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A TÉCNICA ESTILÍSTICA DE CLARICE LISPECTOR NA CRÍTICA DE BENEDITO NUNES

A CRÍTICA LITERÁRIA DE BENEDITO NUNES E A ESTÉTICA NA LITERATURA DE CLARICE LISPECTOR

3. A TÉCNICA ESTILÍSTICA DE CLARICE LISPECTOR NA CRÍTICA DE BENEDITO NUNES

Anais do Simpósio Nacional do Gepelip:

Interculturalidade nas Literaturas de Língua Portuguesa.

Universidade Federal do Amazonas – Manaus, junho 2014

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demais personagens, fato que incluiu Clarice Lispector na Geração de 45.

A amoralidade diante da maldade e o instinto na condução da trama, enseja certa dose de auto martírio. A história de Joana, a protagonista, não é a Virgem d'Orleans, mas a personagem de Clarice Lispector que estreia nesta obra marcou a ficção brasileira em 1944.

O conto é inovador e provocou frisson nos redutos da literatura.

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capacidade do leitor de promover sua criticidade. Fala-se aqui da apreciação estética tanto quanto o conhecimento da realidade que é oferecido pela obra literária, mas que requer também, a expressão da ética. Pois, uma e outra, a estética e a ética, requerem para a produção de seus efeitos, o encontro do “eu” e do “outro”, do autor e do leitor.

Elaborar uma reflexão sobre aquilo que é verdadeiro numa obra de ficção possibilita identificar o esforço inabalável do crítico literário em construir um processo de subjetivismo aplicável a regras lógicas que autorizam de forma acadêmica e científica, a aceitação de conclusões de raciocínio. A interpretação do verdadeiro, da realidade imediata, da coisa manifesta para a consciência é experimentada pelos sentidos. “ Esta totalidade é a ideia que não corresponde apenas à unidade ideal e subjetiva do conceito, mas também à sua objetividade que, sem apresentar a menor oposição ao conceito, o relaciona consigo próprio [...]” (HEGEL, 2000, p.130).

O Drama da Linguagem: Uma leitura de Clarice Lispector (1989), Benedito Nunes trabalha na fronteira entre a literatura e a filosofia, possibilitando reflexionar sobre a organização da subjetividade (imitação-idealização-identificação) na modernidade através da crítica literária. Uma vez que, arte propõe uma reflexão sobre o modo como pensamos e sua utilidade e sua repercussão na sociedade atual, que estamos inseridos e assim, uma autocrítica possibilitaria impulsionar uma crítica dialética da cultura a partir da observação do interior da sociedade e suas inter-relações com a crítica estruturada como modelo.

Não obstante o Drama da Linguagem, parte do olhar filosófico e estético utilizado pela autora, em que os dramas das personagens das obras em estudo parecem espelhar os dramas humanos, Nunes observa que a ficção de Lispector insere-se no contexto da filosofia existencialista. A obra destaca aspectos que “não podem deixar de repercutir na concepção de mundo relacionada com a temática existencial que se projeta, nos diversos escritos da autora”

(Nunes, 1995, p. 15), ou “uma latitude metafísico-religiosa: o problema do ser e do dizer”

(Nunes, 1995, p. 57) quando se refere ao romance: A maçã no escuro (1961).

Benedito Nunes por meio de um inegável aparato filosófico e literário aborda a obra de Clarice Lispector por sua temática da existência e é levado ao “excesso de paixão pela obra de Clarice”.

Ao comentar sobre obra de Clarice, Benedito Nunes reconhece o romance “A paixão segundo G.H.” como a narrativa em que mais se encontra o que chama de drama da linguagem. Neste romance, G.H., uma escultora amadora, tenta transpor em palavras

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a um interlocutor imaginário, a experiência do dia anterior, já distanciada, resultando numa espécie de fracasso e G.H. entra na área do silêncio em seu relato.

G.H. fracassa separando-se da linguagem comum pela realidade silenciosa que nenhuma palavra exprime. A paixão da linguagem terá o seu reverso na desconfiança da palavra, e o empenho ao dizer expressivo, que alimenta essa paixão, transformar-se-á numa silenciosa adesão às próprias coisas (NUNES, 1995, p. 112).

Enfatiza-se que, “[...] assim como o mundo do texto só é real na medida em que é fictício, da mesma forma devemos dizer que a subjetividade do leitor advém a ela mesma na medida em que é colocada em suspenso, irrealizada, potencializada, da mesma forma que o mundo manifestado pelo texto [...]” (RICOEUR, 1977, p.58). O crítico literário investe sua própria subjetividade no empreendimento da leitura, no encontro com o autor. Este encontro constitui a via pela qual o crítico deve empreender o exame da obra e que se faz no correr da leitura. Não obstante, é necessário todo o rigor na análise crítica e que é a chave da interpretação e da capacidade do leitor de promover sua criticidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ponto de vista da crítica à arte está no olhar. O olhar, por sua vez, deriva de um sentimento originário que reduz o outro à condição de objeto. Por trás do olhar do outro há uma consciência. Enfim, crivar uma obra de arte, permite a dilatação dos limites avaliativos, que incluem critérios estéticos e éticos, principalmente quando se considera a literatura como algo belo, prazeroso, de outro lado, a ética, o deontológico regula a capacidade avaliativa do crítico. A resposta para nossa curiosidade, talvez esteja no encadeamento das ideias, avaliadas pela crítica literária, e a prazerosa leitura das obras de Benedito Nunes poderiam então, apontar os grandes problemas que inquietam o pensamento contemporâneo e que envolvem a interpretação filosófica e a crítica na literatura.

Destacamos aqui a importância da obra de Clarice Lispector na Literatura Brasileira, o que tornar possível a dialogação em torno da compreensão desta autora, principalmente no que se relaciona ao diálogo entre Literatura e Filosofia. Se a arte imita a vida ou vida imita a arte é algo que sempre vai nos inquietar a consciência. Mas, é possível afirma que a arte se trata da reprodução e transformação de toda experiência, não somente a representação do belo que diz respeito ao estético, mas de um

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comportamento mimético, fictício, por vezes regressivo, que provoca mudanças na forma de ver o mundo real. No entanto, quem fala o texto é a própria linguagem, com seus significantes e significados, em constante dialogação intersubjetiva entre autor-leitor, e porque não dizer entre autor e crítico literário.

Trabalhar a auto avaliação é ser híbrido, como se referia a Benedito Nunes, a ilustre Clarice Lispector. A cognição de subjetivação e objetivação na crítica é a engenharia do pensamento literário e o grande mérito de Benedito Nunes é apresentar a subjetividade do vivido. Logo, o artista tem relação com sua realidade, com a ideologia vivida em sua época, contudo é uma relação que não deixa de ser complexa. O texto é uma máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça parte de seu trabalho (Eco, 1994, p.9). A busca de aproximação com o real encontra-se na modernidade, que mesmo que seja do século passado, sempre se adequa a realidade atual vivenciada. A interpretação, assim como a crítica literária necessita de parâmetros conceituais, categorias:

linguísticas, conceituais, filosóficas ou outras. Para Nunes (1995) estas categorias ou critérios dependem do tipo de linguagem do autor, do olhar como este artista interpreta a realidade, uma vez que a interpretação tem haver com o contato com aquela realidade.

A literatura permite através do seu conteúdo uma crítica da sociedade, ou melhor, faz ver o que nos é negado pelas representações que circundam o nosso dia a dia. E a crítica literária a uma obra que não tem teor de verdade não pode ser vista como científica, nem tampouco como uma obra de arte, uma vez que sua função social se propaga através do teor de verdade que se liga a função da arte. Logo, a arte necessita de uma análise imanente, no intuito de despertar a consciência, captando todas as nuanças do que se quer expressar e só através da linguagem se torna possível vislumbrar a obra de arte. Eis a função social da crítica literária.

REFERÊNCIAS

ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Estética: A ideia e o ideal/ Estética: o belo artístico ou o ideal. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo (Protocolo do Seminário sobre a conferência). São Paulo: Nova Cultural, 2000.

LISPECTOR, Clarice. A Paixão segundo G.H. 1ª edição. Rio de Janeiro: ROCCO,

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1998.

___________. Laços de família. 1ª edição. Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.

___________. Perto do coração selvagem. 1ª edição. Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.

___________. A maçã no escuro. 1ª edição. Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.

NUNES, Benedito. A clave do poético. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

__________. O Drama da linguagem: Uma Leitura de Clarice Lispector. São Paulo:

Editora Ática, 1995.

__________. O mundo de Clarice Lispector (ensaio). Série Torquato Tapajós. Vol. VI.

Manaus: Edições Governo do Estado do Amazonas, 1966.

RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Organização, tradução e apresentação de Hilton Japiassu. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.

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