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Terceira fase: reunião para apresentação dos resultados da pesquisa aos

5. A COMUNICAÇÃO PÚBLICA NA MEDIAÇÃO ENTRE O NOVO RECEPTOR E A

6.4 UM OLHAR DA COMUNIDADE DO JARDIM UNIÃO DA VITÓRIA SOBRE A

6.4.1 Relato de experiência

6.4.1.3 Terceira fase: reunião para apresentação dos resultados da pesquisa aos

No dia 20 de setembro de 2012, às 14:30h, foi realizada no CRAS Sul (Centro de Referência de Assistência Social da região sul de Londrina-PR), a reunião mensal das redes intersetoriais de políticas públicas, da qual fomos convidadas a participar, a fim de expor e discutir com o grupo os resultados da pesquisa realizada no Jardim. União da Vitória sobre a temática da política pública de educação.

No capítulo que trata da metodologia da pesquisa, foram elencados os nomes e as funções dos participantes desta reunião. A exposição dos resultados foi intercalada com perguntas dos participantes e, a seguir, foi realizado o debate. Ao finalizar a exposição da pesquisa, colocamos seus resultados à disposição dos interessados.

Vale destacar que os resultados apresentados desencadearam um debate e, a partir deste, uma comissão se reuniu para definir alguns encaminhamentos. A incoerência entre a política pública da educação e o que prevê a Constituição Federal foi questionada, especialmente, pelos presentes que representam o Estado, conforme analisaremos adiante.

Outra questão que veio reforçar a opinião da primeira fase da pesquisa diz respeito à falta de conhecimento dos profissionais da educação sobre a realidade de comunidades como o Jardim União da Vitória (periferia). Alguns professores presentes afirmaram que se surpreenderem muito com a realidade quando começam a atuar nessas escolas e que não se sentem preparados para tal tarefa.

• Apesar de se surpreenderem com a visão negativa que a comunidade tem dos professores das escolas locais, alguns dos que atuam nestas escolas afirmaram:

[...] o professor é pego de surpresa quando se depara com a realidade deste aluno; a gente não está preparado para trabalhar com este público; a universidade não prepara a gente para atuar nestas comunidades.

[...] os professores, como atores de referência da comunidade estão meio em baixa, hein?!!!, admirou-se outro professor.

• Reconhecem a importância da história de mobilização social da comunidade, que conheceram por meio de alguns relatos de pais e estudantes. Para eles, embora, atualmente, a mobilização seja pequena, quase inexistente, os alunos sabem de sua importância na construção da história da comunidade. Uma das professoras afirmou que se interessou em ler um livreto sobre esta história que havia na escola, entretanto, acredita que este fato deveria ser mais valorizado pelos jovens e pelos professores, que deveriam se inserir no contexto em que vivem ou atuam e utilizar tal história como atividade didática, para que os alunos compreendam e se sintam mais responsáveis por sua realidade;

• Admiraram-se do pouco uso da internet pelos jovens, o que foi melhor compreendido após a intervenção do assistente social que relatou as dificuldades da maioria da população em ter acesso a tal ferramenta em suas casas;

Este fato demonstra o desconhecimento dos profissionais da educação sobre a realidade em que atuam, fato que se refletiu nas opiniões da comunidade, expressas na primeira fase da pesquisa.

• Comentaram que percebem, tanto pelas afirmações apresentadas na pesquisa quanto pela postura dos estudantes, a existência de um preconceito dos próprios moradores em relação ao bairro. Creditam isto às distorções da mídia no trato aos problemas deste. Avaliaram a matéria veiculada no Jornal de Londrina (vide Anexo A), objeto de analise da pesquisa, como sensacionalista, pois enfatizou a violência. Neste sentido, citaram que os jornais, muitas vezes apresentam as escolas da periferia como sucateadas

em oposição às do centro, entretanto, afirmaram que os problemas daquelas escolas são os mesmos ou até piores, o que fortalece o estereótipo ruim existente;

• Afirmaram que há também o estereótipo de que o professor que vai dar aula na periferia é o pior, o que nem sempre é verdade, segundo os participantes; • Manifestaram uma grande surpresa em relação ao encaminhamento dos

estudantes ao EJA (Educação de Jovens e Adultos) pelas escolas. Uma das representantes do Estado e responsável por esta política de educação afirmou que as ações relatadas pela comunidade estão sendo praticadas de forma errada pela escola e que estes são casos isolados, pois a política de educação, neste aspecto, prevê a sugestão ao aluno para que espere atingir a idade correta para participar do EJA: [...] são alunos problemáticos ou mais velhos que podem prejudicar o encaminhamento da sala de aula, justificou esta profissional.

Mais uma vez, ficou evidente a resistência dos representantes do Estado em aceitar opiniões sobre a política pública da educação que partem da comunidade, o que evidenciou uma atitude não democrática e não inclusiva. Entretanto, como as discussões se fizerem numa esfera pública, com a participação de diferentes setores da sociedade civil ligados à educação, seus representantes foram pressionados a repensar seus posicionamentos.

Na visão de uma pedagoga presente, esta política distorce os objetivos da educação, que é a inclusão do aluno na escola. De modo geral, concluíram que este problema terá que ser avaliado pelo Núcleo de Educação para se evitar que casos como os relatados pela pesquisa ocorram novamente.

Na avaliação da incoerência entre o que prevê a Constituição Federal e a política de educação praticada na comunidade, houve resistência em relação à aceitação dos resultados, por parte de alguns participantes, especialmente, entre os representantes da secretaria de educação e os do núcleo educacional, que questionaram a forma como a amostra entrevistada teve acesso ao conteúdo da política de educação. Neste momento, percebemos que a resistência era consequência de dois motivos, basicamente: não considerarem a comunidade competente para tal avaliação e a falta do hábito em descortinar tais informações

para serem analisadas na esfera pública. Tal fato remete à fala de uma das atoras da educação, entrevistada na primeira fase da pesquisa e que participa das redes intersetoriais de políticas públicas da região:

a escola se encastela, não se abre para outras visões (Bia: Rede de

equipamentos e serviços sociais e coletivos, rede de políticas públicas. Jovem).