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Como já abordamos anteriormente, existem inúmeras interações entre os elementos materializados de uma imagem - seja mistura de cores, contraste, formas mais ou menos alongadas, sobreposição… Essas interações conferem dinamicidade à imagem, e são categorizados em três elementos dinâmicos por Villafañe (2006): movimento, tensão e ritmo.

Quando falamos de elementos dinâmicos, é importante mantermos em mente um ponto levantado por Arnheim (2005) quando trata de dinâmica: dificilmente conseguiremos descrever as sensações e a produção de sentido de um objeto através de métricas e palavras. Mesmo que isso seja necessário em alguns momentos, como na produção científica, essas descrições acabam eliminando o sensorial.

Mas, afinal, o que é a dinâmica a que se referem esses elementos? Segundo Arnheim (2005), na sua percepção, ocorre um processo que parte do contato visual com o objeto ou sua representação, e que se torna dinâmico no processamento pelo sistema nervoso. Isso ocorre devido a fatores como cores, sobreposição, tamanho, propriedades materiais do objeto em questão que serão abordados posteriormente. “[...] trata-se da contraparte psicológica dos processos fisiológicos que resultam na

organização dos estímulos perceptivos” (ARNHEIM, 2005, p, 429).

Sendo esse um processo essencialmente perceptivo, é importante, no momento da análise, buscarmos muito além das linhas, vértices e ondas, nos atentando também às sensações, aos sentidos provocados subjetivamente.

“Estas propriedades dinâmicas, inerentes a tudo que os olhos percebem, são tão fundamentais, que podemos dizer: a percepção visual consiste da

experimentação de forças visuais” (ARNHEIM, 2005, p. 405). Ou seja, são as forças

criadas pela dimensão, tamanho e cor da forma que importam, e não apenas a identificação delas por si só.

Por incluirmos em nosso corpus apenas imagens fixas - as fachadas comerciais impressas e estáveis -, nos aprofundaremos na tensão, o elemento dinâmico que melhor caracteriza esse tipo de imagem, enquanto o estudo do movimento realiza essa função para as imagens móveis.

Villafañe (2006) enfatiza que imagens fixas e móveis são diferentes em vários aspectos, e que a tentativa da primeira de imitar movimentos da segunda é um erro. Isso porque, o autor afirma que a imitação do “movimento real” num plano fixo acaba tirando a dinamicidade do primeiro, ao invés de torná-lo mais dinâmico, como alguns poderiam acreditar.

Esse fato é explicado por Arnheim (2005) quando afirma que as imagens fixas não são dotadas de dinamicidade, e esta deve ser adicionada à imagem no momento da sua criação, através de recursos externos ligados à visão que o criador possui sobre o que é movimento e suas representações visuais.

Outro erro comum na criação de imagens fixas é provocar o desequilíbrio para torná-la menos estável acreditando, assim, deixá-la dinâmica. Como afirmado por Villafañe (2006), a crença de que, ao desequilibrar uma imagem vamos criar mais movimento, mais energia, e isso criaria uma tensão na imagem não corresponde à realidade.

Essa crença pode ser comum por associarmos equilíbrio com estabilidade, com estagnação. Mas, é importante lembrar que o equilíbrio não significa ausência de forças, mas sim de forças que “enfrentam” em pé de igualdade, e que se tencionam de forma a demonstrar equilíbrio. Villafañe (2006) afirma que são justamente as imagens com equilíbrio entre forças que produzem o melhor efeito de tensão.

Mas o que é essa tensão? Esse conceito se assemelha ao que leigos denominariam de “movimento” em um plano visual. Porém, devido ao caráter do nosso estudo, essa expressão poderia tornar nossa abordagem incorreta - afinal, os mesmos autores que utilizamos denominam o “movimento” como um elemento dinâmico das imagens móveis.

É necessário abordarmos a tensão, “[...] a força inerente ao elemento; como tal, é apenas um componente do movimento ativo. A isto deve-se acrescentar

direção” (ARNHEIM, 2005, p. 409). Assim sendo, em um plano visual vamos analisar a tensão dirigida, uma força própria que é exalada pelos elementos visuais - e não acrescentada pela nossa percepção ou imaginação.

Arnheim (2005) afirma que essa é uma das propriedades que está na essência dos elementos visuais, assim como cor, forma, tamanho. E o ponto-chave da tensão dirigida é que, por ser própria, é determinada pela natureza do elemento, não dependendo de fatores que variam a percepção de indivíduo para indivíduo.

A tensão do plano fixo - no caso do nosso estudo, das fachadas comerciais - é criada por determinados elementos da composição visual e sua combinação. Villafañe (2006) os definiu como:

a. Proporção: seguindo a Lei da Simplicidade, proposta por Arnheim (2005), um plano que possuir proporções que fogem do esquema mais simples ou exageradas produzirá tensões nos locais de maior deformação, a fim de restabelecer o equilíbrio original.

b. Forma: as formas irregulares são mais dinâmicas, e a tensão será criada nos pontos menos consistentes dos objetos representados, ou seja, na deformação do elemento visual tensionado.

c. Orientação: a orientação oblíqua é considerada a mais dinâmica entre as orientações espaciais - podendo ser uma dinâmica que se afasta ou em permanece em direção do eixo vertical-horizontal. A dinamicidade dessa orientação é intensificada quando essa obliquidade não pertence naturalmente ao objeto assim representado. Além disso, existem duas afirmações básicas sobre a obliquidade: por se afastar do eixo principal vertical-horizontal, o elemento oblíquo se afasta das situações de repouso; e, quando adequada à perspectiva central do plano, a orientação oblíqua está sempre ligada à tridimensionalidade.

d. Outros: além das três formas de tensão acima, existem outras várias composições visuais que geram tensão - e consequente dinamicidade - no plano visual, como o contraste de cores, já abordado anteriormente no subcapítulo Cor.

Acreditando que, como afirma Arnheim (2005), a dinâmica dos objetos no plano visual é própria de sua essência, devemos pensar que o acréscimo ou retirada de determinados elementos visuais altera significativamente a composição total. E, para uma obra ser bem executada e - principalmente - compreendida pelo público, é

importante que haja consonância nas tensões presentes. “A dinâmica de uma composição terá sucesso somente quando o ‘movimento’ de cada detalhe se adaptar logicamente ao movimento do todo” (ARNHEIM, 2005, p. 424).

Além disso, não podemos nos esquecer de que não apenas os elementos visuais trazem dinamicidade a uma imagem, mas também os seus espaços em branco. “O espaço vazio que separa os objetos ou parte deles entre si na escultura, pintura e arquitetura é comprimido pelos objetos e por sua vez os comprime” (ARNHEIM, 2005, p. 421). O intervalo presente na imagem varia de acordo com as proporções, tamanhos e formas adotados pelo artista - e como serão configurados no plano visual.

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