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11. As observações da prática curricular da educadora Madalena

11.4. Tempo de actividades em pequeno grupo

À medida que vão escolhendo as actividades, as crianças vão virando o seu nome no mapa de presenças. Na dinâmica desenvolvida com o grupo, quer o mapa de presenças, quer o calendário dos aniversários, funcionam como suportes educativos com significado, pois permitem que as crianças se organizem e adquiram uma identidade. De acordo com o planeado, dirigem-se para a área respectiva uma vez que as actividades funcionam em paralelo.

Após a escolha de cada criança, esta dirige-se para a área onde vai realizar o que se propôs fazer. Neste pequeno grupo cada um tem oportunidade de vivenciar diferentes tipos de interacção. Podem trabalhar sozinhas, só com um amigo, ou em grupo, com ou sem o adulto. Conforme vão acabando as actividades, as crianças decidem por si se as repetem ou se passam a executar outras. Durante este tempo verifiquei que as crianças põem as suas ideias em prática, trabalham autonomamente, tomam decisões, movimentam-se livremente na sala, completam e modificam os seus planos, sendo que a educadora assume mais uma posição de observação individualizada que lhe permite conhecer melhor as crianças e que tipo de apoio cada uma precisa, concretizando assim uma atenção mais individualizada. Por outras palavras, a sua principal tarefa nas actividades de pequeno grupo é conduzida basicamente pela observação da criança e do grupo:

"o Telmo está na área das construções e a Madalena repara que ele está com alguma dificuldade em conseguir equilibrar o que está a montar. Ele desiste e começa a arrumar, mas ela diz-lhe:

- ó Telmo, o que estavas a fazer que era tão giro? - não se segura!

- vamos lá tentar os dois

(ele volta a pegar as peças e lá fazem ambos)

- ora experimenta se assim o burrico já consegue segurar a carroça - mas não é um burro... não vês que é um cavalo?

- ai é? Então está bem. Também fica engraçado". (Registos, 08 de Março de 2001)

Nota-se também a preocupação da Madalena em averiguar constantemente do material adicional que possa ampliar os trabalhos de algumas das crianças sempre que considera apropriado. Motiva as crianças a encontrarem soluções para alguns problemas, falando com elas e fazendo propostas, realizando perguntas abertas, motivando-as a interagirem umas com as outras.

162 Às vezes junta-se a um grupo e usa ela própria os materiais, possibilitando às crianças ocasiões de aprenderem a observar:

"o Luís está entretido com o Manuel a construir uma torre, mas não a conseguem equilibrar. A educadora junta-se aos dois meninos e vai- lhes dizendo:

- não querem experimentar assim? (e exemplifica)

(eles aceitam a proposta e continuam a fazer mais torres, dizendo que é uma cidade):

- olhem, eu vou aqui construir os passeios para os meninos dessa terra poderem brincar". (Registos, 07 de Março de 2001))

Quando o tempo de pequeno grupo se aproxima do fim, a Madalena previne as crianças para que tenham tempo de acabar os seus trabalhos:

"- eu tenho uma notícia para dar: são horas de arrumar! - mas nós queríamos lavar a louça - queixa-se a Julieta

- mas podem lavar os pratos e ir arrumando... e quem acabar de arrumar vai-se sentando na manta para depois cantarmos todos". (Registos, 14 de Março de 2001))

Finalizado o trabalho de pequeno grupo são as crianças que arrumam os produtos (não tendo de os mostrar forçosamente aos adultos), assim como os materiais e espaços utilizados.

Neste momento a ordem é mais flexível e menos dirigida, por exemplo, no que diz respeito ao tempo de duração nas actividades, que é decidido por cada criança, no acesso aos materiais que é directo, assim como a mudança de actividade também é da iniciativa da criança. Fazem sozinhas aquilo que podem e pedem a colaboração dos colegas ou adultos quando sentem necessidade, assim como oferecem o seu próprio apoio quando querem ajudar. A Madalena não intervém na escolha, mudança ou repetição de actividades, nem delimita qualquer tempo individual de execução, dentro dos períodos totais de tempo consagrados às actividades que, esses sim, são por si delimitados.

Apoia os grupos constituídos sempre que é solicitada ou quando observa que é necessário prestar esclarecimentos e sugestões para a execução dos trabalhos:

"a Madalena está na mesa com a Antónia a recortar e a colar tiras de cartolina, quando a Isaura e a Julieta lhe vêm pedir ajuda:

- ó Madalena, nós não sabemos como se faz isto - diz a Isaura - eu vou só acabar de colar um nome aqui e vou logo de seguida (elas ficam à espera e a educadora quando lá chega observa com atenção o puzzle, pega numa das peças e diz):

- vamos lá a ver onde é que está uma peça com bocadinhos desta árvore...

163 (as meninas procuram atentamente e... encontram a peça

correspondente)

- põe aqui junto deste. Agora fazes sempre assim. Vê lá donde será esta peça". (Registos, 09 de Março de 2001)

Propõe situações problemáticas na expectativa de que as crianças encontrem as soluções, que as debatam, apoiando a explicitação do porquê e estando atenta a que todas as crianças tenham oportunidade de participar no processo de reflexão. Mais do que apoiar as soluções correctas, a Madalena tenta estimular as razões da solução, de forma a fomentar o desenvolvimento do raciocínio e do espírito crítico:

" a conversa decorre à volta do computador novo. A Madalena pergunta:

- quem é que em casa tem computador?

(começam quase todos a dizer que têm e a algazarra é grande) - só quero os dedos no ar

(as crianças obedecem e a educadora começa a enumerá-los)

- quase todos têm computador... lá em casa quem mexe no computador?

- o meu tem jogos - Aurora

- eu tenho um disco de Natal - Micaela - eu tenho os patinhos - Telmo

- vamos para junto do computador?

- porque é que não fazemos aqui? - pergunta o André - ora digam lá... podemos trazer o computador para aqui? - sim - dizem uns poucos

- ai é?

- não - respondem agora - porquê?

- não tem ficha - Sara

- tem aqui atrás de mim - Clarisse - então vai buscar

- não posso - diz a menina - porquê, se tens a ficha aí? - porque é pesado - Sara - então vamos lá ao pé

(dirigem-se para o computador e a Madalena retira a coberta de plástico e pergunta-lhes):

- isto será para quê? - para tapar do pó - Julieta - e isto?

- o ecran - Bento - e isto o que é? - as teclas - Isaura

- é o teclado que tem letras, números e espaços - Sara - na loja do cidadão também há computadores - Joaquina - pois há... o teu pai trabalha lá, não é?

(a menina sorri)

- e vamos ver isto o que é... - é a impressora - Clarisse - e isto?

164 - e isto?

- o rato - Julieta - e para que é o rato?

- para a seta andar. Quando quiseres um jogo carregas com essa seta" - Aurora

(a educadora faz de conta que não sabe e são as crianças que exemplificam)

- carregar aqui no computador é clicar. Vamos escrever qualquer coisa?

- sim!!! - respondem em coro

- e o que é que querem que eu escreva?

- Madalena... Sara... casinha das bonecas... - vão dizendo - agora já escrevi muita coisa... e agora como é?

- tens de mandar para a impressora - Clarisse - mas o que é que eu tenho de fazer?

- ligar - Bento

- mas? já posso mandar a impressora escrever? - já!!! - respondem

- eu não estou a perceber - diz a Amélia

- depois vêm ao computador um a um trabalhar comigo ou com a Ema e nós ajudamos Quem ainda não sabe vai aprender depressa. Isto não dá para todos trabalharem ao mesmo tempo. Agora nós temos que combinar como é que vamos fazer para os meninos virem para aqui para o computador

- eu quero ir! - Aurora

- ah... pois queres! Todos querem ir para o computador, mas afinal quem é que vai?

- eu!!! - gritam de braço no ar - vão todos... mas um de cada vez - eu tenho uma ideia - Julieta - então diz lá

- vão dois de cada vez

- é uma boa sugestão, mas como é que nós fazemos para dizer quem é que vem... se é a Julieta, se o Manel, se o Telmo, etc?

- eu sei. É uma maneira de escolher o 1º, o 2º, o 3º, o 4º, o 5º, o 6º... - Bento

- vamos fazer assim... vamos pensar durante o lanche e decidimos depois. Agora vou fechar o computador

- fechar o computador diz-se desligar - Telmo" (Registos, 05 de Março de 2001)

A Madalena concretiza um maior tempo de permanência junto dos grupos que escolhem a mesa central, o computador e os jogos:

"a Madalena propôs ao grupo cada um ir escrever o seu nome ao computador para poder ser impresso e colocado em tiras de cartão: - com que dedo vais escrever, Julieta?

(a menina estica o indicador) - é esta a letra do teu nome

(vai-lhe apontando as letras uma a uma)

- anda cá, Gonçalo, sabes escrever o nome sozinho? - não

- então eu digo-te quais são as letras e tu escreves porque as letras tu conheces

(vai ditando as letra e ele escreve o nome)

- Antero, agora é a tua vez. Eu vou escrever aqui numa folha o teu nome e tu fazes no computador, está bem?

165 (ele copia rapidamente o seu primeiro nome)". (Registos, 05 de Março

de 2001)

"o Leonel, a Rita e o Jorge estão na mesa a fazer picagem e a educadora vai ajudando. Com uma agulha e lã, as crianças vão cosendo e assim vai surgindo o desenho impresso:

- estás a ver, Jorge? Já começa a aparecer o cavalo, essa cor ficou muito bem no pêlo

- ó Leonel, não podes virar o trabalho senão a lã emaranha-se (dá-lhe uma ajuda física e ele ultrapassa a dificuldade)

- a Rita já está quase a acabar o trabalho, tens de mostrar à mãe quando ela te vier buscar

(eles prosseguem compenetrados sob a vigilância da Madalena)". (Registos, 07 de Março de 2001)

O facto da presença da educadora ser predominante nas actividades de mesa e informática parece directamente relacionada com o domínio de certas aprendizagens e com o facto destas actividades terem por finalidade um produto que fica registado. Estão em causa preocupações com o nível de ensino subsequente e com aquisições instrumentais - cortar, coser, dobrar, rasgar, colar, copiar, utilizar programas de desenho do computador, fazer tentativas de escrita, imprimir - que são consideradas pela comunidade educativa como devendo estar adquiridas pelas crianças ao saírem do J.I.

A presença da educadora na área das construções não parece estar apenas ligada ao prazer de brincar, mas também à brincadeira manipulativa que serve propósitos pedagógicos e de aprendizagem. O papel da educadora junto dos grupos que escolhem esta actividade tem uma intenção, a de introduzir elementos que valorizem o seu aspecto pedagógico que surge aqui estabelecendo alguma fronteira entre os aspectos lúdicos e de trabalho.

A sua presença nas áreas acima referidas contrasta com uma não intervenção nas áreas do faz-de-conta e com uma "entrega" das áreas das expressões à auxiliar de acção educativa. Tal constatação supõe uma diferenciação, eventualmente até uma hierarquização ao nível das actividades, dos espaços e da sua intervenção no J.I.