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Teorias do Alívio

No documento Estado do Humor em Publicidade (páginas 39-41)

1.2 Do Riso às Teorias do Humor

1.2.3 Teorias do Alívio

As teorias do alívio, ou extravasamento, também conhecidas como “teorias da libertação” oferecem uma explicação mais fisiológica, encarando o riso como uma libertação de energia nervosa acumulada (Provine, 2000, p. 15).

Este tipo de teorias do humor surgiram no século XVIII, paralelamente às teorias da Incongruência, e destacam-se por procurarem relacionar o ato físico do riso com o sistema nervoso, sendo que este, do ponto de vista médico da época, era já descrito como algo que conecta o cérebro, órgãos e músculos, embora se considerasse que os nervos transportassem não impulsos electroquímicos, mas sim algo denominado de “espíritos animais”, cuja exata composição não era conhecida, de modo que as primeiras concepções da Teoria do Alívio19

consistiam numa representação do sistema nervoso sob a forma de tubos, nos quais os “espíritos animais” acumulavam algum tipo de pressão que ao necessitar de ser libertada, fazia-o sobre a forma de riso (Morreal, 2009, p. 16).

Herbert Spencer, no seu ensaio “A Fisiologia do Riso” (1911), afirma que no nosso corpo as emoções existem sob a forma de energia nervosa, que, segundo o autor, ”tende sempre a gerar movimento muscular, e quando esta sobe para uma certa intensidade, acaba sempre por produzi-lo” (Spencer, como citado em Morreal, 2009, p. 16). Por exemplo, quando estamos zangados ou com medo de algo produzimos pequenos movimentos, como fechar a mão em punho ou preparar o corpo para fugir, sendo que se a energia nervosa atingir um nível suficientemente elevado acabamos por lutar ou fugir, como forma de a libertar (Morreal, 2009, p. 16).

De acordo com Spencer, o que acontece com o riso é semelhante, embora os movimentos musculares presentes neste não sejam pequenos indícios de movimentos maiores, como no exemplo anterior, pelo que o riso, por mais ou menos intenso que seja, não está associado com nenhuma emoção nem tem qualquer motivação, os seus movimentos “não têm objecto”, funcionando apenas como um alívio de energia acumulada de emoções que foram consideradas inapropriadas (Morreal, 2009, pp. 16-17).

Dentro desta categoria de teorias, a que melhor foi desenvolvida, ou pelo menos a mais conhecida e citada, foi a apresentada por Sigmund Freud (1856-1939) no seu livro “Os Chistes e a sua Relação com o Inconsciente” (1905), no qual discute que o humor é uma “maneira das pessoas libertarem energia psíquica acumulada de pensamentos violentos e sexuais” (McGraw

19 A primeira utilização da palavra “humor” no seu sentido moderno, de algo divertido, ocorreu num

primeiro esboço da Teoria do Alívio, nomeadamente na obra do Lorde Shaftesbury “A Liberdade da Sagacidade e do Humor” (1711) (Morreal, 2009, p. 16).

20

& Warner, 2014, p. 7), e por isso também denominada como “teoria psicodinâmica”(Cho, 1995, p. 192).

Deste modo, os chistes (ou piadas) têm benefícios escondidos, muito à semelhança dos sonhos, uma vez que ambos permitem aceder ao inconsciente, sendo humor uma fonte de prazer que funciona como uma espécie de “válvula de segurança” que permite a certos pensamentos, ideias ou inibições acumuladas serem libertados sobre a forma de riso (Provine, 2000, p. 16).

Freud distingue três situações de riso : “humor”,” cómico” e “piadas”. Em todas elas o riso liberta energia nervosa inicialmente invocada para determinada tarefa que acabou por ser abandonada. Assim: nas piadas, a energia libertada estaria destinada a reprimir emoções ; no cómico, é libertada energia normalmente destinada ao ato de pensar; enquanto que no “humor”, o processo é semelhante ao descrito anteriormente por Spencer, sendo libertada energia inicialmente destinada a emoções que posteriormente foram consideradas inapropriadas (Morreal, 2009, pp. 17-18).

Beard (2008) estabelece cinco pontos que permitem reconhecer a existência de humor baseado nas teorias do alívio: (1) existe algo ou alguém que experiência um desastre ou evita- o por uma margem muito curta; (2) a mensagem apresenta uma situação social desconfortável/embaraçosa, um apelo ao medo, uma imagem chocante, ou uma carga explicitamente sexual; (3) a mensagem apresenta uma tensão fisiológica ou ansiedade emocional, que provoca uma excitação ou afectividade; (4) existe um “sinal de brincadeira“ que permite concluir que o objeto de tensão/ansiedade vai superar as dificuldades e terminar em segurança; (5) a mensagem envolve elementos que instigam valores sentimentais, boa vontade, ou empatia (p. 52).

Estes elementos que permitem distinguir a existência de humor de acordo com as Teorias do Alívio são denominados mecanismos afectivos, pois descrevem o humor enquanto “uma libertação de energia, uma válvula de segurança para sentimentos proibidos”, pelo que esta abordagem se focaliza na relação entre excitação fisiológica e conteúdo temático enquanto elemento catalisador do humor (Spotts et al., 1997, p. 18; Cho, 1995, p. 192).

Nomeado pelo American Film Institute (AFI) como o “filme mais inspirador de todos os tempos”20, o filme americano “Its a Wonderfull Life”21 (1946), é um dos exemplo citados por

Paul Speck para demonstrar este processo de humor, advogando que este evoca por várias vezes uma forte resposta de estímulo-segurança.

20 American Film Institute (n.d). AFI’S 100 YEARS ...100 CHEERS. Acedido a 11 de Agosto de 2015. Disponível em http://www.afi.com/100Years/cheers.aspx

21

O seu roteiro sentimental conta a história de um “homem comum” (protagonizado por Jimmy Stewart) que se encontra próximo da tragédia, factor consegue gerar bastante medo (estímulo) no espetador, no entanto, esta obra é também bastante forte ao restaurar uma ordem positiva na narrativa, a tal ponto que “muitos espectadores riem até às lágrimas mesmo depois de já o terem visto bastantes vezes”, pelo que este efeito, aparentemente, não necessita de uma “surpresa genuína”, mas apenas de um forte estímulo inicialmente negativo seguido de uma carga positiva equivalente (1990, p.7).

No documento Estado do Humor em Publicidade (páginas 39-41)