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A década de 80, do século passado, testemunhou o início de uma ampla profusão de computadores pelas escolas com software e hardware cada vez mais sofisticados e com potencial para transformar a capacidade, o poder e os resultados dos estudantes (Paraskeva & Oliveira, 2006). A escola passou a ter diante de si um grande desafio com a implantação dessas tecnologias que foram se tornando cada vez mais viáveis com a disseminação dos computadores pessoais. O sistema educacional de praticamente todos os países passou a realizar substancias investimentos no sentido de prover as escolas com essas tecnologias, desde um computador em algumas salas de aulas, a instalação de laboratórios de computadores até escolas onde cada estudante tem o seu laptop (Almeida et al., 2013; Andersen, 2013).

A década de 90 foi marcada pela distribuição, nas escolas, de um laptop para cada aluno em todos os níveis de ensino. Esta realidade foi marcada em vários países em que a nas escolas os professores não sabiam o que os alunos deviam fazer com os computadores ou lamentavam o que estes faziam com eles. Associada a esta realidade também foram equipadas salas de aulas com SmartBoards, um quadro branco interativo, eletrónico e computorizado (Palfrey & Gasser, 2011). Estas situações ocorreram, porque pensava-se que as tecnologias à disposição de professores e alunos das escolas serviam de substitutos dos anteriores recursos, podiam ser apresentadas como um meio para a transição para um novo paradigma de ensino-aprendizagem, representando um recurso para inovação educacional (Costa, 2014).

A utilização das tecnologias na escola pressupõe sintonia entre alunos e professores, com o objetivo de valorizar saberes e construir aprendizagens significativas entre ambos e não a forma indiscriminada como o computador é usado para realizar trabalhos escolar do tipo selecionar tudo, copiar e colar. Desta forma, a tecnologia na escola, é concomitantemente para os processos de ensino e aprendizagem e para a gestão escolar, uma consequência da importância e influência das tecnologias no mundo globalizado em que vivemos. Este tipo de realidade resulta do facto das tecnologias nas escolas terem por um lado, a experiência moderna que se revigora a cada momento com a emergência da sociedade mediatizada, por outro a experiência tradicional que assiste ao processo de decadência, diante do contexto comunicacional e da imensa tecnologia hoje existente (Faustino et al., 2007; Ruivo & Carrega, 2013; Mattos, 2012; Santos e Jorge, 2012).

Pág. 35 As tecnologias na educação, bem como a informação por elas disponibilizada, correspondem à descoberta de uma dimensão pedagógica que exige muito mais dos professores do que a simples alteração de recursos, exige uma significativa mudança de práticas acompanhada de modificações nas suas crenças (Costa, 2014; Ruivo & Carrega, 2013). As novas tecnologias trouxeram para a escola, transformações nas formas de trabalhar o conhecimento e passaram a exigir novas formas de organizar o tempo, o espaço e as relações internas da escola. Entretanto, nem sempre as escolas encontram-se preparadas e não conseguem explorar os recursos tecnológicos para poder construir conhecimento e desenvolver intelectualmente os alunos, tornando desinteressante para a ótica do educando (Gonzaga, 2009; Menezes e Almeida 2014).

O acesso ao World Wide Web (WWW) e a facilidade de pesquisa por motores de busca, passou a demandar tambem inovações pedagógicas, pois professores e alunos, encontram-se diante de uma grande variedade de informação, que pode ser consultada a qualquer hora e em qualquer lugar, desde que esteja disponível uma ligação à Internet. O professor passou a ser forçado a um investimento pessoal e profissional, para ajudar nas aprendizagens dos alunos, acendo informações online que permitem atualizar conhecimentos, através do contato com novos e diferentes métodos de ensino que as próprias tecnologias acabam por introduzir. Os alunos por seu lado, têm a possibilidade de aceder a informações úteis, que contribuem para ampliar a sua compreensão dos temas que num determinado momento, estão a explorar (Costa, 2014; Patrão & Sampaio, 2016).

Lagarto e Andrade (2010), argumentam que a presença incontornável das novas tecnologias na escola e na sociedade em geral, tem uma contribuição decisiva na mudança do paradigma educativo atual. No mesmo diapasão, Menezes e Almeida (2014), defendem que a mudança se faz cada vez mais necessária por causa dessa nova geração de alunos digitais. A escola necessita se atualizar tecnologicamente para responder às necessidades dos seus estudantes e transformar-se num lugar estimulante, que potencializa a aprendizagem com o uso das tecnologias e desperte os interesses e a vontade de aprender.

Esta mudança que a tecnologia impõe a escola, permite que ela se transforme efetivamente num espaço privilegiado para promover, junto dos jovens, competências tecnológicas que lhes trarão vantagens não só a nível pessoal, mas sobretudo a nível profissional uma vez que o domínio destas tornou-se uma exigência profissional em quase todas as áreas. Os ambientes de ensino tornam-se mais interativos e dinâmicos, a atuação

Pág. 36 dos professores e dos alunos, reflete os diferentes modos de construção do conhecimento, abrindo espaço para os novos saberes e competências que caracterizam o papel fundamental da escola e ao mesmo tempo permitam que ela se reinvente para sobreviver como instituição educacional (Andersen, 2013; Costa, 2014; Caldas, 2012; Sousa, Moita & Carvalho, 2011).

Os alunos conseguem explorar o potencial da tecnologia enquanto ferramenta de tratamento e processamento de informação, o que favorece a construção de novos saberes pelos aprendizes. Estes contextos de aprendizagem precisam ser valorizados pela escola, no entendimento de que os conteúdos só fazem sentido se explorados em contextos dinâmicos e se a preocupação for a de equipar os professores antes de se equiparem as escolas. Por esta razão as escolas devem saber quando usar as tecnologias e quando do não utiliza-las (Palfrey & Gasser, 2011; Paraskeva & Oliveira, 2006).

O uso de termos como infoexcluídos ou e-learning, descrevem estados e tipos de relacionamento dos estudantes com as tecnologias, designadamente ao nível educativo (Paraskeva & Oliveira, 2006). O acesso à Internet sem fio, retirou à sala de aula o monopólio da produção do conhecimento, como pretendia num passado muito remoto. A escola passou a compartilhar com os media o papel de difusão e mediação cultural (Faustino et al., 2007; Palfrey & Gasser, 2011). Por esta razão Andersen (2013), advoga que os benefícios trazidos pela Internet para a escola dependem do modo como os ambientes são utilizados para esse fim e, desse modo, dependem de um preparo adequado dos profissionais da educação para que todos seus recursos possam ser bem explorados.

As tecnologias trouxeram também uma preocupação aos intervenientes das escolas, pais e encarregados de educação, bibliotecários, docentes, etc., que cada vez mais preocupam-se pela forma como os alunos estão a aprender. Muitos pais, avós e educadores temem os efeitos que as tecnologias digitais têm sobre os alunos e sua capacidade de aprender, e se preocupam, porque os alunos não estão a ler livros do início ao fim da maneira como costumavam fazer. Os bibliotecários e professores mais velhos se preocupam porque os alunos só buscam uma variedade restrita de fontes, através do Google, e deixam de ler os artigos, porque alguns bancos de dados não vão tão longe para incluir certos trabalhos (Palfrey & Gasser, 2011). Portanto, é indispensável que a escola aprenda a interiorizar uma cultura de convergência que implica participação, convergência dos diferentes mídias e promoção de uma inteligência coletiva (Palfrey & Gasser, 2011; Ruivo & Carrega, 2013).

Pág. 37 As escolas precisam descobrir a conexão entre a maneira como os jovens estão a aprender na era digital, tanto em ambientes formais quanto em informais, e as suas próprias missões, para poderem se ajustarem aos hábitos dos nativos digitais e à maneira como eles estão processando informações, os educadores precisam aceitar que a maneira de aprender esta mudando aceleradamente. Portanto, é preciso entender as mudanças para saber com que precisão usar tecnologia nas escolas. Para isso, é imprescindível expandir a estrutura para toda a aprendizagem, não apenas para o tipo que acontece na sala de aula (Palfrey & Gasser, 2011). Os processos de ensino e aprendizagem nas escolas têm de ir ao encontro das necessidades dos jovens que frequentam a escola. Os objetivos e conteúdos a abordar, as competências a desenvolver e os métodos a utilizar têm, necessariamente, de ser igualmente distintos dos anteriores (Costa, 2014).

As coisas que a escola e os professores fazem melhor não devem ser descartadas na pressa de usar tecnologia na sala de aula. A utilização das TIC pode passar por muitas outras atividades e por diferentes estratégias, desde o fomentar situações de pesquisa até à construção coletiva de textos, apresentações, etc. Porém é importante garantir que os alunos tenham formas de aceder aos computadores quando lhes são necessários – sala de aula, centros de recursos, bibliotecas, laboratórios, etc. (Lagarto & Andrade, 2010). O professor precisa ter em conta que as escolas se tornaram em 3.0, um tipo de escola onde o aluno raramente “entrega seus trabalhos em papel. Em vez disso, mantém um portfólio online, uma coleção de trabalhos que fornecem evidências de aprendizagem para os professores e pode ser usado posteriormente para a admissão para a faculdade ou entrevista de emprego” (Fonseca et al., 2017, p. 30).

As escolas devem priorizar a descoberta como a maneira correta de integrar a tecnologia no currículo para o nível de habilidade dos alunos. Essas abordagens devem procurar otimizar, no ambiente da sala de aula, o que sabemos que os nativos digitais estão a fazer na aprendizagem, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar formal. Por esta razão é preciso uma reflexão criítica pessoal e coletiva dos docentes sobre as formas de utilizar as TIC no espaço de aprendizagem que é a escola, não sendo preciso que exista um computador por aluno, mas que a tecnologia seja usada de modo mais eficiente (Lagarto & Andrade, 2010; Palfrey & Gasser, 2011). Assim, se por um lado a utilização das novas tecnologias na escola é crucial, por outro existe a necessidade de alterar a visão dos trabalhos em grupo

Pág. 38 usados na ausência de uma perspetiva pedagógica fundamentada (Lagarto & Andrade, 2010).

Nesse novo espaço, criado pelas tecnologias, o professor não será mais basicamente um transmissor e os planos terão de atender as necessidades individuais. A adoção das tecnologias digitais, que não significam necessariamente novos e modernos equipamentos, mas o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem, com o uso real dos conceitos de interatividade entre os estudantes e professores. Onde a troca e a aprendizagem sejam um todo contínuo e intercambiável e as escolas passam o processo de conhecimento transmitido, para o aprendizado interativo (Gobbi, 2010). Assim, esta nova realidade para escola, numa época em que ela é inundada por tecnologias, é demonstrada na figura abaixo que demostra esse processo de mudança.

Figura 1 – Processo de mudança na aprendizagem (Gobbi, 2010).

O papel do professor alterou e o processo passou a ser baseado no aluno e com essas mudanças surgiu a utilização das tecnologias para a centralização da experiência na aprendizagem do aluno. As escolas precisam adotar estratégias afirmativas para ensinar os alunos, que do contrário ficarão para trás do mundo digital e impedidos de atuar efetivamente dentro dele. Assim, nas escolas, os professores devem encorajar os alunos a aprender

Pág. 39 fazendo em ambientes digitais. Os alunos, nativos digitais ou não, podem aprender criando trabalhos digitais que variam desde o mais simples até ao altamente elaborado. Em cada situação um professor pode orientar um aluno em um espaço digital e encoraja-lo a criar algo novo ou melhorar algo antigo (Gobbi, 2010; Palfrey & Gasser, 2011).

É essencial que a escola coloque as tecnologias digitais para funcionarem como um feedback loop para os alunos fazerem comentários sobre o material que estão a estudar ou sobre as ideias dos seus colegas. Embora o professor possa se sentir inseguro diante de um cenário em que os alunos dominam melhor os artefactos tecnológicos que ele, os alunos também podem ajudar os professores a aprender a ensinar mais efetivamente usando algumas destas tecnologias, especialmente nas escolas com poucos recursos e professores muito pressionados pelo tempo (Andersen, 2013; Palfrey & Gasser, 2011). Esta realidade não põe em causa o lugar do professor como mediador, porque é o professor quem estimula a reflexão crítica, que organiza estratégias para que o aluno aprofunde o conhecimento nas pesquisas virtuais, que impulsiona o debate em sala de aula, que desperta um espirito mais investigativo, que orienta sobre a qualidade do material disponibilizado na rede, que aponta caminhos para o aperfeiçoamento das formas de expressão e de interação, que encoraja os alunos a explorarem melhor a sua criatividade, entre outras ações (Andersen, 2013).

As tecnologias também permitiram as escolas reduziram a quantidade de dinheiro disponível para gastar em livros, em parte, para satisfazer a demanda dos nativos digitais. Os livros, hoje, encontram-se disponíveis numa espécie de Amazonificação das bibliotecas, em função da união das bibliotecas. Elas começam a colocar em primeiro lugar os aprendizes e o trabalho do bibliotecário, em parte, é ajudar a criar um ambiente de informações de self-service, que permita aos alunos navegar pela série cada vez mais complexa de escolhas para obter informação que uma pessoa necessita (Palfrey & Gasser, 2011; Paraskeva & Oliveira, 2006).

Portanto, a escola que alberga uma geração em que o acompanhamento das atividades dos alunos dentro, e também, fora da sala de aula, se revela fundamental, ninguém se pode dar ao luxo de afirmar que existem recursos humanos e tecnologicos dispensáveis. Desse modo, é essencial que o professor se aproprie de gama de saberes advindos com a presença das tecnologias digitais para que estes possam ser sistematizadas em sua prática pedagogica (Ruivo & Carrega, 2013; Sousa, Moita & Carvalho, 2011).

Pág. 40 Apesar das ferramentas digitais terem o seu lugar nas escolas e suas bibliotecas, as vezes, isto significará que o professor terá de ensinar as crianças a usar computadores, pois, às vezes, os computadores não terão lugar na sala de aula. Assim, precisamos entender melhor a ligação entre a tecnologia e o estudante para aprendermos muito mais para conseguir separar as duas coisas.

Na realidade que se vive nas escolas, a presença da tecnologia tornou-se indelevel e o papel ativo do estudante, principal centro do processo de ensino aprendizagem augorou outra dinamica.