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Planificação de Aula Individual de Classe de Conjunto

II. Enquadramento e fundamentação teórica

2. A motivação: definição, teorias e estratégias

2.1 Teorias Cognitivas da Motivação

2.1.1 Teoria Relacional de Nuttin

Joseph Nuttin29 foi um psicólogo de origem belga que assumiu um papel de

destaque, nomeadamente durante o séc. XX, com a apresentação e desenvolvimento da Teoria Relacional assente nas noções propostas por Lewin.

A Teoria Relacional de Nuttin defende que motivação é uma força específica em direção a um determinado objeto e que sua intensidade depende da natureza e da relação que o sujeito mantém com esse objeto (Nuttin, 1985). Assim, este autor defendeu que a motivação não corresponde à satisfação pontual de necessidades e à consequente descarga ou redução da tensão mas, antes, à manutenção da tensão e à criação de novas modalidades de relação com vista ao desenvolvimento e ao progresso, ou seja, à procura ativa e pessoal de meios para alcançar determinados fins (estado de interação requerida entre o sujeito e o mundo).

Desta forma, Nuttin (1980, referido em Fontaine, 2005), defendeu uma teoria relacional entre a pessoa e o mundo e entre a pessoa e os objetos específicos desse mundo. Todavia, o sujeito não pode agir diretamente sobre o mundo, mas apenas

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sobre o seu relacionamento com este mundo, sendo o comportamento humano resultado de um relacionamento funcional entre estes dois polos vinculativos.

O funcionamento que une o indivíduo ao ambiente encontra a sua fonte dinâmica em si próprio. Por outras palavras, a necessidade de base do ser vivo é entrar em relação funcional com o mundo; é fazendo-o que ele se mantém e se desenvolve (Nuttin, 1979, citado em Monteiro & Santos, 2001b: 200).

Este caráter contínuo e dinâmico da interação indivíduo-mundo supõe que as necessidades e as motivações sejam personalizadas, uma vez que cada pessoa possui as suas representações e os seus projetos de vida. Por outras palavras, as motivações que conduzem o indivíduo à ação de forma a concretizar determinados objetivos são personalizadas, variando de pessoa para pessoa (ou ainda de cultura para cultura) consoante os seus projetos de vida (Nuttin, 1980, referido em Jesus, 2000).

A escolha de objetivos tem um lugar central na teoria relacional de Nuttin, pois a sua construção é encarada pelo psicólogo como uma condição básica para o desenvolvimento humano. Estes objetivos concretos não são definidos geneticamente, correspondendo a uma elaboração cognitiva feita pelo sujeito em função da sua própria experiência e perceção da situação. Assim, a construção de objetivos é o ponto de partida dos comportamentos (Jesus, 2000).

Embora este processo englobe o funcionamento cognitivo, esta índole cognitiva não substitui as variáveis motivacionais, sendo as diferenças de desenvolvimento cognitivo consequências de diferenças motivacionais (Jesus, 1996a).

Nuttin explicou, na teoria por si desenvolvida, que cada sujeito trata simbolicamente as informações de que dispõe, identifica os objetivos e elabora um plano pessoal de ação para os atingir.

Assim, a direção da ação pode ser definida em quatro etapas. A primeira etapa é determinada pela escolha de objetivos que dependerá das experiências anteriores do sujeito, da perceção atual do mundo e de si próprio e da diversidade das suas operações cognitivas. Estes fatores caracterizam a sua capacidade de antecipação de objetos desejáveis, tal como as características particulares dos mesmos. O segundo passo diz respeito à antecipação de estratégias comportamentais, bem como, a sua sequência como meios eficazes para alcançar os objetivos. O terceiro passo assenta, por sua vez, na concretização das ações planeadas para atingir os objetivos correspondendo a representações cognitivas do meio. Por último, o quarto passo define o grau de realização dos objetivos, fruto da comparação da situação atual com a situação desejada pelo sujeito, e as diferenças entre as duas (Fontaine, 2005).

Ou seja, podemos afirmar que a motivação dirige a ação para uma categoria de objetos que satisfazem uma necessidade ou impulso (Jesus, 2000).

O que torna dinâmica a relação que une o indivíduo ao seu ambiente é o fato comprovado de que o ser vivo, em geral, e a personalidade humana, em particular, não é indiferente aos objetos e situações com as quais se relacionam. (....) Por outras palavras, o fenómeno fundamental da motivação manifesta-se no funcionamento comportamental e consiste no fato de o organismo se orientar ativamente de forma preferencial em direção a certas formas de interação (...) (Monteiro, 2001b: 110).

No homem adulto, esta interpretação da motivação e das funções cognitivas adquire uma importância muito particular através da necessidade de conhecimento, necessidade de contacto social e necessidade de realização própria segundo um self- concept, procurando não só restabelecer o equilíbrio perdido, mas, sobretudo, encontrar um novo equilíbrio (Fontaine, 2005).

É possível distinguir dois tipos de motivação: a interna (intrínseca) e a externa (extrínseca). Se a primeira surge devido ao interesse e curiosidade própria do indivíduo, a segunda é inerente a fatores e meios externos (podendo, no entanto, desenvolver-se progressivamente de forma a constituir uma motivação intrínseca).

A visão do futuro, que combina a expetativa de alcançar um objetivo e as tarefas necessárias para atingir esse fim (seleção de estratégias), tem um enorme impacto na fase motivacional. Desta forma, o indivíduo sente-se normalmente atraído pelas atividades nas quais considera ter possibilidade de sucesso, afastando-se das atividades que lhe causam frustração devido ao desejo de competência inerente ao ser humano. Esta expetativa de sucesso é baseada em perceções, antecipações, julgamentos e confiança nas capacidades (Fontaine, 2005).

Assim, Bouffard, Lens e Nuttin (1983) verificaram que quanto mais pessimista é a atitude temporal do indivíduo menor é a extensão da sua perspetiva temporal de futuro.

Em termos pedagógicos os princípios da Teoria Relacional são extremamente válidos, assumindo que a aprendizagem é uma atividade espontânea decorrente das necessidades do sujeito perante o mundo. Alcançar os objetivos aos quais o sujeito se propõe só é possível graças a atividades instrumentais que permitem a aquisição de competências, ou seja, desenvolvimento do próprio indivíduo. Nuttin propõe que se tente que o aluno fixe objetivos pessoais e integre as atividades impostas na sala de aula nesses mesmos objetivos. Assim, se o aluno sentir prazer na realização da atividade (designada de motivação instrumental) os comportamentos realizados para alcançar um determinado objetivo acabarão por serem assumidos como objetivo enquanto tal (Jesus, 1996b).

Em contexto escolar, quanto maior a motivação e expetativa de um aluno para atingir um determinado fim maior será o empenho demonstrado e melhores serão as estratégias utilizadas. Este comportamento deve-se a duas tendências distintas: o

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sucesso e a rejeição do fracasso. Torna-se, assim, importante referir que a vontade de alcançar o sucesso é demonstrada pelo empenho e atenção, enquanto que a rejeição do fracasso é representada pelo medo e ansiedade de se obter um resultado negativo.

Concluindo, (tal como verificado por DeVolder e Lens em 1982 e, em 1987, por VanCalster, Lens e Nuttin, referido em Jesus, 1996a) os alunos que valorizam metas futuras através de uma posição positiva e assumem o estudo como instrumento para alcançar estas metas, persistem mais no estudo e obtêm melhores resultados escolares independentemente do seu quociente de inteligência.