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Nesta sessão fiz uma breve incursão sobre como as teorias de Estado apareceram nas produções, pois esta discussão se constituiu em capítulo específico da tese, porém neste primeiro momento como minhas fontes são os 118 resumos envolvendo teses e dissertações, precisei estabelecer esse olhar panorâmico no sentido de identificar a presente discussão.

A avaliação institucional está envolta numa concepção de Estado, pois desde os tempos modernos a Educação faz parte do cenário do Estado-Nação. Por isso, ouve-se tanto que nos dias atuais ela está sujeita à lógica de um Estado Avaliador, Interventor ou Gestor, ou, ainda, que poderia ser um instrumento a favor de um Estado Democrático de Direito.

Esta retórica sugere em uma leitura desavisada que a avaliação serve apenas aos mecanismos de controle e eficiência operacional, acabando por tirar das instituições o protagonismo, as possíveis brechas, autocrítica que as pessoas são capazes de promover na intensidade de suas vivências.

De acordo com Torres; Olmos (2012) a definição dos problemas reais da Educação e das soluções mais adequadas (isto é, eficazes em termos de custo, eticamente aceitáveis e legítimas) depende em grande parte das teorias de Estado que sustentam, justificam e guiam a diagnose educacional e a solução de propostas. Partindo dessa compreensão é que procurei mapear com quais teorias de Estado operam as produções que tiveram seus resumos examinados.

Ressalte-se que as teorias do Estado, a partir do século XV, foram discutidas nas seguintes perspectivas: a teoria de Estado Contratualista, dos quais são tributários Hobbes, Locke e Rosseau, mas cada um com sua especificidade; a teoria de Estado Liberal, esta com várias conformações dependendo do processo histórico; a visão de Estado com poder centralizado na visão de Maquiavel e a teoria de Estado Marxista. Como diz Oliveira (2012, p.16), para entendermos uma política implementada por um governo é preciso considerar as ações e intervenções estatais que o sustentam com suas teorias.

Na trajetória para o entendimento do que significa Estado, este passou por metamorfoses que vão desde a visão da representação de um poder absoluto, até a função para “administrar os interesses dos diferentes grupos e sujeitos na sociedade”. Nesse sentido, o Estado não está afeito apenas a uma relação de poder, mas impregnado em sua própria natureza que é exercer “o domínio mediante o máximo de rendimento em virtude da precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiabilidade” (WEBBER, 1999). O pensamento de Webber

ajuda a entender por onde passam as formalizações do Estado que se estendem a uma determinada teoria.

Nesse sentido, ao ler os resumos dos trabalhos sob análise, percebi que dos 118 textos, 59 (50%) explicitam por meio de algumas palavras (reforma do Estado, Estado de Bem-Estar- Social, reforma orientada pelos organismos multilaterias internacionais), qual teoria de Estado trataram em seus textos. 31 textos (26,27%) falam de forma crítica e contundente sobre o Estado gestor, avaliador, regulador, controlador situando seus textos numa perspectiva crítica de que avaliação institucional está sob o jugo dos mecanismos de eficiência operacional, operadora da nova pedagogia representante da hegemonia do capital. Ou como alguns referem, uma nova reinvenção da teoria do capital humano, na qual o indivíduo é responsável por sua trajetória e as instituições educacionais são validadas pelo seu produto e performatividade. Na perspectiva do Estado reformado, meritocracia e tecnocracia se conjugam para aperfeiçoar os mandos do capital mundial por meio dos sistemas educacionais e avaliativos. 28 textos, ou seja 23,72 %, não sinalizaram nos seus resumos as teorias de Estado, abordando apenas outros elementos nesta parte textual, o que não quer dizer que não o fizeram ao longo dos trabalhos completos.

Ficou evidente, ainda, que os trabalhos operam com o discurso neoliberal, como a reconfiguração das políticas em nível internacional ditadas pelos organismos multilateriais, com a visão marxista de Estado Burguês no qual este foi representado pela dominação de uma classe sobre a outra, no caso, burgueses e trabalhadores, o que neste tempos de travessia se traduz no discurso do capitalismo financeiro, das leis de mercado que sobrepujam as demais políticas e práticas, o que me levou hipotetizar que tais produções se encontram nesta perspectiva de teoria estatal, tentando buscar as brechas no Estado neoliberal para fazer emergir outras possibidades de ação estatal.

Outra matriz teórica de Estado que despontou nos processos de fundamentação dos 26,27% dos textos que exerceram a crítica ao Estado gestor, avaliador, foi a teoria de Estado Democrático que alude seus fundamentos à gestão democrática, à participação, tomada de decisão, adesão crítica, caminhos emancipatórios como matrizes predominantes, o que são nossas pretensões quando tratamos de uma sociedade democrática. Esta visão tende a aparecer nos textos que optam por um vertente emancipatória e transformadora de avaliação institucional, seja na Educação básica ou na Educação superior. É importante perceber que ao se buscar a orientação teórica de um Estado Democrático nos processos de avaliação institucional, reconhece-se que

a democracia necessita ao mesmo tempo de conflitos de ideias e de opiniões, que lhe conferem sua vitalidade e produtividade. Mas a vitalidade e a produtividade dos conflitos só podem se expandir em obediência às regras democráticas que regulam os antagonismos, substituindo as lutas físicas pelas lutas de ideias, e que determinam, por meio de debates e das eleições, o vencedor provisório das ideias em conflito, aquele que tem, em troca, a responsabilidade de prestar contas da aplicação de suas idéias (MORIN, 2000, p.108).

Apareceu, como forte tendência, o discurso democrático de emancipação, transformação e consciência institucional, fundamentos dos Estados democráticos. Defenderam que a avaliação institucional deve contribuir para a democratização e o aperfeiçoamento das instituições educativas e melhoria do desempenho global das instituições. Esta também foi reconhecida com potencialidades formativas e transformadoras, uma vez que atribuiu à participação dos cidadãos, sujeitos do seu tempo, envolverem-se democraticamente com os processos das instituições, eis aí um lampejo de uma das teorias de Estado que se busca como contraponto e necessidade em tempos de controle e reconfiguração do Estado.