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2.3. Outros estudos sobre conectores

2.3.3. Tempos Verbais do Modo Indicativo

Nesta parte do trabalho não nos atemos a um estudo aprofundado sobre a diferença de cada tempo verbal existente nas línguas portuguesa e alemã. Apresentamos o uso de cada tempo verbal dos dois idiomas, sucintamente, e mostramos de modo mais aprofundado os usos do tempo presente. Esse tempo verbal pode ser usado para indicar tempo presente, passado, futuro e ainda para indicar ações e estados permanentes. Esses usos do tempo presente podem determinar a interpretação de um enunciado, já que a relação existente, sobretudo, entre conector, tempo, aspecto e modo verbal determina o tipo de leitura de um enunciado (temporal, epistêmica e/ou deôntica) e até mesmo, pode interferir nos tipos de relações estabelecidas pelos conectores (similaridade, situamento, condicional e causal).

Bechara (2003), em sua gramática, observa os seguintes usos dos tempos do passado e do futuro. O pretérito imperfeito não denota simplesmente uma ação do passado, mas sim é considerado o “presente” do passado, indicando uma ação habitual no passado. O pretérito perfeito, segundo o autor, fixa e enquadra a ação dentro de um espaço de tempo determinado no passado. O mais-que-perfeito denota uma ação anterior a outra já passada. O futuro do presente pode indicar, entre outros, incerteza e possibilidade futura e, o futuro do pretérito, segundo o autor, denota uma ação que poderá ocorrer agora ou no futuro dependendo de certas condições.

Com relação aos tempos verbais do passado e do futuro da língua alemã, segundo Helbig & Buscha (2000) e Dreyer & Schmitt (2000), o tempo

Perfekt pode denotar: uma ação realizada no passado e um resultado no

passado.

Segundo Dreyer & Schmitt, o Präteritum é um tempo que denota ações realizadas no passado e que na modalidade escrita é usado em textos

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literários e em textos jornalísticos. Na modalidade falada, o Präteritum é usado para situar no tempo contos de fada e histórias.

Quanto ao Futur I, Helbig & Buscha e Dreyer & Schmitt mostram que esse tempo indica uma ação possível no futuro e o Futur II indica, entre outros, acontecimentos incertos no passado e acontecimentos futuros.

Como já mencionado, nessa parte do trabalho nos atemos ao estudo do tempo presente pelo seu uso exercer um papel importante na interpretação dos enunciados dos nossos corpora, já que esse tempo verbal pode denotar além do tempo presente, o tempo passado, futuro e ações permanentes. Explicamos, com base nos estudiosos já citados, em quais contextos sintático-semânticos esses empregos do tempo presente são codificados.

Segundo Bechara, o tempo presente pode denotar:  um acontecimento habitual:

(2.83) A terra gira em torno do sol. (Bechara. 2003:276)

 uma representação de uma verdade universal (presente eterno):

(2.84) O interesse adota e defende opiniões que a consciência reprova. (Bechara. 2003:276)

Pode ser empregado pelo:

 pretérito em narrações:

(2.85) Pela manhã, bates-lhe à porta, chamando-o. Como ninguém responde, procuras entrar. (...). (Bechara. 2003:276)

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(2.86) Amanhã eu vou à cidade. (Bechara. 2003:276)  pretérito imperfeito:

(2.87) Se respondo mal, ele se zangaria. (Bechara. 2003:276)  futuro do subjuntivo:

(2.88) Se queres a paz prepara-te para a guerra.

Já Oliveira (2003b) observa que esse tempo verbal dá informação estritamente temporal de presente somente em certos casos, como quando se tratar de estados:

(2.89) A criança está contente. (Oliveira. 2003:154)

Em construções apropriadas, o presente pode ser atualizado para referir a um tempo posterior ao momento de fala:

(2.90) Amanhã a Rita corre no estádio universitário. (Oliveira. 2003:154)

O presente pode ainda apresentar-se como uma projeção do passado, desde que o contexto apresente alguma referência ao tempo passado:

(2.91) Naquele dia longínquo, os revoltosos proclamam a independência da ilha. (Oliveira. 2003:155)

A autora observa que esse tempo ainda pode ser usado em instruções, com valor modal próximo do deôntico:

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(2.92) Sais do aeroporto e à tua direita encontras a paragem de autocarros. Apanhas o autocarro 34. (Oliveira. 2003:155)

Fiorin (2002), diferentemente de Bechara e Oliveira, traz um estudo do tempo presente com relação ao momento da enunciação (momento de fala do locutor para esta tese). Para Fiorin, o tempo presente marca uma coincidência entre o momento de referência e o momento do acontecimento de um evento ou situação, ou seja, o tempo em que algo acontece (hoje, próximo milênio, sábado...) e o próprio acontecimento. Porém, nem sempre esse tempo verbal marca a coincidência entre o momento de referência e o momento da enunciação. Fiorin aponta três relações entre o momento de referência e o momento da enunciação que podem ser elencado como presente pontual, presente durativo e presente omnitemporal ou gnômico.

As observações de Fioren que nos interessa para a tese são sobre o presente pontual e omnitemporal ou gnômico.

Segundo o autor, o presente pontual é aquele em que existe uma coincidência entre o momento de referência e o momento da enunciação: (2.93) Um pássaro de plumagem azul risca o quadro num rápido vôo diagonal (...). (Fiorin, 2002:149)

O presente durativo é aquele em que o momento de referência é mais longo do que o momento da enunciação:

(2.94) Última aula. Façouma rápida recapitulação de toda a matéria dada durante o semestre. (Fiorin, 2002:150)

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Já o presente omnitemporal ou gnômico é aquele em que o momento de referência e o momento do acontecimento são limitados. Esse presente é utilizado para enunciar verdades eternas ou que se pretendem como tais: (2.95) O quadrado da hipotenusa é o igual a soma do quadrado dos catetos. (Fiorin, 2002:151)

Pode-se encontrar esse tipo de presente em: a) provérbios e máximas; b) definições; c) descrições de estados tidos como imutáveis; e d) relatos de transformações consideradas necessárias.

Quanto ao uso do tempo presente do indicativo na língua alemão, os autores Helbig & Buscha mostram que esse tempo verbal é utilizados para:

 expressar tempo presente:

(2.96) Jetzt klopft er an die Tür. (Helbig & Buscha, 2000:55)  expressar tempo futuro:

(2.97) Du bringst bitte morgen das Buch zurück. (Helbig & Buscha, 2000:55)  expressar tempo passado:

(2.98) Gestern überrascht er mich mit seinem Besuch. (Helbig & Buscha, 2000:55)

Dreyer & Schmitt apresentam de modo mais detalhado os usos do tempo presente. Segundo os autores, o tempo presente pode ser usado para expressar uma ação, um acontecimento ou um estado futuro:

(2.99) Heute Vormittag macht mein Sohn sein Examen. Er ist der Beste. Er schafft bestimmt eine ausgezeichnete Note. (Dreyer & Schmitt, 2000:324)

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Ao contrário do tempo futuro do português que é expresso por meio da flexão verbal (comprarei) ou pela perífrase ir+verbo principal (vou comprar), no alemão a forma do futuro werden+verbo principal (ich werde morgen das Buch kaufen) não é produtiva, sendo mais frequente o uso do tempo presente para expressar futuridade (Morgen kaufe ich das Buch).

O tempo presente, segundo os autores, entre outros usos, pode ainda ser usado para:

 expressar conhecimentos científicos:

(2.100) Die Erde dreht sich um die Sonne. Die Gravitation ist ein physikalisches Gesetz. (Dreyer & Schmitt, 2000:324).

 relatar fatos históricos:

(2.101) Am Weihnachtsabend des Jahres 800 wird Karl der Grosse in Rom zum Kaiser

gekrönt. (Dreyer & Schmitt, 2000:324)

De acordo com os textos apresentados acima, para esta tese o uso desse tempo verbal para os dois idiomas foi sistematizado da seguinte forma:

O presente pode ser usado para expressar: a) tempo presente (ação

habitual e fato atual); b) tempo passado em narrativas; c) tempo futuro; d) ações ou estados permanentes. O presente pode ser empregado em: a) instruções; b) máximas e; c) definições. O presente pode ser empregado

pelo: a) pretérito perfeito; b) futuro do indicativo; c) pretérito imperfeito e;

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Assim como o tempo presente, que dependendo do seu emprego num enunciado pode influenciar o valor de factividade e até mesmo o aspecto verbal dos estados de coisas, como será observado na próxima seção; vimos, por meio da leitura crítica dos estudos acima, que outros fatores de ordem sintático-semântico-pragmática podem exercer um papel importante na interpretação dos enunciados. A seguir, nossa intenção é mostrar alguns exemplos de como esses fatores acima mencionados podem influenciar nas interpretações das ocorrências dos nossos corpora, assim como demonstrar como o modelo teórico em que nossa tese está apoiada foi aplicado na análise dos dados dos corpora.

2.4. Aplicação da teoria e influência dos fatores sintático-semântico-