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5.1 Teorias de EaD: história e atualidade

5.1.3 Teoria da conversação de ensino-aprendizagem

Bórje Holmberg é autor da teoria da “conversação didática guiada”, renomeada no final dos anos 90 para “conversação de ensino-aprendizagem” com o intuito, segundo o próprio (2003), de evitar aproximações com qualquer sentido autoritário, sendo que seu objetivo era enfatizar o caráter didático da “conversação” em Educação a Distância.

Holmberg começou com a defesa de uma abordagem de “conversação” para o desenvolvimento de cursos e logo passou a defender também a necessidade de haver empatia entre o estudante e a organização de ensino para favorecer a aprendizagem. A Educação a

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Distância deveria se desenvolver como uma conversação guiada, em uma atmosfera cordial, com estímulo e apoio para impulsionar o êxito dos estudantes. Quanto ao ensino, a aprendizagem e a administração, Holmberg (2003) assim resume sua teoria de EaD:

1. A educação a distância atende principalmente alunos individuais que não podem ou não querem fazer uso de face a face de ensino (ou seja, os adultos que desejam aprender para fins de carreira ou para o desenvolvimento pessoal, trabalhando normalmente).

2. A aprendizagem a distância é orientada e apoiada por meios não contínuos, materiais didáticos produzidos previamente e comunicação mediada entre alunos e uma organização de apoio (escola, universidade etc) responsável pelo desenvolvimento do curso, pela interação educativa aluno-tutor, aconselhamento e administração do processo de ensino-aprendizagem, incluindo ações para a interação aluno-aluno. A educação a distância está aberta a behaviorista, cognitivista, construtivista, e outros modos de aprendizagem. Também pode inspirar abordagens metacognitivas.

3. Central para o ensino e a aprendizagem na educação a distância são as relações pessoais entre as partes interessadas, o prazer do estudo, e a empatia entre os alunos e os representantes da organização de apoio. Sentimentos de empatia e de pertencimento motivam os alunos a aprenderem e influenciam a aprendizagem favoravelmente. Tais sentimentos são estimulados por apresentações claras, focadas em problemas e em forma de conversação da matéria a ser aprendida que expõem e complementam a bibliografia do curso; pela amigável interação mediada entre estudantes, tutores, conselheiros e outros da equipe de suporte da organização; e por processos e estruturas administrativa-organizacional flexíveis.101 Fatores que promovem o processo de aprendizagem incluem tempos curtos de resposta aos exercícios e outras comunicações entre os alunos e a organização de apoio, a frequência adequada para o envio de trabalhos e a disponibilidade constante de tutores e conselheiros (HOLMBERG, 2003, p. 81, tradução nossa)

Com Holmberg, a ênfase se desloca da autonomia e dos materiais didáticos para a comunicação entre professor/instituição e os estudantes, priorizando a atenção sobre suas necessidades. Para diferenciar a interação a distância da realizada presencialmente, o autor apresenta o conceito de “comunicação não contínua” que inclui dois aspectos: a “comunicação real”, entre professores e estudantes, e a “comunicação simulada”, entre os estudantes e os materiais didáticos, capazes de produzir uma “conversação interna” entre o conteúdo e os conhecimentos prévios do estudante, semelhante à teoria de Moore (2002) que foi tratada anteriormente. Holmberg sugere um esforço por parte dos designers e professores para alcançarem a empatia do estudante encontrada nos ambientes presenciais, além de

101Traduzimos como “flexível” a palavra “liberal” do texto original, por conta do contexto. Originalmente, a frase é: “and by liberal organizational-administrative structures and processes”.

115 perseguirem o diálogo seja em interações “reais” ou “simuladas”, válido tanto para formatos convencionais de EaD quanto para digitais (GARCÍA ARETIO, 2011).

Para motivar o estudante, o autor enfatiza a necessidade de personalização da conversa, preocupando-se com a questão emocional. Segundo Barberà, Badia e Mominó (2001), o papel decisivo atribuído ao vínculo entre o aspecto emotivo, a conversação e o processo de aprendizagem é evidente na maioria dos sete postulados em que Holmberg102 apoia seu ponto de vista:

1. Los sentimientos de relación personal entre los profesores y los estudiantes promueven el placer de estudiar y la motivación.

2. Estos sentimientos pueden ser impulsados por materiales autoinstructivos bien desarrollados y por la comunicación bidireccional a distancia.

3. El placer intelectual y la motivación para el estudio son favorables para alcanzar los objetivos de aprendizaje y el uso de los procesos y metodologías de estudio apropiados.

4. La atmósfera, el lenguaje y las convenciones de una conversación cordial favorecen los sentimientos de relación personal, de acuerdo con el primer postulado.

5. Los mensajes dados y recibidos a través de la conversación son, comparativamente, fácilmente entendidos y recordados.

6. El concepto de conversación se puede traducir en buenos resultados con el uso de los distintos medios disponibles en educación a distancia. 7. La planificación y guía del trabajo, tanto si provienen de la institución

de enseñanza como si dependen del estudiante, son necesarios para el estudio organizado, que se caracteriza por su concepción finalista explícita o implícita (HOLMBERG, 1995 apud BARBERÀ; BADIA; MOMINÓ, 2001, p. 22).

Os postulados indicam preocupação maior com a “humanização” do processo a distância por meio da relação interpessoal entre professor e educando. No entanto, segundo Barberà, Badia e Mominó (2001, p. 22), a perspectiva de Holmberg parte do pressuposto de que a aprendizagem é uma atividade individual que se produz “através de un proceso de interiorización en que el estudiante adecúa los nuevos conocimientos a las estructuras cognitivas”. Assim, cabe ao professor e à instituição desenvolver contextos e oferecer condições para proporcionar a aprendizagem independente, autônoma.

Holmberg (2003, p. 83, tradução nossa) avalia que “[...] os desenvolvimentos modernos não mudaram o conteúdo da [sua] teoria. O que mudou foram os usos feitos da Educação a Distância e a tecnologia a servi-la”, se referindo principalmente às possibilidades abertas pela Internet. Mas ressalta que sua teoria é limitada às considerações metodológicas

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de aprendizagem, ensino e organização da administração, não incluindo, portanto, outros fatores como econômicos, contextos culturais, políticos e sociais.