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A TRAJETÓRIA TRANSNACIONAL DA TEORIA DOS POLOS DE DESENVOLVIMENTO E SUA INSERÇÃO NA AMÉRICA LATINA

A teoria do desenvolvimento polarizado foi usada como modelo e instrumento de planejamento regional para diferentes contextos nacionais. Muito aplicada tanto para a realidade dos países industrializados quanto para os ditos países subdesenvolvidos. Encontra-se estratégias de desenvolvimento nacional inspirada na teoria em questão nos países da Europa, África, América e Ásia (ÁLVAREZ, 2016; RODRÍGUEZ, J. S. L. et al, 2013; LO, F.-C.; SALIH, K, 1978). Obviamente os resultados de tal uso foi diferente nas distintas realidades

Neste contexto, os trabalhos organizados por Antoni Kuklinski (1977)15 são

exemplares do que aqui denominamos como trajetória transnacional da teoria dos polos de desenvolvimento. Trajetória que ilustra a construção de uma rede internacional de intelectuais no campo do planejamento regional.

Com isso, neste capítulo, não é nossa intenção fazer uma demonstração pormenorizada de todas as experiências de planejamento regional levadas a cabo em todos os países que se inseriram na circulação transnacional da teoria dos polos de desenvolvimento. Porém, apesar do perigo de se fazer generalizações no âmbito da experiência de planejamento regional. Aqui, apresentamos um panorama da trajetória da teoria dos polos de desenvolvimento (traduzida para o espanhol na maioria dos casos como “polos de crescimento”) na América Latina. Para isso, usamos fontes como: teses, publicações de periódicos especializados (EURE); no entanto, nos aprofundamos nos textos que circularam entre os especialistas do Instituto Latino- Americano e Caribenho de Planejamento Econômico e Social (ILPES).

Já no âmbito das experiências da prática do planejamento do desenvolvimento regional, a variedade de países em que foi possível identificar o uso da teoria dos polos de desenvolvimento chega de certa forma surpreender. Pois, “com exceção de Cuba e Panamá, todas as estratégias nacionais de desenvolvimento regional formuladas na América Latina se basearam na teoria dos polos de crescimento” (BOISER, 1980, p.33). São exemplos destacáveis: México, Colômbia, Guiana, Argentina, Chile, Venezuela, Brasil, Bolívia e Peru.

15 Esse autor possui uma contribuição importante na divulgação internacional da T.P.D. Também

2.1 A inserção teórica na América Latina

As ideias de François Perroux influenciaram muito a pesquisa em ciências sociais na América Latina pelo fato de que completavam a visão de “centro-periferia” de Raúl Prebisch. Nenhuma ideia teve tanto significado para a percepção do problema do subdesenvolvimento como a de estrutura centro-periferia (FURTADO, 2012, p. 300).

Com o excerto acima, não fica difícil compartilhar da ideia que entende os países que compõem a América Latina como uma espécie de laboratório para as iniciativas da prática e da teorização do planejamento do desenvolvimento regional.

A partir deste ponto de vista, o histórico do planejamento regional na América Latina se fortaleceu na segunda metade do século XX e ficou marcado pela tendência dos modelos teóricos e práticos, primeiramente, utilizados nas experiências de planejamento dos países mais industrializados. Sendo assim, encontramos os elementos gerais para entendermos como ocorreu a recepção e a circulação teórica entre os especialistas latino-americanos, demonstrando, quando indispensável, alguns exemplos da prática do planejamento regional na região (um esforço maior foi realizado no caso do Brasil, centro da apresentação do nosso capítulo 3).

Como princípio de método, sempre que possível, daremos voz aos envolvidos na rede de especialistas do planejamento do desenvolvimento regional na América Latina. Isso se faz possível seja na análise dos textos produzidos por eles ou apresentando literalmente as opiniões pessoais dos envolvidos quando indispensável. Isto porque, na busca de ampliar o conhecimento de como ocorreu a importação teórica, verificamos a complementariedade da noção de desenvolvimento polarizado com a noção de centro-periferia. Entendemos tal complementação no sentido de que o “centro” passa ser visto como propulsor de desenvolvimento na “periferia”, mitigando com isso as disparidades regionais. Em outras palavras, os polos de desenvolvimento (centros) polarizam suas regiões (periferias).

Portanto, no que se refere a questão do desenvolvimento regional na América Latina, temos que entender que no âmbito dos movimentos intelectuais ocorrem diferentes momentos no que se conforma o campo do planejamento regional. Num primeiro momento, ocorre a inspiração majoritariamente estadunidense voltada para

o aproveitamento global das potencialidades das bacias hidrográficas, porém aparecendo algum destaque à experiência Italiana do Mezzogiorno.

Posteriormente, num segundo momento, surge um movimento intelectual inspirado na noção de desenvolvimento polarizado espacialmente, isto é, na teoria dos polos de desenvolvimento. Momento este que foi o centro de nossa investigação.

Deste modo, estamos falando de um recorte temporal que se estende de meados dos anos 1950 até início dos anos 1980. Década que mais se caracteriza pela descrença generalizada da noção de polos de desenvolvimento, florescendo a crença no desenvolvimento local.

Imagem 1. Linha do tempo da circulação das teorias do planejamento regional na América Latina (1940-1990):

Elaboração própria.

O processo de declínio do referencial teórico da teoria dos polos para o planejamento parece-nos ter seguido uma tendência generalizada de mudança do próprio campo científico, como também, seguiam os novos anseios das sociedades, que a exemplo dos países latino-americanos, exigiam processos e estratégias socoespacias mais horizontais, isto é, mais democráticas. Por isso então: “o ‘desenvolvimento por cima’, baseado fundamentalmente na ideia dos pólos de crescimento, foi substituído pelo ‘desenvolvimento por baixo’, baseado nas forças sociais localizadas” (BENKO, 199, p.152).

Entretanto, T.V.A Transição T.P.D. Declínio T.P.D. 1940 1950 1960 1970 1980 1990

Linha do tempo - Circulação das teorias do planejamento