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4 ASPECTOS CONCERNENTES A CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DE

4.5 O TEMA REPETITIVO N 995 DO STJ

Observa-se do disposto na seção 4.2 do presente trabalho, que a reafirmação da DER, consistente na alteração da data da entrada do requerimento para momento posterior, de modo a considerar períodos supervenientes para implementação dos requisitos indispensáveis a concessão dos benefícios de aposentadorias programáveis, é procedimento já adotado no âmbito administrativo, nos termos do que dispõe o art. 690 da IN 77/2015.

Contudo, verifica-se que, conforme explanado na seção 4.3 e 4.4 do presente trabalho, quando o pedido de concessão do benefício é indeferido na via administrativa e o direito do segurado passa a ser discutido no âmbito judicial, a possibilidade de aplicação do instituto da reafirmação da DER encontra divergências doutrinárias e jurisprudenciais.

À luz do posicionamento dissonante dos tribunais, o Superior Tribunal de Justiça, por meio da afetação ao rito dos recursos especiais repetitivos, selecionou três recursos especiais, provenientes do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, quais sejam REsp 1727063/SP, REsp 1727064/SP e REsp 1727069/SP, cuja discussão levada àquele Superior Tribunal versava acerca da possibilidade de aplicação da reafirmação da DER.

Em seu voto, na proposta de afetação no recurso especial, o Ministro Relator Mauro Campbell Marques, acompanhado pelos demais ministros, delimitou a tese representativa da controvérsia nos seguintes termos:

possibilidade de se considerar o tempo de contribuição posterior ao ajuizamento da ação, reafirmando-se a data de entrada do requerimento-DER- para o momento de implementação dos requisitos necessários à concessão de benefício previdenciário: (i) aplicação do artigo 493 do CPC/2015 (artigo 462 do CPC/1973); (ii) delimitação do momento processual oportuno para se requerer a reafirmação da DER, bem assim para apresentar provas ou requerer a sua produção (BRASIL, STJ, 2019)

O julgamento do Tema Repetitivo n. 995 foi realizado na data de 23/10/2019 pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça.

Conforme mencionam Castro e Lazzari (2020, p. 432), “verifica-se do julgamento do Repetitivo Tema nº 995 que a Corte Superior manteve seu posicionamento no sentido de possibilitar a chamada reafirmação da DER para o momento de implementação dos requisitos necessários à concessão do benefício”.

De forma a compreender os fundamentos utilizados que concluíram pela possibilidade de reafirmação da DER no processo judicial previdenciário, será analisado os dois pontos delimitados na tese representativa da controvérsia.

4.5.1 A aplicação do art. 493 do CPC/2015 (art. 462 do CPC/1973)

Para o Ministro Relator, Mauro Campbell Marques, seguindo o que dispõe o texto do art. 493 do CPC, o julgador quando identificar um fato superveniente na relação jurídica tem o dever de considerá-lo, se pertinente com a causa de pedir (BRASIL, STJ, 2019).

Nas palavras do Ministro, “não se deve postergar a análise do fato superveniente para novo processo, porque a autarquia previdenciária já tem conhecimento do fato, mercê de ser a guardiã dos dados cadastrados de seus segurados [...]” (BRASIL, STJ, 2019).

Além disso, o reconhecimento do direito do segurado de ter a data de entrada do seu requerimento alterada para o momento posterior, de modo a implementar os requisitos de concessão de um benefício previdenciário sem a necessidade de novo requerimento administrativo atende o princípio da economia processual e a instrumentalidade das formas, que garante a efetividade do processo em tempo razoável e a proteção dos direitos fundamentais (BRASIL, STJ, 2019).

No mesmo entendimento, em seu voto, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho acrescenta que “o Direito Processual precisa ganhar o mundo onde os fatos acontecem e esperam uma solução razoável, especialmente nas ações previdenciárias, tornando-se espaço de excelência para a concretização do princípio da dignidade humana” (BRASIL, STJ, 2019).

Seguindo os princípios mencionados, o Ministro Mauro Campbell Marques invoca ainda, o princípio da primazia do acertamento da relação jurídica, mencionado na seção 4.3 do presente trabalho, cujo objetivo defendido é a proteção do direito social e a satisfação do direito na sua real extensão (SAVARIS, 2018, p. 125).

Não obstante, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, pontua que exigir do segurado a apresentação de provas referentes ao fato superveniente na via administrativa, haja

vista a falta de interesse de agir, conflita com a garantia constitucional de acesso à justiça (BRASIL, STJ, 2019).

No ponto, o Ministro Relator Mauro Campbell Marques esclarece que o fato superveniente nas ações previdenciárias de concessão de benefícios de aposentadoria não se trata de uma inovação, visto que se apresenta, na realidade, como tempo de contribuição ou o implemento da idade exigida, informações as quais o INSS detém conhecimento (BRASIL, STJ, 2019).

Nas palavras do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho “a mudança de fatos nem sempre acarreta uma mudança da causa de pedir. Em poucas palavras, dentro do processo é possível a ampliação da causa de pedir. Se eu posso ampliar a causa de pedir, isso resolve o problema da reafirmação da DER” (BRASIL, STJ, 2019).

Destarte, concluíram os ministros que o art. 493 é aplicável nas ações previdenciárias, devendo, contudo, ser mantida a causa de pedir (BRASIL, STJ, 2019).

4.5.2 O momento processual oportuno para requerer a reafirmação da DER

Diante do entendimento do STJ acerca da possibilidade de considerar o fato superveniente para o reconhecimento do direito de concessão de um benefício previdenciário, passou-se a debater o momento para se requerer a reafirmação da DER.

Inicialmente, o Ministro Relator Mauro Campbell Marques ressaltou que “o fato superveniente não deve demandar instrução probatória complexa, deve ser comprovado de plano sob o crivo do contraditório” (BRASIL, STJ, 2019).

No tocante a prova, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho ressalta que a instrução probatória previdenciária pode ser realizada também no âmbito da instância revisora (BRASIL, STJ, 2019).

Em atenção ao que dispõe o art. 933 do CPC os Ministros comentam a possibilidade de exame de ofício do tribunal quanto existente um fato superveniente que guarde relação com o julgamento do recurso (BRASIL, STJ, 2019).

Para a Ministra Assusete Magalhães, não é possível o reconhecimento do fato superveniente, reafirmando a DER em sede de recurso especial, porquanto não devolve ao tribunal a análise de fatos e provas (BRASIL, STJ, 2019).

Além disso, na fase de execução, ante a necessidade de um título executivo, não é possível a aplicação da reafirmação da DER (BRASIL, STJ, 2019).

À vista disso, delimitou-se que o momento processual oportuno para requerer a reafirmação da DER deverá ser feito até a instância revisora (BRASIL, STJ, 2019).

Assim, conforme voto do relator, Ministro Mauro Campbell Marques, que foi acompanhado pelos demais ministros em seus respectivos votos, a tese firmada sobre a possibilidade de reafirmação da DER foi:

É possível a reafirmação da DER (Data de Entrada do Requerimento) para o momento em que implementados os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas instâncias ordinárias, nos termos dos arts. 493 e 933 do CPC/2015, observada a causa de pedir (BRASIL, STJ, 2019).

Até a data de fechamento do presente trabalho, em consulta ao site Superior Tribunal de Justiça, não houve o trânsito em julgado da decisão.

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