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CAPÍTULO 3 – O CONTEXTO CULTURAL DE DIADEMA

3.1 O TEATRO-ESCOLA DOS ANOS

de modo mais amplo, sobretudo a partir da segunda gestão do professor Evandro Esquível. Foi criado um espaço destinado a apresentações de naturezas diversas e cursos artísticos. Esse espaço para a arte ainda teria a missão de formação e difusão de múltiplas linguagens, abrigando exposições de pintura ou encenação de espetáculos teatrais, por exemplo. O espaço utilizado foi o antigo cine paroquial da Igreja Nossa Senhora da Conceição, reformado e transformado numa espécie de centro cultural. Foi denominado como Teatro Cultura Diadema e sua inauguração se deu com a peça “As árvores morrem em pé”, texto de Alexandre Casona, direção de Lêda Sylvia Mendes Szochalewicz e interpretada por atores amadores.

Em 1973, como reflexo do Plano de Ação Cultural (PAC), empreendido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), muitas iniciativas relativas ao setor cultural foram tomadas, pois esse plano tinha a função de dinamizar ações culturais pelo país. Parte dos recursos do PAC era transferida aos Estados que por sua vez fomentavam ações culturais nos municípios. Já na Gestão de Ney Braga e Euro Brandão, a partir de 1974, o MEC encaminha suas ações para uma ampla animação cultural cujo objetivo era impactar nos municípios e difundir uma visão nacionalista pelos quatro cantos do Brasil.

Em Diadema, na gestão do prefeito Ricardo Putz (1973/1976), afiliado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi criada a Divisão de Cultura, primeiro passo dado no sentido de se criar alguma autonomia de ação para o campo cultural, embora ainda vinculado ao Departamento de Educação.

Além do Teatro Cultura Diadema, havia outro espaço alugado e mantido pela prefeitura, no Centro, destinado a aulas de balé e teatro conduzido pela atriz, diretora e produtora cultural Lêda Sylvia. Esse espaço ficou conhecido como Teatro-Escola, cujo principal caráter era a formação artística e educacional, tendo Lêda Sylvia como professora de teatro e diretora dos espetáculos. Conforme nos esclarece Maurício Cardoso (2001):

Um artigo da própria Lêda Sylvia aborda os preparativos da peça de inauguração do Teatro Cultura Diadema e defende a prática de um teatro sério, “espelho da realidade de uma época”. Valoriza a pesquisa e dedicação necessárias a um bom trabalho cênico, indicando as bases humanistas e as qualidades estéticas do teatro que, para Lêda Sylvia, deveriam ser instrumento de “educação, cultura e progresso”. (CARDOSO, 2001, p.222).

Para ingressar no Teatro-Escola, havia uma seleção prévia dos participantes por meio de leitura dramática e as aulas aconteciam duas vezes por semana; as disciplinas oferecidas eram História do Teatro, Interpretação, Expressão Corporal e Encenação. Em sua maioria, os participantes do Teatro-Escola eram estudantes do Colégio Estadual de Diadema, funcionários municipais e professoras da rede municipal. Foram encenados textos variados que iam de comédias de costumes até os mais politizados de Gianfrancesco Guarnieri dos tempos do Teatro de Arena.

Os resultados dos estudos eram apresentados em forma de espetáculos teatrais à população. Daí em diante o teatro representou papel significativo na cultura local ao longo dos anos 1970 visto que era um dos poucos movimentos culturais existentes e, em certa medida, organizado. No ano seguinte à abertura do Teatro-Escola já havia, em Diadema, três (3) grupos de teatro e vários outros que circulavam no seu entorno.

Dessa escola saíram dois nomes ainda atuantes: o reconhecido diretor Ulysses Cruz, radicado na capital paulista e que conseguiu projeção nacional; e o ex-aluno Alberto Pereira Chagas, ator, diretor e professor de teatro. Em entrevista a Cardoso (2001), Alberto Pereira Chagas constata que:

Apesar da curta duração do Teatro-Escola, ele teve importância fundamental, dado o contexto artístico e a conjuntura política do período: havia associações e federações teatrais, além dos vários grupos amadores na região, em geral, ligados a atividades políticas, inspirados nas experiências do Teatro Oficina e do Teatro de Arena. (CHAGAS apud CARDOSO, 2001, p. 225).

Mesmo com toda a atividade do Teatro-Escola, no final dos anos 1970 sua atividade entrou em declínio devido ao abandono do poder público que o patrocinava, principalmente durante a gestão 1977/1982 do prefeito Lauro Michels (MDB). Havia por essa época o desejo, ao menos da parte dos produtores culturais e artistas de Diadema, de se construir mais dois novos espaços, um ao ar livre e outro em formato de arena em substituição às instalações do Teatro-Escola. A pressão para a construção de um novo teatro para a cidade gerou muita discussão e críticas aos produtores culturais, principalmente aos que estavam à frente do movimento teatral.

Para Ulysses Cruz, um dos coordenadores do Teatro-Escola, um município tão carente de áreas de lazer e cultura tinha a obrigação de pensar sobre a criação de novos espaços que se caracterizassem como uma alternativa à população

marginalizada que só tinha a televisão como distração. Por conta dessa posição, Cruz recebeu várias críticas, pois a urgência dos investimentos públicos pesava principalmente sobre setores sociais de primeira necessidade como a habitação ou a saúde, ainda mais porque a cidade estava, como visto no Capítulo 2, imersa em graves problemas sociais. Havia a ideia inicial de se construir um teatro de arena no Centro, ideia essa que foi alterada para dar lugar à construção, em 1982, do atual Teatro Clara Nunes. Elmir de Almeida, ex-diretor de Cultura de Diadema no período 1993-1996, comenta o que se passou na cena teatral local após o fim do Teatro-Escola:

A partir daí, a experiência sobreviveu pela teimosia de seus “militantes”, mas por pouco tempo. Não contando com o apoio do governo Michels, tampouco do primeiro governo do PT – [Gilson] Menezes –, o Teatro- Escola não chegou a ultrapassar os primeiros anos da década de 80, pulverizando-se em pequenos grupos de prática amadora. (ALMEIDA apud CARDOSO, 2001, p. 225).

Com o fim do Teatro-Escola, o teatro diademense vivenciou contextos desfavoráveis, tanto em razão das dificuldades financeiras quanto pelas poucas oportunidades de profissionalização. A falta de políticas culturais, de descentralização e também de formação podem ser vistas como pontos que contribuíram para a estagnação teatral no período que veio após 1982. O fim do Teatro-Escola culminou com a entrada do Partido dos Trabalhadores na prefeitura.