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Tempo razoável de duração da prisão preventiva

3. A PRISÃO CAUTELAR

4.3. Tempo razoável de duração da prisão preventiva

O ordenamento jurídico pátrio não estabeleceu prazo para duração da preventiva, mesmo com a reforma tópica do Código de Processo Penal, deixando a incumbência a cargo da doutrina e da jurisprudência. Em face da natureza cautelar da medida, o tempo de duração da prisão preventiva deve ter caráter efêmero.

A construção pretoriana prevalecente sempre foi no sentido de que o prazo máximo na primeira instância para conclusão do processo seria de 81 (oitenta e um)

215 É a posição sufragada por Edilson Mougenot Bonfim: “No tocante à soltura imediata, entendemos que deverá

ser realizada por autoridade responsável pela custódia (v.g., diretor do presídio, Delegado de Polícia etc.), salvo se, vislumbrando outra hipótese que justifique a manutenção da medida, comunique à autoridade policial, que decidirá acerca da prisão.” (BONFIM, Edilson Mougenot. Reforma do Código de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 138).

216 É o entendimento esposado por Norberto Avena: “(...) em qualquer hipótese, a decisão sobre a liberação do

agente cabe ao juiz. Logo, assim que identificado o preso, cabe à autoridade (normalmente será a autoridade policial) que postulou a custódia comunicar ao juiz esta circunstância para que o Poder Judiciário proceda à liberação, sem prejuízo da possibilidade de manter a segregação se outras razões a autorizarem dentre as previstas no art. 312.” AVENA, Norberto. Op.cit., p. 945.

dias, compreendidos todos os atos procedimentais até a sentença, nos termos do artigo 800, inciso I, § 3º, do Código de Processo Penal, ou de 101 (cento e um) dias, se prorrogado o prazo de 15 (quinze) dias para a conclusão do inquérito, no âmbito da Justiça Federal. Tais prazos referiam-se ao procedimento comum ordinário, pelo que em se tratando de rito processual diverso, o prazo deveria ser alterado e adequado aos limites da lei.217

Contudo, encerrando-se a instrução criminal no prazo de 81 (oitenta e um) dias, havia correntes a respeito de qual seria o momento de encerramento da instrução criminal, se na fase de diligências do art. 499 do Código de Processo Penal, se com a oitiva das testemunhas de defesa ou com a oitiva das testemunhas de acusação, com prevalecimento desta última orientação.218

Ocorre que tal panorama mudou, em razão das inúmeras reformas tópicas por que passou o Código de Processo Penal, alterando substancialmente os ritos procedimentais do processo comum, ordinário e sumário, ensejando nova contagem de prazos.

Para Eugênio Pacelli de Oliveira, a nova contagem, no rito ordinário, poderá chegar, como regra, aos 86 (oitenta e seis) dias, e aos 107 (cento e sete) dias na Justiça Federal.219

A esse respeito, pondera Guilherme de Souza Nucci:

(...). Por outro lado, dentro da razoabilidade, havendo necessidade, não se deve estipular prazo fixo para o término da instrução, como ocorria no passado, mencionando-se como parâmetro o cômputo de 81 dias, que era a simples somatória dos prazos previstos no Código de Processo Penal para que a colheita da prova se encerrasse. Atualmente, outros prazos passaram a ser estabelecidos pelas Leis 11.689/2008 e 11.719/2008, consistentes em 90 dias, para a conclusão da formação da culpa no júri (art. 412, CPP) ou 60 dias, para a designação da audiência de instrução e julgamento no procedimento

217 A forma de contagem seria a seguinte: inquérito policial: 10 dias (art. 10 do CPP); denúncia: 5 dias (art. 46

do CPP); defesa prévia: 3 dias (art. 395 do CPP); inquirição de testemunhas: 20 dias (art. 401); requerimento de diligências: 2 dias (art. 499); despacho do requerimento: 10 dias (art. 499); alegações das partes: 6 dias (art. 500); diligências ex officio: 5 dias (art. 502); sentença: 20 dias (art. 800). A soma corresponde a 81 (oitenta e um) dias.

218 É o teor da Súmula 52 do Superior Tribunal de Justiça: “Encerrada a instrução criminal, fica superada a

alegação de constrangimento por excesso de prazo.” Há decisões no sentido de que, arroladas testemunhas pela defesa, deixaria de existir excesso de prazo.

ordinário (art. 400, ‘caput’, CPP, ou ainda de 30 dias, para a designação de audiência de instrução e julgamento no procedimento sumário (art. 531, CPP). (...). A despeito de todos esses prazos para a conclusão da instrução, defendemos uma interpretação lógico- sistemática. Por isso, deve-se seguir o princípio geral da razoabilidade, hoje adotado pela maioria dos tribunais brasileiros, vale dizer, sem prazo fixo para o término da instrução.220

Outros doutrinadores, no entanto, preferem não adotar prazo determinado de duração da prisão preventiva, o qual deverá ser fixado no caso concreto, à luz do princípio da razoabilidade.

A razoabilidade de duração do processo resta estampada no art. 7º, n. 5, da Convenção Americana dos Direitos Humanos, bem como no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988.221

O Supremo Tribunal Federal tem interpretado que somente a complexidade do caso concreto, bem como a grande quantidade de réus, seriam motivos hábeis a admitir eventual demora na conclusão do processo, desde que não haja ofensa à razoabilidade (proporcionalidade) e à dignidade humana.222

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça têm entendido que o prazo para conclusão da instrução criminal encontra-se adstrita a um juízo de razoabilidade, não sendo considerado excesso de prazo quando a demora na marcha processual mostrar-se justificada.223

220 NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit., p. 606.

221 Art. 7º, n. 5, da Convenção Americana dos Direitos Humanos: “Toda pessoa detida ou retida deve ser

conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo”. - grifei; Artigo 5º, LXXVIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”

222 Nesse sentido: “Habeas corpus. Prisão preventiva. Alegado excesso de prazo na custódia processual do

paciente e na formação da culpa. Causa penal complexa. Existência de vários litisconsortes penais passivos. Inocorrência de excesso irrazoável. Pedido indeferido. O Supremo Tribunal Federal reconhece que a complexidade da causa penal, de um lado, e o número de litisconsortes penais passivos, de outro, podem justificar eventual retardamento na conclusão do procedimento penal ou na solução jurisdicional do litígio, desde que a demora registrada seja compatível com padrões de estrita razoabilidade. Precedentes (STF – HC 105.133/CE. Rel. Min. Celso de Mello, j. em 26.10.2010, DJE de 23.11.2010).” – grifei.

223 O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o habeas corpus nº 106.448/RJ, assim decidiu, consoante voto

proferido pelo Ministro Gilmar Ferreira Mendes: “(...). É que o STF tem deferido a ordem de ‘habeas

corpus’, nos casos a envolver alegação de excesso de prazo, somente em hipóteses excepcionais, nas quais a mora processual: a) seja decorrência exclusiva de diligências suscitadas pela atuação da acusação (cf. HC nº 85.400/PE, Rel. Min. Eros Grau, 1ª Turma, unânime, DJ 11.3.2005; e HC nº 89.196/BA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, maioria, DJ 16.2.2007); b) resulte da inércia do próprio aparato judicial em

Com efeito, a prática forense demonstra a existência de inúmeros fatores que podem ensejar menor celeridade à tramitação processual, devendo ser considerado na determinação do prazo. Podemos citar a complexidade da ação penal, a pluralidade de réus, a atuação da defesa, bem como outras circunstâncias não relacionadas ao próprio aparelho judiciário ou à acusação.

A duração razoável do processo deve ser aferida caso a caso pelo juiz, à luz dos elementos da proporcionalidade, não se mostrando plausível a fixação genérica e abstrata, pelo legislador, de um prazo máximo de duração.