente sensível, quando fóbica. 2. Escalada – é o intento de criar uma crise ou um aumento da freqüência da conduta sintomática.

3. Reorientação – trocar um aspecto do sintoma, prescrevendo circunstâncias particulares do sintoma. (Chupar o dedo só na frente do pai, fazendo muito barulho para assustá-lo muito!).

Por fim, deve lembrar vocês que Paul Watzlawick, a Escola de Palo Alto, a Escola de Milão são as origens dos trabalhos com paradoxos. Vale a pena ver textos destas fontes.

Todos estes trabalhos de paradoxos são dados como prescrição de sintomas, em outras palavras, como tarefas.

Bibliografia

William O’Hanlon - “Guia Breve de Terapia Breve” “Raízes Profundas”

“Hipnose Centrada na Solução de Problemas”