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Teoria dos polos de desenvolvimento entre as teorias do desenvolvimento regional.

CAPÍTULO 1 – O PRESSUPOSTO TEÓRICO FRANCÊS DE FRANÇOIS PERROU

1.3 Teoria dos polos de desenvolvimento entre as teorias do desenvolvimento regional.

Região, regionalização, desenvolvimento regional são termos familiares para toda a gente. A noção de região é também utilizada em numerosos contextos: regiões culturais, econômicas, históricas, turísticas ou ainda de conflito, de guerra. A expressão política regional impõe-se no pós-guerra. São os Conselhos Regionais que gerem o espaço regional em França. Portanto, e em suma, a região é um conceito a que não se pode escapar na nossa vida cotidiana. Mas poucos entendem que a região ou, mais exatamente, o espaço regional é também o cerne de preocupações científicas (BENKO, 1999, p.1).

Preocupações estas que com o contexto após Segunda Guerra Mundial se reivindicaram como um novo campo científico: a ciência regional. Classificada como sendo “uma disciplina situada na encruzilhada da economia, da geografia, da sociologia, das ciências políticas, do direito, do urbanismo e, mesmo, da antropologia. Estuda, principalmente, a intervenção humana no território” (BENKO, 1999, p.2).

Diante disso, temos que entender, primeiramente, que dentre as teorias do desenvolvimento econômico desenvolvias no pós-Guerra existem aquelas que se dedicam a promover o desenvolvimento regional em busca de mitigar as disparidades inter-regionais. É no escopo desse referencial teórico que localizamos a teoria dos polos de desenvolvimento. Desse modo, podemos colocar essa teoria como pertencente aquilo que podemos descrever como “escola do desenvolvimento

regional desiquilibrado”, responsável por se preocupar com os efeitos de polarização espacial (LUTER, 1994, p. 127-137).

Ao buscar uma síntese das propostas de Gorzelak (1989) e Palacios (1986) para a classificação das teorias regionais referentes à polarização espacial, Luter (1994, p.120), nos auxiliou a localizar a de Perroux entre as teorias econômicas e dentre as teorias do desenvolvimento regional.

Por isso torna-se relevante destacar que outras escolas dos estudos regionais se dedicaram aos efeitos de polarização espacial. Isso porque, foi no âmbito desse enfoque que localizamos o lugar da teoria dos polos de desenvolvimento. Uma vez que, a noção de polarização espacial, de acordo com Luter (1994, p. 120), está presente em todas as teorias de desenvolvimento regional. E, entre os dois grupos estabelecidos por Palacios (1986), das cinco teorias referentes a polarização espacial, a teoria perrouxiana se enquadra mais no enfoque que “considera a sociedade atomizada (divididas em diferentes grupos), mas sem classes sociais” (LUTER, 1994, p. 120). Contudo, deve ser interpretada dentro do quadro da escola das “teorias do desenvolvimento regional desequilibrado”.

Para o mesmo período em que dedicamos o nosso rastreamento da circulação da teoria dos polos encontra-se, na mesma linha de investigação, outros nomes reconhecidos da Ciência Regional como por exemplo: Gunnar Myrdal, Jacques Boudeville, John Friedman, Torsten Hagerstrand e etc..., que, apesar de terem desenvolvido suas propostas de maneira independente, foram todas formuladas num contexto após os anos 1950. Período em que as desigualdades socioeconômicas, entre países e entre regiões internas dos mesmos, começaram atrair atenção dos governos e dos estudos do desenvolvimento (LUTER, 1994, p.128). De certa maneira, o ponto de vista compartilhado por esses especialistas incorporou a noção de espaço no formulação de suas teorias do desenvolvimento econômico e social. Desse modo, a escala regional foi o recorte privilegiado para tal análise.

Assim sendo, a ciência regional pode ser considerada como a consolidação de uma rede internacional de intelectuais cuja sua produção científica avolumou-se consideravelmente. Uma vez que, de acordo com Benko (1999, p. 20), nos idos da década de 1960, cresceu a atenção para esse campo científico. Fato que pode ser confirmado através da consolidação das associações científicas em diferentes países. A saber:

As associações sucedem-se em França (1961), por iniciativa de Jacques Boudeville e François Perroux, com o apoio de Isard; na Escandinávia, no Japão, no Reino Unido, na Alemanha, na Hungria, na América Latina e, mais recentemente, nos outros continentes. A Regional Science Association International agrupa investigadores do mundo inteiro e conta atualmente [1999] perto de 3,000 membros (BENKO, 1999, p.20).

Ao partirmos desse ponto de vista, concordamos que a referida ciência regional representou uma filiação teórica que aproximou especialistas de diferentes países e disciplinas para fortalecer-se como uma nova ciência, mais moderna e útil ao planejamento diga-se passagem. Portanto, também aglutinou uma abordagem apresentada pelo que podemos chamar de escola do desenvolvimento regional desequilibrado, a qual “parte da suposição de que as desigualdades regionais podem ser eliminadas com a ação adequada da política estatal” (LUTER, 1994, p. 128).

Assim sendo,

A influência que este enfoque segue exercendo no desenvolvimento das teorias regionais é tal, que alguns científicos tem tentado dividir todas as teorias do desenvolvimento regional da seguinte maneira: as que baseiam suas suposições no equilíbrio e as que fundamentam no desequilíbrio dos processos regionais (LUTER, 1994, p. 128).

Assim, temos uma proposta de diferenciação onde “podemos dividir as teorias em dois grandes grupos”. De um lado, o grupo que tende em entender o processo de desenvolvimento como equilibrado. De outro, o grupo que tende a compreender o processo de “desenvolvimento regional por sua natureza, ou melhor dito pela natureza dos processos socioeconômicos que o regem, [isto] é desequilibrado” (LUTER, 1994, p. 143).

Portanto, o segundo grupo (das teorias de desenvolvimento desequilibrado) propõem principalmente uma:

Intervenção do Estado nos processos de desenvolvimento desigual. Dependendo do nível de radicalismo de ditas teorias, ou propõem ‘complementar o mecanismo de mercado com a política realizada por um Estado plural, que tem como objetivo o benefício comum’, ou que ‘o Estado se constitui no ator principal, porque representa a única força disposta a opor-se a força do poder mesoeconômico (sic) das corporações multinacionais’ (LUTER, 1994, p. 143-144).

Diante do exposto, entendemos a ciência regional como um círculo de afinidades composto por uma rede internacional de intelectuais que compartilham de

uma mesma estratégia e defendem um novo campo científico, voltado mais especificamente ao desenvolvimento regional14.

Ainda assim falta muito em examinar sobre a circulação de ideias entre os autores aqui arrolados para, então, confirmamos como pertencentes a um círculo de afinidade. No entanto, podemos afirmar que os nomes de François Perroux e Jacques Boudeville circularam no âmbito do que ficou conhecido entre os especialista como “escola de economia espacial francesa”. Como também, foram os responsáveis em fundar a Associação de Ciência Regional de Língua Francesa (1961) nos moldes da associação regional americana de W. Isnard (BENKO, 1999, p. 105).

Contudo, a partir desta localização introdutória da teoria dos polos entre as teorias de desenvolvimento regional e ciência regional. A seguir, apresentaremos os elementos que aproximou a teoria dos polos de desenvolvimento com a geografia.

1.4 O enlace com a geografia: a noção de polarização espacial.

A economia e o espaço: um casal cuja história é relativamente recente (BENKO, 1999, p.27).

Como visto, a noção de polarização espacial extravasa a teoria de François Perroux. No entanto, acreditamos ser importante verificar como a teoria dos polos de desenvolvimento vinculou-se com a noção de espaço econômico. Conceito que foi definido como abstrato e o qual está presente na análise da polarização espacial do desenvolvimento econômico e social, repercutindo no planejamento regional e, por conseguinte, no campo da geografia.

É o espaço econômico abstrato entendido como instrumento de planejamento que permite entender os objetivos da teoria dos polos de desenvolvimento. Por isso, brevemente, voltaremos as principais características da noção de espaço econômico desenvolvido por François Perroux. Isso nos permite conhecer, em nosso entendimento, a aproximação e a transformação de conceitos no campo da geografia, como por exemplo, o conceito de região e o de regionalização.

14 Argumentação que se sustenta a partir da fundação da Associação de Ciência Regional de Língua

Francesa por F. Perroux, J-R. Bodeville e W. Isard, em 1961. Além também da publicação de Megapolis, de J. Gottmann (sic) (BENKO, 1999 p. 105).