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PARTE 2: TRABALHOS REALIZADOS DURANTE O ESTÁGIO

1. Aconselhamento cosmetológico personalizado

2.2. Temáticas abordadas

2.2.1. A responsabilidade de cada um no ciclo de vida do medicamento

O conceito medicamento engloba todas as substâncias ou associações de substâncias que possuam propriedades curativas ou preventivas de doenças [64]. Não há dúvidas de que os medicamentos se tornaram uma ferramenta essencial para a melhoria da qualidade de vida, através da redução da morbilidade e mortalidade [65]. No entanto, a Organização Mundial de Saúde estima que 50% dos doentes não usam corretamente os medicamentos, o que resulta num potencial não aproveitado das despesas envolvidas [66].

Com base nestes dados, a OF promoveu em 2016 uma campanha designada “Uso do

Medicamento – Somos Todos Responsáveis” [67], em que a primeira recomendação para alcançar o

máximo benefício do tratamento é promover a literacia em saúde. O uso responsável do medicamento pressupõe que é necessário munir os cidadãos de ferramentas que lhes permitam compreender e participar ativamente na seleção do tratamento, garantindo, assim, a correta adesão à terapêutica e a redução dos erros de medicação. O farmacêutico tem aqui um papel de destaque já que é o profissional de saúde que acompanha todas as etapas do circuito do medicamento. O FC, em especial, detém uma posição privilegiada perante a comunidade, o que lhe fornece competências e oportunidade de intervir em prol desta missão [66].

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No sentido de promover a literacia em saúde, selecionei alguns conceitos basilares que considerei importante transmitir, tendo sempre em consideração a faixa etária do público. Já que o objetivo final em vista implica uma boa adesão à terapêutica, não podia deixar de dar a conhecer a existência de diversas formas farmacêuticas. A forma farmacêutica é, no fundo, o estado final que as SA apresentam após a fase de fabrico. Assim, os medicamentos podem estar na forma sólida, como comprimidos, cápsulas, pós, granulados e supositórios; na forma líquida, como emulsões, suspensões e soluções; na forma semissólida, como cremes, pomadas e geles; ou sob a forma gasosa, como os aerossóis [64]. Toda a diversidade de formas farmacêuticas, da qual estas são apenas exemplos, é fundamental no sentido de adequar a forma farmacêutica ao problema de saúde e ao local onde se pretende o efeito desejado, às capacidades associadas à idade do doente e, em algumas situações, à preferência pessoal.

O aspeto que mais me esforcei por salientar em toda a apresentação foi a problemática da automedicação, isto é, a tomada de decisão sobre um regime terapêutico sem qualquer prescrição ou aconselhamento por parte de um profissional de saúde [64]. No caso concreto das crianças, este conceito prende-se muito com a noção de que apenas os adultos devem manipular medicamentos de forma a evitar erros de medicação que podem colocar em causa o sucesso terapêutico, para além do risco inerente de intoxicação e dependência. Por tudo isto, recomenda-se que os medicamentos sejam mantidos fora do alcance das crianças.

As condições de conservação dos medicamentos são relevantes, dado que as caraterísticas físicas e químicas apenas são mantidas dentro dos limites admissíveis se o armazenamento se efetuar em locais secos, frescos e ao abrigo da luz. No frigorífico devem ser guardados apenas os medicamentos que apresentem indicação para tal. É importante preservar sempre a embalagem original, juntamente com o folheto informativo, como forma de proteção e identificação. Periodicamente, deve-se verificar se os prazos de validade dos medicamentos guardados em casa terminaram, se apresentam sinais de danificação ou se já não são necessários. Em qualquer uma destas situações, deve-se proceder à eliminação dos produtos [64].

2.2.2. VALORMED

Desde 1999, a gestão dos resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso é responsabilidade da VALORMED. Esta sociedade sem fins lucrativos surgiu da colaboração entre a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA), da Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuticos (GROQUIFAR) e da Associação Nacional de Farmácias (ANF), sendo tutelada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Os objetivos que movem esta iniciativa prendem-se, essencialmente, com a minimização do impacto que pode advir dos resíduos de embalagens e medicamentos e, através da sensibilização no sentido de evitar a acumulação de medicamentos em casa, evitar a automedicação [37].

No sentido de alertar para esta temática, convém esclarecer quais os efeitos da incorreta gestão destes resíduos. Assim, pode dizer-se que os medicamentos criam impacto ambiental essencialmente por duas vias: excreção e deposição voluntária. Após a toma de um medicamento, os seus metabolitos ou os

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próprios fármacos inalterados são excretados e conduzidos através das redes de saneamento até Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs), onde muitas das moléculas não são definitivamente eliminadas e podem contaminar o solo na forma de adubos ou a água superficial a jusante da ETAR. Por outro lado, a deposição voluntária engloba dois destinos: os resíduos depositados no sistema de esgotos seguem a via anteriormente descrita, enquanto que se forem colocados no lixo comum, têm como destino um aterro. Embora permita a degradação de algumas moléculas e a contaminação imediata do ambiente, o aterro funciona como um armazém de fármacos que mantém o seu contacto contínuo com o meio envolvente, resultando na contaminação da água superficial, a médio ou longo prazo. Ao contrário da excreção, a deposição voluntária pode ser controlada por cada utilizador de medicamentos [68].

A VALORMED representa uma alternativa segura para a eliminação de resíduos e, o facto de a recolha se efetuar nas farmácias, permite abarcar todo o território nacional. Os resíduos de medicamentos devem, portanto, ser entregues numa farmácia aderente, onde são colocados num contentor destinado a esse fim. Os Distribuidores Farmacêuticos asseguram a sua recolha aproveitando o mesmo canal de distribuição de medicamentos, assegurando assim a diminuição da pegada ecológica [69]. Os contentores recolhidos são armazenados de forma estanque até serem transportados para um Centro de Triagem. Aí os resíduos são separados e classificados para serem entregues a gestores de resíduos autorizados responsáveis quer pela reciclagem de papel, plástico e vidro, quer pela incineração segura com valorização energética dos medicamentos e resíduos de medicamentos [70].

Para garantir o bom funcionamento deste circuito, é fundamental identificar o que se deve ou não depositar no contentor da VALORMED. Assim, são permitidos resíduos de embalagens, contendo ou não restos de medicamentos, tanto de uso humano, como de uso veterinário, desde que adquiridos em farmácia, assim como produtos de uso veterinário. Devem também ser colocados acessórios utilizados para facilitar a sua administração, como colheres, copos, seringas doseadoras, conta gotas, entre outros. Pelo contrário, não devem ser entregues agulhas, seringas, termómetros, aparelhos elétricos ou eletrónicos, gaze e material cirúrgico, produtos químicos, fraldas e radiografias [71]. Porém, se alguma dúvida persistir, o farmacêutico estará disponível para esclarecer.

Com este gesto tão simples, todos podem ajudar a preservar o ambiente e promover a saúde pública. Felizmente, as campanhas de sensibilização da VALORMED têm nutrido efeitos positivos, com as recolhas a aumentarem de ano para ano, o que sustenta a necessidade de realização de iniciativas de educação dos cidadãos [70].

2.3. O projeto na prática

As formações foram ministradas em seis sessões, de cerca de 30 minutos cada, e abrangeram crianças do pré-escolar e do 1º ciclo do ensino básico de duas escolas de Penafiel: Jardim-Escola João de Deus (22 de março) e Centro Escolar de Rans (9 de abril) (Anexo T). Em todas as formações fui acompanhada pela DT da FM.

Como suporte visual, recorri a duas apresentações idênticas em formato PowerPoint que elaborei (Anexo U), recorrendo a várias imagens de fundo fornecidas pela VALORMED: uma dirigida ao pré-

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escolar e outra adaptada ao 1º ciclo. Esta exposição incluía também um vídeo temático, fornecido igualmente pela VALORMED que sumariava o trajeto que seguem os resíduos recolhidos nas farmácias. Terminada a apresentação, seguia-se um jogo em que mostrava medicamentos dentro e fora do prazo de validade, seringas e material de penso e as crianças tinham de escolher se deveriam ser colocados no lixo comum, no contentor da VALORMED ou se poderiam ser guardados em casa (Anexo V).

Imediatamente antes e após a formação foram distribuídos inquéritos pelos alunos do 1º ciclo do ensino básico com o intuito de fazer uma análise comparativa entre os seus conhecimentos nos dois momentos (Anexo W). No final, eram entregues kits com materiais fornecidos pela VALORMED, nomeadamente, um livro com atividades, um lápis e um folheto para ser entregue aos pais (Anexo X). Deste modo, pretendia-se que a informação chegasse também aos adultos com quem estas crianças convivem.

2.3.1. Resultados e discussão

Tendo em vista a análise estatística do impacto do projeto, procedi ao tratamento dos dados recolhidos através dos inquéritos recorrendo ao software GraphPad Prism 7.04. No total, esta atividade envolveu diretamente 318 crianças, cuja distribuição por ano letivo está representada no gráfico 9 do Anexo Y.

A análise comparativa entre a avaliação de conhecimentos imediatamente antes e após a formação, por meio de um Wilcoxon test, revelou um impacto positivo significativo. Os gráficos referentes à análise emparelhada estão disponíveis no Anexo Y apresentando, em todos os casos, o respetivo intervalo de confiança de 95%. A primeira questão foi aquela em que a melhoria não foi tão notória, sendo a variação de uma proporção de 0,72 para 0,83 de resposta corretas (p=0,0001) (gráfico 10). Em relação à segunda pergunta, os resultados já foram mais evidentes, havendo uma melhoria de 0,62 para 0,92 (p<0,0001) (gráfico 11). Quando questionados sobre a existência de conhecimento sobre a VALORMED, apenas 0,17 dos alunos respondeu afirmativamente antes da formação, contra 0,86 no segundo inquérito (p<0,0001) (gráfico 12). Por fim, relativamente à quarta questão, as respostas corretas aumentaram de 0,56 para 0,89 (p<0,0001) (gráfico 13).

2.4. Balanço final

Os resultados descritos confirmam a importância da realização de ações deste tipo, já que se verificou um impacto significativamente positivo para todas as questões aplicadas. Em todas as sessões de formação foi evidente o interesse e motivação por parte das crianças, que participaram ativamente colocando dúvidas e tentando responder às questões colocadas, tornando a formação bastante interativa. De facto, eram estes os resultados que especulava ao selecionar esta faixa etária, não só por ser a idade das dúvidas e das descobertas, mas também porque a temática do meio ambiente e da poluição dos recursos naturais se enquadra no plano curricular, tornando as crianças sensíveis a estes assuntos. Também as professoras e educadoras se mostraram interessadas, discutindo algumas dúvidas no final. A transmissão de conhecimentos às crianças foi comprovada não só através dos inquéritos, mas também durante a

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realização do jogo relacionado com a VALORMED, no qual as participações foram maioritariamente positivas.

3. “A minha medicação diária”

3.1. Contextualização e objetivos

O mesmo relatório que estimou a inadequada utilização dos medicamentos por 50% dos doentes, esclarece ainda que uma das causas subjacentes é a não adesão à terapêutica, assim como os erros de medicação e a incorreta gestão da terapêutica dos doentes polimedicados. Estas situações muitas vezes traduzem-se em quadros clínicos agravados que poderiam ser evitados, reduzindo também os custos em saúde [66].

Embora a legislação em vigor capacite os farmacêuticos para implementarem “programas de adesão à terapêutica, de reconciliação da terapêutica e de preparação individualizada de medicamentos” [32], nem sempre é possível por estes projetos em prática, quer por falta de recursos humanos, quer por falta de adesão dos utentes. Efetivamente, um programa de revisão da terapêutica, como o Seguimento Farmacoterapêutico, seria o ideal. Não sendo viável, optei por encontrar um método mais simples, que não dispenda muito tempo e não implique a procura por parte dos utentes. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma ficha de organização da terapêutica para doentes polimedicados.

A polimedicação corresponde à toma diária de cinco ou mais medicamentos, sendo mais prevalente em idosos, que frequentemente acarretam várias patologias de caráter crónico. A aplicação da ficha “A

minha medicação diária” nestes casos, tinha em vista:

✓ Identificar possíveis interações medicamentosas ou duplicações terapêuticas; ✓ Promover a adesão à terapêutica, facilitando a organização da terapêutica diária; ✓ Esclarecer possíveis dúvidas ou erros de medicação que estivessem presentes.

3.2. O projeto na prática

A ficha “A minha medicação diária” (Anexo Z) foi proposta ao balcão sempre que as prescrições médicas permitiam identificar um doente polimedicado. Caso o doente mostrasse abertura, era então transcrita toda a medicação diária, organizada por momento do dia e com indicação da dose a administrar. A ficha foi criada com o intuito de ser percetível independentemente do grau de literacia, recorrendo a imagens básicas.

3.3. Balanço final

Embora seja frequente o contacto com doentes polimedicados, foram poucas as oportunidades de aplicação da ficha, uma vez que estes garantem não ter qualquer dúvida sobre o esquema posológico, dado que já o praticam há muito tempo. Geralmente os doentes aceitavam quando era feita alguma alteração na terapêutica. Posto isto, acredito que a maior aplicabilidade da ficha deveria ser em doentes

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que iniciam esquemas terapêuticos complexos ou doentes polimedicados aos quais seja feita alguma alteração de medicação.

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