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CAPÍTULO III OS CAMINHOS PERCORRIDOS EM BUSCA DE

3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa

Como técnica de pesquisa, propusemos a utilização de grupos focais por acreditarmos juntamente com Gatti (2005) que este é o melhor instrumento para captar, a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações. Desta forma, interessou-nos não só a opinião singular de cada indivíduo, como também, seu comportamento e suas reflexões a partir da interação com outros atores envolvidos no processo, compartilhando do mesmo espaço e dialogando sobre a temática em questão. O grupo focal foi realizado junto a representantes da Igreja católica, FAFIDAM, CSP Conlutas, Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, integrantes do MST, além dos pesquisadores.

O grupo focal contou com a participação de onze pessoas e duração média de pouco mais de uma hora. Seu registro foi feito por meio de gravação de áudio sendo posteriormente transcrito pelo próprio pesquisador. No início da sessão,

lançamos perguntas condutoras aos participantes como forma de orientar os debates19.

Quanto ao número de grupos focais, Gatti (2005) nos aconselhou a realizar em torno de dois ou três para uma posterior avaliação da qualidade do material empírico. Contudo, o campo impôs limitações que nos impediram de atingir esse número, restando-nos a realização de apenas um grupo focal. Mesmo com sucessivas tentativas e proposições de novas datas e locais, não foi possível a realização de outros momentos.

As principais dificuldades encontradas para a não realização de outros grupos focais dizem respeito à incompatibilidade de agenda por parte dos atores que foram convidados a participar da primeira reunião. Soma-se ainda o pouco tempo que nos é concedido pela Universidade e pelo CNPq para o término de nossas pesquisas, o que limita bastante nossa capacidade para lidar com os percalços que o campo empírico nos impõe.

Mesmo ante aos imprevistos, inerentes a todas as pesquisas, não esmorecemos com as dificuldades. Procuramos, após uma análise criteriosa do material qualitativo oriundo do grupo focal, identificar as lacunas ou mesmo questões que não puderam ser aprofundadas em um único momento. Feito este rastreamento, retornamos ao campo empírico no intuito de elucidar questões que consideramos essenciais para a boa execução do nosso estudo.

Para tal, recorremos à utilização de entrevistas que segundo Minayo (2007), são utilizadas pelo pesquisador quando este “busca dar mais profundidade às suas reflexões” (MINAYO, 2008, p. 262). A autora (Op cit) nos apresenta diferentes classificações de entrevistas, dentre elas a sondagem de opinião, as semiestruturadas, as abertas ou em profundidade, as entrevistas focalizadas, dentre outras.

Neste estudo, optamos pela utilização das entrevistas em profundidade, pois a qualidade do material produzido nestes encontros “tende a ser mais densa e ter um grau de profundidade incomparável” (MINAYO, 2008, p.265). Esta iniciativa nos proporcionou um contato mais acurado com os fenômenos subjetivos que

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procurávamos atingir, enriquecendo nossas análises. Realizamos assim, um total de quatro entrevistas em profundidade junto aos seguintes sujeitos: representante do movimento sindical, Igreja católica, professor da FAFIDAM e representante do Ministério Público Estadual, respectivamente. Teceremos a seguir, algumas considerações importantes a respeito de nossos entrevistados como forma de justificar suas participações neste estudo.

Em relação à representação do movimento sindical, optamos por dialogar com a Central Sindical e Popular Conlutas (CSP Conlutas) ao invés do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região. Nossa escolha justifica-se por pelo menos três motivos. Primeiramente, ao nos aproximarmos dos territórios de investigação em geral, e dos trabalhadores do agronegócio em particular, percebemos que existia uma vinculação excessivamente estreita entre os representantes sindicais e os empresários do agronegócio, deixando os interesses da classe trabalhadora em segundo plano.

Em segundo lugar, nossos estudos (Ferreira; Teixeira; Pequeno, 2011) demonstraram a pouca representatividade dos trabalhadores rurais nas atividades desenvolvidas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, tendo em vista que 79% dos entrevistados referiram nunca terem participado de nenhuma atividade desenvolvida pelo mesmo.

Soma-se ainda, a parca atuação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais quando em 2008 aconteceu uma greve empreendida por trabalhadores de uma das empresas do agronegócio. De acordo com Teixeira (2011), o mesmo não agiu em conformidade com suas responsabilidades quando omitiu apoio político aos trabalhadores grevistas.

Com relação ao entrevistado que representa a Igreja Católica, possui doutorado em teologia pela Westfälische Wilhelms-Universität de Münster (Alemanha), possuindo produções científicas relevantes do ponto de vista epistemológico e metodológico acerca da dimensão práxica da teologia. Também possui relevante envolvimento político com as questões relacionadas ao agronegócio e inserção bastante ativa nas comunidades da região, justificando-se assim, sua participação.

O professor que entrevistamos é o atual diretor da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM/UECE). Possui um histórico importante de construção de conhecimentos relacionados à região, tendo em vista que há mais de dez anos vem direcionando sua produção científica a assuntos ligados ao baixo Jaguaribe, reunindo profundo conhecimento acerca das transformações sociopolíticas advindas da modernização agrícola em curso na região. Além disso, sua importância é reforçada nesse estudo por representar essa instituição que assumiu um importante papel durante todo o transcurso da pesquisa. Sendo reconhecidamente uma base de apoio e interlocução entre a equipe de pesquisas, professores desta instituição e as comunidades circunvizinhas, abrigou ainda diversos eventos e seminários organizados durante a pesquisa.

Também entrevistamos a promotora de justiça do estado do Ceará, representando o Ministério Público Estadual. Por atuar na COMARCA de Limoeiro do Norte por mais de sete anos e neste período, ser a autoridade responsável por acompanhar as diversas denúncias feitas pela comunidade e equipe de pesquisadores em relação às empresas do agronegócio, além de ter participado de diversos eventos públicos da pesquisa, justificamos sua escolha como entrevistada. As entrevistas tiveram uma média de duração de pouco mais de uma hora, sendo realizadas no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012. Duas delas ocorreram em Limoeiro do Norte (representante sindical e professor da FAFIDAM) e as outras duas em Fortaleza. Todas as entrevistas foram precedidas da apresentação do pesquisador, do tema e do objeto da pesquisa, bem como a leitura do TCLE e posterior assinatura do mesmo. Ambas foram gravadas e posteriormente transcritas pelo próprio pesquisador.

Somados os tempos de duração das entrevistas e do grupo focal, reunimos um material de pouco mais de seis horas de gravação. Ao serem transcritos, resultou em um produto textual de 122 páginas. No momento da transcrição, seguimos os conselhos de Rigotto (2004) e procedemos atribuindo uma cor a cada participante, de forma a identificar os sujeitos por meio de uma legenda de cores. Esta estratégia permitiu-nos no momento da categorização, não perder de vista a identidade e singularidade de cada enunciador.

Também fez parte do nosso repertório de métodos qualitativos a utilização de entrevistas semiestruturadas. De acordo com Minayo (2007, p.267), as entrevistas semiestruturadas “obedecem a um roteiro que é apropriado fisicamente pelo pesquisador”. Neste sentido, elaboramos um roteiro de perguntas20 que foi enviado via correio eletrônico aos líderes de grupos de pesquisas referidos em momento anterior, sendo auto aplicados e posteriormente reenviados para o processamento e análise do material. Submetemos este roteiro semiestruturado também à líder do nosso grupo de pesquisas, acatando a sugestão da banca examinadora em momento da qualificação de nosso projeto. A escolha desta técnica justifica-se pelo fato de que todos os líderes de grupos de pesquisa, com exceção do nosso, não residem no mesmo estado do pesquisador.

O roteiro é composto ao todo por dezoito perguntas, organizadas em treze itens, versando sobre questões direcionadas as pesquisas em desenvolvimento ou desenvolvidas pelos coordenadores de cada grupo, relacionadas à:

• Identificação do projeto de pesquisa, incluindo composição da equipe e formação básica dos integrantes descritos;

• Problemas relacionados à saúde, trabalho e ambiente que foram foco de investigação;

• Noção de saúde que adotada no referido projeto;

• Noção da inter-relação saúde-trabalho adotada no referido projeto; • Noção de ambiente que foi adotada no referido projeto;

• Abordagem teórico-metodológica que foi adotada no referido projeto;

• Grupos populacionais escolhidos para serem investigados pelo referido projeto;

• Fatores que contribuíram para a escolha dos grupos populacionais estudados pelo referido projeto;

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• Nível de participação dos atores envolvidos no referido projeto; • Composição dos segmentos sociais que participaram do referido

projeto;

• Fatores que contribuíram para a escolha do(s) local(is) a serem estudados pelo referido projeto;

• Participação dos sujeitos coletivos envolvidos nos problemas abordados pelo referido projeto;

• Formas de devolução dos resultados adotadas pelo referido projeto junto aos sujeitos pesquisados, ao SUS e as demais políticas públicas;

• Recomendações práticas advindas da referida pesquisa, bem como sua implementação nos territórios estudados;

• Principais dificuldades encontradas pela equipe de pesquisa, em especial as relacionadas às metodologias adotadas;

• Repercussões sobre as condições de vida e de saúde das populações estudadas;

• Recomendações direcionadas a outros grupos de pesquisa.

Enviamos nove roteiros semiestruturados a líderes de grupos de pesquisas de acordo com os critérios supracitados. Para melhor entendimento, o processo adotado segue em esquema de tópicos listados abaixo:

Aplicação de um roteiro semiestruturado piloto para posteriores ajustes e validação interna;

Identificação dos grupos de pesquisa e seus respectivos líderes por meio da plataforma de Diretórios dos Grupos de Pesquisa, disponível no site do CNPq21;

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Consulta ao curriculum lattes dos líderes de grupos para verificação do nome do projeto de pesquisa, descrição, situação, integrantes descritos bem como suas respectivas formações básicas. Tais informações foram preservadas Ipsis litteris como disposto na plataforma lattes;

Após reunidas estas informações, enviamos os roteiros semiestruturados aos respectivos líderes dos grupos de pesquisa, especificando assim, o projeto de pesquisa em que nos referíamos; Os pesquisadores dispunham de um prazo de 20 dias para sua devolução, tendo que ser prorrogado por mais 10 dias devido a não devolução de todos no período acordado.

Como forma de preservar o anonimato e em conformidade com os preceitos éticos, não identificamos os pesquisadores participantes deste estudo. Porém, achamos importante fazer referência às instituições ou universidades em que os mesmos estão vinculados, sendo elas:

Universidade Federal de Pelotas;

Grupo de Pesquisas em Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Pelotas;

Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH/ENSP/FIOCRUZ;

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Universidade Federal do Mato Grosso;

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – FIOCRUZ. Universidade Federal do Ceará – UFC

Mesmo com e-mails encaminhados a cada 15 dias solicitando a devolução dos roteiros preenchidos, não obtivemos a adesão total dos pesquisadores selecionados, uma vez que dois líderes não reenviaram os roteiros preenchidos.