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CAPÍTULO II MÉTODO 2.1 Amostra:

2.2. Materiais e Procedimentos 1.Teste de Inteligência

2.2.5. Tarefas de Habilidades Metalingüísticas:

O objetivo dessas provas foi identificar o domínio de habilidades metafonológicas e metamorfossintáticas por cada criança. Essa atividade foi a quarta tarefa, aplicada após o ditado de palavras inventadas.

2.2.5.1. Habilidades Metafonológicas:

Foram elaboradas 10 provas de habilidades metafonológicas ( cf. Apêndice 4):  Identificação de palavras que começam com a mesma sílaba (IPCS);  Produção de palavras que começam com a mesma sílaba (PPCS);  Identificação de palavras que rimam.(IPR);

 Produção de palavras que rimam (PPR);

 Identificação de palavras que comecem com o mesmo fonema (IPCF);  Produção de palavras que comecem com o mesmo fonema (PPCF);  Separação de fonemas nas palavras (SF);

 Contagem do número de fonemas de palavras (CF);  Adição de fonema nas palavras (AF);

 Subtração de fonema nas palavras (SUBF).

Alguns cuidados inspirados em Moojen et al (2003) e Morais (2004), foram tomados na elaboração e aplicação dessas provas:

1. foi evitado o uso de seqüências de palavras da mesma categoria semântica e variações no número de sílabas nas palavras apresentadas em cada seqüência para a criança; 2. utilizamos figuras que representavam as palavras em pauta, para evitar a sobrecarga da

memória de trabalho;

4. nas provas fonêmicas (separação, contagem, adição e subtração de fonemas) foi dada preferência às palavras que continham fonemas com presença do traço de continuidade;

5. em todas as provas, antes da sua aplicação, eram dados dois exemplos e realizados dois treinos com as crianças, na tentativa de evitar que a prova não fosse realizada com sucesso devido a dificuldades de compreensão da mesma. No momento do treino, em caso de erro, houve a correção por parte da pesquisadora;

6. após o treino em cada tarefa havia quatro itens de exame propriamente ditos.

7. nas provas de identificação e produção de segmentos sonoros foram solicitadas justificativas, independentemente de as crianças terem apresentado erro ou acerto.

As provas foram apresentadas em seqüências diferentes para as crianças, na tentativa de eliminarmos um efeito de ordem. Em cada tarefa os escores de acertos possíveis em cada prova variou de 0 a 4.

Provas de Identificação

Foi solicitado à criança que identificasse, entre quatro palavras, as duas que apresentavam o mesmo “pedaço” ou “sonzinho”. Essa identificação aconteceu em relação a sílabas - inicial (IPCS) ou final (IPR) – e em relação ao fonema inicial (IPCF). Cada tarefa foi realizada através de figuras onde a pesquisadora falou o nome de cada uma das figuras. As mesmas foram deixadas à mostra, até que a criança concluísse a realização de cada item da prova.

Provas de Produção:

Foi produzida uma palavra para a criança e solicitado que ela apresentasse uma outra palavra que começasse com o mesmo “pedaço” ou “sonzinho”, podendo ser sílaba (PPCS) ou

fonema (PPCF), ou que terminasse com o mesmo “pedaço” (PPR). Nessas provas foram considerados acertos apenas as palavras produzidas com a fonética exatamente igual à palavra dada. Por exemplo, no caso da produção da sílaba inicial, quando dada pela pesquisadora a palavra CACHORRO, não foi aceita como acerto a produção pela criança da palavra CANTO, pois a sílaba inicial da primeira seria [ka] e da segunda [kã]. Esse rigor é justificado na tentativa de eliminar a influência da forma escrita da palavra e não sua fonologia. O mesmo raciocínio foi estabelecido para produção das sílabas finais.

No caso da prova PPCF (Produção de palavras que comecem com o mesmo fonema), os acertos das crianças foram divididos em dois grupos: o grupo 1, formado por produções que apresentaram semelhança apenas no fonema inicial e o grupo 2, formado por produções que apresentaram semelhança na sílaba inicial. Essa subdivisão foi estabelecida com o objetivo de identificar se a criança pensava sobre a sílaba ou o fonema inicial da palavra.

Provas de Segmentação de Sons

Nessas tarefas era solicitado à criança que acrescentasse fonema (adição - AF), retirasse fonema (subtração - SUBF), separasse os fonemas (SF) ou contasse os fonemas (CF).

No caso das provas AF e SUBF as crianças sempre deveriam gerar palavras reais. Em relação às provas SF e CF, foram entregues às crianças tampas de garrafas, para que elas, caso desejassem, as usassem como apoio nas operações de segmentação ou contagem. As tampinhas tiveram o objetivo de evitar que a criança falasse rapidamente os sons e se equivocasse por não ter registrado mentalmente a quantidade de segmentos que pronunciou.

2.2.5.2. Habilidades Metamorfossintáticas

Essas atividades foram baseadas nos trabalhos de Nunes, Bryant e Bindman (1995) . O objetivo foi verificar o nível de consciência das crianças sobre os processos de formação de

palavras e frases, tratando, especificamente, dos processos derivacionais por sufixação e das flexões verbais, que foram foco desse estudo (cf. Apêndice 5).

Foram utilizadas sentenças, lidas pelo pesquisador, que deveriam ser complementadas pelas crianças. As palavras, foco do estudo, eram palavras inventadas, eliminando, dessa forma, a facilitação pela freqüência de uso das mesmas.

Em relação ao uso gerativo de morfemas, foram apresentadas às crianças seis sentenças onde, em um grupo de sentenças, a criança deveria estar atenta à sufixação (al final de coletivo, esa/ês em adjetivos, eza/ez em substantivos derivados de adjetivos e ice em substantivos). Em outro grupo deveria estar atenta à flexão verbal (u na flexão verbal do passado, r no infinitivo, ão no futuro, am na flexão verbal da 3ª pessoa do plural, n do gerúndio e ss do subjuntivo). Os escores de acertos dessa prova variaram de 0 a 6. Como as palavras inventadas, nessa tarefa, não eram ditadas e, talvez, por ser uma atividade realizada individualmente, as crianças pareciam não apresentar o mesmo problema que os observados na prova de DPI, que foi realizado de forma coletiva.

Também foi realizada uma prova de analogia sintática. Correa (2004) apresenta como dificuldade nessa prova o uso do raciocínio por analogia, pois, segundo a autora, só estaríamos conseguindo avaliar as habilidades metassintáticas daquelas crianças que também possuíssem habilidades de fazer uso de analogias. Dessa forma, na tentativa de minimizar tal problema, foram apresentadas, antes da prova, sentenças adicionais, sendo duas tomadas como itens de exemplos e duas para itens-treino. Os escores de acertos dessa prova variaram de 0 a 4 e todas as sentenças foram baseadas em flexão verbal.

Uso Gerativo de Morfemas

A criança deveria produzir palavras que faltavam em uma sentença. Antes desse complemento, a pesquisadora falava várias sentenças onde a palavra inventada aparecia

flexionada três vezes, no caso dos verbos. A criança deveria manter o radical e fazer uso da flexão adequada, de acordo com a sentença dada. Foram utilizadas figuras para facilitar a compreensão frasal. Nessa atividade, alguns cuidados foram tomados na construção da palavra inventada: todas eram “verbos” de primeira conjugação (terminação “ar”) e as palavras inventadas eram sempre dissílabas. Por exemplo, a pesquisadora apresentava uma figura de um boneco bebendo algo e falava “esse homem está tropando suco. Todo dia ele tropa. Ontem ele tropou suco. O que ele vai fazer amanha? Ele vai ______ (tropar)”. Foi utilizada uma sentença para cada flexão verbal estudada.

Em relação à sufixação, a pesquisadora produzia, em uma sentença primeira, uma palavra inventada e sua possível derivação. Em uma outra sentença era dada uma palavra semelhante à primeira e, seguindo o exemplo anterior, a criança deveria apresentar a derivação correspondente. Por exemplo, Daniel é muito confulo. Ele vive fazendo confulice. Júlia é muito batula. Ela vive fazendo ____________ (batulice).

Uso de Analogias Sintáticas

Essa atividade foi estruturada segundo o esquema: A está para B, assim como C está para D. A e B eram duas sentenças, por exemplo, uma frase com o verbo no presente (João

canta muito) e outra no passado (João cantou muito); C era uma outra frase com a mesma estrutura sintática da frase A, em nosso exemplo, uma sentença no presente (João caça muito) e D, uma frase a ser complementada pela criança, operando a transformação observada de A para B. No exemplo, a criança deveria dizer a frase C com o verbo no passado (João caçou

muito). No caso de nosso exemplo, a intenção seria a de que a criança pudesse mostrar o reconhecimento e produção da relação entre presente e passado dos verbos.

Nessa atividade foram utilizados dois fantoches para representar a seqüência de sentenças. Por exemplo, um fantoche representava as sentenças A e C e um outro fantoche as sentenças B e D. À criança cabia produzir a fala D do segundo fantoche.

Comparando as provas que foram utilizadas na tarefa de consciência metamorfossintática, evidenciou-se uma dificuldade maior das crianças na realização da prova de analogias sintáticas. Mesmo tendo o cuidado de, antes da realização da prova, apresentar dois itens-exemplo e dois itens-treino, para minimizar a dificuldade da mesma, pudemos observar que a compreensão da prova foi facilitada, porém o efeito da sobrecarga da memória recente parece não ter sido controlado.