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A taurina ou ácido 2-aminoetanosulfónico é um aminoácido não essencial sulfuroso e possui um efeito antagonista ao da homocisteína (NONAKA et al., 2001). Pode ser obtida diretamente por uma dieta rica em frutos do mar, carne e ovos ou indiretamente a partir da metionina e cisteína na presença de vitamina B6 no fígado

(HUXTABLE, 1992, LOURENÇO e CAMILO, 2002). Organicamente, a taurina é produzida a partir da oxidação da cisteína pela cisteína dioxigenase, que a transforma em cisteína ácido sulfiníco na qual é descarboxilada pela enzima cisteína ácido sulfínico

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descarboxilase para sintetizar a hipotaurina que é oxidada à taurina (BOUCKENOOGHE et al., 2006).

É um dos aminoácidos intracelulares mais abundantes do organismo e não faz parte da estrutura de proteínas. Uma pequena quantidade está presente nos peptídoes do cérebro (LOURENÇO e CAMILO, 2002). Nos tecidos, encontra-se uma maior concentração de taurina nos músculos e no cérebro (GOODMAN et al., 2009). Faz parte da estrutura do ácido taurocólico, um ácido biliático, produzido no fígado que ajuda na digestão de lipídeos (NELSON e COX, 2007).

A taurina faz parte de vários processos metabólicos como contração cardíaca, atividade anti-oxidante, permeabilidade e proteção da membrana e contração muscular (WILLIAMS, 2005). Cuisinier et al. (2000) relatou em um estudo que o miofilamento cálcio-sensível e as características mecânicas são dependentes da taurina. Ela pode controlar a homeostase do íon cálcio (Ca2+) intracelular e ajudar no controle de excitação-contração muscular (CONTE-CAMERINO et al., 2004).

A suplementação de taurina tem mostrado em estudos benefícios à saúde. Nonaka et al. (2001) relatou que um maior consumo de taurina pode prevenir a progressão de aterosclerose e isquemia cardíaca.

Durante o exercício, Zhang (2004) reportou que sete dias de suplementação de taurina induziram significantemente o aumento do VO2max e o tempo para chegar à

exaustão na pedalada. O autor sugeriu que os efeitos ergogênicos foram ocasionados pela propriedade antioxidante da taurina e proteção das membranas celulares. No estudo feito por Galloway et al. (2008), o mesmo tempo de suplementação de taurina não alterou a concentração de carboidratos e oxidação de lipídeos no músculo esquelético, mas causou impacto na metabolização, metabolismo ou transporte de indispensáveis aminoácidos no músculo durante exercício prolongado.

A função antioxidante da taurina ainda não é bem esclarecida fisiológica e bioquimicamente, como comprovaram alguns estudos. Evidências consideráveis mostram que a ação antioxidante da taurina pode estar relacionada a alguns processos: regulação dos canais de eletrólitos, equilíbrio osmótico celular e neutralização de ERO.

2.4.1 Regulação dos canais de cálcio

A taurina pode diminuir o dano oxidativo, regulando os Ca2+ que estão envolvidos na patogênese do dano celular mediados por RL na rota da xantina oxidase (XO) (Chang et al., 2004).

Em um estudo em que os autores examinaram as propriedades contráteis do músculo esquelético de ratos e a quantidade de taurina presente no músculo, observou- se a redução de força no grupo que apresentou o nível de taurina muscular inferior ao grupo controle. Os autores atribuíram esta situação à relação que a taurina tem com o controle excitação-contração muscular que influencia na liberação de Ca2+ celular e na produção de força (HAMILTON et al., 2006). Os resultados alcançados por Bakker e Berg (2001) mostram que a taurina é um modulador da contração do músculo esquelético pelo aumento do acúmulo do Ca2+ do retículo sarcoplasmático e liberação

de Ca2+ da célula.

Pelo ponto de vista farmacológico, a suplementação de Taurina pode ser benéfica, pois esse aminoácido pode diminuir a hipercalemia observada durante a reperfusão pelo bloqueio de canais de potássio dependentes do cálcio (KCa2+). Este

processo pode estar relacionado com a produção demasiada de moléculas reativas de óxido nítrico e consequentemente, estresse oxidativo (CONTE-CAMERINO et al., 2004).

2.4.2 Equilíbrio osmótico celular

A taurina é um osmolítico orgânico utilizado pelas células para a regulação do volume celular para adaptação ao desbalanço osmótico que pode ser produzido durante os exercícios intensos (CUISINIER, 2002). Ela aumenta a condutibilidade do canal de clorido e modula a abertura e a cinética do canal de sódio (Na) voltagem- dependente, com absoluto efeito na estabilização do sarcolema do miócito. Também modula a atividade de canais de potássio (K) e a habilidade de associar o estado metabólico das fibras estriadas com a atividade elétrica pelos canais de K ATP- dependente (KATP) ou KCa2+ (CONTE-CAMERINO et al., 2004). É sugerido que a

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ativação do canal KATP possa ser a chave do mecanismo para a adaptação para a

hipóxia tecidual, apoptose celular e proteção cardíaca contra a isquemia (MURZAEVA et al., 2008).

Pode existir, ainda, uma relação entre a atividade da Aquaporin-4 (canal de água da célula) e o conteúdo de taurina muscular no momento em que há a necessidade de estabelecer um equilíbrio de água para amenizar os efeitos adversos do lactato formado durante o exercício anaeróbio (CONTE-CAMERINO et al., 2004).

2.4.3 Neutralização direta de ERO

A taurina está presente abundantemente em células fagocitárias (KIM e CHA, 2008) e age como um scavenger de HClO gerado endogenamente, que constitui uma molécula muito tóxica ao organismo. A taurina cloramina é um aldeído estável e não tóxico formada por meio da reação entre a taurina e HClO e age como uma molécula sinalizadora do decréscimo do processo de alguns mediadores como óxido nítrico (NOS), fator de necrose tumoral α (TNF-α), prostaglandina 2 (PGE2) e enzima

ciclooxigenase 2 (COX-2) envolvidos em reações inflamatórias (QUINN, 1998).

A taurina ainda exerce uma ação anti-inflamatória por meio do seu efeito antioxidante, que inibe a peroxidação lipídica e a ativação de neutrófilos (KIM et al., 1996). No estudo em que Zeybek et al. (2006) induziu danos no tecido do rim com sulfato de protamina em ratos, o tratamento com a taurina estabilizou os estoques de GSH dos tecidos danificados e protegeu-os da peroxidação lipídica. Com relação ao ataque de neutrófilos ao tecido danificado, observou-se no mesmo estudo que a taurina potencializou um efeito protetor, inibindo o processo por meio da preservação da atividade fagocitária dos neutrófilos.

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