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esportivo, e afastados da atividade reprodutiva, que pode começar tardiamente (Pycock, 2006). Assim, éguas de idade avançada fazem parte de diversos rebanhos, constituindo importante fonte de variação nos índices de fertilidade obtidos.

A síndrome do envelhecimento inclui fatores como o desequilíbrio endócrino (Carnevale et al., 1993, 1994), desarranjo das estruturas do oócito (Hunter, 1990; Hambags et al., 2006), alterações dos ambientes tubárico (Brinsko et al., 1994; Brinsko et al., 1996) e uterino (Carnevale e Ginther, 1992; LeBlanc, 2003) e alterações de conformação vulvar (Greenhoff e Kenney, 1975; Pascoe, 1979), que estão diretamente associados à redução da eficiência reprodutiva.

Foi demonstrado que o envelhecimento provocou mudanças na atividade endócrina e ovariana, durante a estação de monta, em éguas pôneis, considerando-se três grupos etários: jovem (5-7 anos), intermediário (15-19 anos) e com idade avançada (acima de 20 anos). Assim, observou- se menor onda e pico de LH, maior duração da fase folicular (11,7 vs 9,4 dias) e do intervalo entre ovulações (26,5 vs 23,9 dias) no grupo de éguas com faixa etária mais avançada, em relação aos grupos mais jovens, apesar de não terem sido observadas diferenças nas concentrações de progesterona entre os grupos (Carnevale et al., 1993). Análises adicionais demonstraram uma emergência folicular com um número reduzido de folículos por onda, em éguas mais velhas (Ginther et al., 1993). No processo gradual de envelhecimento, até atingir a senescência, as éguas demonstraram reduzida atividade folicular, longos intervalos entre ovulações, reduzido número de folículos e concentrações séricas mais elevadas de FSH e LH na fase folicular de extensão anormal (Carnevale et al., 1994). Esses trabalhos estão de acordo com os resultados de Carnevale et al. (1997), que também observaram maior atividade folicular e maior diâmetro dos folículos primário e secundário no grupo de éguas jovens, em comparação ao de éguas mais velhas. Três de nove éguas, com idade acima de 20 anos, sequer tiveram crescimento folicular acima de 20 mm de diâmetro, que foi atingido por todas as éguas do grupo jovem, demonstrando-se, dessa maneira, que a senescência ocorre em éguas acima de 20 anos de idade.

A tuba uterina é de grande importância, visto ser o ambiente onde permanece o embrião, até que migre para o útero. Allen et al. (2006) demonstraram que éguas com idade avançada podem ter um bloqueio da tuba uterina, por acúmulo de debris intraluminais, sem ocorrência de qualquer fibrose permanente. Assim, em um experimento utilizando 15 éguas entre 10 e 21 anos de idade, identificadas como fêmeas de baixa fertilidade por terem permanecido vazias por quatro estações reprodutivas consecutivas na ausência de qualquer patologia identificável, aplicou-se gel à base de PGE2 na superfície de cada tuba uterina, por via laparoscópica. Das 15 éguas tratadas, 14 (93%) conceberam na mesma ou na estação reprodutiva seguinte.

Outro problema relacionado às tubas, de acordo com Fiala et al. (2006) foi a observação de grande concentração de células inflamatórias (59,4%) em tubas uterinas coletadas de matadouro, provavelmente devido à idade avançada das éguas no estudo (média de 15 anos), o que demonstra ser a salpingite uma provável causa de reduzida fertilidade em fêmeas mais velhas.

Em um estudo envolvendo dois grupos de éguas, Brinsko et al. (1996) avaliaram o conjunto de proteínas secretadas pela tuba uterina entre os dois grupos, sugerindo-se que a secreção da tuba de éguas jovens e férteis (2-7 anos de idade) poderia conter maior proporção de fatores de crescimento favoráveis ao embrião, em relação às éguas mais velhas (17-24 anos de idade). Embora a qualidade dos embriões não tenha diferido entre os dois grupos, quando os oriundos de éguas jovens foram cultivados com secreção da tuba uterina de éguas velhas subférteis, apresentaram menor diâmetro, qualidade inferior e número significativamente menor de blastômeros quando comparados aos embriões cultivados com secreção da tuba de éguas jovens (Brinsko et al., 1994).

Os mesmos autores, em seus estudos, observaram que também o ambiente uterino estava alterado em animais mais velhos. Assim, encontraram mudanças histológicas endometriais mais severas em éguas de 17-24 anos de idade em relação às de éguas mais jovens, de 2-7 anos (p<0,001). As taxas de recuperação embrionária/ovulação foram mais altas para éguas jovens, que apresentaram um potencial de

fertilidade superior em relação às fêmeas mais velhas (Brinsko et al., 1994).

Carnevale e Ginther (1992) estudaram éguas distribuídas em dois grupos, quanto à faixa etária: jovens (5-7 anos) e velhas (idade superior a 15 anos). Neste estudo encontraram uma menor contratilidade uterina, bem como uma fixação da vesícula embrionária tardia (p<0,05) em éguas mais velhas, em relação ao que foi observado no grupo de fêmeas jovens. Em relação às biópsias envolvendo avaliação do endométrio uterino, encontraram extensa infiltração de células inflamatórias, fibrose e baixa proporção de glândulas endometriais em éguas com idade avançada, quando comparadas com as éguas jovens. O fluido intraluminal detectado por ultra- sonografia também foi mais extenso em éguas velhas. Essas alterações, em conjunto, explicam a taxa de gestação mais baixa associada a uma maior taxa de perda embrionária no grupo de éguas velhas (32 e 62%), em relação ao de jovens (100 e 11%), respectivamente.

Da mesma forma, Waelchli (1990), utilizando biópsia endometrial para o prognóstico de fertilidade de éguas de diferentes raças, em diferentes manejos, concluiu que não somente a idade considerada separadamente, mas as mudanças endometriais, advindas do envelhecimento, são fundamentais para se predizer a redução da fertilidade. Assim, 70% das éguas com até 11 anos de idade foram classificadas na categoria I, 21,2% na categoria IIA e apenas 3,8% na categoria IIB (mais severa em alterações que as anteriores). Por outro lado, 30,7% das éguas, com idade igual ou superior a 12 anos, foram classificadas na categoria I, 40% na categoria IIA e 26% na categoria IIB (categorias de acordo com Kenney e Doig, 1986).

Utilizando microscopia eletrônica foi possível observar, de forma definitiva, que a arquitetura das vilosidades fetais diferiu entre éguas velhas e as mais jovens, quando foram observadas microvilosidades mais irregulares, curtas e grosseiras no primeiro grupo em relação às finas, longas e de aspecto em escova nas éguas jovens, refletindo, assim, a ocorrência de características degenerativas no endométrio das éguas com idade avançada (Abd-Elnaeim et al., 2006).

Entretanto, não só as perdas gestacionais são advindas das alterações uterinas degenerativas. Neste sentido, Wilsher e Allen (2002) verificaram que a estrutura do alantocórion foi altamente correlacionada com o peso do potro ao nascer (r = 0,87). Além disso, as primíparas e éguas acima de 16 anos de idade apresentaram uma área microcotiledonária inferior às demais éguas, resultando em potros mais leves ao nascimento. Há que se enfatizar, ainda, a ocorrência de perdas financeiras advindas do desempenho atlético dos potros nascidos, uma vez que éguas acima de 11 anos produziram potros de desempenho inferior aos de éguas mais jovens (Barron, 1995).

Em relação às patologias do sistema reprodutivo, quando consideradas isoladamente, tais como os cistos da fossa, os cistos endometriais, as lacunas linfáticas, os corpos da íntima, a endometrite, a dilatação cística glandular e fibrose endometrial, a dilatação venosa e a trombose, apresentaram uma associação significativa com o grupo etário, com maior frequência e severidade na faixa etária de 13 a 17 anos (p<0,001 a p<0,05), de acordo com Silva (1991), sendo as lesões inflamatórias as de maior prevalência.

A ocorrência de endometrite é maior em éguas mais velhas, devido às transformações ocorridas com o aumento da idade e da ordem de parto, em que a biópsia uterina indica dilatação das glândulas endometriais, fibrose periglandular, de leve a moderada, com formação de ninhos glandulares (Hurtgen, 2006). Há acúmulo de fluido na luz e inflamação, que não podem ser resolvidas devido às degenerações vasculares encontradas em maior gravidade nas éguas acima de 16 anos (Inoue et al., 2000), alteração da atividade contrátil do miométrio (Rigby et al., 2001), com drenagem linfática insatisfatória (LeBlanc, 2003) e culminando em limpeza uterina, de fluidos e contaminação, deficiente. Assim, as perdas gestacionais são maiores em éguas acometidas pelas patologias mencionadas anteriormenete.

Há também ocorrência de endometrite, apesar de menos frequente, em éguas mais jovens, devido à perda de tecido adiposo na região perineal, em conseqüência do intenso preparo físico para as competições de corrida, predispondo à pneumovagina e contaminação uterina (Pascoe, 1979; Hurtgen, 2006).

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