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CAPÍTULO 4 – Tecnologias de informação e comunicação

4.2 Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação

Há algum tempo a presença da tecnologia vem sendo marcante na realidade das sociedades atuais em contextos diversos como indústrias, hospitais, laboratórios clínicos, bancos, escritórios, supermercados, padarias, residências, bancas de revista, barracas de praia e até vendedores ambulantes já se utilizam de recursos tecnológicos para facilitar o desempenho de atividades diversas. Em meio a tantas possibilidades, o computador e a

internet têm se destacado dentre os demais recursos tecnológicos existentes quase que como

itens de primeira necessidade na maioria dos contextos.

O setor educacional não foge à regra. A influência das tecnologias usadas como mediadoras dos processos de ensino e aprendizagem é cada vez maior. A televisão e o computador movimentaram a educação, provocando novas mediações entre a abordagem do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo veiculado. A imagem, o som e o movimento oferecem informações mais realistas em relação ao que está sendo ensinado (KENSKI, 2011). Mas a renovação tecnológica está aos poucos substituindo a televisão e DVD pelas telas de projeção interligadas a computadores que, por sua vez, estão interligados à internet ampliando as possibilidades de utilização de material educativo, como vídeos, programas on-line ou em

14Wi-Fi é um conjunto de especificações para redes locais sem fio (WLAN - Wireless Local Area Network) baseada no

padrão IEEE 802.11. O nome "Wi-Fi" é tido como uma abreviatura do termo inglês "Wireless Fidelity" (fidelidade sem fio), embora a Wi-Fi Alliance, entidade responsável principalmente pelo licenciamento de produtos baseados na tecnologia, nunca tenha afirmado tal conclusão. Com a tecnologia Wi-Fi, é possível implementar redes que conectam computadores e outros dispositivos compatíveis que estejam próximos geograficamente. Estas redes não exigem o uso de cabos, já que efetuam a transmissão de dados por meio de radiofrequência.

DVD, sites educacionais e softwares. Kenski (2008) afirma que todo esse aparato tecnológico transforma a realidade da aula tradicional, dinamiza o espaço de ensino e aprendizagem, onde, anteriormente, predominava a lousa, o giz, o livro e a voz do professor.

A autora salienta, no entanto, que é preciso saber usar de forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida, pois a organização do espaço, do tempo, o número de alunos que compõe cada turma e os objetivos do ensino podem trazer mudanças significativas para as maneiras como professores e alunos irão utilizar as tecnologias em suas aulas. Ela conclui que a escolha de determinado tipo de tecnologia altera profundamente a natureza do processo educacional e a comunicação entre participantes e alerta para o fato de que:

O professor deve definir então claramente seus objetivos, estabelecer um plano de trabalho flexível e identificar os recursos necessários (disponíveis e a providenciar) para implantação de ações coerentes com o projeto pedagógico, na busca de um clima de cooperação, de diálogo, de respeito mútuo, de responsabilidade e de liberdade que contribua para a construção do conhecimento e de valores (KENSKI, 2008, p. 46).

Um dos segmentos que mais se beneficiaram com a inserção tecnológica, sobretudo o advento da internet, foi o ensino de línguas estrangeiras, visto que ela abriu uma porta para o mundo, facilitando o acesso a línguas diferentes, bem como aos falantes dessas línguas e suas respectivas culturas. Isso vem ao encontro do que trazem os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) em relação ao ensino de línguas estrangeiras modernas, quando sugerem que a condução do aluno a uma percepção e compreensão de outras culturas deve ser um dos objetivos de ensino (BRASIL, 1999). Cumprir tal meta ficou mais provável já que a

internet rompeu a barreira do tempo e do espaço proporcionando novas maneiras de interação

e comunicação e facilidade de acesso a material de áudio e vídeo que pode ser usado no planejamento de aulas e cursos de línguas. Nesse sentido, Siqueira e Camargo (2004) salientam que, em virtude das idiossincrasias do contexto de ensino de língua estrangeira, a tecnologia pode representar um forte fator de motivação para professores e alunos.

Nessa configuração de ensino, surge a necessidade de se falar em letramento digital que, conforme Carvalho (2009), diz respeito ao conhecimento tecnológico de informática e, principalmente, aos usos que se fazem desses recursos informáticos de maneira significativa, entendendo suas práticas e possibilidades em situações sociais e reais do cotidiano dos internautas. A compreensão da autora é bastante pertinente, visto que o uso intenso dos gêneros textuais mediados pelo computador como chats, emails, sites e blogs, requer que as pessoas desenvolvam a escrita nesses gêneros. Carmo (2015) completa que o letramento digital é mais que o conhecimento técnico e vai além da capacidade do indivíduo

de responder adequadamente às demandas sociais que envolvem a utilização dos recursos tecnológicos e da escrita no meio digital. Diz respeito também à habilidade para construir sentido a partir de textos multimodais, inclui a capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informações disponibilizadas eletronicamente, bem como o conhecimento das normas que regem a comunicação mediada por computador.

É preciso, portanto, que os professores estejam preparados para otimizar a utilização dos equipamentos e recursos tecnológicos a seu favor, de forma a implementar sua prática dentro dos limites que seu contexto de ensino lhes impõe. Nesse ponto, vale destacar as reflexões de Damasceno et al (2011) sobre a aceitabilidade do uso das novas tecnologias na educação. O autor observa que uma grande parcela dos profissionais da educação tem rejeitado a inclusão de ferramentas tecnológicas na sua prática pedagógica. Ao refletir sobre as tecnologias e seu uso como ferramenta pedagógica para a melhoria da qualidade nos processos de ensino e aprendizagem, ele conclui que a resistência por parte dos professores se dá, na maioria dos casos, pelo seu despreparo para lidar com o que é novo.

Damasceno (op. cit.), que atua no ensino básico no nordeste do país, busca respaldo em Zanela (2007), que investigou a questão na região sul do Brasil, e em Paiva (2008), que é formadora de professores na região sudeste. Esses apontamentos geográficos mostram que o problema do despreparo dos professores para lidar com o uso de tecnologia em sala parece abranger todo o Brasil, sinalizando para a necessidade de ações e políticas governamentais de alcance nacional, no sentido de oportunizar formação e suporte aos professores para a inserção adequada de tecnologias no ensino.

Numa tentativa de explicar a razão de os professores resistirem à inclusão de tecnologia em sua prática, Ertmer (1999) defende que há dois tipos de barreiras que podem afetar negativamente a tentativa do professor de trabalhar com esses recursos e as categorizam como sendo de primeira e de segunda ordem. As barreiras de primeira ordem (dificuldade de acesso às TIC, limitação de tempo, falta de apoio institucional etc.) são classificadas pelo autor como extrínsecas aos professores; enquanto que as barreiras de segunda ordem se referem a barreiras intrínsecas, como suas crenças em relação ao ensino, à aprendizagem, ao computador e seus usos para o ensino.

Paiva (2008), ao fazer uma retrospectiva sobre o uso de tecnologias no ensino de línguas, registra que o sistema educacional sempre se viu pressionado pela tecnologia, do livro ao computador, fazendo parte de sua história um movimento recorrente de rejeição, inserção e normalização. Essa rejeição inicial a uma nova tecnologia é normal, mas a ela deve-se seguir um processo de aceitação. A autora afirma que, quando surge uma nova

tecnologia, a primeira atitude é a de desconfiança e de rejeição. Aos poucos, a tecnologia começa a fazer parte das atividades sociais da linguagem e a escola acaba por incorporá-la em suas práticas pedagógicas. Após a inserção, completa a autora, vem o estágio da normalização, em que a tecnologia se integra de tal forma às práticas pedagógicas que deixa de ser vista como cura milagrosa ou como algo a ser temido. Entretanto, nem sempre esse processo é cumprido em todos os seus estágios.

No estudo de Zanela (2007) o objetivo foi analisar a percepção de alguns professores de ensino médio em relação à implantação de um laboratório de informática na escola. A pesquisadora teve como cenário de pesquisa dois colégios estaduais de ensino médio do Paraná, onde observou que a implantação do computador no contexto escolar gerava conflitos, dúvidas e críticas. O estudo configurou-se como uma investigação qualitativa, com uso de questionário e entrevista, aplicados aos professores de ensino médio dos dois colégios. A partir dos dados concluiu-se que os professores estão receptivos à implantação de um laboratório de informática na escola, acreditando que este pode ser seu aliado nos processos de ensino e aprendizagem, mas revelou-se também a falta de preparo pedagógico do professor como um dos obstáculos à sua utilização. Além disso, a necessidade de maior conhecimento sobre funcionamento do equipamento, programas e metodologias adequadas ao ensino e a falta de participação dos professores no processo de implantação do laboratório foram apontados como agravantes do quadro.

Embora haja ainda grandes pendências relativas à qualidade do uso das TIC no ensino, reconhece-se que o uso dessas tecnologias tem muito a acrescentar na qualidade do ensino que oferecemos em nossas escolas, contribuindo para a construção de novas competências, tanto de alunos quanto de professores, que estejam mais adequadas às exigências contemporâneas. Não se trata de romper com o velho em função do novo, mas de somar as potencialidades do modelo de ensino praticado no passado com as novidades e facilidades trazidas pela modernidade.

Os próprios alunos sentem que essa associação é benéfica. É o que ficou explícito num estudo de caso realizado em Portugal com a participação de 97 alunos do ensino médio, visando a conhecer as condições de acessibilidade dos alunos às TIC, o papel motivador destes e outros recursos, com atenção especial à disciplina Matemática. Dentre os resultados da pesquisa destacou-se o interesse dos alunos pelos assuntos escolares, o reconhecimento da importância da Matemática na sua formação e a utilização da internet como elemento motivador nos processos de ensino e aprendizagem. Para os participantes da pesquisa, a utilização dos computadores não é condição para que se goste de Matemática e que se obtenha

êxito na aprendizagem, mas eles gostariam de poder estudar mais pela internet do que pelos livros e observam que se tornariam mais aplicados se os trabalhos fossem elaborados com o computador (RICOY; COUTO, 2009).

Esse comportamento diante do uso de tecnologias no ensino é esperado entre alunos em relação a qualquer disciplina, visto que a maioria dos jovens dos nossos tempos está bastante imersa nessa realidade tecnológica. O momento econômico que o Brasil está vivendo permite que mesmo as famílias com rendas mais baixas adquiram recursos eletrônicos como computadores, tablets, smartphones e celulares e façam uso das inúmeras possibilidades de informação e comunicação que eles nos proporcionam. Ou seja, a cada dia mais essas tecnologias fazem parte da vida dos alunos e, ao trazê-las para a sala de aula, ganha-se em muito no processo de aprendizagem, já que o aluno se sentirá confortável para lidar com aquilo que faz parte do seu cotidiano.

Mas para que ele alcance tal êxito, além de investir na sua preparação para lidar com as TIC, o professor precisa atentar para o que apontam Moran et al (2003), segundo os quais não se pode pensar no uso de uma tecnologia sozinha ou isolada. Os autores sinalizam que, para alcançar os objetivos pretendidos, o planejamento do processo de aprendizagem precisa ser feito em sua totalidade. Isto é, a escolha das atividades e técnicas deve ser planejada e integrada de forma a colaborar para que a aprendizagem se concretize. Assim, a tecnologia apresenta-se como meio, como instrumento para colaborar no desenvolvimento do processo aprendizagem.