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2 A ISKCON BRASILEIRA EM RELAÇÃO AO MOVIMENTO HARE KRISHNA

3.1 O TEMPLO HARE KRISHNA EM PORTO ALEGRE: UM TRÂNSITO ENTRE

De acordo com os relatos de um informante47, também seguidor desse movimento religioso, no ano de 1984, o templo alojava-se à rua Tomas Flores, 331, em um terreno com uma casa e um prédio. Era uma residência grande, alugada, a qual abrigava, aproximadamente, 35 pessoas morando neste lugar. A manutenção da casa, bem como a auto- sustentação das pessoas que lá residiam, era feita a partir da comercialização de livros e incensos. Não havia nenhuma ajuda financeira da organização ISKCON para a manutenção da casa e dos seus seguidores. Ocorriam, às vezes, doações de membros mais antigos e de alguns habituais freqüentadores dos festivais de domingo, mas em valores pouco significativos diante dos gastos mensais. O fato de o templo contar, quase que unicamente, com o dinheiro das vendas dos livros e incensos para a sua auto-sustentação trazia uma desconfortável oscilação financeira. Em certos momentos, havia uma grande arrecadação de dinheiro e em outros carência de recursos até para as necessidades básicas (aluguel, água, luz e alimentação). Em tempos de “alta coleta”, o grupo procurava residir em casas maiores com o objetivo de comportar mais adeptos e expandir o movimento Hare Krishna. Quando a “coleta” não

47 Dados coletados a partir de uma entrevista (22/10/2004), onde se observa as razões pelas quais levaram este

correspondia às expectativas mínimas para manter este lugar, eles voltavam para o antigo endereço na Tomas Flores. Guerriero (1989) constatou em sua pesquisa que, na década de noventa, os templos do movimento Hare Krishna brasileiro foram abertos “nos locais em que surgiam condições para tanto”, a partir de interesses e empenho financeiro dos membros (GUERRIERO, 1989:87).

No ano de 1986, o templo saiu da rua Tomas Flores e foi para uma casa maior na Rua Dr. Timóteo com o propósito de abrigar mais membros residentes. Como não se atingiu um resultado satisfatório na “distribuição de livros e incensos” e ainda com um valor de aluguel mais alto, eles retornaram para o endereço anterior. Este mesmo movimento repetiu-se em 1989 quando, novamente, eles mudaram-se da Rua Tomas Flores para Rua Rodolfo Gomes, no bairro Teresópolis. Neste novo local, o aluguel era mais barato e havia uma “terrinha com um galpão”, onde eles construíram duas “casinhas de madeiras pré-fabricadas”. Este bairro localiza-se numa região bem distante dos antigos bairros onde o templo situara-se, sendo que o terreno ficava numa redondeza não muito segura, com riscos de roubos e assaltos. No período em que o templo esteve em Teresópolis, houve uma redução drástica de membros residentes, acarretando, assim, a diminuição da arrecadação. Com a baixa “coleta”, o “jeito foi retornar para o antigo endereço na Tomas Flores”. O entrevistado esclarece essas constantes mudanças de endereços:

(...) quando tinham dinheiro sobrando, eles iam para um lugar melhor, mas mantinham naquele antigo endereço [Tomas Flores] por [que] se dava um „rolo‟48, aí quando dava um rolo eles voltavam, aí quando eles juntavam um pouco mais de dinheiro, eles iam para outro lugar, mas mantinha este por [que] se dava „rolo‟, então... em Teresóspolis não era um lugar melhor, eles acharam que era melhor, mas não, era até pior...

48 “Rolo” significa, aqui, qualquer coisa que impossibilitasse cumprir com o pagamento do aluguel e demais

O templo ficou, aproximadamente, até 1999 na Tomas Flores e posteriormente foi transferido para umas terras, que dizem ser de propriedade da ISKCON, localizadas nas proximidades da cidade de Igrejinha/RS. A mudança para Igrejinha esfriou mais ainda a perspectiva de expansão da ISKCON no Rio Grande do Sul, pois este local foi considerado de difícil acesso tanto para aqueles que freqüentavam o templo (adeptos ou não ao movimento), como para aqueles que nele residiam.

É importante analisar que, desde que o movimento Hare Krishna veio para Porto Alegre, o templo vem se fixando, predominantemente, aos arredores do bairro Bom Fim. Os freqüentadores (adeptos ou simpatizantes ao movimento Hare Krishna) são pessoas que residem no bairro ou próximo a ele. Dessa forma, constata-se que o bairro Bom Fim é muito mais um “lugar” de Porto Alegre do que unicamente um bairro, pelo fato de ser um local cujas peculiaridades o tornam um “bairro alternativo” que agrupa diferentes manifestações culturais. Menezes (2000) na sua pesquisa sobre os bairros da cidade de Lisboa, distinguiu que “através de uma abordagem escalonada e do conhecimento da organização e arranjo sócio-espacial, bem como das práticas sociais e culturais, é possível dizer que, apesar da globalidade da cidade, alguns dos seus bairros são lugares” (MENEZES,2000:163).

Nesse sentido, compreende-se que o fato de o templo se fixar mais tempo na Rua Dr. Timóteo e, atualmente, na Rua José Bonifácio, ambas no Bom Fim, é muito em função do sentido de identidade que este “lugar” expressa para as pessoas que vivem e/ou transitam neste bairro. No momento em que o templo migra para longe do bairro, distante desse lugar, acaba sendo comprometido com a ausência dos freqüentadores habitués. O pesquisador Silva da Silveira constatou o mesmo fato da redução dos números de freqüentadores e residentes nos templos de Brasília e Curitiba quando esses templos foram transferidos para a zona rural.

Observa-se, na década de 90, uma redução muito grande de membros residindo em templos brasileiros da ISKCON. Guerriero (1989) mostra em sua pesquisa que, na década de 80, “a ISKCON chegou a ter dezoito templos urbanos além da comunidade rural de Nova

Gokula em São Paulo, totalizando oitocentos devotos que viviam de maneira monástica”.49

Nos anos 90, o autor observa a diminuição significativa de “devotos residentes”, assim como, o fechamento de alguns templos no Brasil. Em contrapartida, houve um aumento de “devotos externos” neste período. Segundo constatação de Guerriero (1999):

Há poucos templos e basicamente todos eles sofrem dificuldades econômicas para seu próprio sustento. O movimento no Rio de Janeiro, que já chegou a ter um grande templo, foi obrigado a devolver o imóvel por falta de condições de pagamento de aluguel. As deidades foram transportadas para uma pequena comunidade rural na região serrana, distante cerca de 100 KM. O interessante é perceber que o número total de devotos, incluídos aqueles que não moram nos templos, é maior nos dias atuais. Porém não há mais rituais em que se reúnem todos. Calcula-se que em São Paulo e no Rio de Janeiro existam em cada uma dessas cidades por volta de mil devotos de Krishna. Cidades menores como Florianópolis nem possuem templos organizados, mas é freqüente reunir até setenta devotos em ocasiões especiais, todos moradores da cidade. Fora desses momentos, esses devotos costumam reunir-se em pequenos grupos nas casas de amigos (GUERRIERO,1999:7).

Levando-se em consideração a observação anterior de Guerriero, percebe-se que a instável situação financeira do templo de Porto Alegre era uma constante, também, nos templos de outras capitais brasileiras. Identificam-se, na citação do pesquisador, questões importantes para o entendimento da situação atual do templo pesquisado. São elas: a distinção entre os devotos residentes nos templos e os devotos externos, a importância das “deidades”, a reunião dos devotos em casas particulares.

49

Ver artigo: Guerriero, S. A ISKCON no Brasil: transformação ocidental de uma religião védica e incorporação de seus traços culturais na sociedade abrangente. Trabalho apresentado ao XXIII Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 1999. Não publicado.

Atualmente, ser considerado um “devoto de Krishna” não é mais um diferencial diante dos membros deste grupo religioso. Isto é constatado no depoimento de um informante, quando disse que ao se vincular ao movimento Hare Krishna em Porto Alegre, para ser considerado um “devoto de Krishna”, este deveria ser iniciado por um “mestre espiritual”, ser “batizado” com um dos nomes de Krishna, escolhido pelo “mestre ou guru”, e a denominação de servo ou serva do senhor (Dasa ou Dasi). Não havia a obrigatoriedade de morar em templos, mas havia muita discriminação por parte dos “devotos residentes” aos “devotos externos”. Com relação à discriminação entre os devotos, Guerriero (1989) também fez considerações a este respeito:

No princípio, esses devotos externos eram muito criticados e marginalizados pelos internos. Acreditamos que a dificuldade da conversão impunha ao devoto uma necessidade de rigidez nas suas convicções. (...) Era preciso abandonar tudo. Quando começaram a aparecerem devotos que não abandonavam suas vidas anteriores, que não usavam dhoti e sari50 e que não raspavam a cabeça, eram logo retratados como falsos e criticados por “estarem em maya”51

. Para reconhecerem suas próprias atitudes de abandonar tudo e morar no templo, os devotos falavam a esses externos que eles deveriam fazer o mesmo (GUERRIERO, 1989:93).

Constata-se, no momento atual, pelo menos no templo de Porto Alegre, que qualquer um que freqüente o templo com mais assiduidade é considerado um devoto de krishna, até mesmo o pesquisador em trabalho de campo. O fato de abrir a possibilidade para “qualquer um” ser um “devoto de krishna” estimula as pessoas à condição de pertencimento a este movimento religioso e, a partir disso, terem voz ativa para argumentar e opinar sobre o

50 Guerriero (1989) diz que dhoti é vestimenta masculina usual dos devotos vaishnavas e sari a vestimenta

feminina.

51“Estar em maya” significa a “identificação com as ilusões do mundo material”, neste caso, se identificar com a

andamento do templo.52 O precedente que se abre para todos opinarem sobre a administração do templo justifica-se pela importância que a comunidade dá as suas deidades.

As deidades “instaladas” em Porto Alegre são três esculturas em madeira que, simbolicamente, personificam a presença de Krishna nos altares dos templos Hare Krishna. Estas são consideradas as “encarnações de Krishna” desta era e chamadas de Jaganatha,

Baladeva e Subhadra. São réplicas das gigantescas deidades adoradas na cidade de Puri, no

estado de Orissa, Índia (SILVA DA SILVEIRA 2000).

A foto abaixo mostra o altar do templo Hare Krishna em Porto Alegre, onde se exibe as deidades53. Toda a comunidade Hare Krishna no Rio Grande do Sul aglutina-se em torno dessa representação simbólica. A disposição do altar em três níveis demonstra, visivelmente, o símbolo de “hierarquia e poder” da tradição religiosa que o grupo reconhece como autêntico movimento Hare Krishna. Os degraus que subdividem o altar procuram delimitar isso: na parte inferior, metaforicamente entendido como mais próximo da Terra, verifica-se toda a tradição de “mestres espirituais”. Inicia-se com os seis goswamis, no porta retrato a direita, até a imagem dourada do fundador do movimento Hare Krishna no Ocidente, Prabhupada54. No segundo nível do altar, há a imagem de Caitanya e seu discípulo (Nityananda). O profeta

Caitanya é considerado, por essa tradição religiosa, um avatar, ou seja, a presença

personificada de Deus na Terra. Por isso, sua imagem encontra-se em um degrau intermediário entre as manifestações de Deus para essa era (as três imagens representadas no

52

Foi constatada, em reuniões do grupo, a opinião de pessoas que pouco freqüentavam o templo e, mesmo assim, opinavam na pauta de discussão.

53Esta foto foi vendida no restaurante como uma forma de “coletar” dinheiro para ajudar na manutenção dessas

“deidades”.

54

No primeiro capítulo se aborda desde a origem dessa tradição indiana até o aparecimento do movimento no Ocidente por Prabhupada. A importância e o entendimento do que são os seis goswamis é explicado neste capítulo.

primeiro degrau do altar) e os seus discípulos (a linhagem de “mestres espirituais até

Figura 1

No transcorrer do trabalho, será detalhada uma tensão que envolveu as deidades a qual permite mostrar a relevância desta para o contexto desse grupo religioso.

Uma outra questão levantada anteriormente que ajuda entender a comunidade Hare Krishna de Porto Alegre é sobre a reunião de devotos em casas particulares. A reunião dos devotos fora de templos, ainda hoje, é uma prática comum entre eles. Em Cachoerinha/RS, toda segunda-feira, há um programa de “adoração das deidades domésticas” na casa da irmã da dona do restaurante. Este tipo de deidades adoradas em casas particulares são chamadas de

murtis e não foram instaladas por um representante da ISCKON. Os membros da família,

adeptos ao movimento Hare Krishna, encontram-se lá, bem como outros devotos mais antigos e convidados que vêm freqüentando o templo. Há “cânticos devocionais”, leitura e discussão das escrituras (Bagavad gita ou Srimad Bhagavatam) e a oferta de “comida devocional” (prasadam) para os convidados.

Assim, entende-se que a associação entre eles fora do templo e a atual flexibilidade de considerarem “qualquer um” como “devoto de Krishna” contribuíram para uma (re)organização nas estratégias de expansão do movimento Hare Krishna. No passado, o grupo expandia-se a partir de uma proposta de vida comunitária nos templos. Todos que moravam nos templos da ISKCON, de certa forma, trabalhavam para sua manutenção55. Hoje, conforme observação feita em campo, isso quase não existe mais. No caso específico do templo de Porto Alegre, a manutenção é feita por devotos convertidos e por simpatizantes do movimento Hare Krishna. Portanto, pode-se dizer que o movimento Hare Krishna em Porto Alegre existe e se expande a partir da mobilização de sua congregação local.

Em uma entrevista (28/04/2003) com um dos líderes da ISKCON, o Swami

Rasananda, que na época era o secretário da ISKCON para região Sul, foi comentado o fato

da expansão da congregação de devotos:

Está havendo uma expansão [da ISKCON] com certa diferença. No passado, muitos jovens ingressavam nos templos e viviam como monge e eram iniciados. Hoje, por algum motivo, isto não acontece. O que acontece é que a congregação está se expandindo mais, no passado não existia uma congregação, hoje já não existem as pessoas que venham morar no templo, existe, mas não tanto como no passado, mas uma congregação expansiva.

Em Porto Alegre, a congregação engloba tanto os devotos residentes (que no caso atual é somente um, o guardião das deidades [pujari]), quanto os devotos externos (convertidos ou não), incluídos, também, aqueles freqüentadores mais assíduos aos festivais de domingo no templo, mas que deixam bem claro que não têm interesses de conversão. Estes são qualificados pelo grupo como os “amigos de Krishna".

Segundo um informante, a expansão da congregação aconteceu através do efeito perverso provocado pela má administração dos representantes do GBC nos templos brasileiros, que comprometeu a situação financeira destes. O informante citou como exemplo específico o caso de Porto Alegre ao se referir às constantes mudanças de endereços a que este templo foi submetido sem seguir um planejamento prévio de custos e arrecadação. Assim, o desgaste da liderança dos representantes do GBC abriu espaço para a congregação “tomar conta” do maior “patrimônio simbólico” de um devoto de Krishna: as suas deidades.

A mobilização de devotos que se responsabilizam pela manutenção financeira das deidades nos templos da ISKCON é extensivo, praticamente, a todas as comunidades Hare Krishnas brasileiras, onde se encontram “deidades instaladas”56

.

Para este estudo de caso, ressalta-se a importância de dois devotos que contribuíram de forma significativa para a existência do templo de Porto Alegre: Jamdasi (uma devota externa, que não chegou a morar em templos da ISKCON) e de Jagdasa57(devoto que no passado já tinha morado em templos), que se uniram no propósito de trazer o templo (as deidades) da cidade de Igrejinha de volta para Porto Alegre.

No ano de 2000, Jamdasi já tinha seu restaurante vegetariano em Porto Alegre, e Jagdasa almejava expandir os seus negócios com vendas de produtos indianos. Ambos insatisfeitos com a situação do templo em Igrejinha, tanto pela distância de Porto Alegre, como pela impossibilidade de se oferecer um “bom serviço de adoração às deidades”,

56 No transcorrer do trabalho, será melhor abordado sobre a “instalação das deidades” nos templos. 57

Tanto Jagdasa e Jamdasi são “nomes espirituais” recebidos pelos seus “mestres espirituais” na cerimônia de conversão. Estabeleceu-se não divulgar totalmente os nomes dos devotos que não deram entrevistas. Dasa significa a menção para um nome masculino e Dasi, feminino.

resolveram alugar uma casa na Rua Santa Terezinha, bairro Bom Fim (na mesma rua onde se encontra o templo atualmente) e trazer o templo para este endereço. Junto ao lugar, Jamdasi transferiu seu restaurante vegetariano chamado de Govinda, e Jagdasa a sua loja de produtos indianos. O propósito era que cada um empreendesse nos seus respectivos negócios e dividissem as despesas com a manutenção do templo. Isso eliminaria de vez a sustentação do templo da dependência das vendas de livros e incensos por parte da comunidade de devotos. A responsabilidade maior pelo “sustento das deidades” ficou centralizada nas mãos de Jamdasi e Jagdasa. Obviamente, foi restringida a moradia de devotos no local, pois não havia espaço e este não era mais uma casa administrada pelos representantes do GBC. Importante informar que anteriormente as casas eram alugadas pelos devotos, mas os representantes estabeleciam uma hierarquia de cargos e funções no local. Este corpo administrativo ficava sob a responsabilidade dos representantes do GBC.

Esse “arranjo” particular de negócios comerciais entre esses dois devotos foi considerado por alguns membros como um “grande arranjo de Krishna para fazer com que as deidades permanecessem no Rio Grande do Sul”, pois, conforme disse uma devota antiga, “as deidades não ficariam por muito tempo comendo arroz e feijão em Igrejinha”, ao relatar a situação “precária” que as deidades viviam neste local. Observa-se na fala dessa devota uma denúncia de uma adaptação sincrética58 da tradição indiana quando ela “discrimina” o “arroz e feijão”, um inaceitável prato típico e característico da culinária brasileira.

A parceria teve duração de menos de um ano, quando a dona do restaurante resolveu mudar para o atual endereço do restaurante Govinda e assumiu sozinha as despesas do seu restaurante e as do templo. Segundo informações de um devoto, o motivo dessa dissolução foi

devido à discordância administrativa entre Jagdasa e Rasananda Swami, o antigo secretário da região Sul. Atualmente Jagdasa é freqüentador do templo e ministra, em outro lugar, cursos sobre filosofia do Bagavad gita para aqueles que se interessam pelo tema sobre a doutrina de Krishna. As aulas acontecem aos sábados, em cuja sala, que localiza-se nesse bairro, ele mesmo alugou.

Em 2002, a irmã da dona do restaurante abre, no mesmo prédio do restaurante, a lancheria Govinda. Hoje em dia, há um misto de “restaurante-templo-lancheria”, abrigando somente um morador permanente, o pujari, o monge guardião das deidades.

Seguidores mais antigos dizem que a situação do templo chegou a esse ponto em função do desinteresse de muitos devotos em ter uma vida monástica. O motivo encontra justificativa na postura radical e autoritária dos líderes da ISKCON. Um informante relatou que, no passado, os templos eram liderados administrativamente pelos Swamis59 e, como essas administrações não vinham dando certo, muito em função do autoritarismo destes, as responsabilidades de manutenção financeira dos templos foram passando para as mãos dos próprios devotos externos.

59 Um swami é um sannyasi. É, teoricamete, considerado pelo grupo como um “devoto mais puro”. Este pode ser

ou não um mestre espiritual e ter discípulos. Um swami é um renunciado e vive em função de doações de outros devotos. A função dele, teoricamente, seria somente de pregação. Acontece que na prática eles vinham ocupando funções de liderança administrativa também.