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Terceira Opção de Processamento – Grandes Descontinuidades

4. Capítulo IV – Recuperação Radiométrica

4.4. Terceira Opção de Processamento – Grandes Descontinuidades

4.4.1. Identificação do Terceiro Problema Radiométrico

O caso particular de uma das imagens utilizadas no projecto levou à construção de uma terceira opção de processamento. Esta fotografia apresenta uma grande descontinuidade a nível radiométrico, estando, praticamente, dividida em duas partes. A parte da esquerda tem um aspecto semelhante ao das imagens vizinhas, mas a parte direita está muito escura, sendo

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quase impossível a visualização dos pormenores representados, como se pode observar na Figura 4.14.

Figura 4.14– Imagem com uma grande descontinuidade radiométrica, antes do processamento (IGeoE).

A utilização da técnica de processamento anteriormente descrita não resolve o problema desta imagem. Para além da recuperação da parte esquerda da imagem, na qual poderia ser utilizado o método anterior, o grande problema desta fotografia é a recuperação da parte direita. A abertura morfológica, que é o operador utilizado no segundo tipo de tratamento, apenas permite a subtracção de luz em zonas onde esta exista em demasia, não permitindo a sua adição em zonas onde esta não existe. Para tratar esta imagem foi necessário procurar uma forma de a simplificar considerando tanto a parte clara como a escura. A solução encontrada foi a utilização do filtro média.

4.4.2. Filtro Média

Uma imagem é constituída por duas componentes: uma de baixas frequências e outra de altas frequências. A primeira componente consiste num padrão, aproximadamente constante, que forma o fundo da imagem, enquanto a segunda é formada pelos diversos

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pormenores representados. Estas duas componentes podem ser individualizadas através da utilização de filtros passa-baixa ou passa-alta, respectivamente. Uma vez que o objectivo do programa construído para resolver os problemas radiométricos das imagens é obter uma imagem que traduza a luminosidade do fundo da imagem, pode ser utilizado um filtro passa- -baixa para obter esta componente. Quando esta imagem auxiliar é subtraída à imagem original, o resultado obtido consiste apenas na componente de altas frequências da imagem [Mather, 1999].

Dos vários tipos de filtro passa-baixa existentes, o escolhido para tratar as imagens do RAF47 foi o filtro média, cujo objectivo é diminuir a variabilidade global da imagem e baixar o contraste desta. Os pixeis que apresentam valores mais afastados da média dos pixeis vizinhos passam a estar radiometricamente mais próximos destes [Mather, 1999].

Para efectuar a filtragem da imagem através de um filtro média é necessário definir uma janela para percorrer toda a imagem a transformar, a qual permite obter o valor de cinzento a atribuir ao pixel da imagem original correspondente ao pixel central da janela. Quanto maior for o tamanho da janela do filtro, maior é o efeito da suavização. Esta janela pode ter dimensões diferentes para as linhas e para as colunas, mas tem de, obrigatoriamente, ser constituída por um número impar de pixeis, de forma a existir um pixel central. Este pixel central percorre quase todos os pixeis da imagem original. O facto de este ponto se situar no centro da janela e de os únicos pontos alterados serem os que lhe correspondem, faz com que, na imagem resultante, haja uma faixa a toda a volta da imagem que não é filtrada. A dimensão desta faixa depende do número de pixeis existentes antes e depois do pixel central (tanto nas linhas como nas colunas). O início da filtragem dá-se no canto superior esquerdo da imagem, em que a janela ocupa uma posição tal que todos os pixeis que a constituem estão contidos na imagem a transformar. O valor a atribuir ao pixel correspondente ao pixel central da janela é o valor médio de todos os pixeis da imagem que são abrangidos pela janela do filtro, em cada passo deste. Após a atribuição deste valor, a janela desloca-se um pixel para a direita sobre a imagem e o processo volta a ser repetido até a janela atingir o canto inferior direito da imagem, onde, novamente, o pixel central não volta a atingir a margem da imagem. Esta margem de pixeis que não foi filtrada, dependendo dos algoritmos utilizados, pode manter os valores de cinzento presentes na imagem original ou então todos os seus pixeis serão preenchidos com o número digital 0 [Mather, 1999].

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4.4.3. Aplicação do Filtro Média Às Imagens do Voo RAF47

Foi criada uma janela com forma de disco e com um raio de 250 pixeis que filtrou a totalidade da imagem. Após a filtragem, a imagem resultante apresentava valores de cinzento claros na zona da esquerda e valores escuros na da direita, conforme é visível na Figura 4.15.

Figura 4.15 – Imagem com grandes descontinuidades radiométricas depois da aplicação do filtro média.

Se a imagem anterior fosse subtraída directamente à imagem original, seria obtida uma imagem completamente escura, pois a parte direita quase não sofreria alterações (seriam subtraídos valores muito baixos), enquanto à parte esquerda seriam subtraídos valores muito próximos dos originais, ficando os números digitais muito próximos de zero. Desta forma, o nível de cinzento de cada pixel da imagem obtida foi subtraído a um valor fixo. O valor usado foi 127, por ser o valor médio do intervalo de valores de cinzento disponíveis, mas poderia ter sido utilizado outro. Esta operação permitiu a construção de uma matriz, cujos elementos das colunas da esquerda (correspondentes à zona clara) são negativos, pois os números digitais na imagem anterior eram superiores a 127 e os elementos das colunas da direita, isto é, das colunas relacionadas com a zona escura, são positivos. A matriz anterior foi adicionada à

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imagem original. Nas zonas demasiado claras, foram adicionados valores negativos, enquanto nas zonas escuras foram adicionados valores positivos. Deste modo, obteve-se uma imagem radiometricamente homogénea, como é visível na Figura 4.16.

Figura 4.16 – Imagem com grandes descontinuidades radiométricas depois do tratamento com o terceiro algoritmo.

Observa-se que a zona inicialmente escura apresenta-se um pouco “baça” na imagem resultante. Este efeito não é um “efeito secundário” do tratamento efectuado. A imagem original encontrava-se muito danificada, havendo zonas onde a informação não existia e, portanto, não foi possível recuperá-la por completo. Apesar deste efeito, foi bastante a quantidade de informação que um algoritmo relativamente simples conseguiu recuperar de uma imagem com problemas tão acentuados. Comparando as superfícies de luminosidade, antes e depois do processamento, na Figura 4.17, verifica-se que a imagem antes do processamento (esquerda) apresentava uma tonalidade muito escura, não só na parte direita, mas também junto às margens. Depois do processamento (direita), a luminosidade tornou-se muito mais homogénea, estando os valores de cinzento representados muito próximos entre si. Verificou-se, ainda, que os cantos da imagem já não apresentam números digitais baixos, encontrando-se, agora, muito semelhantes ao resto da imagem.

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Figura 4.17 – Comparação das superfícies de luminosidade de uma imagem depois de processada com o terceiro algoritmo.